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História Entre amor e vingança - O juramento feito naquele dia


Escrita por: RobertaDragneel

Capítulo 62 - O juramento feito naquele dia


Fanfic / Fanfiction Entre amor e vingança - O juramento feito naquele dia

Kiran POV’s On/Flash Back On

Devido à repentina mudança para o Japão, passei as duas semanas ajudando a mamadi com a mudança. Então, naquela manhã, acordei tarde demais para a minha caminhada matinal e optei por deixá-la para tarde.

A mamadi apareceu com a salada de fruta em uma bandeja, contente por ter conseguido cortar as frutas sem se machucar. Após repousar as respectivas tigelas na frente de nós três – eu, Maya e Dinesh – ela se sentava no canto da mesa, puxando o guardanapo para seu colo.

— Como vão as coisas na empresa?

— Vão bem, só é meio cansativo organizar toda a papelada. — Dinesh admite com um sorriso fraco. — Gostando da escola, Kiran?

— Não muito, a maioria dos alunos me olha estranho como se eu fosse algum tipo de aberração.

— As pessoas não estão acostumadas com estrangeiros, só isso. — ele diz apoiando a mão em meu ombro em forma de conforto. — Mostre para eles que você é um Yamir e nunca desiste.

— Isso mesmo! Você é único, priy. — afirma mamadi com seu típico sorriso gentil. — E não deixe ninguém te tratar como se fosse inferior à eles.

— O Kiki é incrível! — exclama Maya animada.

Ao ver o olhar de aprovação das três pessoas mais importantes em minha vida, um sorriso involuntário surge em meus lábios e aceito suas palavras de gentileza. Eu não sei o que seria de mim sem minha família, pois eles têm sido o meu apoio desde que voltei do sequestro, principalmente o Dinesh que me auxiliou com a canalização da raiva.

Após o café da manhã, o bhaya oferece-me uma carona até o colégio e acabo aceitando apesar de gostar de caminhadas. Dinesh também me ensinou a dirigir e até hoje sou grato à ele por tamanha paciência naquele época.

— Você não me parece muito animado para a aula, bhai. — comenta olhando-me de canto com um semblante preocupado. — Alguém anda fazendo bullying com você? Só me diz o nome que eu dou um soco cruzado e...

— Não, bhaya! Não é necessário usar seus golpes de Muay thai, eu sei me defender. O problema é que não consigo fazer amigos, isso é tão frustrante.

— Não deveria se preocupar tanto com esse detalhe, logo você terá amigos.

— Duvido muito.

— Kiran, você é a pessoa mais gentil e meiga que eu já conheci.

— Isso saiu estranho, Dinesh.

— Foda-se. O que quero dizer é que você é um bom rapaz, as pessoas irão se aproximar de você quando menos esperar.

Diante das palavras do meu bhaya, sinto-me mais confiante pois sei que ele é sincero. Dinesh, mesmo tornando-se cada vez mais frio com o mundo dos negócios, ainda se preocupa comigo. Depois de seguir seu caminho em direção à empresa, respiro fundo entrando no colégio com um semblante mais confiante.

Talvez eu fale com aquela bela garota das cerejeiras.

(...)

Graças a umas garotas que gostavam da minha companhia, descobri o nome da jovem do segundo ano: Sakura. Após essa grande descoberta, passei o restante do dia tentando chegar na sala dela mas o medo me impedia de continuar. Quando nos encontramos nos corredores, ela conversava animada com uma baixinha de óculos vermelhos. Nesse momento, senti um inexplicável aperto no peito e apoiei a mão sobre o local, vendo tudo girar até a escuridão reinar em meus olhos.

Quando abri lentamente os olhos, encaro o teto branco da enfermaria e sento na maca sentindo a cabeça latejar. A enfermeira vira o corpo em minha direção e abre um sorriso gentil.

— Você desmaiou. Toma. — entrega um comprimido junto com um copo d’água. — Vai te ajudar.

— Obrigado.

Ela explicava os possíveis motivos para o desmaio enquanto eu ingeria o comprimido. Suas palavras passam despercebidas por meus ouvidos pois, no fundo, sei que não se trata de nenhuma problema físico. Eu havia encontrado a reencarnação da Amaterasu.

Como eu sei? Meus antepassados passaram longos anos estudando sobre essa lenda e descobriram que, quando as duas reencarnações estivessem juntas, o demônio sentiria seu coração ser levado. Óbvio que não se tratava do sentido literal, mas de uma dor na região. Minha saúde é impecável, então não há outra explicação para essa tontura: essa tal Sakura é a deusa Amaterasu.

Ao erguer meu olhar em direção à enfermeira, vejo uma mulher atrás dela. Ela possuía longos cabelos negros e usava uma coroa oriental de ouro, junto com um longo cabelo. A mulher, Amaterasu, abria um leve sorriso e sumia em uma poeira dourada.

Não resta dúvidas.

No outro dia, decidi andar um pouco pela praça para espairecer a mente depois dessa descoberta. Era difícil elaborar um plano para chegar na garota, sendo que nós nem nos conhecemos. Ao virar-se para o lado, vejo a tal Sakura se aproximando e meu corpo gela nesse momento. Eu poderia aproveitar para iniciar uma conversa mas a timidez serviu como um bloqueio. Então, corri e me escondi atrás de uma árvore com a respiração pesada.

Ótimo, Kiran. Você tem a chance de falar com ela e acaba fugindo. Como irá convidá-la para uma jornada que colocará sua vida em risco?

Meu coração estava acelerado e não compreendia o porquê. Por um momento, fechei os olhos com força e tive uma imagem: um homem esticava a sua mão de tonalidade vermelha e com unhas afiadas pretas para uma mulher. Os olhos dourados dele encaram intensamente as orbes negras dela. Era perceptível o forte sentimento que nascia entre ambos, principalmente quando o homem sorria expondo os dentes afiados.

Ao abrir os olhos, jogo o cabelo para trás pois pingava de suor após essa visão do passado. Quando estou perto dessa garota, tenho flash back’s da minha reencarnação e essa deve ser a confirmação da nossa ligação. Então, viro o rosto em sua direção e nossos olhares se encontram. Devido ao nervosismo, desvio meu olhar para frente engolindo seco e depois volto a fitá-la mas há um loiro ao seu lado. Pela forma que conversam, não é preciso ser muito inteligente para saber que são namorados.

No fundo, acabei fazendo o que era mais sensato: indo embora dali.

As conversas da Maya e da mamadi no jantar não foram capaz de afastar os pensamentos daquela tarde. Eu ainda estava confuso com toda essa história de purificar a espada mas passei boa parte dos meus anos me preparando para esse momento, por isso não podia recuar. O Dinesh chegou atrasado e recusou o jantar em família, subindo direto para o escritório.

Eu odeio quando ele age assim.

— Mamadi...

Ela lavava a louça ao meu lado. Mahara sempre dispensou os empregados nessas funções pois queria educar os filhos a serem mais responsáveis e aprenderem as tarefas domésticas. Por isso, eu estava ao seu lado porque era minha vez aquela noite.

— Eu encontrei a reencarnação da Amaterasu.

Nesse momento, ela deixava a louça de lado e fitava-me surpresa.

— Sério? Bem, eu não sei o que dizer, priy. Sabe que estou feliz por tê-la encontrado, mas não apoio essa jornada.

— Eu sei, mamadi, mas eu ficarei bem. Eu prometo.

Ela segura minhas mãos com um sorriso terno, olhando no fundo de meus olhos que eram parecidos com os seus. Nosso momento duraria muito mais se Dinesh não aparecesse, pigarreando alto para ter toda a atenção para si.

— Momento fofo de família mas deixem isso para depois. Mamadi, amanhã eu irei sair com uns amigos.

— Amigos?

— Os sócios da empresa.

— Não acredito que irá sair com eles! Esses homens são malvados, eu sinto isso.

— Cala a boca, Kiran. Eles são legais, você que só quer continuar a agir como uma criança.

— Dinesh! — mamadi repreende séria. — Não fale assim do seu...

— Não me culpe se ele nasceu defeituoso. — Dinesh comenta apontando para mim. — E é o monstro da lenda.

Enquanto a mamadi dava uma bronca no bhaya, permaneço parado na cozinha o encarando tristemente. Essas palavras do Dinesh machucavam demais pois ele, além de toda a família, sabe como eu me esforcei para ser uma pessoa melhor após o sequestro. Eu quero ser alguém capaz de destruir a imagem negativa que construíram sobre a reencarnação do demônio. Não pode ser possível que o destino “disse” que eu deveria ser uma pessoa ruim.

Quando volto à mim, os dois ainda discutem e mamadi aponta para as escadas, fazendo com que Dinesh a obedeça após lançar o seu típico olhar irritada. E eu permaneço parado, abaixando o olhar em direção às minhas mãos trêmulas e, só então, percebo as lágrimas surgindo atrapalhando a visão.

Eu só queria ser normal.

Ter TDAH é mais complicado do que imaginam. Eu não consigo seguir regras com total clareza e perco facilmente o foco em conversas, além de demonstrar um certo grau de dificuldade em aprender. Meus pais contrataram os melhores psicólogos para liderarem o tratamento e isso ajudou muito, pois lidei bem com a depressão no início da minha adolescência. Porém, aos poucos, as sessões começaram a ser como torturas porque eles queriam aprofundar em minha mente conturbada e eu sempre tinha ataques de pânico ao lembrar do que houve. Desde então, evitei psicólogos à todo custo.

As artes marciais e o piano foram a minha terapia. Infelizmente, algo não podia ser mudado: minha baixa autoestima. Eu continuava a repudiar o jovem na frente do espelho como se fosse algum tipo de ser defeituoso, como o Dinesh falou.

— Ninguém gostará de mim... — murmuro baixinho durante o choro. — Eu sou alguém quebrado, afinal.

(...)

Antes do meu bhai sair, ele arrumava o longo cabelo e passava um pouco de perfume. O início da manhã estava mais agradável do que o normal, talvez porque estou aceitando aos poucos que nunca serei amado. Ou, talvez, porque o Dinesh está tão preocupado com a empresa e em agradar os sócios que não deu nenhuma alfinetada no café da manhã. Quando eu passo pelo banheiro, sinto ele tocar meu braço e viro a cabeça em sua direção.

— Kiran, desculpa por ontem.

— Tudo bem, Dinesh.

— Ei, sabe algum restaurante legal? Eu e meus amigos não conhecemos muito aquela região.

Reviro os olhos soltando um longo suspiro. Não gosto dos sócios da empresa e gostaria de expulsá-los daquele lugar, onde se tornou o templo sagrado da nossa família como uma representação do esforço do baldi. Porém, essa escolha não cabe à mim.

Então, lembro-me de ter visto a Sakura trabalhando como maid e sorrio fraco.

— Tem um maid café naquela região, ele é muito movimentado e eu já frequentei esse lugar algumas vezes. O atendimento é ótimo e eles possuem as melhores sobremesas que eu já provei.

— Valeu!

Dando nos ombros, sigo o meu caminho para a saída da mansão pois se iniciava outro dia de aula.

Aproveitando-se da ausência do Dinesh naquela noite, toquei as músicas favoritas da Maya no piano e assistimos um filme de princesas juntos. A pequena amava as animações americanas e me cutucava sempre que iria se iniciar algum musical, acompanhando a música com destreza. Ainda bem que o curso de inglês está dando resultados.

Mamadi assistiu o segundo filme em nossa presença, mas adormeceu de cansaço na metade. Cuidadosamente, peguei a mulher em meus braços e a repousei em sua cama, descendo as escadas em seguida. Para a minha surpresa, a pequena estava quase dormindo e desliguei a televisão ignorando o seu protesto.

— Hora de dormir, sua teimosa.

Pegando-a no colo, ouço seus resmungos enquanto ela escondia o rosto em meu peito. Após deitá-la na cama, Maya segurava a minha mão antes que eu me afastasse.

— O que houve?

— Obrigada.

Surpreendo-me com seu agradecimento repentino, ficando de joelhos ao seu lado na cama.

— Pelo o que?

— Por ser um tão bom para a nossa família.

Mordo fraco o lábio inferior para conter as lágrimas, dando um beijo na testa da Maya e ela envolve os braços em meu pescoço, apertando-me em um abraço aconchegante antes de se acomodar novamente na coberta.

— Boa noite, Maya.

— Boa noite... — disse rindo enquanto fechava lentamente os olhos. — Bhai.

Por causa da insônia, usei o tempo livre para colocar as matérias em dia. Ser novo no colégio é sinônimo de acumular atividades e projetos escolares. Se eu quero ser professor de história, preciso dar o meu melhor.

Meu celular toca e levo ao ouvido enquanto fazia algumas anotações. Ao ouvir a respiração pesada do outro lado, largo a caneta de forma brusca.

— Kiran, Kiran...

— O que houve, Dinesh?

— Eu não queria ter feito aquilo... Eu... Por favor, ajude-me, bhai...

Eu não sabia o que estava acontecendo mas, considerando o seu tom de voz, nada bom tinha acontecido. Por isso, visto o meu moletom cinza e desço rapidamente as escadas certificando-se de que ninguém me veria sair. Então, dirijo o mais rápido possível em direção ao endereço dito pelo Dinesh durante a chamada.

Não sei explicar, mas tenho uma sensação horrível em meu peito.

Quando estaciono o carro, analiso a entrada de um galpão abandonado o qual era utilizado pela empresa para guardar as máquinas de mineração. Contudo, mudamos nossa sede para o outro lado da cidade e abandonamos esse depósito por outro mais próximo. Ao descer do carro, encontro o Dinesh ajoelhado fitando as mãos com um olhar vazio.

— Algo aconteceu?!

— Kiran... — ele ergue a cabeça em minha direção. — Está tudo tão confuso, minha cabeça dói.

— Você usou drogas?!

— Eu não sei o que fazer! Eles estão... Com a garota... Eles...

Antes mesmo de questionar, ouço vozes e gritos de dor vindo de dentro do galpão. Nesse momento, nem mesmo os murmúrios de Dinesh conseguem minha atenção, pois corro desesperadamente para dentro do local. De forma sorrateira, abro a porta e vejo os sócios da empresa batendo em uma garota. Ela estava presa em correntes nos braços e sua roupa completamente rasgada, o que me faz pensar no que poderia ter acontecido antes.

Todo o meu corpo treme ao imaginar e sinto uma imensa vontade de vomitar, mas me mantenho de pé pensando em como salvá-la sem ser reconhecido.

Eu preciso nocautear quatro caras e não ser descoberto, essa vai ser difícil.

Então, tiro a camisa enrolando-a ao redor do rosto como uma máscara e entro de vez no galpão. Ryan fita-me confuso mas recebe um soco certeiro da têmpora, desmaiando imediatamente. Tomio e Adam se entreolham, preparando-se para correr mas a única saída está interceptada por mim. Os dois correm em minha direção e puxo Tomio pela gola da camisa, jogando-o contra uma pilha de tijolos. Ele acaba batendo a cabeça, ficando tonto e desmaiando logo em seguida.

Adam encara-me sério tentando intimidar e Dylan aparece atrás de mim, acertando-me com um pedaço de madeira. Eu cambaleio para os lados, virando rapidamente o corpo e segurando a madeira, puxando-a com minha força para perto de mim. Em seguida, acerto o homem com força e ele cai desmaiado.

— Quem é você? — Adam grita eufórico, procurando alguma arma.

Permaneço em silêncio, aproximando-se do alvo e ele tenta correr mas o acerto quando dá as costas. Então, todos os quatro estão inconscientes.

O gemido de dor vindo do canto do galpão, desvia minha total para a garota inconsciente. Ao se aproximar, percebo que se trata da Sakura e quase cambaleio assustado. Por mais que queira saber o porquê de tudo isso estar acontecendo, minha prioridade é salvá-la. Então, tiro as correntes de seus braços e o seu corpo cai sobre o meu. Devido ao vento gelado e ao corpo descoberto dela, decido vesti-la com meu moletom e depois a pego nos braços.

Ao sair do galpão, Dinesh corre em minha direção desesperado mas decido cortá-lo.

— Pegue o carro e volte para casa. Nós iremos conversar quando eu voltar.

— Perdão, eu...

— Não há perdão para o que houve.

Dinesh ainda estava sobre o efeito de alguma droga ou do álcool, por isso sei que é impossível discutir com ele nesse atual estado. Era melhor que fosse para casa e se desintoxicasse, ao mesmo um pouco. Dessa forma, ajeito a garota em meus braços e começo a caminhar até a sua casa.

A tal Sakura morava perto do parque onde a Maya brincava, o que facilitou muito a minha memória em selecionar o melhor caminho. Devido ao horário, as ruas estavam vazias e o movimento de carros era mínimo. Durante a caminhada, sinto a jovem afundar o rosto em meu peito e suspiro baixo, frustrado comigo mesmo. Eu deveria tê-la protegido, como sou inútil.

Em nossas reencarnações, o Rei Demônio cuidava da Amaterasu com sua vida. E eu? Falhei antes mesmo de conhecê-la melhor. Ao ver seu corpo machucado e frágil em meus braços, surgiu em meu peito uma imensa vontade de protegê-la de tudo, principalmente desse mundo cruel.

— Eu prometo que sempre estarei ao seu lado, Sakura...

Mesmo que ela não ouça meu sussurro, torço para que seu coração tenha captado a sinceridade em minhas palavras.

O pai dela a esperava desesperado na frente de casa, tentando contatá-la – suponho – pelo celular mas era em vão. Quando eu apareço com sua filha nos braços, ele corre em minha direção aos prantos e analisa o seu corpo.

— O q-que h-houve com...

— Calma, senhor. Eu irei explicar tudo mas precisamos deixá-la descansando na cama, por enquanto.

O homem estava tão desesperado que mal conseguia se manter em pé, subindo as escadas apoiado na parede. Ao deitá-la na cama, tiro algumas mechas do seu cabelo do rosto e retiro o casaco. Afinal, não desejava nenhuma prova da minha presença.

— Ela... Ela ficará bem... Não é...?

— Sim. — tiro o celular do bolso, ligando para uma equipe médica fiel à família Yamir. Eu sei que eles manteriam segredo e também confio na eficiência de seu trabalho para ajudá-la. Após informar o endereço, guardo o aparelho no bolso respirando fundo. — Olha, eu preciso que mantenha a calma pois o que ouvirá será pesado.

Eu preciso ser justo com a pai dela, contar a verdade ou quase toda. Por isso, explico que a encontrei sozinha em um galpão acorrentada e com as roupas destruídas, também expondo minha sincera opinião do que possa ter acontecido. Enquanto eu contava minha versão dos fatos, a equipe médica aparece e os deixamos trabalhar em paz.

O homem chorava descontrolado, quase desmaiando ao descobrir o que houve com a própria filha. Ele não parava de se culpar por ter permitido que a Sakura trabalhasse, mas não consigo ver culpa em sua atitude nobre. A culpa é dos desgraçados e... do Dinesh. O pai dela, Etsuya como se apresentou durante o choro, precisava manter a calma pois queria chamar a polícia imediatamente. Porém, seguro sua mão antes que disque o número da delegacia.

— Quem quer que tenha feito isso à sua filha, está bem longe daqui. Por enquanto, vamos nos concentrar unicamente em cuidar de seus machucados.

— C-Certo... Mas eles irão pagar! Quero que cada um apodreça na cadeia!

E eu quero que apodreçam debaixo da terra.

No momento em que a equipe médica saiu, os machucados da Sakura estavam limpos e tratados. Eu me ofereci à comprar remédios em uma farmácia 24 horas na região, porque sei que seu pai não está em condições de sair de casa. Enquanto Etsuya preparava um chá para manter a calma, aproximo-me da garota desacordada e seguro sua mão com lágrimas nos olhos.

— Perdão... Perdão por ter falhado, Sakura. Eu juro que irei te proteger e estarei ao seu lado, independente do que aconteça. E se você desejar vingança, eu te seguirei por esse caminho mesmo que acabe sujando minhas mãos de sangue. Eu não irei falhar novamente com você... É uma promessa...

(...)

Por sorte, Maya e mamadi estavam dormindo devido ao horário e seus quartos são relativamente distantes do escritório. Então, chuto com força a porta onde encontro o Dinesh sentado na cadeira, abraçando o próprio corpo com um semblante de pânico.

— Você é desprezível, Dinesh! Estupro, sério? Que tipo de monstro você se tornou?!

— Eles me manipularam! Quando avistaram a garota na cafeteria, começaram a comentar sobre a sua beleza e eu acabei entrando no jogo deles!

— Para o inferno! Virou um influenciado, agora?

Devido ao nervosismo, penso que farei um buraco no piso de madeira por andar tanto de um lado para o outro. Dinesh puxava os fios de seu longo cabelo, fitando um ponto qualquer com o mesmo semblante desesperado de antes.

— E se eles te incriminarem, Dinesh? Você perderá a liderança da empresa! Olha, é melhor você se entregar e...

— Não! Eu não posso me entregar e jogar todo o esforço no lixo por causa de um erro. E sei que eles não me entregarão porque também foram partícipes nesse crime, ou seja, há vestígios deles no galpão.

— Sério que essa é a sua única preocupação?

Quando Dinesh ergue o olhar em minha direção, buscando algum apoio, eu acabo perdendo o mínimo de paciência sobrando. Então, seguro o meu bhaya pela gola da camisa, puxando-o contra meu corpo e trato de dar um soco em seu rosto. Cambaleando para os lados, ele limpa o sangue em seu nariz e mal tem tempo de se defender pois chuto sua barriga, fazendo-o bater as costas contra a mesa. Após ouvir seu gemido de dor, acalmo-me um pouco senão posso causar um estrago se a raiva dominar minhas ações.

— O que faremos?

— Precisamos matá-los. — ele diz ficando de pé com certa dificuldade, apoiando a mão na mesa.

— Tá maluco? Matar pessoas? Quer chegar a esse nível?

— Não preciso sujar minhas mãos de sangue. — responde fixando os olhos em mim. — Não mesmo.

— Espera, eu não posso fazer isso!

— Quer ver o legado do baldi se afundar por causa de quatro desgraçados, Kiran?

— Não, mas matar é errado.

— Deixe-me pensar em um plano...

Dinesh apoiava a mão no queixo, dando voltas pelo escritório enquanto sento na poltrona de couro preta. Em minha mente, revivia o momento do resgate da Sakura inúmeras vezes, sentindo uma dor inexplicável no peito. Será que ela já acordou? Como irá reagir?

— Por favor, Sakura, fique bem... — murmuro para mim mesmo.

— Sakura? Quem é Sakura?

Saio dos meus pensamentos, balançando a mão em desdém.

— Ninguém que você deva saber, Dinesh.

— Nada disso. Nunca te ouvi falar o nome de uma garota. É alguma garota do colégio? Não me diga que está apaixonado por ela?!

— Não, não estou! Que tipo de mudança de assunto é essa? Aliás, a Sakura é a garota que você...

Opto por ficar em silêncio pois não era necessário completar a frase. Dinesh suspira cabisbaixo e posso ver o arrependimento em seu olhar, pelo menos por uma fração de segundos já que se mostrava eufórico depois.

— Isso! Podemos usar a Sakura!

— Oi?

— Quando ela estava sendo atacada pelos demais, pude ver o ódio em seu olhar. Essa garota nunca mais será a mesma, tenho que certeza que deseja vingança.

— E...?

— Você pode apoiá-la na vingança, Kiran! Eu te forneço o dinheiro necessário para isso, não se preocupe.

— O que deu em você? Ela precisa de acompanhamento psicológico e boas pessoas ao seu lado, não da droga de uma vingança.

— E eles precisam de alguém para fazer justiça. Com toda certeza, você é a pessoa que poderá influenciá-la com a vingança, só precisa ganhar a confiança dela.

Eu queria gritar o mais alto possível como o bhaya está maluco, porém ele segura meu rosto com firmeza fitando-me profundamente. Em suas orbes escuras, posso ver um resquício de arrependimento e humanidade. Talvez aceitar esse plano o fará voltar a ser o jovem alegre de antes, por isso não tenho outra opção. Por mais que manipular uma garota inocente seja contra os meus princípios, no fundo só desejo ver minha família reconstruída como antigamente.

— Ela ficará feliz ao saber que alguém a apoia em sua vingança. Você pode ser o feixe de luz na vida dela, Kiran. É a sua chance de provar que não é defeituoso, prove que também é capaz de trazer sorte para a família.

Então, ele começa a explicar como ajudará financeiramente na vingança com o capital reserva da empresa. Dinesh também falou que forneceria as informações necessárias sobre os sócios, por ser o dono da empresa tinha acesso ao banco de dados sigiloso. Diante de seu plano maluco, só me resta concordar e torcer para que tudo acabe bem no fundo.

Antes de sair da sala, viro o meu rosto em sua direção e vejo a imagem de um garotinho assustado fitando a lua através da janela. Algo em meu interior diz que ele está com medo das consequências de seu ato.

— Ei, Dinesh.

— Sim?

— Eu serei um monstro se fizer isso?

Tenho medo de continuar sendo o amaldiçoado da lenda, carregando o fardo de nunca encontrar a verdadeira felicidade em minha vida e trazer desgraça à todos ao meu redor. Por isso, temo que manipular a Sakura apenas piore tudo. Porém, Dinesh abre um sorriso torto e dá nos ombros.

— E quem não é, hoje em dia?

Dito isso, decido deixá-lo em paz enquanto sinto um peso em meu coração. Se o Dinesh acredita que o plano irá consertar tudo, só me resta dar uma última esperança para esse homem de olhos frios e sem vida. 



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