História Entre Herdeiros (Pausada) - Ninguém fica pra trás Walker.

Carson Walker

Las Vegas – Estados Unidos

22h18min

Levantei rapidamente do degrau onde me encontrava sentada e tratei de correr subindo a escada atrás de mim. O homem que tinha acabado de analisar era moreno com diversas tatuagens por seu corpo, ele gemia de dor, mas mesmo assim tentou segurar meu pé esquerdo com uma mão já que a outra estava ocupada segurando o local do ferimento. Caí de volta na sua direção ainda de costas e acertei suas partes baixas com o pé livre, ele caiu no chão e eu consegui me desvencilhar da sua mão que rapidamente se direcionou para o local onde eu havia o acertado. Levantei-me novamente e corri sem rumo por um corredor enorme e escuro que ficava depois da porta.

Eu simplesmente corria sem olhar para trás e sem saber o que vinha pela frente. O lugar era um breu total. Eu podia ouvir os passos dele atrás de mim enquanto eu voava pelo corredor, maldito, nem com a possibilidade de ficar estéreo ele desiste. O mesmo me chamava de todas as grosserias possíveis dos seres humanos pensarem, mas naquele momento não me importava eu só queria fugir dali.

Meu corpo suava como se estivesse participando de uma corrida, meu peito subia e descia continuamente sem que eu pudesse controlar, minha cabeça rodava por conta da escuridão e meus pés doíam cada vez que entravam em contato com o piso bruto. Quase caí de cara no chão quando senti meu pé tropeçar, segurei em algo que não sabia o que era logo á minha frente e me poupei de uma queda. Olhei para cima e para minha sorte era uma escada que dava diretamente em uma porta onde eu conseguia enxergar grande quantidade de luz entrando pelas frestas.

Os passos daquele monstro atrás de mim começaram a ficar mais perto então tratei de subir rapidamente a escada apalpando os degraus com as mãos na esperança de não me espatifar lá embaixo. Assim que cheguei ao último degrau tateei toda a porta em busca de uma fechadura rezando para que estivesse destrancada. Meus dedos tocaram um metal gelado e tive certeza que era a maçaneta, girei-a sem pensar no que poderia estar por de trás da mesma e ela se abriu, na certa o vagabundo lá embaixo tinha deixado destrancada ele não imaginaria que seria um ponto de fuga para uma Walker.

Contei até três e empurrei a porta com tudo saindo daquela escuridão. Dei de cara com uma sala gigante toda iluminada. Olhei para os lados e vi uma porta a minha direita, na certa daria na rua e na certa eu seria pega se saísse por ali, do meu lado esquerdo havia uma escada que daria no segundo andar, não tive muito tempo de escolher já que dois homens vestidos com ternos passaram pela bendita porta e seguiram na minha direção.

Comecei a subir a escada tropeçando nos meus próprios pés enquanto segurava firme no corrimão com minha mão esquerda. A subida era bem maior do que eu pensava e quando cheguei lá em cima não aguentava mais nem com o peso do meu próprio corpo, meu coração palpitava de uma forma surreal quase pulando para fora do meu peito e minha respiração estava incontrolável que chegava me faltar o ar algumas vezes, porém precisava continuar, não deixaria Kastiel me pegar de novo, para isso acontecer primeiro ele teria que me matar.

Corri por outro corredor imenso, mas ao contrário daquele este era bem chique, iluminado e muito familiar. Engoli seco quando vi que no final do corredor estava á porta, aquela que dava para o quarto sem janelas no qual eu passei meus piores dias.

Eu chorava tão baixo que nem mesmo meus ouvidos escutavam meus soluços, queria ser forte, mas aquilo era demais pra mim. Já fazia muito tempo que estava presa naquele quarto horroroso cheirando á mofo, não tinha bem certeza quanto, já que ali era sempre noite, mas pelo tempo que havia se passado diria que faziam no mínimo dois dias.

Eu queria tomar um banho, me sentia imunda e ter dormido naquela cama nojenta não tinha ajudado nem um pouco. Eu precisava achar um jeito de fugir ou morreria naquele lugar, eu confiava no meu pai e sabia que ele viria me buscar, mas talvez não me encontrasse assim como aconteceu com minha mãe ou talvez Kastiel o matasse antes que ele pudesse me encontrar. Minha cabeça rodava em meio a tantas suposições, mas nenhuma que realmente me ajudasse a sair daquela droga.

Não havia recebido comida e nem água, ninguém tinha vindo até aqui me ver e muito menos saber se ainda estava viva, até cheguei a pensar que tinham esquecido a minha existência e me deixariam definhar naquele cômodo o resto dos meus dias, porém quando eu menos esperava a porta se abriu revelando por trás dela a mesma senhora que vi sentada na sala no dia em que cheguei.

― Bom dia querida. ― ela sorriu e fechou a porta atrás dela.

Não respondi apenas me encolhi mais na cama. Ela trazia consigo uma bandeja grande cheia de comida, senti meu estômago se contorcer de fome assim que ela pôs a bandeja sobre a cama. Eu queria comer, mas o medo falava bem mais alto que a fome e se estivesse envenenada ou coisa do tipo? Eu morreria bem mais rápido do que havia pensado.

― Está com fome? ― ajeitou o vestido florido que usava e se sentou na cama ― Pode comer eu trouxe pra você, tem que ficar bem forte para aguentar o que Kastiel tem pra você. ― sorriu novamente, um sorriso amigável, porém diabólico, tudo naquela mulher me intrigava.

― Eu não estou com fome. ― funguei e neguei com a cabeça vendo a mulher fechar a cara e me olhar com raiva como se eu tivesse assassinado o cachorro de estimação dela.

― Eu não estou pedindo que coma, estou mandando e é melhor me obedecer se não quiser que eu te finque goela abaixo. ― pegou uma faca que estava sobre a bandeja.

Assustei-me com o modo grosseiro e diferente que ela me tratou. Essas pessoas são todas malucas. Naquele momento tive a certeza que seria melhor morrer envenenada do que assassinada a facadas por uma velha louca. Peguei um prato onde continha um sanduíche partido em dois e dei uma mordida engolindo o choro e tentando não demonstrar o meu desespero.

― Boa menina. ― me olhou como da primeira vez novamente e sorriu ― Mais tarde passo para pegar a bandeja e espero que ela esteja vazia, tá bom? ― passou a mão no meu cabelo e foi até a porta, antes de sair acenou um tchau com a mão direita e saiu trancando a porta.

Velha maldita.

― ELA ESTÁ AQUI! ― ouvi alguém gritar no topo da escada me tirando do meu devaneio.

Soltei a respiração que nem sabia que estava prendendo e abri a primeira porta que encontrei. Entrei no cômodo que parecia ser um escritório e na certa era. Em outras circunstâncias eu daria tudo para entrar nesse lugar, mas agora o que me vinha em mente era fugir e fugir. Fechei a porta na tentativa de ganhar tempo, a chave estava na fechadura então tratei de dar duas voltas na mesma trancando o pedaço de madeira á minha frente.

Eu estava ferrada, muito ferrada. Não tinha pra onde fugir, aquele lugar era gigante, mas sem saídas. Havia uma mesa enorme bem no meio da sala, uma prateleira abarrotada de livros no canto esquerdo e vários armários no canto direito. Minha única esperança era a janela. Corri até a mesma enquanto os homens lá fora socavam a porta com força e tive a certeza de quem em muito pouco tempo ela estaria no chão.

Abri o trinco da janela que dava acesso a uma sacada e pro meu desespero aquilo era muito alto sem dúvida eu me quebraria toda se pulasse dali isso se eu vivesse para ficar toda quebrada. A minha esperança era de que o buraco que Derek tinha feito no muro era logo á frente da bendita janela e se chegasse lá embaixo viva era questão de passos para chegar lá fora.

Pensa Carson, pensa!

Ouvi um estrondo enorme e virei-me olhando em direção á porta onde três homens entraram armados, eu tinha certeza que aquele seria o meu fim se não fizesse nada. Os três ergueram as armas e começaram a caminhar na minha direção.

― Acabou Walker, você não tem pra onde correr! ― um deles disse andando um pouco á frente dos outros em passos rápidos.

― Quem disse que não?

Virei novamente em direção á sacada, segurei com as duas mãos na grade de proteção e comecei a rezar mentalmente. Dei um impulso no chão e logo depois um pulo para fora, então senti meus pés sem base, quando dei por mim já estava estirada no chão sentindo uma dor enorme no meu pé esquerdo, pelo menos estava viva.

Não podia ficar ali deitada ou iria morrer facilmente acertada por uma bala lá de cima. Sentei-me com dificuldade e notei alguns arranhões pelos meus braços, meu pé doía demais, não iria conseguir levantar e muito menos fugir. Arrastei-me até uma árvore que tinha ali e me escorei em seu tronco, fechei os olhos e respirei fundo algumas vezes.

Senti duas mãos nos meus ombros e comecei a gritar e me debater, pensei que fosse um dos capangas de Kastiel, então abri os olhos e tomei um susto.

― Justin? ― falei surpresa.

― Consegue caminhar? ― perguntou grosso como sempre.

― Acho que não. ― resmunguei ainda com meu pé doendo ― Eu não disse pra você fugir seu estúpido? ― perguntei com raiva.

Eu estava agradecida a Deus por Justin ter voltado para me ajudar, mas eu não faria o mesmo por ele, então ele não deveria ter voltado. Justin me levantou do chão me colocando em seu colo.

― Ninguém fica pra trás Walker.