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História Entre cães e lobos - Longínquos


Escrita por: BloodCherry e Juhvia

Notas do Autor


MANSAEE MANSAE MANSAE YEAAH
Gente, eu viciei nessa música! Vocês conhecem seventeen? Eles são incríveis!

Enfim, avulsidades à parte. Pessoal, nossa, eu e Juhvia realmente não esperávamos tanta receptividade, sério. Vocês fodem mesmo, sos <3

Muitíssimo obrigada por todos os comentários e pelos favoritos, esperamos honrar todos eles *u*

Sem mais, aos lobinhos <3

Capítulo betado por: Sailorwinks

Ps: atentem-se aos asteriscos, amores.

Capítulo 2 - Longínquos


 

 

“A vila se mantinha impassível, aquela seria apenas mais uma comemoração desnecessária, mero capricho dos dois anciãos que, com dois tons de zombaria, glorificavam-se pela união mais poderosa de todo o vale além das colinas; quilômetros e quilômetros de terra seca e infrutífera deveriam já saber que dois jovens imaturos manteriam, agora, àquela terra. Apenas um aviso gentil de guerra.

Park ChanYeol, altivo como si só, pendia nos lábios um pequeno maço, feito do fumo do vilarejo vizinho e papiro da região sul. Parecia impassível a toda aquela parabenização e posse do que, por direito, um dia seria seu, mesmo que, agora, anexado a alguns bons pés de terra.

Prostrado endurecido ao seu lado, tal como era o meu dever ficar dali em diante, conseguia sentir o enrijecer dos músculos a cada olhadela que depositava sobre mim; olhadela por olhadela, até que me remexesse incomodado.

Pigarreou algumas vezes e pressupus, em meio àquelas pequenas tosses farsantes, que gostaria que eu olhasse para si.

Sua personalidade arrogante se fazia valer desde quando criança, talvez, a constatação de seu trono, regado ao sangue daqueles que há muito lutaram, causasse em si certo contentamento. Para mim, contudo, de nada valia um poder legitimado por rosnares salvaguardados e carne debaixo das garras.

– Sente-se de algum modo desconfortável, BaekHyun? – Indagara fingido, o sorriso malevolente mal podia ser escondido por detrás daqueles lábios embebidos de uma dose e meia de escárnio.

– Não. Existe algum motivo para que eu esteja? – Cautelosamente, permiti alfinetar-lhe um pouco, numa vingança porcamente infantil para tudo o que passava.

O fato de ser obrigado a me curvar para as suas deliberações presunçosas, fazia o meu pior despertar, lentamente, a cada dizer que a voz grossa entoava de maneira grosseira, mesmo que sutilmente.

– Sim, BaekHyun. Você tem muitos motivos para se sentir desconfortável... E um deles chega ao anoitecer.”

 

 

Naquela manhã, estranhamente o sol parecia alumiar tudo ao redor; da ponta do cume recoberto por neve a face de quem o via nascer majestoso, irradiando todo o mar de desesperança que pairava sobre a vila.

Homens e mulheres mantinham as janelas e portas das casas fechadas, e, mesmo que o sol resplandecesse horizonte afora, nenhuma alma vagueava pelas ruas. Eram tempos de guerra e, nessas épocas, mesmo a luz do sol se tornava suspeita.

E mesmo eu, em minha condição de guardião daquele vilarejo, temia. Todavia, o que me fazia tremer sutilmente e orar para qualquer deus que estivesse acima de mim, vagueando o olhar quando o apetece, não era um soco dolorido ou uma flechada certeira. Alguns tremores vinham da alma, e esses eram os mais amedrontadores.

O som quase cristalizado que as botinas enterradas na neve faziam, a cada passo que dava, causava-me uma estranha inquietude, um sentimento que vinha do bater descompassado do peito e que se emancipava no suor frio que me escorria sobre a fronte.

 Entre os dedos, o pequeno bilhete que ChanYeol deixara e, sobre as costas, as flechas dispostas dentro do pequeno aljava.

O ar gelado tinha cheiro de fumo e pinho, e naquele limiar entre o desespero e a esperança, eu só conseguia focalizar seus dedos longos a segurarem um maço, mesmo que nada houvesse ali, além de uma pequena cabana.

Pus-me a inspirar e a expirar a maior quantidade de vezes que meu pulmão pudesse aguentar. Minha visão parecia enevoada como se um baforar certeiro, vindo de seus lábios, tivesse acertado-a cruelmente. Na ponta da língua, quase podia sentir o gosto, mesmo que maço algum estivesse sobre os lábios.

De frente a mim, os nós da madeira esfoliavam os dedos a cada batida mais forte que desferia sobre a porta de uma das casas da vila. Aquela era a minha primeira e última esperança e, se preciso fosse, não mediria bens ou mesmo esforços para conseguir aquela informação.

Num ruído seco, a porta se abrira, evidenciado seus cabelos negros e olhos cansados.

– O que faz aqui, BaekHyun?

O odor gostoso do chá que vinha de dentro de sua casa fazia meu estômago se revirar. Eram bons quilômetros até chegar a sua casa, afinal. Raspei a garganta, constrangido, consentindo com o gentil “entre e vamos comer algo”, que sua voz doce proferiu poucos instantes após. O semblante sempre sério levemente sorridente ao encontrar meus braços saudosos.

O copo de chá esquentava minhas mãos e sua faceta resignada acalentava cada batida minha que insistia em se desesperar a cada palavra que se lembrava daquela carta. Mesmo o gosto levemente adocicado do líquido, que sorvia em goladas longas, não era capaz de me fazer acalmar.

– ChanYeol nunca havia me deixado bilhete algum até hoje, KyungSoo.... Sinto que algo ruim irá acontecer, e nunca irei me perdoar se não puder impedir.

Do KyungSoo era amigo meu de muitas primaveras, antes mesmo de me casar com ChanYeol. Conhecemo-nos na época da colheita, onde os frutos deveriam ser estocados para as estações seguintes. Conforme crescíamos, meus olhos acompanhavam o seu florescer como o beta mais durão de todo aquele povoado. Entretanto, mesmo as suas garras afiadas e sua força digna de um alfa não foram o bastante quando se apaixonou por Kim Jongin, desistindo das frentes de batalha para cuidar da casa e dos afazeres domésticos, tal como o ômega que nunca foi e que nunca iria ser.

– Guerras são sempre ruins, BaekHyun. Sei que está preocupado, mas todos estão. Eu estou! – O olhar demonstrava uma maturidade frígida, facilmente abalada.

Eu bem sabia que deveria estar acostumado com as vigílias e voltas constantes de ChanYeol que demoravam dias, às vezes, semanas. Os arranhões e escoriações sobre a pele também me eram familiares, quando voltava cansado de um conflito inesperado. No entanto, por mais que tentasse me convencer de que aquela fosse apenas mais uma batalha dentre tantas e de que era o seu dever como líder prostrar-se frente ao combate, algo em mim gritava para que corresse aonde estava, vigiando suas costas com minhas flechas ou com o corpo, se preciso fosse.

– Sei que Jongin foi escalado e que você sabe onde irão acontecer os conflitos. Por isso eu peço, em nome de todos os anos que temos de amizade, que me diga as coordenadas.

Balançou a cabeça em negativo, sorrindo como se toda aquela situação angustiante fosse uma piada que apenas a sua perspicácia pudesse compreender.

Os dedos seguravam um pequeno pincel e, uma das mãos, um pedaço de pano amarelado pelo tempo, onde antes que se pudesse colocar quaisquer informações ali, pôs-se a me olhar longo, afastando bruscamente o pincel do pano.

Os segundos transcorriam-se longos, a boca carnuda limitada a uma linha pequena de pura hesitação.

– Me espere aqui, irei pegar algumas coisas. O caminho até lá é longo, então precisamos de alguns mantimentos e de nos manter aquecidos.

 

 

[...]

 

 

Observava as costas de KyungSoo, seus passos, sempre cautelosos, denunciavam a experiência que tinha.

Segurava o arco o mais firme que podia, sempre atento a qualquer movimento por detrás das árvores de troncos grossos e moitas abastadas, naquele trajeto perigoso no qual nos arriscávamos.

Relaxou os ombros, indicando um pequeno tronco jogado pela neve para descansarmos das longas horas caminhando sem a mínima pegada para nos orientar. Afinal, os guerreiros de nossa matilha, calejados na arte da guerra, eram conhecidos por serem sorrateiros; tão discretos quanto à brisa fria que, vez ou outra, fazia arrepiar a pelugem da face.

– Estamos quase chegando, apenas mais três quilômetros à esquerda e alguns metros em direção ao arco de árvores, naquela região. – Apontou em direção onde várias árvores se dispunham em uma quase ogiva, como se dessem as mãos para se protegerem das batalhas constantes que aconteciam naquela região.

Assenti, permitindo-me sentar até que o formigamento que percorria a minha perna, após quilômetros e quilômetros de chão enevoado, transformar-se num leve desconforto, fruto de anos de privações e daquela natureza que, concordando ou não, nunca se adaptaria à vida de caçadas constantes.

Quando pequeno, lembrava-me das vigílias das quais meu pai insistia em me levar – em sua mórbida esperança de me descobrir ao menos um beta, penso eu –, instruindo-me sobre toda a sorte de atalhos e plantas que enchiam a relva daquele ambiente empobrecido, mas rico o suficiente para manter vivo e pulsando os filhos que cuidassem de si.

Rumei meu olhar para KyungSoo, seus olhos, esses escuros como deveriam ser, pareciam-me ainda mais soturnos. Seus ombros tensos denunciavam o quão atento estava, as narinas dilatadas, cujo ar escapava por elas em lufadas quentes e pouco cadenciadas, evidenciavam uma inquietação incomum; uma observação que apenas a sua sagacidade era capaz de perceber.

– Aconteceu alguma coisa, KyungSoo? – Sussurrei, preocupado, atendo-me a qualquer manifestação em sua expressão indecifrável.

– Desde que saímos da vila, venho sentindo o odor floral, quase adocicado. Pensei que fosse coisa de um farejar enferrujado, mas agora, no meio desse apinhado de taigas, tudo me parece bem claro. – Sombria, sua voz se voltava a mim com uma seriedade quase palpável, enegrecida pelas pupilas que pareciam engolir todo o olho já escuro por si só.

Eu bem desconfiava do que falava, mas a ameaça do que aquilo poderia significar, ao me dar conta de sua gravidade, fazia com que fechasse os olhos firmemente, negando o provável a mim mesmo.

Não ali. Não agora. Apenas não.

– BaekHyun, esse cheiro é seu, não é mesmo?– Dissera ríspido, atendo-se à gravidade da situação.

E, sim, ele o era.

Pegava-me tão desprevenido que mal podia assentir ou balbuciar, culpado pela casualidade cruel que me fazia uma vítima.

A primeira vez em que me vi amadurecido como ômega, em definitivo, fora em uma manhã repleta de detalhes que eu pouco lembrava; todos eles estavam indecentemente encobertos pelo marasmo que vinha com o odor forte rente as minhas próprias narinas, precedidos, após alguns dias, de uma libido que me fazia tremular de puro êxtase, implorando para que ChanYeol cuidasse daquilo que estava longe de eu poder controlar, por mais que quisesse.

Confrontar o destino e dar à cara a tapa, lutando contra a natureza que dizia que aquilo era fundamental para a manutenção da espécie, não era algo que me permitia refutar. Aquela era a realidade da hierarquização da espécie, onde os mais fracos tinham por dever carregar consigo o presságio da maturação; de momentos poucos solenes onde, por fim, não existia caça ou caçador.

– Não se preocupe, o aluamento* pode demorar até uma semana para atingir o ápice. A gente pode prosseguir, KyungSoo. – Dito sucintamente, coloquei-me de pé.

Eu bem sabia dos riscos que aquela situação agregava a cada uma das pessoas da matilha, entretanto, por mais que tentasse rever uma a uma de minhas preposições sensatas, nada aparentava ser mais importante do que ir até aquele acampamento o mais depressa possível.

– Vamos voltar, BaekHyun. – De certo, com o tom impositivo, aquilo não era um pedido.

– Nós não temos suprimento para voltar, e não estamos no meio do caminho para nos dar ao luxo de escolher qualquer rota. – De olhos estreitos, sorri-lhe o mais confiante que era capaz de fazê-lo, mesmo em minha insegurança aterradora. – Ficarei bem, KyungSoo.

–Três dias, BaekHyun... – Assenti, em nossa promessa muda de que aquele seria o limite de tempo para que eu permanecesse junto a ChanYeol.

Durante o restante do caminho que se seguiu, o único ruído que se fez ouvir fora o farfalhar das árvores e o trincar da neve sobre os pés. E, com passos longos e arfadas dolorosas daquele ar rarefeito em demasia, as árvores rígidas, em toda a sua pretensão de escolta, mostravam o peito duro personificado numa clareira habitada por todos os guerreiros que há muito conhecia.

Ao adentrar, passo a passo, uma leva de aguerridos mantinha-se centrados, pouco preocupados com a presença de seus semelhantes, que adentravam sem serem convidados. Meu olhar se focava em todos os cantos; das tendas feitas de pele à fisionomia de cada um daqueles rostos que via a caminhar pela vila, vez ou outra.  

E entre um expirar e um batimento curto, quase palpitado, afrontava corajoso os olhos embebidos de uma surpresa grosseira. Com o maxilar trincado e a distância de alguns metros, Park ChanYeol encarava a contra gosto o fato de que eu, por mais que tanto tentasse, ao cortar de minha pele, jamais poderia ser moldado por suas garras afiadas.

– O que faz aqui, BaekHyun?

 

 

 


Notas Finais


*Aluamento: palavra bonitinha para cio. Para o clima da fic, a palavra “cio”, que já é zoada por si só, ficaria estranha, então...
Segundo o dicionário:
1. Cio.
2. [Marinha] Curva que forma a parte inferior de certas velas.
3. [Brasil] Insensatez, ausência de critério.

Então, pessoal, por que será que o Baek está tão receoso quanto ao cio dele? Altas revelações no capítulo que vem, que será bem maior, aliás u.u

Hummm... Eu iria digitar algo, mas esqueci. No mais, o que acharam? O que pensam que irá acontecer? Como pensam que será a reação de Chanyeol? Altos questionamentos...

Ah, nós temos uma page no face, onde postamos as atualizações e vinda de novos projetos, caso queiram espiar: https://www.facebook.com/bloohvia/?ref=hl

Beijo molhado em cada um.


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