História Entre o céu e o inferno - Talvez eu tenha um fraco por causas perdidas

Primeiro dia do doutorado. O dia que eu iria reencontrar ele. Eu era apaixonada por ele desde os meus 17 anos, na época ele me mostrou o mundo de possibilidades. Foi só uma noite, mas foi a noite mais incrível da minha vida até hoje.

Eu estava escrevendo um rascunho no meu caderno quando ele entrou na sala de aula. Continuava lindo, mas agora mais velho e mais maduro ele estava irresistível. Eu queria que ele me reconhecesse mas também tinha medo disso. Sentimentos contraditórios que habitavam em mim. 

-Bom dia, doutorandos. Meu nome é Kakashi Hatake eu eu serei professor e orientador de vocês esse semestre. 

Olhei nos olhos dele e ele olhou de volta. Mas com certeza não me reconheceu. Fiquei envergonhada e me fechei no meu mundinho, fazendo rascunhos no meu caderno. 

Enquanto eu me lembrava daquela noite na floresta, me lembrava de como ele me contou os medos e anseios para o futuro estando em uma das melhores faculdades do país enquanto eu estava no ensino médio, me sentia enfeitiçada com cada palavra que ele dizia. Mitologia grega. Era essa a especialização dele na época e era isso que eu iria estudar quando chegasse minha hora. 

-Senhorita Haruno! Talvez queira dividir conosco o que é tão interessante no seu caderno?

Me assustei com o meu nome saindo de uma forma tão ríspida daqueles lábios. Fechei o caderno prestando total atenção no professor. 

-Então, a senhorita poderia responder minha pergunta? 

-Eu não ouvi a pergunta, professor. 

-Eu estava explicando para turma porque Aquiles entrou na guerra contra Tróia. A senhorita sabe dizer qual foi o real motivo? 

Não sei o que aconteceu com a minha capacidade de falar, eu só consegui dizer uma palavra.

-Pátroclo… 

-Sim, seu amante e amigo. Da próxima vez, senhorita Haruno, eu gostaria de uma resposta imediata, não na quinta vez que eu disser seu nome. Passe na minha sala no fim da aula. 

Abaixei a cabeça morrendo de vergonha.

 O aluno que estava do meu lado tocou meu ombro e entregou um bilhetinho.

"Hatake é um idiota."

Olhei pra ele e dei um sorriso tímido. Era exatamente isso que eu pensei na hora. Não se parecia nada com o cara que tinha passado a noite comigo embaixo de pé de cerejeira a seis anos atrás. 

Fim da aula e o aluno que deu o bilhete se apresenta. 

-Oi! Eu sou o Naruto, Naruto Uzumaki. 

-Prazer! Sakura, Sakura Haruno. Como a sala inteira deve saber graças ao professor Hatake. 

-Ele é um ótimo professor, mas meio carrasco as vezes. 

-Eu aprendi essa lição. Não deixar o professor perder a paciência na próxima aula.

-Pois é. E melhor não deixar a fera esperando. Ele quer te ver.

Não tinha uma celula no meu corpo que não estivesse tremendo de medo, se é que isso é possível. 

-Eu já vou.

-Te acompanho. Afinal eu sou secretario dele. 

-Sério?

-Sim. Ótimo jeito de conseguir meus créditos e ele é meu orientador, posso pedir conselhos a qualquer hora. Não que ele seja muito receptivo.

-Entendi.

-Bom, chegamos. É só bater na porta e esperar ele chamar. Boa sorte gatinha. 

-Obrigada. 

Bati na porta de leve e logo ouvi um "entre". A sala tinha uma decoração atual e de muito bom gosto. 

-Senhorita Haruno, serei bem direto. O curso de doutorado não é onde o professor pega o aluno pela mão ensina preciosos valores. Aqui o aluno tem que me provar porque está pronto pra receber o título. Não vou tolerar nas minhas aulas alunos medíocres que não se esforçam. A senhorita consegue compreender?

-Sim, professor. Eu não tive a intenção de ofende-lo na aula. Eu só…

-Não preciso das suas justificativas. Só quero que esteja ciente das consequências das suas ações. A senhorita já sabe o que vai defender na sua tese?

-A relação entre Zeus e suas amantes mortais. 

-Muito bem, é um tema muito complexo e cheio de controvérsias. Fique atenta aos prazos e me procure nos horários marcados se precisar. Por hora e só.

Eu fiquei petrificada com a frieza desse homem que não era nada parecido com a lembrança que eu tinha. Fiquei um tempo sentada abraçando minha mochila e olhando pra ele, tenho certeza que estava com a boca aberta. 

-Posso ajudar em alguma coisa, senhorita?

-Não...

Me tirando do transe, levantei rápido demais e acabei derrubando as coisas da minha mochila no chão. Me ajoelhei para poder juntar aquela bagunça no chão imaculado do meu professor. Uma bolinha de papel acabou indo parar nós pés do professor, ele pegou pra mim. Mas confesso que a posição que eu estava era desconfortável. Ajoelhada diante do meu professor. Era como se eu estivesse me oferecendo pra prestar algum serviço, digamos, lascivo. Peguei o papel, agradeci, levantei e sai como um tiro da sala de dele. Mas o triste mesmo foi ler o papel que ele tinha devolvido pra mim. 

"Hatake é um idiota."