POV. Narradora
Astrid não estava entendendo o que estava acontecendo. A única coisa que conseguiu compreender era que estavam andando horrores para conseguir seguir Amalteia... De novo.
Cansada, a loira caminhava ao lado de Luke e juntos eles tentavam acompanhar o ritmo de Thalia que estava mais agitada que o normal, da mesma forma que havia ficado com a última aparição da cabra. A parte mais estranha era que diferente de antes, sempre que chegavam perto da cabra, Thalia mandava eles se esconderem para esperar a reação da cabra, que nada mais era do que sumir e reaparecer muito mais a frente.
Os três ficaram nessa estranha rotina por três dias até Amalteia parar em frente a base de um monumento de mármore branco e bronze. Este ficava no meio de um grande parque circular com imponentes mansões de tijolos vermelhos em volta. Quando os dois loiros iam se aproximar, Thalia os puxou para trás de uma fileira de roseiras. Luke perguntou o porquê de estarem se escondendo de uma cabra, fazendo Thalia revirar os olhos e explicar para ele a história de Amalteia.
Percebendo que os dois estavam absortos na conversa sobre a cabra mágica, Astrid se aproximou da mesma e, pela primeira vez, pode analisa-la. Diferente do que parecia de longe, Amalteia não tinha a aparência comum das cabras que Astrid via toda segunda-feira quando visitava com a avó a pequena fazenda da cidadela italiana onde morava. O animal tinha chifres de carneiro, tetas inchadas de cabra e pelo cinza desgrenhado e brilhante. Sim, a cabra brilhava.
Quando ia se aproximar mais, a pequena loira sentiu sua mão ser segurada. Ela virou para trás e deu um sorriso infantil (de criança que fez besteira e foi pega no flagra) para Thalia, que a olhava com expressão repreendedora.
- Era para você ter esperado a gente. – Thalia falou em inglês.
Nos últimos seis meses, a morena, junto de Luke, conseguiu ensinar a Astrid o suficiente para ela conseguir manter uma conversa simples em inglês.
- Thalia está certa. – Os olhos brincalhões, de quem está aprontando, estavam fazendo contraste com o rosto sério de Luke. – Você tem que nos esperar antes de perseguir a cabra mágica reluzente, Astrid. Vai que ela joga leite em você? É muito perigoso!
Thalia revirou os olhos diante da infantilidade do mais velho, mas ao invés de brigar com Luke, ela preferiu ajoelhar-se perto da cabra.
- Amalteia? - Thalia olhou nos olhos da cabra. – Amalteia, o que você quer que eu faça? Meu pai enviou você?
Astrid se perguntou internamente se sua mama realmente esperava que a cabra respondesse. E se surpreendeu com o olhar raivoso que o animal lançou a si. Thalia pareceu não ter percebido o olhar a Astrid, mas Luke percebeu e não gostou nenhum pouco. Qual o problema dessa cabra?
Irritado, Luke pegou na mão de Astrid e levou-a para perto de uma das mansões, longe do animal.
- Cabra do mal – O loiro resmungou ao sentar no meio fio.
- Ela não é do mal... – Astrid respondeu incerta. – Amalteia, cuidou do bebê Zeus. Ela o amamentou.
- Com Refrigerante Diet?
A pequena franziu o cenho, confusa.
- Você não leu as mamas? A cabra tem cinco sabores e um dispenser de gelo.
- Disp... O que?
- Dispenser. É uma coisa que “libera” gelo.
Astrid assentiu, compreendendo a função do objeto. Mas quando ia perguntar a aparência dele, Thalia os chamou e apontou para uma mansão do lado contrário ao que estavam. A casa estava coberta de hera. Em ambos os lados, árvores de carvalho enormes estavam cobertas por musgos. As janelas da casa estavam fechadas e escuras. Colunas brancas descascadas ladeavam a varanda da frente. A porta estava pintada com carvão vegetal preto. Mesmo numa manhã ensolarada, o lugar parecia sombrio e assustador, dando arrepios na pequena loira que os ignorou e seguiu junto a Luke até se reencontrarem com Thalia na frente casa em ruínas.
- Amalteia quer que entremos nessa coisa? – Luke disparou.
- Deixa de ser reclamão, Luke. – Thalia rebateu. – Amalteia sempre me levou a coisas boas. A última delas foi você.
Luke corou com o comentário e ficou sem graça. Vendo que seu objetivo foi alcançado, Thalia sorriu e entrou no jardim (ou no que deveria ser um jardim). O loiro mais velho suspirou baixo enquanto olhava as costas da morena até ela sumir de seu campo de visão.
- Mansão assustadora, aqui vamos nós!
Sem soltar a mão da loira, que estava quase virando uma filha para ele, Luke foi em direção a varanda, onde Thalia os esperava.
***
Uma das coisas que Luke tinha herdado de Hermes era a habilidade de abrir trancas usando a mente, então eles não tiveram problemas para entrar na casa, tirando o cheiro azedo que parecia estar por toda a casa. Dentro se encontrava um salão a moda antiga. No alto, um lustre brilhava com bugigangas de Bronze Celestial – pontas de flecha, pedaços de armaduras e punhos de espada quebrados – todos lançando um brilho amarelo doentio sobre o cômodo. Dois corredores levavam para a esquerda e para a direita. Uma escada se enrolava ao redor da parede de trás. Cortinas pesadas bloqueavam as janelas.
O lugar estava destruído. Em um canto tinha os restos mortais daquilo que um dia foi um sofá. Diversas cadeiras de mogno tinham sido destruídas até virarem gravetos. Na base das escadas estava uma pilha de latas, trapos e ossos – ossos do tamanho do de humanos. O piso de mármore quadriculado estava manchado de lama e uma crosta seca que Astrid sabia que era sangue. Assustada, a loira apertou com mais força a mão de Luke, que tinha sua outra mão ocupada com sua arma... um taco de golfe. O objeto não era nada ameaçador, mas desde que a espada de Luke havia sido derretida em ácido, tudo o que restara para ele era o taco.
Também sentindo o perigo, Thalia sacou sua arma do seu cinto. O cilindro de metal se parecia com uma lata de spray, mas quando ela o sacode, ele se expande até que ela esteja segurando uma lança com uma ponta de bronze Celestial.
Luke ia dizer alguma coisa, mas foi interrompido pela porta que se fechou atrás deles. O loiro deu seu taco para Astrid, avançou na maçaneta e puxou, em vão. Ele pressionou sua mão na fechadura e desejou que abrisse, mas nada aconteceu.
- Algum tipo de mágica. – O filho de Hermes disse – Nós estamos presos.
Thalia correu para a janela mais próxima. Ela tentou abrir as cortinas, mas o tecido preto e pesado se enrolou em suas mãos. As cortinas se liquefizeram em lençóis de lodo oleoso. Elas deslizaram por seus braços e cobriram sua lança.
- MAMA!
Em desespero, o instinto de Astrid foi golpear a cortina líquida com taco em sua mão. O lodo estremeceu e voltou a ser um tecido longo, o suficiente para que Luke conseguisse tirar Thalia a salvo. Sua lança caiu ruidosamente no chão.
O garoto, seguido da menor do grupo, carregou a morena até as escadas, longe das cortinas que voltavam a ser lodo e tentavam pegar Thalia. Os lençóis de lodo chicoteavam no ar, pois estavam ancorados aos trilhos da cortina, não conseguiam sair. Depois de mais algumas tentativas de alcançar as crianças, o lodo se aquietou e se transformou em cortinas novamente.
Thalia tremia nos braços do loiro. Sua lança, que tinha sido trazida por Astrid, estava fumegando como se tivesse sido mergulhada em ácido. A morena levantou as mãos. Elas estavam fumegando e com bolhas. Sua face pálida como se ela estivesse entrado em choque.
- Espere aí! – Luke a deitou no chão e procurou sua garrafa de néctar em sua mochila. ― Espere aí, Thalia. Eu tenho algo.
Quando achou o objeto, derramou o resto de seu conteúdo nas mãos de Thalia. A bebida dos deuses podia curar feridas, e não demorou para as bolhas nas mãos da morena sumirem e o vapor se dissipar.
- Você vai ficar bem – O garoto disse. – Apenas descanse.
- Nós... nós não podemos... – Sua voz tremia, mas a filha de Zeus conseguiu se levantar. Ela olhou para as cortinas com uma mistura de medo e náusea. – Se todas as janelas são assim, e a porta está trancada...
- Nós iremos achar outra forma de sair – Luke prometeu enquanto analisava o lugar, em busca de uma saída.
A analise do loiro foi interrompida por duas pequenas mãozinhas que agarram com força a barra de sua blusa.
- M-Mama...
Em alerta, os mais velhos olharam na direção apontada pela caçula. Assim que os dois descobriram o que causava medo na garotinha deles, um par de luzes vermelhas se movendo na escuridão do corredor esquerdo, um grunhido de arrepiar os cabelos fez suas atenções voltarem-se para o corredor direito, onde tinha outro par de luzes vermelhas. Não demorou muito para chegar aos seus ouvidos um estranho som clack, clack, clack, dos dois corredores
- As escadas parecem uma boa ideia - Luke disse.
Como em resposta, uma voz de homem falou de algum lugar sobre eles:
- Sim, por aqui.
A voz estava pesada de tristeza, como se ele estivesse dando instruções para um funeral.
- Quem é você? – Astrid perguntou num sussurro, mas se o homem tiver ouvido, ignorou.
- Depressa – a voz chamou, mas ele não pareceu animado sobre isso.
A mesma voz se repetiu nos corredores, vinha das coisas com olhos vermelhos brilhantes. Isso somado aos estranhos barulhos, fez Luke puxar as garotas escada a cima.
- Luke... – Thalia tentou.
- Vamos!
- E se for outra armadilha...
- Não há escolha!
Eles tentavam subir as escadas sem se abater com o barulho das criaturas se aproximando – rosnando como gatos selvagens, pisando no chão de mármore e fazendo barulho como o de cascos de cavalo –, mas era difícil. Não conseguiam parar de pensar no: que diabos eles eram.
No topo das escadas, as crianças mergulharam em outro corredor. Castiçais nas paredes cintilavam vagamente fazendo com que as portas ao longo dos dois lados parecessem dançar.
Novamente a voz de homem voltou a chama-los:
- Por aqui! – Ele soou mais urgente que antes. – Última porta a esquerda! Depressa!
Atrás deles, as criaturas ecoavam as palavras:
- Esquerda! Depressa!
Talvez as criaturas estivessem apenas imitando como papagaios. Ou talvez a voz em nossa frente pertencesse a um monstro também. Ainda assim, algo sobre o tom de voz do homem parecia real. Ele soava solitário e miserável, como um refém. Pensou Luke
Como se lê-se os pensamentos do loiro, Thalia disse:
- Nós temos que ajudá-lo
- Sim. – Luke concordou, mas Astrid nada disse.
Algo incomodava a pequena naquela situação, mas não sabia o que era. Porém de uma coisa tinha certeza, não eram os monstros o motivo de seu desconforto. Entretanto, como sempre, a loira preferiu seguir seus companheiros/pais de consideração e guardou aquele sentimento para si.
Quanto mais a fundo iam na direção indicada, mas o corredor tornou-se mais dilapidado – o papel de parede descascando como casca de árvore, castiçais quebrados em pedaços. O carpete estava em farrapos e cheio de ossos. Luz passava por debaixo da última porta a esquerda.
Atrás dos semideuses, o som de cascos ficava mais alto.
Ao alcançamos a porta, Luke se lançou contra ela, mas ela se abriu sozinha. Percebendo o que ia acontecer, Astrid soltou a mão de Luke, deixando o mesmo e Thalia cair para dentro, com os rostos plantados no carpete. Mas assim que eles caíram a garota, pulou para o lado deles.
E a porta se fechou.
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