História Entre a luz e as trevas - Capitulo 10

  O cômodo onde entramos era tão vasto que mais parecia um grande teatro.

Várias poltronas pretas rodeavam uma mesa oval localizada bem ao centro da sala. O chão completamente revestido com carpete na cor vermelha ornava perfeitamente com os tapetes persas que cobriam quase todas as extensões das paredes, mostrando imagens de variadas guerras.

Me aproximei mais dos tapetes prestando atenção nos desenhos. Foi então que percebi que as figuras bordadas não eram de várias guerras como pensei anteriormente, mas de apenas uma. A batalha de Kumogakure, contada aos poucos através dos múltiplos tapetes.

Um deles em específico me deixou de queixo caído. Três senhores e uma senhora, um ao lado do outro, montados em grandes cavalos brancos. Todos olhando na mesma direção: para um gigantesco castelo negro.

Eram os senhores do conselho.

Eu estava tão concentrada na imagem que me desliguei de tudo ao meu redor, só percebi que a mesa no centro da sala estava ocupada quando vozes exaltadas vieram dela, uma das vozes em questão reconheci sendo a do meu pai.

Direcionei minha atenção para a mesa e avistei os membros do Conselho em pé me olhando, todos sorridentes. Todos, menos lorde Hiashi.

O guardião parou ao meu lado notando meu desconforto, e segurou minha mão afetuosamente. Colocou um leve sorriso nos lábios e me guiou até a mesa oval.

Um senhor baixo e musculoso alargou seu sorriso e veio em nossa direção quando nos aproximamos. Ele tinha no máximo um metro e vinte de altura, mas era forte, não tinha como negar. Trajava roupas despojadas em tons pastel e um boné dos Yankees, sua barba não tão longa estava presa em duas pequenas tranças, o fazendo parecer um viking suburbano.

- Oh, você deve ser a senhora Hinata. Não é mesmo? – o anão perguntou logo após beijar minha mão por cima da luva.

Me inclinei em uma leve reverência.

- Sim majestade. É um prazer imensurável estar entre vocês, espero não estar atrapalhando. – falei um pouco envergonhada, colocando uma mecha de cabelo que caía em meu rosto atrás da orelha.

- Nunca! Há muito tempo tento trazê-la até aqui. E não precisa ser tão formal assim, os tempos hoje são outros, essas formalidades ficaram no passado. Sou Darui, filho de Ay terceiro, o rei dos anões, mas você já sabe disso não é mesmo.

Ele deu uma risada alta e melodiosa, meu coração se aqueceu com sua aura alegre e gentil. Apenas assenti com a cabeça, me sentindo levemente mais confortável em estar ali.

Olhei para a mesa e fiz uma reverência mais rápida para o restante dos senhores ali presentes.

- É um prazer conhecê-la senhora. Já ouvimos muito falar sobre seus dons peculiares. Sou Tenten, filha de Mei, senhora das ninfas. – Uma mulher alta e esguia falou.

Ela trajava roupas brancas esportivas, que contrastava com seus cabelos castanhos presos por dois coques e a pele morena. Sua voz era suave e ao mesmo tempo selvagem, o que me lembrava de sua mãe Mei, na época da guerra.

Um homem magro e alto se levantou da cadeira onde estava sentado, e fez uma reverência sem tirar os olhos azuis claríssimos dos meus nem por um segundo.

- Sou Naruto descendente do rei Hashirama, do reino dos homens. O prazer é nosso em finalmente conhecê-la milady. – seus cabelos eram de um loiro radiante e sua pele em um tom bronzeado demais para ser natural. Ele usava roupas sociais em cores neutras que o faziam ficar ainda mais bronzeado do que já era.

Dei um sorriso sincero e o reverenciei em agradecimento. Meu pai que estava ao lado dele não falou nada, apenas me olhou com mágoa evidente nos olhos e sentou-se bruscamente na cadeira mais próxima.

Eu abri a boca para cumprimentá-lo, mas desisti.

O ar ficou denso e frio repentinamente. A sensação sombria que me seguia em meus sonhos se fez presente, estava mais sutil do que das outras vezes que me encontrei com o caçador, mas eu não tinha dúvidas, era ele.

Constatei que ele ainda estivesse a certa distância de onde eu estava, pois a força avassaladora que ele claramente possuía ainda não me sufocava. Olhei ao redor, procurando entre os bancos do anfiteatro.

Avistei uma figura próxima à entrada/saída da sala. No primeiro momento imaginei ser uma estátua, pois estava imóvel, mas alguns segundos depois ele se moveu, caminhando lentamente para o centro da sala.

- Vocês também perceberam isso, ou fui só eu? – o senhor dos anões quebrou o silêncio – Nem eu tinha visto que Lorde Itachi havia chegado, mas ela olhou diretamente para onde ele estava. Como você faz isso milady, é como dizem, você sente as emoções? – o anão perguntou, olhando ansioso para mim a espera de uma resposta.

- É mais complexo majestade, mas é basicamente isso. – falei em um fio de voz, tentando inutilmente parecer calma.

O senhor dos anões sorriu, claramente satisfeito com a resposta, mas seu sorriso logo desapareceu. O caçador já estava entre os membros do Conselho, mas não cumprimentou ninguém, apenas lançou um olhar ameaçador para o guardião e depois um mais demorado para meu pai.

Achei aquilo muito suspeito, porém eu não podia simplesmente questionar nenhum deles ali, portanto decidi ficar em silêncio – por hora.

- Milorde. – todos disseram ao caçador quase que em uníssono, e se sentaram em seus respectivos lugares.

O caçador apenas acenou minimamente com a cabeça e se sentou largadamente em uma das poltronas do anfiteatro. Cruzou os braços em frente ao peito e olhou para o guardião.

- Está atrasado velhote. – ele falou. Jiraya em resposta apenas abriu um sorriso.

- Tive que salvar meus seguranças antes que a senhora Hinata desse uma surra neles, assim como fez com os elfos que lorde Hiashi contratou para barrá-la na entrada da Sede.

Ele deu uma risada alta, e em minha opinião, exagerada demais.

Fiquei imaginando se ele tinha presenciado a cena que eu havia feito no hall, me senti envergonhada com aquela hipótese. Olhei de soslaio para meu pai, que estava corado pela alfinetada do guardião, mas nada disse.

Todos na mesa pareceram surpresos, e dividiam o olhar entre mim e meu pai, mas também não disseram nada.

Olhei para o caçador com raiva, ele também olhou para mim ao percebeu meu olhar sobre ele.

Fiquei por exato meio minuto perdida naquele olhar negro como a noite, lembrando-me do episódio ridículo que ele fez na madrugada anterior, e como se lesse meus pensamentos ele ergueu uma sobrancelha em desafio.

Caminhei na direção que ele estava sentado, e para a surpresa de todos me sentei na poltrona ao lado da dele. Tentando disfarçar meu desconforto por estar tão próxima daquela aura sombria.

Ele não se moveu, nem mesmo a cabeça para me acompanhar enquanto sentava.

- Tudo bem, já chega de delongas. Vamos começar a reunião. – Jiraya tirou o chapéu e o depositou sobre a mesa. Sentando-se em seguida. – Para começar, Hinata é minha convidada e a entrada dela para as reuniões do Conselho estarão liberadas a partir de hoje, ela também terá acesso a informações dos casos que quiser. – ele olhou na minha direção, mas fiquei em dúvida se ele falava comigo ou com o caçador sentado ao meu lado. – Quando tiver a autorização do Itachi é claro, não tenho tanto poder quanto pareço querida. – falou, e novamente deu aquela risada exagerada.

Eu não soube o que dizer, foi tudo muito inesperado.

Cheguei à Sede pela manhã na esperança de falar com o senhor dos anões. E agora estava ali diante do Conselho, sentada ao lado do caçador e protegida do guardião. Era muita informação para um curto espaço de tempo.

Escutei um barulho alto vindo detrás da mesa do Conselho. Olhei na direção do som e percebi que Hiashi estava em pé, sua cadeira estava caída no chão logo atrás dele.

- Jiraya, você enlouqueceu? – vociferou meu pai, que parecia que explodiria a qualquer segundo. Seu rosto estava vermelho e sua aura carregada de ódio. Eu não sabia se todo calor que eu sentia vinha dele, da criatura ao meu lado, ou de ambos. – Eu sou o senhor dos elfos e respondo por todos eles. Minha filha não precisa e nem deveria estar aqui. Isso é loucura. Nós temos leis, e elas devem ser seguidas.

O guardião não pareceu surpreso, mas também não parecia ter gostado da intromissão do meu pai. Ele sorriu de lado e pegou sua bengala.

Num leve chacoalhar do objeto a cadeira caída atrás do elfo foi erguida novamente.

- Devo lembrá-lo milorde de que eu sei quais são as leis, pois fui eu mesmo que as escreveu não é. Eu não estou substituindo você por ela, no Conselho, por mais que isso seja tentador, eu apenas estou liberando sua entrada para as reuniões. Ela é inteligente, forte, e seus poderes podem nos ser úteis nesses tempos sombrios. – sem esperar a resposta do elfo ele se virou para o caçador ao meu lado – O que você acha disso Itachi?

A raiva de meu pai aumentou ainda mais com as palavras do guardião. Eu não entendia o porquê de toda aquela confusão, o porquê de ele ter tanto medo de eu me aproximar do caçador. O que eles escondiam de mim?

Itachi olhou para meu pai com um semblante inabalável, como se já esperasse isso há muito tempo.

- Ela participará das reuniões, o caso das ninfas no Brooklin foi solucionado graças a ela. E como ela mesma me disse ontem, ela é uma veterana de guerra. Sabe o que faz, não precisa da minha permissão e muito menos da do pai para isso. – a voz do caçador ao meu lado me deixou atônita, mas as palavras que ele pronunciou me deixaram ainda mais.

Olhei para ele surpresa. Itachi ainda não olhava para mim, os olhos dele estavam fixos em meu pai.

- Um monstro como você não tem o direito de se intrometer nos assuntos dos clãs élficos. Somos uma família, e decidimos isso entre nós. Não se esqueça da sua promessa. Isso que estão prestes a fazer quebra com o nosso acordo! – o elfo pareceu não perceber a palavra que usou para identificar o caçador, mas o guardião sim.

Jiraya se preparou para levantar, mas a risada rouca e grave do caçador o prendeu na cadeira. Eu agarrei o braço da poltrona, aquele riso tão próximo ao meu ouvido me afetou de uma maneira estranha, meus pelos do braço se eriçaram e eu engoli em seco, o que estava acontecendo comigo?

- Não se incomode velhote. Continue sentado. – o caçador se sentou mais ereto e entrelaçou as mãos entre suas pernas, seus olhos brilharam vermelhos e encaravam meu pai com fúria. – Não esqueça com quem está falando milorde. Não sou conhecido pela minha clemência. – ele se levantou ainda o encarando, mas não levantou o tom da voz. – Fiz esse maldito acordo para proteger quem era importante para mim, mas ele não me é mais útil. Ao contrário, apenas seu ego saiu ganhando com tudo isso. Acabou. Minha palavra final é essa, ela fica. Tem autorização para trabalhar nos casos que quiser, e também poderá participar das reuniões irritantes do Conselho. – ele começou a caminhar para a saída, parou e olhou para mim por cima dos ombros, mas dessa vez seus olhos estavam negros novamente. – É isso o que realmente quer milady?

Em seu olhar não havia mais fúria, sua aura maligna não queimava mais a minha pele, eu apenas sentia tensão e receio emanando dele. Receio da resposta que eu daria.

Pensei alguns segundos.

- Sim, é isso o que quero. – respondi com convicção.

Um sorriso de canto se formou em seus lábios, e uma covinha se formou na sua bochecha esquerda. Ele se virou e seguiu em direção à saída.

- Ótimo, então está decidido.

Ele se moveu tão rápido que tudo o que eu pude ver foi o farfalhar dos tapetes próximos à porta, anunciando que ele já havia saído. Fiquei sem fala, assim como todos na sala.

- Na próxima vez que usar a palavra monstro para descrever o caçador deixará de fazer parte do Conselho, Lorde Hiashi, e nem eu poderei lhe proteger da ira de Itachi. – a voz do guardião era baixa e repreensiva – Ele é seu superior, e a palavra dele é a lei. Se ele disser algo que me contradiga siga a ordem dele, pois ele certamente terá seus motivos para fazer tal coisa. Confio minha vida a ele, assim como já confiei milhares de vezes e ele nunca me decepcionou. Todos nessa mesa sabem quem ele é, e do que ele é capaz. Você sabe o porquê de ele não ter arrancado sua cabeça hoje, não é mesmo. Não abuse da sua sorte. – ele se levantou – A reunião hoje está encerrada, eu tinha outros assuntos para tratar com vocês, mas terão que esperar. Tenten, querida, o festival da Aliança será no mês que vem. A comemoração da paz... Quero que cuide disso para mim, pode fazer isso?

- Claro senhor, deixe comigo.

- Obrigada filha. – ele falou olhando para a ninfa que se levantava da cadeira, fiz sinal que me levantaria também e o guardião direcionou sua atenção para mim – Hinata meu anjo, você vem comigo. Temos assuntos a tratar.

Suspirei aliviada.

- Claro Jir.

Lidar com o meu pai depois de tudo isso seria problemático.

Os membros do Conselho apenas se despediram de longe e saíram da sala, Naruto foi o único que se aproximou e me deu um beijo de despedida no rosto, mas logo saiu também.

Hiashi continuava sentado em sua cadeira, olhando para o nada. Depois do que o caçador disse, ele não abriu mais a boca, nem pareceu ter escutado a repreensão que o guardião lhe deu há poucos minutos.

Fiquei preocupada e me aproximei dele, me ajoelhando a seus pés.

- Pai... O senhor está bem?

Lentamente ele olhou para mim, e diferente do que pensei, ele não estava com raiva. Estava triste, muito triste. Meu coração se partiu, eu não queria isso. Queria respostas, apenas isso.

Ele tocou em meu rosto com a ponta dos dedos numa leve caricia, se levantou e saiu, sem falar absolutamente nada. Pensei em segui-lo, mas Jiraya segurou meu ombro e me virou para ele.

 - Lembra o que te falei mais cedo? – ele perguntou se abaixando para me olhar nos olhos. Não respondi – Dê tempo ao tempo criança, tudo vai se esclarecer aos poucos. Posso responder algumas de suas perguntas, mas a maioria delas você terá que descobrir sozinha. Seu pai fez escolhas erradas assim como Itachi, mas ao contrário do seu pai, Itachi está disposto a remediar seus erros. Venha, não se preocupe com Hiashi. – ele segurou minha mão e me guiou para uma porta do lado oposto da saída. – Vou responder algumas de suas perguntas, mas primeiro quero te entregar uma coisa.