Kim Myungjun era metido a jornalista; nome que adotava pra esconder o fato de que era um tremendo fofoqueiro. Vivia com aquela maldita câmera semiprofissional pendurada no pescoço, acima da gravata de nó mal feito, apontando-a para cada alma viva dos corredores do colégio. Fotografava tudo o que dizia considerar belo, insistindo que era eu sua maior fonte de inspiração e que, por isso, deveria ser um bom rapaz e ficar paradinho para que meus detalhes pudessem ser capturados por sua lente.
Era deveras irritante com o sorriso miúdo nos lábios bonitos, constantemente dirigindo-se a mim com aquela vozinha manhosa de quem queria algo e não estava disposto a esperar muito para tê-lo. Perdia o restante da paciência, mas não fazia-me de rogado ao dar-lhe o que desejava, deixando estampado para quem quisesse ver que era ainda mais besta que o dito cujo ao cair tão facilmente em seus encantos.
A armação fina e dourada adornando-lhe os olhos estreitos o dava uma expressão teimosa junto ao nariz empinado, e quando tirava algum proveito do que ousava chamar de cérebro, mostrava ser um tanto mais inteligente que o esperado. Saltitava por aí com energia de sobra, o solado de suas sandálias de couro preto rangendo contra o piso encerado e as meias sempre brancas aparecendo nas frestas entre as tiras. As faixas coloridas em seu cabelo sequer se moviam, externando todo o cuidado que possuía ao prendê-las nos fios negros pela manhã. Exaltava-se com pouco, contudo; aumentava o tom de voz quando lhe fosse conveniente, a veia saltada na testa e as bochechas rubras de raiva. Um baita sem noção, ele.
Vivia com curativos infantis nos dedos fininhos, também, todos feitos por mim, porque era idiota o suficiente para cortar-se com os papéis que usava para revelar suas obras. Chegava com um bico choroso, irrompendo feito o pior dos furacões, impedindo-me de continuar seja lá o que estivesse fazendo sem medo de parecer mal educado, apenas para receber um mimo, um beijinho no machucado e outro na pontinha do nariz. Um garotinho birrento e extremamente mimado, principalmente por um cara de coração mole feito eu. Era até um tantinho fresco, se a história fosse analisada por outro ângulo que não o meu de babaca apaixonado.
Mas acho que, ao final de tudo, não havia nada em seu corpo franzino e personalidade arisca que não me tirasse do sério com incrível facilidade, desde suas íris apontadas para direções opostas, até os joelhos ossudos marcados por tombos. E não havia nada que me fizesse amá-lo menos, pois Myungjun era um puta estrago e eu era dependente de seu caos.
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