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História Entre lobos e dragões - Meu sol e estrelas


Escrita por: iambyuntiful

Notas do Autor


OLÁ ESTRELINHAS, A TERRA DIZ OLÁ! E a Terra está atrasada.

Primeiro: eu vou chamar todos vocês de estrelinhas porque é fofo. Segundo: Me desculpem pela demoraaaa! Eu tive que trabalhar na eleição (eu sei, foi horrível), terça passada foi meu aniversário (aceito os parabéns atrasados) e a faculdade, ela tava ó, dez. Mas eu cheguei agora com mais de 8k pra ver se vocês me perdoam ;;;

Eu gostei muito, muito dessa fanfic. Foi super divertido escrevê-la, enfiar mil referências dentro dela e manter esses dois nerdzinhos comigo. Eu espero que vocês gostem dela da mesma forma que eu. Obrigada pelos comentários e favoritos com o primeiro capítulo, eu to atrasada com as respostas mas eu prometo que vou responder todo mundo certinho <3

De novo: Qualquer referência perdida, é só falar comigo nos comentários. A Sisi (Nasuke) me ajudou com umas coisinhas das cenas aí abaixo, então obrigada Sisi <3 Boa leitura pra vocês, e a gente se vê lá embaixo!

Capítulo 2 - Meu sol e estrelas


ENTRE LOBOS E DRAGÕES

Capítulo 2 – Meu sol e estrelas.

 

As coisas começaram a ficar um pouco estranhas depois que terminaram a cena.

 

Baekhyun mal podia acreditar que tinham ganhado o mini concurso promovido pelo painel e por toda a recepção positiva que receberam. Ouviu de diversas pessoas sobre como pareciam tão submersos na cena que era como se estivessem assistindo a Emilia e Jason atuando; o rapaz não pôde deixar de se sentir lisonjeado porque nunca imaginou que poderia trazer tanto sentimento, mas talvez tudo isso tivesse seu crédito devido a situação em que se envolvera.

 

Não era qualquer pessoa contracenando consigo. Não escolheu aleatoriamente quem seria sua companheira ou seu companheiro, e a cena trazia um apego emocional que não gostaria de dividir com nenhuma pessoa desconhecida. Era Chanyeol ao seu lado, seu melhor amigo que achava que Jon Snow seria o melhor rei que Westeros teria e que acreditava piamente na teoria de R+L=J. Era seu melhor amigo com quem passava horas diárias rindo das mais diversas piadas internas a respeito das séries e livros que assistiam, a pessoa por quem tinha os melhores sentimentos do mundo.

 

Era realmente a lua de sua vida ao seu lado e Baekhyun percebeu que qualquer cena poderia se tornar a melhor contanto que fosse com Chanyeol.

 

Quando receberam os prêmios, Chanyeol ainda não parecia se dar conta da estranha situação em que se colocaram. O ruivo estava tão eufórico com os brindes que receberia e ainda mais com as páginas que teria direito a ler que qualquer constrangimento sumiu de sua mente, restando a Baekhyun tentar ignorar os sentimentos ruins que faziam seu estômago revirar-se como se os zonzóbulos que Luna Lovegood tanto falava estivessem instalados dentro de si. Chanyeol parecia tão feliz com a perspectiva de terem ganhado alguma coisa que o Byun percebeu que poderia imitá-lo e talvez as coisas ficassem bem.

 

As coisas realmente podiam terminar bem enquanto liam as páginas que George Martin gentilmente os concedera em uma sala privada – depois de ouvir os surtos de seus dois fãs e seus pedidos suplicantes para que não matassem seus favoritos, mesmo que soubessem que o bom velhinho se alimentava das lágrimas alheias – e discutiam as mais variadas teorias a respeito do futuro da saga. Prometeram ao escritor que nenhuma informação sairia daquela sala, mesmo que soubessem o quanto seria difícil manterem-se calados frente aos amigos com as informações que tinham. Era um pequeno segredo que guardariam consigo como se fosse um juramento de sangue ao seu khal.

 

Após abandonarem a sala privada e as páginas de Os ventos do inverno foram retiradas de suas mãos ávidas por mais, Chanyeol e Baekhyun voltaram a caminhar pelo evento já devidamente trocados. Os itens que receberam de prêmio estavam guardados na mochila de ambos os garotos, que não sabiam agora como conversar um com o outro. Era uma situação engraçada, na verdade; nunca houve momento algum em que não soubessem o que falar e o simples selo que trocaram durante a cena não deveria constrange-los se tinham um acordo de que poderiam fazê-lo livremente, mas naquele momento em especial, tudo parecia diferente.

 

“Foi... Divertido”, Chanyeol começou meio sem jeito. “Nós ganhamos, e eu te disse que ganharíamos, não foi? Você sempre duvida das minhas ideias, mas elas são ótimas.”

 

“Sua atuação como khaleesi foi impecável”, Baekhyun retorquiu. “Talvez o mérito seja todo seu.”

 

“Você foi um ótimo khal, Baek.” Chanyeol sorriu. “Talvez nós dois estejamos destinados a formar o melhor khalasar.”

 

“Nós não temos amigos o suficiente para formar um khalasar, Chanyeol”, Baekhyun riu baixo. “Quem mais iria querer andar conosco se não Sehun e Kyungsoo?”

 

“Eu nunca disse que precisávamos de mais pessoas”, Chanyeol deu de ombros. “Nós dois já formamos uma ótima dupla.”

 

As palavras de Chanyeol começavam a desconcertá-lo, então Baekhyun tentou mudar de assunto arrastando-o para um dos stands sobre heróis que gostavam, alegando que ainda deviam mais algumas informações para Sehun. Chanyeol deixou-se ser guiado, ciente de como Baekhyun agia quando estava com vergonha e não poderia culpa-lo. Sua própria forma de lidar com sua vergonha era começar a falar sem parar e isso às vezes apenas poderia trazer ainda mais constrangimentos.

 

O que Chanyeol estava pensando, afinal? Baekhyun nunca iria querer formar nada consigo, que dirá um khalasar...

 

Passaram o restante da tarde vagueando pelos stands e por vezes voltando ao painel de Game of Thrones quando sabiam que teriam mais informações reveladas. Surtaram juntos quando os atores apareceram para falar sobre o futuro de seus personagens e envergonharam-se juntos quando as pessoas os reconheceram como os vencedores do concurso. Até mesmo os intérpretes de Drogo e Daenerys souberam da história e vieram falar com ambos os rapazes, parabenizando-os pela coragem de representar aquela cena; a vergonha não tinha mais espaço quando o ship favorito de ambos estava à sua frente, ainda mais parabenizando-os por imitá-los.

 

“Eu vou guardar isso para o resto da minha vida”, Baekhyun disse olhando para os autógrafos que conseguiram de Emilia Clarke e Jason Momoa. Chanyeol parecia tão bobo quanto o amigo ao seu lado, concordando em silêncio. “Eu não acredito que eles vieram falar conosco!”

 

“Eu disse que seria uma boa ideia!”, Chanyeol comemorou. “Ah, toda a vergonha está valendo a pena agora...”

 

“Foi um momento decisivo”, Baekhyun disse. “Muita coisa está valendo a pena depois daquilo.”

 

Chanyeol não parecia entender o que seu melhor amigo dizia, mas para Baekhyun aquilo fazia todo sentido. Ainda se sentia confuso em relação ao que sentia por Chanyeol, pela forma como seu melhor amigo o fazia se sentir e sobre toda a confusão que sua mente se tornou após interpretarem uma cena romântica. Ainda era seu melhor amigo, ainda era a pessoa que mais confiava no mundo, mas, vê-lo como khaleesi do seu khal tornou-se um divisor de águas.

 

Quando o dia se encerrou e tiveram que voltar para casa, os dois estavam cansados demais para se recordarem de que não estavam sabendo lidar um com o outro. Suas pernas doíam imensamente, suas mochilas estavam pesadas e suas mentes cansadas; dividiam o fone de ouvido de Baekhyun – Chanyeol reclamou das músicas do amigo, mas foi recordado de que deveria ter trago seu próprio fone de ouvido para ter direito de escolha – durante todo o percurso que precisavam percorrer. O silêncio era um velho amigo que quase não dava as caras quando estavam juntos, mas que em momentos como aquele, era sempre bem vindo.

 

Quando chegaram a rua de suas casas, Chanyeol caminhou com Baekhyun até sua casa já que era a mais próxima do ponto de ônibus que desciam. A noite estava fresca, o que era surpreendente para ambos os garotos que, devido a animação pelo evento, esqueceram-se dos próprios casacos, e não havia ninguém andando pela rua. O único som que ouviam era os próprios passos e a música que ainda dividiam.

 

Era um ótimo momento, Baekhyun pensou.

 

Quando chegou à porta de sua casa, virou-se para se despedir de Chanyeol e desejar um bom retorno para casa quando viu o amigo revirar sua mochila atrás de alguma coisa. Olhou-o curioso até que retirasse um dos itens que ganharam do concurso e que havia ficado com Chanyeol, devido sua interpretação. Baekhyun não pôde evitar se sentir surpreso com o que via, porque era uma réplica dos ovos de Daenerys, apenas num tamanho menor.

 

“Eu disse que iria dá-los a você caso o encontrasse”, Chanyeol disse, meio envergonhado. Baekhyun conhecia todas suas manias, inclusive a de mexer no cabelo quando se sentia envergonhado. “Eles me deram porque fui uma ótima Daenerys, mas você é o único Targaryen aqui e deveria ficar com eles.”

 

Baekhyun sorriu sem conseguir se segurar. “Os ovos foram um presente de casamento para ela”, Baekhyun se recordou. “Dá-los a mim significa a mesma coisa?”

 

“Talvez um símbolo do nosso casamento imaginário”, Chanyeol brincou. “Cuide bem deles, khal.

 

Baekhyun segurou-os com cuidado como se fossem reais e pudessem se quebrar e Chanyeol arrumou a mochila nas costas. Ainda sorriam de forma contida um para o outro, ainda faziam as mesmas brincadeiras mesmo com o constrangimento constante, e perceberam que gostavam disso. Não importava se estavam tão envergonhados que quase não conseguiam manter um diálogo, eles ainda conseguiam ser verdadeiros um com o outro.

 

“Volte bem para casa, khaleesi.”

 

Chanyeol se afastou despedindo-se, e Baekhyun o acompanhou até sumir na escuridão noturna. Os três ovos em miniatura continuavam seguros em seus braços e o sorriso não deixava de adornar seus lábios. Foi um dia cansativo e cheio de reviravoltas, mas cada sorriso recebido de Chanyeol fazia seu esforço valer a pena. Mesmo que tivesse passado o dia inteiro ouvindo sobre a supremacia Stark e que Chanyeol o aguentasse enaltecendo a Casa Targaryen, ainda formavam uma ótima dupla.

 

Talvez a teoria R+L=J não fosse tão infundada assim...

 

. . .

 

Baekhyun sabia que estava ferrado quando as coisas não deixaram de ser confusas mesmo após dias se passaram desde a Comic Con.

 

As coisas continuavam as mesmas. Sehun ainda o enchia procurando por spoilers depois de descobrir que tinham lido um pouco a respeito do futuro de Game of Thrones, Kyungsoo continuava a ser ranzinza e puxar as orelhas de Sehun quando começava a se tornar chato demais e Chanyeol ainda era seu melhor amigo e companheiro de teorias, porque era a única pessoa com quem podia falar a respeito.

 

Chanyeol não havia dado mais nenhum indício de que a cena que interpretaram o havia afetado de alguma forma, então Baekhyun resolveu que também não o afetava. Que as malditas borboletas morressem em seu estômago, quem elas pensavam que eram? Se ele era mesmo feito do sangue do dragão, que esse mesmo dragão pudesse exterminá-las. E também não havia problema que ele várias vezes voltasse a pensar na cena que fizeram, foi um momento marcante do evento e a vergonha que o consumia era simplesmente pelos espectadores, jamais pelo fato de ser Chanyeol ao seu lado.

 

Por algum tempo, isso funcionou. As coisas voltaram quase que em sua totalidade ao normal e os quatro amigos voltaram a entrar em sintonia. Ainda podiam rir de Sehun sendo uma criança mimada prometendo nunca mais falar com “aqueles traidores malditos” só por não ter acesso as mesmas informações que Chanyeol e Baekhyun e Kyungsoo ainda seria o elo de racionalidade naquele grupo.

 

Baekhyun pensou que finalmente tudo estava nos eixos, até que não estivesse mais.

 

Sentado em sua cama com o notebook em seu colo, Baekhyun tentava focar-se no trabalho de química que precisava pesquisar. Detestava a matéria e seu professor, o que não contribuía para que sua concentração se mantivesse estável. O fato de ter mais abas em seu navegador abertas com vídeos aleatórios de gatos fofinhos e bebês dormindo do que da matéria que precisava estudar também não ajudava em nada.

 

Estava quase desistindo de fazer um trabalho realmente decente e rendendo-se as abas da Wikipédia, quando suas pesquisas por mais videoaulas fizeram com que chegasse a um vídeo em específico que estava tentando evitar, mas o universo não parecia colaborar; por que diabos um vídeo sobre modelos atômicos teria Daenerys meets Rhaego and Drogo in a vision como relacionados?

 

A verdade é que Baekhyun estava evitando qualquer coisa relacionada a seu ship favorito enquanto se sentisse tão confuso em relação a Chanyeol e isso incluía a maldita cena que desencadeou tudo. Entretanto, sua curiosidade sempre seria sua maior inimiga e foi o que o fez clicar no vídeo e assisti-lo, recordando-se de toda a situação protagonizada com Chanyeol e todas as sensações provocadas. Foi como se todos seus esforços de manter apenas sua amizade a salvo desmoronassem e as coisas voltassem a se tornar confusas e intensas.

 

Baekhyun pensou que estava tudo bem se continuasse a fingir que não sentia nada e que gradualmente as coisas voltariam ao normal, mas a verdade é que não voltava. Recriminava-se a cada momento que se recordava de algum momento do evento, das falas ditas por Chanyeol e dos sentimentos que lhe foram provocados. Sentia-se mal por estar dessa forma, porque Chanyeol não parecia mais ligar, e Baekhyun ainda se sentia tão afetado.

 

O garoto só percebeu que as coisas estavam saindo de controle quando mais uma aba foi aberta e havia um tópico no WikiHow: O que fazer quando acha que está apaixonado por seu melhor amigo? Largou o notebook em sua cama e desceu para comer alguma coisa; estava começando a pensar besteiras demais e todos seus esforços dos últimos dias não poderiam ser inteiramente em vão.

 

A campainha soou interrompendo a calmaria de sua casa e Baekhyun foi atendê-la ainda com a torrada em sua boca. Kyungsoo estava atrasado para ajudá-lo nas pesquisas já que era sua dupla naquele trabalho – seu professor de química, como o demônio que era, resolveu que seria bom se invertessem um pouco as duplas formadas em sua aula, o que o separou de Chanyeol. Como esperado, Kyungsoo estava à porta, com a mochila nas costas e uma expressão de puro tédio em seu rosto.

 

“Está atrasado”, Baekhyun disse.

 

“Um mago nunca chega atrasado, nem adiantado. Ele chega exatamente quando quer chegar”, Kyungsoo disse, afastando Baekhyun e entrando na casa do amigo.

 

“Pena que meu trabalho de química não é com Gandalf”, Baekhyun disse fechando a porta de casa. “Pode subir, se quiser. Vou pegar mais comida e levo para comermos.”

 

Kyungsoo concordou e subiu as escadas para o quarto do amigo, enquanto Baekhyun refazia seu caminho até a cozinha. Pegou os sanduíches que sua mãe deixou prontos para que comessem e os copos de suco, colocando-os em uma bandeja e caminhou até seu quarto de forma calma. Comida sempre seria seu melhor calmante, em qualquer situação.

 

Baekhyun só percebeu a péssima decisão que tomou quando encontrou Kyungsoo com seu notebook em mãos.

 

“Tem alguma coisa que você quer me contar, Baekhyun?”, Kyungsoo perguntou calmo, enquanto apontava para a página do Wikihow que Baekhyun havia esquecido de fechar.

 

Baekhyun deixou a bandeja que carregava no criado mudo ao lado de sua cama e tomou o notebook das mãos de Kyungsoo, fechando a aba como se isso fosse fazer com que seu amigo esquecesse o que tinha acabado de ler. Kyungsoo, por sua vez, apenas relaxou, encostando-se à cabeceira da cama e esperando pelo monólogo que Baekhyun iniciaria. Conhecia o amigo que tinha há mais de uma década; Baekhyun iria negar, dizer que estava imaginando coisas e depois começaria se contradizer, até que expusesse realmente a verdade.

 

“Isso não é nada”, Baekhyun disse encarando o navegador. Após fechar a aba, seu navegador o redirecionou para a página do youtube onde o vídeo ainda estava aberto. Nada estava colaborando consigo. “Eu só... Eu estava...”

 

“Eu tenho a impressão de que como lidar com a paixão pelo melhor amigo não é o tema do nosso trabalho”, Kyungsoo zombou. “Talvez eu possa estar errado.”

 

“Talvez eu possa envenenar o teu suco”, Baekhyun reclamou jogando uma almofada no amigo. “Eu estou confuso, ok? Isso não é nenhum pecado!”

 

“Ninguém além de você disse isso”, Kyungsoo respondeu endireitando-se na cama. “Eu só quero saber o que está acontecendo. Você está mais estranho do que o normal desde a Comic Con.”

 

Baekhyun considerou se era confiável expor sua situação a Kyungsoo ou se o amigo apenas iria zombá-lo como fazia em todas as situações que tinha chance. Kyungsoo era um ótimo amigo, mas também não perdia nenhuma chance que lhe era dada para zombar de Baekhyun já que seus dramas existenciais nunca eram levados em consideração.

 

Porém, situações desesperadas pedem medidas drásticas.

 

“Nós contamos a vocês como ganhamos os itens para colecionador, não é?”, Baekhyun perguntou.

 

“Sim, Sehun enche o saco até hoje porque quer saber o futuro da série de vocês”, Kyungsoo concordou. “Não aguento mais.”

 

“O problema começou quando Chanyeol escolheu a cena que nós faríamos”, Baekhyun disse. “É uma cena importante para mim, eu realmente gosto muito dela pela importância que tem para o meu ship, mas eu não achei que as coisas seriam tão intensas como foram com Chanyeol. Enquanto nós contracenávamos, a linha que nos dividia entre os personagens e nós mesmos sumia aos poucos. Eu já não via mais a Daenerys ali, mesmo com aquela peruca ridícula eu via apenas Chanyeol e, estranhamente, tudo que dizia fazia sentido. Não era apenas Drogo dizendo que amava sua esposa, era eu... Era eu dizendo a Chanyeol o que eu nem sabia que estava escondendo.”

 

Kyungsoo manteve-se em silêncio e Baekhyun respirou fundo. Era difícil colocar as palavras na ordem correta para que fizesse sentido o que narrava para o amigo quando sua cabeça ainda parecia mais confusa do que o próprio Chapéu Seletor selecionando a casa de Harry. “Eu achei que seria uma coisa passageira, mas eu ainda penso nisso mesmo dias depois. Acho que o Chanyeol não deve ter se ligado nisso, porque ele continua a mesma coisa, mas eu estou realmente tentando esquecer.”

 

“Eu sempre achei a relação de vocês estranha demais”, Kyungsoo disse. “Quer dizer, ok, vocês são melhores amigos. Vocês encontraram uma conexão que eu dificilmente vejo em outras pessoas. Isso é algo bacana porque é uma pessoa para quem você sempre poderá recorrer porque ela sempre vai te entender. O que eu achei estranho é quando vocês acharam que estava tudo bem se rolasse alguns beijos de vez em quando.”

 

“Nós concordamos que existia uma certa tensão entre nós”, Baekhyun deu de ombros. “Acho que lutamos demais contra a maré para depois desistirmos e pensar que tudo bem se nos beijássemos de vez em quando, ainda éramos só melhores amigos.”

 

“Veja bem, Baekhyun”, Kyungsoo começou, “o Sehun é meu melhor amigo e não faz essa cara de traído porque você nos trocou primeiro; eu sei que, apesar de às vezes ser uma criança birrenta, Sehun é a melhor pessoa para conversar porque a gente meio que se entende nos debates filosóficos a respeito da vida. Porém, me causa genuíno asco a ideia de beijá-lo porque eu praticamente vi Sehun nascer, é como um irmão para mim. Você percebe onde quero chegar?”

 

Baekhyun percebia, mas era melhor fingir que não. Kyungsoo era brutalmente sincero e fazia com que chegasse as verdades que precisava enxergar mais rápido do que Baekhyun estava preparado para enfrentar.

 

“O que eu quero dizer é que vocês mesmos não perceberam quando ser amigos não é o suficiente”, Kyungsoo continuou. “Você é horrível quando está com ciúmes, Baek, só você não consegue enxergar isso, mas Sehun e eu víamos como você ficava sempre que alguma garota falava com Chanyeol. Até mesmo quando o capitão do time de basquete o chamou para o time, você ficou possesso por algum motivo.”

 

“O Chanyeol é horrível no basquete, é claro que tinha alguma outra intenção escondida naquele sorriso perfeito de Wu Yifan”, Baekhyun resmungou.

 

“As coisas são tão claras que eu me pergunto por que você só percebeu agora.” Kyungsoo riu. “Não tem nenhum problema em gostar do seu melhor amigo, Baek. Na verdade, eu tenho certeza que Chanyeol se sente da mesma maneira, mas, assim como você, está fingindo que não porque acha que o outro lado não sente nada. Estão só prolongando sofrimento de vocês, quando podiam muito bem resolver isso conversando. Vocês vão continuar se enrolando até que eu perca a paciência e os jogue contra a parede.”

 

“Você é terrivelmente prático, Kyungsoo”, Baekhyun murmurou. “Eu queria falar com Chanyeol, mas e se você estiver errado? E se só eu me sentir assim e aí eu estragar nossa amizade de forma irreparável? Conheço Chanyeol, ele não iria mais olhar para mim da mesma forma se soubesse que gosto dele.”

 

“Alguma vez eu já estive errado?”, Kyungsoo retorquiu com um sorriso convencido.

 

Baekhyun considerou o que lhe foi dito e sabia que era verdade. Kyungsoo era o mais observador dos quatro amigos, ele iria perceber antes qualquer coisa que nenhum dos três e se ele dizia que Baekhyun já demonstrava gostar de Chanyeol muito antes do evento acontecer, por qual motivo o Byun contestaria? Confiava no julgamento de seu amigo e sabia que realmente gostava de Chanyeol. A única coisa que estava em seu caminho era sua própria falta de coragem de expor isso ao melhor amigo.

 

“Eu vou tentar”, Baekhyun respondeu por fim, num murmúrio baixo.

 

“Você vive repetindo para lá e para cá que nasceu do fogo do dragão”, Kyungsoo comentou tomando de volta o notebook para que pudessem recomeçar o trabalho escolar, “um dragão realmente ficaria intimidado com uma simples confissão?”

 

Baekhyun riu porque Kyungsoo raramente fazia analogias com as séries que o amigo gostava. Era sua forma meio estranha de ajuda-lo e Baekhyun agradeceu pelo amigo que tinha no momento, por não estar totalmente sozinho imerso em confusão.

 

Dumbledore estava certo em mais um de seus conselhos, mesmo que fosse um personagem odiável - e Baekhyun tinha provas contra Dumbledore, se preciassem.. Kyungsoo podia ser terrivelmente sincero e poderia gostar de zombar de si a cada oportunidade que tinha, mas ele nunca falhava em ser uma luz no fim do túnel.

 

. . .

 

Diferente do que Baekhyun achava, Chanyeol estava apavorado.

 

Não foi apenas o Byun que passou mais tempo pensando no ocorrido na Comic Con do que devia. Depois de um tempo, a vergonha que o consumia ao encontrar vídeos do evento na internet deixou de ser tão grande – não é como se todo mundo que assistisse o conhecesse de fato – e deu espaço aos novos questionamentos que o Park não estava afim de resolver. Pensar demais naquilo apenas faria as coisas se tornarem mais reais e Chanyeol não saberia lidar com isso.

 

Por que beijou Baekhyun? Não havia problema no ato para os dois, mas não havia beijo na cena que escolheu e qualquer um ali presente saberia disso. Chanyeol se perguntava o que o atraiu tanto a boca de seu melhor amigo; seriam as palavras ditas um para o outro enquanto se esqueciam do personagem que viviam ou seria a atração inata que os levavam um ao outro?

 

A simples ideia de ser algo muito além assustava o ruivo porque não saberia lidar com rejeição e Baekhyun já não parecia ligar mais. Chanyeol sentia-se encurralado com seus próprios sentimentos em negação, mas tão fortes que qualquer um, até mesmo o sempre desatento Chanyeol, perceberia.

 

Talvez não existisse muito da coragem dos lobos de Winterfell em si.

 

Chanyeol pensou que precisava de uma segunda opinião ou acabaria louco. Sabia que o que sentia por Baekhyun era muito mais do que o que sentia por seus amigos, mesmo que todos fossem importantes para si. Baekhyun era diferente e o afetava de igual forma; seus sorrisos sempre pareciam mais iluminados e o som de sua risada era seu som favorito entre todos os outros. Parecia óbvio agora que estivesse confuso com o que sentia se Baekhyun sempre o afetou dessa forma.

 

“Chanyeol?”, ouviu Sehun chamar. “Você ainda está por aqui?”

 

“Desculpe, eu me distraí”, Chanyeol se desculpou.

 

Sehun era sua dupla para o trabalho de química que deveriam estar fazendo, mas Chanyeol estava perdido demais para se concentrar no assunto e Sehun estava desinteressado demais para insistir em capturar a atenção de seu amigo, preferindo continuar a jogar na conta de seu amigo. Chanyeol não ligaria se ele upasse um pouquinho por si.

 

Talvez Sehun fosse uma boa escolha para a segunda opinião que tanto desejava. O rapaz mais novo parecia ser tão avoado quanto Chanyeol, mas era sua única escolha no momento; talvez Sehun o surpreendesse com alguma sabedoria escondida por detrás de tantos comentários ácidos e com único propósito de envergonhar seus amigos. Não sabia o que o levava a confiar na opinião de Sehun, já que o garoto era conhecido por não levar nada a sério, mas Chanyeol pensou que não havia nenhuma escapatória para si. Se não podia falar com Baekhyun já que ele era o pivô de todos os seus problemas, talvez Sehun pudesse ajudá-lo.

 

Havia uma grande chance de Sehun apenas zombar de si como sempre, mas situações desesperadas pedem medidas drásticas.

 

“Hm, Sehun”, Chanyeol chamou. “Eu tenho um jogo para nós.”

 

Sehun havia acabado de perder no jogo, o que o fez fechar o notebook frustrado e olhar para o amigo. “Que seja mais divertido que esses seus MMORPG.”

 

“É um jogo de hipóteses”, Chanyeol começou meio incerto. “Vamos supor que um garoto tenha um melhor amigo. Eles se conhecem há muito tempo e confiam um no outro de olhos fechados, mas, em um momento, a amizade parecia bem mais forte e com alguma coisa além disso. Eles concordaram que estava tudo bem se ficassem de vez em quando porque confiavam um no outro.” Observou a expressão de Sehun, mas o rapaz conseguia ser bastante indiferente quando queria. “Teve essa vez que supostamente eles tiveram que fazer uma cena romântica e desde então um desses garotos não para de pensar no outro. Não da mesma forma de antes, mas como se fosse algo totalmente novo. Sabe quando as coisas sempre estiveram lá, mas você acaba vendo tudo de uma nova perspectiva e as coisas parecem estupidamente novas?”

 

“Você finalmente percebeu que gosta do Baekhyun?”, Sehun perguntou direto, com um sorriso zombeteiro nos lábios.

 

“Eu nunca disse isso!”, Chanyeol negou rapidamente. “Responda o jogo, Sehun.”

 

“Qual é, Chanyeol, ninguém no mundo teria uma história enrolada assim como a de vocês”, Sehun rolou os olhos. “Kyungsoo está me devendo trinta dólares porque eu apostei que você descobriria que gosta dele mais rápido do que ele de você.”

 

“Vocês estavam apostando sobre a gente?”, Chanyeol retorquiu indignado. “Que tipo de amigos vocês são?”

 

“Que sabem aproveitar todas as oportunidades oferecidas”, Sehun sorriu. “Dinheiro fácil é sempre bem-vindo e você é muito fácil de ler.”

 

Chanyeol se perguntou se realmente era tão fácil assim lê-lo e se estava tão claro que não era apenas amizade o que o mantinha preso a Baekhyun. O pensamento assustava a si mesmo e talvez por isso não tivesse notado antes ou talvez Sehun apenas fosse um bom observador no final das contas. Não o importava, de qualquer forma; não mudava o fato de que, mesmo com todos seus sentimentos bagunçados e que sua cabeça estivesse uma bagunça, apenas um fato se sobressaísse aos demais: Baekhyun não era apenas seu melhor amigo.

 

“Desde que vocês nos contaram sobre a cena que interpretaram, nós sabíamos que era questão de tempo até que reconhecessem em si mesmos o que tanto escondiam.” Sehun disse depois de perceber que Chanyeol nada diria. “Nós sempre soubemos que havia muito mais do que apenas amizade entre vocês. Os dois ficam tão presos no próprio mundinho que não percebem a forma como agem um com o outro, mas nós conseguimos. Chanyeol, você orbita ao redor do Baekhyun. Às vezes eu achava meio patético, mas depois pensei que era uma bonita analogia.”

 

“Nós sempre fomos muito unidos porque somos bons amigos”, Chanyeol pontuou.

 

“Vocês nunca deixarão de ser amigos.” Sehun disse. “Vocês apenas descobrirão que podem ser mais do que isso. Na minha opinião, os melhores casais foram melhores amigos antes de decidirem embarcar em algo juntos. Você já conhece a outra pessoa tão bem quanto a si mesmo, por isso tudo se torna mais fácil e prazeroso porque sempre foram coisas que ambos gostam de fazer. E sinceramente, Chanyeol, vocês são mais casalzinho do que muita gente que namora realmente por aí.”

 

Chanyeol se perguntou de onde a sinceridade bruta de Sehun havia saído, mas pensou que talvez a convivência com Kyungsoo fosse a razão. De toda forma, as palavras de Sehun faziam mais sentido do que gostaria que fizessem e não havia nenhum motivo para negá-las. Chanyeol só precisava ser sincero consigo mesmo e não entrar em pânico porque gostar de Baekhyun arruinava todo o equilíbrio do universo.

 

“E se ele não gostar de mim, Sehunnie?”, Chanyeol perguntou sem olhá-lo. “Quer dizer, e se ele nunca me ver como além do melhor amigo dele? Acho que eu não conseguiria manter isso se ele soubesse que eu...”

 

“Você não consegue ver como o Baekhyun olha para você, Chanyeol.” Sehun comentou. “Sabe como todo o salão olhou para Hermione quando ela chegou no baile de inverno? Ou a cara do Percy quando Annabeth o beijou? É quase a mesma coisa. Eu tenho certeza que Baekhyun deve estar se sentindo da mesma forma que você.”

 

“Então você acha que eu deveria falar com ele?”, Chanyeol perguntou. Um mínimo sorriso brotava em seus lábios ao pensar nas diversas possibilidades que conversar de forma sincera com Baekhyun trazia. “Acha que daria certo?”

 

“É claro que sim”, Sehun concordou. “Baekhyun deve gostar de ti da mesma forma que gosta dele. Acredite em mim, eu nunca erro. Eu sou quase a encarnação de Afrodite no mundo humano.”

 

Chanyeol não pôde deixar de rir porque Sehun tinha os piores comentários nas horas certas. O mais novo sabia como aliviar uma situação sem ao menos tentar de verdade, sua espontaneidade tornava as coisas apenas melhores quando achava que havia dito algo extremamente impactante.

 

Levaria o conselho do amigo a sério e arrumaria um jeito de conversar com Baekhyun, mesmo que soubesse que acabaria travando e falando qualquer besteira que lhe viesse à mente. Tentaria se manter focado até a hora no fato de que era apenas Baekhyun, seu melhor amigo e o rapaz com quem tinha seus melhores dias.

 

Não tinha nada a temer em relação a Baekhyun. Ainda era apenas seu melhor amigo, o garoto com quem dividia seus sofrimentos pelos finais de temporada das séries que acompanhavam e com quem ainda, todo dia dois de maio, celebrava o luto pelos mortos na batalha de Hogwarts. Era seu sorriso favorito e sua melhor companhia. Na pior das hipóteses, talvez apenas precisasse superá-lo caso fosse negado. Sabia que seria difícil porque Baekhyun tinha esse estranho poder de encantar qualquer um com sua personalidade difícil, mas valeria a pena. A amizade que construíram ainda seria maior do que qualquer obstáculo.

 

 

Sehun pareceu satisfeito consigo mesmo e com seus conselhos e reabriu o notebook para tentar salvar a nota de química de ambos, já que conhecia Chanyeol bem o suficiente para saber que nada mais prenderia a atenção do mais velho. Sehun não se importava, de qualquer forma; havia ganhado a aposta com Kyungsoo e o dinheiro valeria a pesquisa que faria sozinho.

 

Seu celular tocou, avisando sobre o recebimento de uma mensagem e abriu-a assim que viu que era de Kyungsoo. Não podia acreditar no que estava lendo.

 

“Você perdeu. Baekhyun gosta do Chanyeol.”

 

“Sem essa. Chanyeol me disse que gosta do Baekhyun.”

 

“Não é possível que esses dois lerdos perceberam isso ao mesmo tempo!”

 

“Você ainda me deve trinta dólares, Soo.”

 

“Você também me deve, Sehun.”

 

“Malditos.”

 

Sehun bufou largando o celular de mão e voltando a focar-se em seu objetivo. Chanyeol e Baekhyun eram tão parecidos que até mesmo a súbita constatação sobre seus sentimentos um pelo outro viera na mesma hora. Talvez isso fosse o que as pessoas chamavam de destino.

 

Sehun gostava de chamar de ação do universo que o tirou trinta dólares.

 

. . .

 

Ao contrário do que Sehun e Kyungsoo esperavam, nem Chanyeol tampouco Baekhyun realmente tomaram a iniciativa.

 

Os dois garotos pensavam que, após a conversa esclarecedora que estabeleceram enquanto deviam estar estudando – resolver dilemas adolescentes sempre seria mais divertido do que química – eventualmente os dois acabariam conversando, se resolveriam finalmente e todos poderiam voltar a normalidade, porém com um casal formado.

 

Entretanto, não foi o que aconteceu.

 

Sehun era o que estava mais irritado com a situação, o rapaz já estava cansado de ver os dois amigos se encarando sem saber como tomar coragem. Um lado do mais novo entendia a confusão dos amigos, sabia o quanto era ruim a sensação de gostar de alguém e não saber como contar por medo, mas a maior parte de si desejava o desfecho dessa história o mais rápido possível.

 

Kyungsoo, por sua vez, parecia mais comedido e paciente. Fazia parte de sua personalidade aguardar para ver no que as coisas vão dar, então apenas observava para ver até onde os dois amigos iriam em algo que todos sabiam no que daria. Ambos estavam conscientes de como se sentiam em relação um ao outro, apenas precisavam de um empurrãozinho para perder o medo.

 

Talvez Kyungsoo soubesse como dar essa ajudinha.

 

Chanyeol e Baekhyun sabiam que não estavam agindo como normalmente. Era comum para os dois que não houvesse um conceito de espaço pessoal entre ambos, que viviam juntos como se estivessem em órbita um do outro. Embora continuassem se falando normalmente, com as mesmas brincadeiras, o fato de não estarem totalmente juntos já era alarmante por si só.

 

Por esse motivo, Kyungsoo se rendeu às persuasões de Sehun e convidou a todos para maratonar Breaking Bad, a única série que gostava e que Sehun não entendia o porquê já que sequer a considerava boa (“Você assiste Pretty Little Liars, Sehun, o que você pode falar de série boa?” “Não mexa com o guilty pleasure dos outros!”). Como não era comum que Kyungsoo propusesse algo do tipo, todos aceitaram em se reunir na casa de Chanyeol no sábado à tarde. Sehun sabia qual era o plano de Kyungsoo e esperava que funcionasse ou teriam os dois amigos muito raivosos depois.

 

No sábado, Baekhyun foi o primeiro a chegar devido a proximidade de suas casas. Yoora foi quem o atendeu, dizendo estar de saída e que Chanyeol estava no quarto arrumando tudo para a sessão que fariam. Sehun e Kyungsoo deveriam chegar em breve, o que Baekhyun agradecia; ultimamente era difícil conviver com Chanyeol sem estar tão ciente de como se sentia ao seu lado. As coisas pioravam quando estavam sozinhos.

 

Quando chegou ao quarto de Chanyeol, encontrou o amigo cantarolando a abertura de Game of Thrones, um orgulho secreto de ambos quando conseguiram imitar a instrumental quase perfeitamente. Havia algumas bandejas com salgadinhos e refrigerantes na escrivaninha de Chanyeol, que foi arrastada até próximo da cama onde todos se acotovelariam para achar uma boa posição para passar a tarde assistindo a série, como estavam acostumados a fazer – mesmo que soubessem que Kyungsoo desistiria primeiro indo se sentar na poltrona e que Sehun fosse gradualmente caindo no chão.

 

“Você me assustou”, Chanyeol disse quando viu o amigo na porta. “Achei que viria com os meninos.”

 

“Mandei mensagens para eles, mas eles nem visualizaram”, Baekhyun deu de ombros. “Então eu resolvi vir logo, já que Baekbeom está em casa e está um saco.”

 

“Você nunca perdoará o seu irmão pelo peão quebrado”, Chanyeol lembrou rindo.

 

“Nunca!”, Baekhyun esbravejou. “Aquele trasgo das montanhas não sabe no que toca, era a minha edição de colecionador! Meu xadrez bruxo estará sempre incompleto.”

 

“Podemos juntar os nossos e fazer peças reservas”, Chanyeol propôs. “Encare como uma comunhão de bens.”

 

“E correr o risco da divisão de bens?”, Baekhyun riu. “Está tudo bem em continuar odiando o Beom, obrigado.”

 

Chanyeol riu baixo concordando e voltou a arrumar seu quarto enquanto Baekhyun folheava seus mangás. Eram os momentos de silêncio que Chanyeol buscava evitar, porque eram nesses momentos que Baekhyun causava-lhe sensações estranhas. Eram bons sentimentos, mas saíam de seu controle e o Park detestava não saber o que fazer, principalmente quando era em relação a Byun Baekhyun.

 

Não demorou para que se sentissem cansados do que estavam fazendo outrora e sentassem à cama, encostados no encosto da mesma e com o notebook no meio. Estavam passando pelo catálogo da Netflix atrás de algum anime que pudessem assistir para passar o tempo enquanto os dois amigos não chegavam. Começaram a estranhar a demora dos dois; Sehun tudo bem se atrasar, o garoto atrasou o próprio parto, mas Kyungsoo era incomodamente pontual, principalmente quando é ele quem marca os horários.

 

Por fim, deixaram um episódio aleatório de Angel Beats!, um anime que assistiram juntos e consideravam como favorito de ambos, passando sem se importar com qual exatamente. Assistiram tantas vezes o mesmo anime que sabiam quase todas suas falas e todas suas cenas, então, caso olhassem para a tela, saberiam exatamente o que estava acontecendo. Enquanto Chanyeol ajustava o episódio em fullscreen, Baekhyun abria a mensagem que acabou de receber de Kyungsoo, quase ao mesmo tempo em que o celular de Chanyeol também apitava.

 

“Não vou poder ir hoje. Sojin quer que eu a ajude a comprar presente de aniversário da melhor amiga.

Divirtam-se.”

 

“Não acredito nisso”, Baekhyun resmungou, fechando o aplicativo de conversas sem sequer respondê-lo. “Kyungsoo não vem. Ele marca e não vem porque a namorada o alugou!”

 

“Bom, Sehun também não vem”, Chanyeol disse olhando para seu celular. “E aí, Chanyeol. Não vou hoje porque, cê sabe, Jongin vai vir aqui. É motivo suficiente.”

 

“Eu não acredito que estamos sendo trocados pelos interesses românticos dos dois”, Baekhyun disse, negando com a cabeça. “E quanto ao nosso tratado?”

 

“Acho que nenhum de nós consegue levar a sério algo chamado de friends before lovers”, Chanyeol concordou. “Tinha que ser o Sehun para inventar um negócio ridículo desses.”

 

“O menino assiste muito drama asiático”, Baekhyun comentou. “Mas o que a gente faz agora? Eu nem gosto tanto assim de Breaking Bad.”

 

“E eu deixei de acompanhar faz um bom tempo”, Chanyeol disse. “Bom, podemos acabar esse episódio e comer tudo que eu comprei para aqueles malditos furarem com a gente.”

 

Como não havia nada melhor para que fizessem e ambos estavam pensando em como agir agora que permaneceriam sozinhos durante o restante da tarde, Baekhyun apanhou os salgadinhos mais próximos e deu play no episódio que estava pausado. Não demorou muito para que o reconhecessem como um dos últimos episódios do anime.

 

“Eu não acredito que a gente conseguiu escolher logo esse na sorte”, Chanyeol comentou. “Me dá meus lenços, Baekhyun.”

 

“Não acredito que eu vou de novo chorar por causa desse maldito do Hinata”, Baekhyun choramingou.

 

O episódio em questão era o décimo e a cena que passava no notebook era a cena romântica entre Hinata e Yui. Era particularmente a cena favorita dos dois garotos, mesmo que soubessem que acabariam sempre chorando ao seu término. Não se pode confiar em alguém que não chora com o desfecho de Angel Beats, afinal de contas.

 

Baekhyun adorava o anime por sempre refletir sobre as questões mais pessoais dos seres humanos e de como conseguiam resolvê-las para finalmente descansar em paz. A produção do anime sabia trabalhar seus temas de uma forma bastante delicada, o que fazia com que os dois amigos se identificassem com seus personagens. Riam com os momentos engraçados – como esqueceriam da cena onde Naoi fez Hinata pensar que valia menos que um pregador de roupas – e se emocionavam na maior parte das vezes.

 

Este era um momento onde a emoção tomava conta de ambos. Não importava quantas vezes assistissem ao final de Angel Beats!, a cena final de Hinata e Yui sempre os deixariam emotivos. A promessa feita por Hinata era algo que gostavam de acreditar até o fim, de que ele realmente se casaria com Yui independentemente do que precisaria fazer para encontrá-la fazia com que tivessem mais alguns motivos para acreditar no que era passado pelo anime.

 

“Eu acho tão bonito o que o Hinata faz pela Yui”, Baekhyun comentou. “Em meio a tantas pessoas no mundo, ele ainda fará de tudo para encontrá-la, não importa como ela esteja.”

 

“Talvez isso seja a definição de amor.” Chanyeol sorriu. “Todos nós temos alguém por quem procuraríamos em meio a oito bilhões de pessoas.”

 

Baekhyun olhou de relance para Chanyeol e pensou que aquele era o momento perfeito para que dissesse ao amigo que a pessoa por quem procuraria estava ao seu lado, que morava algumas quadras de distância e sempre estava consigo. Chanyeol ainda estava sorrindo para o anime que apresentava sua ending, e nunca esteve tão bonito para Baekhyun.

 

Seria agora ou nunca.

 

“Talvez nós tenhamos essa pessoa mais perto do que imaginamos”, Baekhyun disse atraindo atenção do amigo. O Park continuou fitando-o sem entender onde queria chegar. “Talvez ela esteja ao nosso lado desde sempre e a gente só não tenha notado.”

 

Chanyeol estava aflito porque não sabia se Baekhyun apenas estava divagando a respeito do casal favorito de ambos ou se havia algum sentido oculto em suas palavras. Lembrou-se das palavras de Sehun, sobre Baekhyun poder gostar de si da mesma forma como gostava dele e isso o fez tomar coragem para continuar o rumo da conversa.

 

“O que quer dizer com isso?”

 

“O que quero dizer, Chanyeol, é que se estivéssemos em uma arena de Jogos Vorazes, eu o deixaria ficar vivo.” Baekhyun sorriu meio envergonhado. “Não sei como dizer que gosto de você de uma forma melhor do que essa.”

 

Chanyeol não conseguia acreditar no que estava ouvindo, porque parecia irreal demais para ser verdade. Baekhyun ainda estava olhando-o meio envergonhado, conhecia suas manias de morder o lábio inferior quando estava com vergonha, mas o ruivo não sabia como respondê-lo. Todos os dias que passou em dúvida a respeito de Baekhyun pareciam se reduzir a nada, como se não importassem quando o tinha à sua frente desviando o olhar por não saber como reagir a vergonha.

 

Seu sorriso brotava em seus lábios sem que pudesse controlá-lo e no fundo não queria; queria que Baekhyun visse o quanto se sentia feliz com uma simples frase que, para si, significava o mundo. Sabia que Baekhyun não tinha jeito com sentimentos e vê-lo se esforçar a encontrar uma frase que representasse o que sentia por si deixava-o sorridente. Se Baekhyun o deixaria vivo em uma arena, Chanyeol se voluntariaria por ele.

 

Quando a ending do episódio terminou, o silêncio era a única coisa que imperava naquele quarto. Baekhyun já não sabia se foi uma boa ideia contar a Chanyeol que gostava dele porque detestava quando o mais novo ficava em silêncio; Chanyeol sempre foi vocal demais, sempre foi muito ativo e animado. Seus silêncios nunca significavam boa coisa e o mais velho tinha medo de ter estragado toda amizade por uma frase impensada.

 

Talvez Kyungsoo não estivesse certo todas as vezes e talvez jamais fosse ser o sol e estrelas de Chanyeol.

 

Levantou-se da cama sem olhar para o amigo, caminhando em direção à porta. De repente sentia-se sufocado de estar no mesmo cômodo que Chanyeol e o silêncio que não foi quebrado por nada além de seus passos. Sabia que seria uma péssima ideia. Devia ter permanecido em casa e não aceitado o convite estúpido de Kyungsoo para uma maratona que nem aconteceria.

 

“Baek”, Chanyeol o chamou. Baekhyun parou e virou para encará-lo, mas não disse mais nada. “Você é o meu último cheiro de amortentia.”

 

O sorriso de Chanyeol parecia ter o mesmo efeito da retirada do mundo de seus ombros e dessa vez era a vez de Baekhyun não acreditar no que estava ouvindo. Permaneceu parado encarando-o sem dizer nenhuma palavra, mas o sorriso que surgia em seus lábios fazia par com o de seu melhor amigo e era mais do que qualquer palavra poderia expressar.

 

Naquele momento, nenhum dos dois precisava de grandes explicações. Conheciam um ao outro melhor do que a si mesmo e sabiam o quanto era importante as referências que usavam. Baekhyun não pôde deixar de achar graça que eram dois nerds mesmo quando não sabiam como dizer que gostavam um do outro. Uma simples frase trazia muito mais sentimento do que se fizessem uma grande declaração planejada.

 

Chanyeol e Baekhyun funcionavam ao acaso e era dessa forma que gostavam de estar. Funcionavam entre as risadas quando estavam juntos, nas falas repetidas quando assistiam suas séries favoritas e no consolo mútuo quando Martin matava alguns de seus personagens favoritos. Eram seus sorrisos em conjunto e suas mentes quase que interligadas que os tornavam tão únicos um para o outro. Não havia nada que não soubessem e agora, enquanto se encaravam com sorrisos idênticos, o mundo parecia resumido a nada.

 

Tudo estava concentrado naquele quarto onde a opening do próximo episódio começava a tocar e bastava.

 

“Está falando sério?”, Baekhyun perguntou voltando a se sentar à cama. Chanyeol ainda o encarava com um sorriso. “Eu não esperava que...”

 

“Eu também não esperava que gostasse de mim.” Chanyeol riu, sem jeito. “Depois da Comic Con, eu tinha percebido a forma como você mexia comigo. Depois de conversar com o Sehun, eu percebi que era diferente do que eu sentia por eles. Eu gosto de estar com eles, mas eu não me importo se nós passarmos um dia todo em silêncio porque eu gosto desde ter a sua companhia a tê-lo falando comigo sobre tudo possível. Gosto de vê-lo sorrir e gosto de causar isso e você causava em mim algo diferente. Eu achei que era porque você é bonito demais para ser verdade, mas é mais do que isso.”

 

“Você faz com que eu tenha zonzóbulos por todo meu corpo”, Baekhyun completou. “Na verdade, eu já desconfiava de que eu não me sentia tão bem com você só porque gostava de te beijar. Sehun e Kyungsoo estão comigo há mais tempo do que você e, mesmo assim, as minhas melhores sensações sempre eram ao seu lado. Depois da comic con, eu percebi o porquê. Você é a lua da minha vida, Chanyeol, exatamente como Daenerys era para Drogo.”

 

“Você é meu sol e estrelas”, Chanyeol sorriu. “Eu sempre te disse que não diria isso para ninguém, mas é a melhor definição que tenho para você. Eu enfrentaria o inverno que chegou com você.”

 

Baekhyun sentou-se ao lado de Chanyeol novamente, tão próximos que espaço pessoal era um conceito inexistente. Não havia mais nada que precisassem falar um ao outro; entendiam-se em cada referência feita e entendiam como aquilo apenas tornava as coisas mais especiais, mais deles. Ninguém precisaria entendê-los porque eles sabiam ler cada uma das entrelinhas.

 

Seus olhos não se desgrudaram por nenhum momento até que seus lábios estivessem selados. O toque calmo e singelo tornava o momento ainda mais íntimo enquanto Baekhyun levava uma de suas mãos para o rosto de Chanyeol e sentia os braços de seu amigo apertarem-no contra si. Em todas as vezes em que estiveram juntos, todas eram especiais, mas nenhuma delas parecia superar este momento.

 

Seus celulares tocaram em conjunto novamente alertando sobre novas mensagens, mas tampouco se importaram. Sabiam que era apenas Kyungsoo e Sehun e desconfiavam até mesmo do motivo de ambos os amigos terem faltado na reunião que tanto se esforçaram para realizar. Agora que sabiam que tinham conversado com os amigos sobre o mesmo assunto, as coisas pareciam muito mais claras.

 

“Aquelas duas pestes devem ter armado tudo isso”, Baekhyun sussurrou quando se afastaram.


“Aposto que foi ideia do Sehun”, Chanyeol concordou.

 

Como esperado, os dois amigos receberam a mesma mensagem perguntando sobre como estava a maratona de séries ou sobre o que estavam fazendo. Resolveram deixar as mensagens para responder depois, já que os dois diabinhos tinham tramado contra ambos às suas costas.

 

“Que belo par de amigos”, Baekhyun resmungou jogando o celular na cama.

 

“Ao menos hoje rendeu algo bom”, Chanyeol disse, puxando Baekhyun novamente para perto. “Acho que se não fosse por eles e por Hideki Hinata, nós nunca contaríamos nada um ao outro.”

 

“Toda situação tem seu lado bom”, Baekhyun concordou com um sorriso enquanto devolvia ao abraço torto de Chanyeol. Não parecia uma posição confortável, mas Baekhyun gostava de ouvir os batimentos cardíacos de Chanyeol próximos ao seu rosto. “Essa com certeza seria a minha lembrança para um patrono.”

 

“Conseguiria afugentar toda uma horda de dementadores com esse patrono”, Chanyeol sorriu. “Mas ainda há algo que quero falar para você. É algo importante e que eu não poderia deixar para falar depois.”

 

Baekhyun olhou para cima do jeito que podia e encarou o rosto sério de Chanyeol. “O que?”

 

And that, kids, is how I met your mother”, Chanyeol sorriu.

 

Baekhyun não pôde deixar de rir enquanto batia de leve em Chanyeol, por saber que agora, quando podiam fazer piadinhas novamente um com o outro sem nenhum peso na consciência pelos duplos sentidos, estava tudo bem novamente e aquele era seu Chanyeol de novo, o garoto que fazia piadas inoportunas nas melhores horas.

 

Deixariam para resolver os pormenores de sua situação depois. Não se importavam com o nome que dariam a relação que tinham no momento, estava tudo bem apenas em saberem que seus sentimentos eram recíprocos. Ninguém precisava saber o que mantinham contanto que continuassem juntos.

 

“Está tudo bem se continuarmos embaixo de um guarda-chuva amarelo”, Baekhyun respondeu.

 

“É por isso que eu te amo”, Chanyeol tornou a abraçá-lo.

 

Encontraram uma boa posição para continuarem abraçados enquanto voltavam a decidir o que assistiriam dessa vez, até que decidiram por mais uma vez rever o episódio que originou toda a confusão que suas vidas se tornaram nas últimas semanas. Assistiram a Game of thrones tantas vezes que podiam dizer as falas das cenas que assistiam, mas nenhuma delas se tornaria tão importante quanto a visão de Daenerys com Drogo e Rhaego.

 

Os dois garotos gostavam da sensação de que nada havia mudado entre os dois. Gostavam da sensação de saber que, embora agora se sentissem mais livres por não terem mais que esconder o quanto gostavam um do outro, as coisas continuavam as mesmas e continuavam a comentar as cenas como antigamente, como se nada tivesse acontecido. A melhor certeza que podiam ter a respeito do futuro é que se havia algo que permaneceria inabalada seria a amizade que construíram com o tempo.

 

Eram como Ron Weasley e Hermione Granger, tão diferentes mas que, ainda assim, conseguiam completar um ao outro.

 

“No final, conseguimos provar uma coisa”, Chanyeol comentou mexendo com o cabelo de Baekhyun. “A teoria de R+L=J sempre esteve correta. Sempre dá certo juntar um Targaryen e um Stark.”

 

Baekhyun não podia concordar mais. Jamais poderia esperar que um simples concurso promovido pelo painel de Game of Thrones na Comic Con poderia fazer com que finalmente percebessem a verdade um sobre o outro; mesmo que tivessem suas discordâncias a respeito de alguns assuntos, sobre o lado certo em guerra civil, sobre seus ships favoritos nos livros que liam ou sobre quem deveria ser o rei de Westeros, Baekhyun sabia que não poderia pedir por nada melhor. Eram esses pequenos detalhes que faziam com que sua relação com Chanyeol fosse tão bom e cada pedacinho dele que o fazia amá-lo.

 

A felicidade se encontra entre lobos e dragões.


Notas Finais


E chegamos ao final! Todo mundo sabe, mas vamos deixar claro que a frase lá em cima sobre Dumbledore pertence a JK Rowling, ok?

Me perdoem pela demora, mas eu tive uma semana bem louca e tava travada com a última cena. Eu espero que tenha valido a pena a espera ;;;; Me encontrem no twitter para falarmos sobre todas essas referências que é o @iambyuntiful e vamos conversar aí embaixo! Deixem-me saber o que acharam do desfecho dos nossos nerdzinhos.

Até uma próxima vez~!


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