História Ensine-me a sobreviver, Daryl Dixon... - 10 - Sangue Batizado

Rick decidiu fazer uma mega reunião para contar as pessoas o que havia me contado mais cedo.

Todos de Alexandria se reuniram no gazebo.

Todos menos eu.

Como diabos eu teria algo a ver com essa tal de cura? Como os Salvadores sabem de mim se a pouco tempo o próprio Negan não sabia? Eu era mantida vinte e quatro horas escondidas na floresta e menso assim alguém sou de mim? Como?

Muitas perguntas assombravam a minha cabeça naquele momento. Eu não sabia o que pensar, o que sentir... Se dependesse de mim para acabar com essa porcaria eu faria de tudo, mas... Eu sei que talvez pudesse haver um preço caro a se pagar. Ainda mais tendo os Salvadores no meio disso tudo.

Abro lentamente a escotilha para descer até a despensa da casa. Normalmente não deixam muito mais do que comerão na semana lá, mas eu não estava procurando por comida.

Passo lentamente pelo quarto de Carl que está com a porta entre aberta. Ele ficou para tomar conta da Judith.

- Resolveu ir na reunião? - escuto após a porta dos eu quarto ser aberta. Ele estava atento como sempre.

- Ah... Oi, Carl... Na verdade seu pai achou melhor que eu ficasse aqui. Vou descer até a despensa e já vou voltar pro quarto... 

- Entendi... - ia voltar e fechar a porta mas desistiu - Você sabe que ninguém vai deixar te levarem não é mesmo?

- Eu sei, cara... Mas você também sabe que o que eu precisar fazer para que tudo volte ao normal eu vou fazer né? - Minha voz sai pesada - Mas eu preciso saber se é certeza... Porque não adianta eu me doar por isso e não dar em nada... Quero poder ter certeza que você e a Judith vão crescer em um lugar seguro!

- Ellie... - Carl começou, mas eu já havia dado as costas e descia agora as escadas.

Sentia seus olhos pesando atrás de mim. Eu tinha que ser realista... Ou ele acha que para conseguir a cura o pessoal vai me polpar e fazer os procedimentos menos invasivos possívels? Eu provavelmente iria morrer... Se isso for verdade também...

Adentro a cozinha e de lá consigo ouvir a algazarra que está se tornando a reunião. Pessoas falando uma por cima das outras e a voz de Rick tentando acalmar a todos. O gazebo não fica tão linge, porém não consigo entender propriamente o que está sendo dito.

Abro a porta da despensa e procuro nas prateleiras de cima alguma garrada suspeita. Vejo escondida atrás do pudim de chocolate de Carl, uma garrafa transparente com um líquido também transparente. Parece água, mas não estaria ali em cima se fosse. Me ponho na ponta dos pés e alcanço-a retirando a tampa e o cheiro ao invadir meu nariz me deu um pouco de nauzea, mas confirmou que realmente era uma das garrafas que Daryl achava na floresta com bebida contrabandeada.

Coloco a garrafa por debaixo do meu casaco e subo apressada as escadas passando pela frente do quarto de Carl novamente e dando graças a Deus que a porta agora estava fechada. Subo a escada da escotilha e a puxo pra cima fechando em seguida.

Vou direto para a janela, subo para o telhado para o meu adorado "cantinho do pensamento". Desde que eu descobri que podia subir lá eu ia quase todos os dias da útlima semana. Olhar as estrelas era a única coisa que me fazia sair daquela realidade.

Conseguia ver as pessoas ouvindo o Rick que conseguiu com a ajuda do pessoal dele a controloar as pessoas de Alexandria.

Abri a garrafa que me deu outro soco no nariz. Se o cheiro era forte daquele jeito, imagina o sabor? 

Dei o primeiro gole que desceu queimando a minha garganta. Uma careta se formou em meu rosto e eu cogitei parar por ali mesmo, mas como era a primeira vez que eu ia beber, tinha que dar uma chance para a experiência. Eu me pergunto... "Por que diabos eu estou bebendo?" Não faço ideia. Talvez desse modo eu consiga colocar meus pensamentos no lugar ( ou piorar ainda mais ).

Tiro um pequeno som portátil que ganhei de Gleen o ligo. Nele haviam algumas músicas entre elas algumas que eu escutava antes dessa merda aconteceu. Uma puta sorte ter Kodaline, Coldplay, Seafret, entre outras.

Depois de alguns minutos eu já tinha tomado mais da metade da garrafinha de 1 litro, mas além de lágrimas no rosto (efeitos das músicas) e uma visão embaçada do gazebo, eu não conseguia sentir mais nenhuma diferença. Ao levantar minhas mãos e enxugar os olhos, percebo que meus movimentos estão um pouco mais devagares que o normal.

Consigo ver forçando a vista que a reunião fora finalizada. As pessoas agora se dispersavam e iam para suas casas. Tentei enxergar o rosto de Rick para saber se a situação estava boa ou ruim, mas só conseguia ver um borrão. Conseguia ver o grupo todo vindo atrás conversando entre si e Daryl por último afastado como sempre. Vejo-o cabisbaixo com as mãos no bolso até que o perco de vista pois já chegaram em frente da casa e o telhado agora os cobre.

Se contar dois minutos foi muito para ele aparecer com a cara na beira do telhado:

- Sabia que estaria aqui... - Disse subindo e vindo na minha direção.

Comprimo um sorriso que logo some quando ele arranca a garrafa da minha mão. Eu o encaro sem expressão e ele me olha de volta com o cenho franzido.

- Que foi? Deu pra beber agora? Ainda mais no telhado? Tá maluca? - Disse em voz alta e firme.

Dou de ombros e olho para frente.

A caixinha de som começou a tocar uma das músicas que mais se encaixavam nesse momento. Em toda essa loucura em que o mundo se encontra. Ao perceber que eu não iria retrucar ou responder, Daryl deita ao lado de onde eu estou sentada e eu o percebo me encarando, mas continuo olhando para meus pés.

(Se quiserem colocar no youtube e acompanhar:

High Hopes
Grandes Esperanças

Broken bottles in the hotel lobby
Garrafas quebradas no saguão do hotel
Seems to me like I'm just scared of never feeling it again
Parece que estou apenas com medo de nunca sentir isso novamente
I know it's crazy to believe in silly things
Sei que é loucura acreditar em coisas bobas
But it's not that easy
Mas não é tão fácil assim

I remember it now
Eu lembro disso agora
It takes me back to when it all first started
Me leva de volta para quando tudo começou
But I only got myself to blame for it and I accept it now
Mas sou o único culpado e aceito isso agora
It's time to let it go, go out and start again
É hora de deixar pra lá, sair e recomeçar
But it's not that easy
Mas não é tão fácil assim

But I've got high hopes
Mas tenho grandes esperanças
It takes me back to when we started
Isso me leva de volta para quando começamos
High hopes
Grandes esperanças
When you let it go, go out and start again
Quando você deixa pra lá, sai e recomeça
High hopes
Grandes esperanças
When it all comes to an end
Quando tudo chega ao fim
But the world keeps spinning around
Mas o mundo continua girando

And in my dreams
E nos meus sonhos
I meet the ghosts of all the people who've come and gone
Encontro os fantasmas de todas as pessoas que vieram e partiram
Memories, they seem to show up so quick
Lembranças, elas aparecem tão rapidamente
But they leave you far too soon
Mas te deixam cedo demais
Naive, I was just staring at the barrel of a gun
Ingênuo, eu estava apenas encarando o cano de uma arma
I do believe it
Eu acredito

Yeah, but I've got high hopes
Sim, mas tenho grandes esperanças
It takes me back to when we started
Isso me leva de volta para quando começamos
High hopes
Grandes esperanças
When you let it go, go out and start again
Quando você deixa pra lá, sai e recomeça
High hopes
Grandes esperanças
Oh, when it all comes to an end
Oh, quando tudo chega ao fim
The world keeps spinning
O mundo continua girando
Yeah, the world keeps spinning around
Sim, o mundo continua girando

Oh, high hopes
Oh, grandes esperanças
It takes me back to when we started
Isso me leva de volta para quando começamos
High hopes
Grandes esperanças
When you let it go, go out and start again
Quando você deixa pra lá, sai e recomeça
High hopes, oh
Grandes esperanças, oh
Yeah, but the world keeps spinning, ooh
Sim, mas o mundo continua girando, ooh
Yeah, this world keeps spinning
Sim, esse mundo continua girando

How this world keeps spinning around?
Como esse mundo continua girando?

Ao final da música me encontro soluçando e finalmente digo:

- Daryl... Você sabe que eu vou me encontrar com os Salvadores, não é? - Digo e percebo o quanto minha lingua está dormente e minhas palavras saem arrastadas.

Daryl bufa e cobre o rosto com um dos braços.

- Sem chance... - diz.

- Eu não quero ficar na dúvida se eu posso ajudar milhares e milhares de pessoas ou não.

- Você nem sabe se essa história é verdade. Não se nem porque o Rick te contou isso e não sei muito menos o porquê dele ter contado para todo mundo. Isso me deixou puto!

- Eu só quero que as coisas voltem a ser como eram antes.

- De nada adianta consertar tudo se você não vai estar aqui, porra! - Daryl se sentou.

- Não adanta continuar como estar e nós continuarmos perdendo mais e mais pessoas... - Me levando com dificuldade e com o olhar preocupado de Daryl.

- Eu também estou cansado de perder gente, tá bom? Mas eu juro que eu não vou perder você! - levanta-se do meu lado - Não me deixa, Ellie...

Olho com os olhos sem foco para o seu rosto e em um instante ele está me dando o beijo mais apaixonado que já recebi em toda a minha vida. Suas mãos envolvem meu rosto com todo cuidado. Uma delas escorrega ao rumo do meu pescoço me dando um pequeno arrepio. Seus lábios envolvem os meus levemente e consigo sentir sua barba por fazer roçando no meu queixo. Ele termina o beijo e me dá um beijo na testa quando ouve um barulho na subida para o telhado.

Era Rick que havia colocado a cabeça para ver se estávamos lá. 

- Oi, Rick! Vem se juntar a nossa bebedeira! - Digo inesperadamente quase caindo para trás se não fosse por Daryl ali me segurando.

O que diabos eu estava fazendo? Passei subtamente de bêbada melancólica para bêbada super alegre? Teria sido o poder do beijo milagroso do Sr. Dixon? Droga... O que eu estou pensando?

- Ela bebeu? - Rick sobe também e caminha rindo consigo mesmo para onde estamos.

- É... Bebeu sim - diz Daryl o entregando a garrafa quase vazia.

- Quer ajuda pra colocar ela lá pra baixo? - Rick diz colocando a mão no meu ombro e eu os olho incrédula. Eles estavam falando como se eu não estivesse ali.

- Não precisa - Em um movimento súbito, Daryl me joga por cima de seu ombro fazendo minhas pernas ficarem no seu peito e a parte de cima do meu corpo nas suas costas. Tento protestar, mas minha voz sai mais como gemidos sem sentido. Rick ri atrás da gente enquanto Daryl sem dificuldade nenhuma desce comigo para o quarto. Me coloca de pé e ajuda Rick com a garrafa a desder, já que era sua primeira vez no meu esconderijo não mais tão secreto assim.

Em um instante tudo em volta de mim começa a girar e a última coisa que vejo é Daryl e Rick correndo na minha direção.