O aroma que vinha do forno se espalhava por toda a cozinha do apartamento. Atento, ele conferiu o ponto do bolo e fechou a pesada porta de ferro. Observou o relógio no alto da parede e calculou que, daqui a cinco minutos, provavelmente já estaria pronto. Perfeito! Assim teria tempo para confeitá-lo, tomar um bom banho e esperar seu amado, que havia dito que chegaria em casa por volta das seis. Ainda tinha meia-hora, animou-se. Porém, não podia negar que o fato de Skylar sair naquele sábado, no dia de seu aniversário, em um compromisso justamente com Chan-il o incomodava profundamente. Afinal, já estava acostumado a ter seu namorado passando os finais-de-semana no apartamento para o qual havia se mudado há pouco tempo.
Em circunstâncias normais, Cirrus seria convidado para estar com eles, já que se tratava de mais uma atividade do clube de fotografia, entretanto naquele caso, em que haviam sido convidados para fotografar um evento, apenas duas credenciais foram disponibilizadas. Nem mesmo os demais membros do clube poderiam participar e, por conseguinte, menos ainda um convidado como Cirrus.
Assim que a chaleira apitou, ele foi arrancado de seus devaneios e correu para apagar a boca do fogão para despejar a água fervente na panela de arroz. Voltou a encarar o relógio e também desligou o forno. Colocando as largas luvas térmicas, ele abriu o compartimento e de lá retirou a forma redonda onde repousava um viçoso bolo de chocolate. Encarando-o com admiração ao colocá-lo sobre a bancada da pia, Cirrus se sentiu orgulhoso. Era o aniversário da pessoa que mais amava e ele havia preparado tudo para dar a Skylar um dia - ou melhor, uma noite - perfeita, já que ele teria que passar metade do sábado naquele evento.
Fitando a panela de arroz, o qual ainda estava submerso na água recém-colocada, ele retirou o avental que estava amarrado em sua cintura e caminhou pela sala em direção ao banheiro. Sobre o sofá, havia um cordão de balões coloridos amarrados sobre uma faixa que dizia “Feliz Aniversário!”.
- Bem, tenho tempo o suficiente para tomar um banho.
Sentindo a água quente banhar seu corpo, Cirrus imaginou que Skylar, provavelmente, estaria no metrô naquele momento. Será que ainda estava acompanhado de Chan-il? A imagem de Skylar oferecendo seu melhor sorriso ao ruivo cruzou sua mente. Droga! Por que seu coração se comprimia ao imaginar seu namorado ao lado dele? Chan-il estava comprometido, assim como Skylar agora. Mas toda vez que Cirrus se lembrava daquelas inúmeras pastas contendo centenas de fotos do ruivo, ele sentia uma raiva incontrolável daquele que considerava seu amigo, antes mesmo de Skylar. Atormentava-se constantemente ao se questionar se, por acaso, Skylar cederia caso Chan-il lhe oferecesse uma chance. Toda aquela angústia que o consumia se dava devido ao fato de acreditar que estava junto de Skylar meramente porque Chan-il não o correspondia. Era o mero resto que Skylar usou por não ter o que queria. Quem ele realmente queria… era Chan-il.
Ele sentiu o gosto metálico do sangue ao perceber como estava mordendo com força seu lábio inferior. Então, respirando fundo, após lamber aquele pequeno filete rubro, ele riu em descrença.
Não havia com o que se preocupar, certo? - perguntou a si mesmo. Precisava demonstrar confiança e, afinal, a relação entre os dois havia se consolidado e evoluído bastante nos últimos meses. Em especial no último mês no qual, finalmente, tiveram sua primeira vez juntos. Havia dado a Skylar algo que Chan-il nunca o deu e, com certeza, havia sido algo especial. Lembrava-se da expressão de prazer de Skylar quando se entregaram por completo. Seus gemidos, suas expressões, suas carícias, seu prazer. Apenas lembrar deixava Cirrus completamente excitado. Não hesitou em agarrar seu membro, que estava completamente rígido, apertando-o antes de começar a fazer movimentos para cima e para baixo. Como desejava ter Skylar ali naquele momento. Como precisava dele de corpo e alma. Completamente entregue a seus desejos, Cirrus se masturbou avidamente até chegar ao ápice. Ofegante, ele encarou a própria mão, contemplando a forma que a água quente ia se misturando com o líquido viscoso esbranquiçado, fazendo com que seu prazer, tão palpável, desaparecesse para permanecer apenas no imaginário e no corpo que havia gravado as sensações que Skylar podia lhe dar.
Apressou-se em se banhar porque, afinal, seu amado logo estaria em casa.
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Sob a chuva torrencial que castigava a cidade, Skylar e Chan-il correram para chegar à estação do metrô. Ofegantes e encharcados, por mais que tivessem tentado se proteger ao usar suas jaquetas como guarda-chuvas, aliviaram-se ao chegar nas catracas, mas se surpreenderam ao ver dois seguranças que davam orientações.
- O metrô vai permanecer parado por questões de segurança. O embarque está proibido até a normalização das linhas.
- Não acredito! - Skylar bufou. - Já perdemos tanto tempo presos naquele lugar esperando a chuva estiar. - comentou.
- Poxa, Skylar! - Chan-il contorceu o lábio. - E hoje é seu aniversário, não é?
- Sim! - ele esboçou um pequeno sorriso.
- E não vai comemorar com ninguém? Ei, a Ri-In e eu vamos jantar fora hoje! Por que não comemoramos juntos?
- Err… - ajeitando os óculos, tentando esconder um pouco o rubor que cruzou seu rosto, ele encarou o chão. - Vou comemorar com o Cirrus.
- Ah, mas que egoístas! Nem nos convidaram!
Fazendo beicinho, Chan-il cruzou os braços fingindo estar chateado. Aquela atitude fez Skylar rir, mas a leve risada se transformou em uma violenta tosse que chamou atenção do ruivo.
- Oe, Skylar!
Alarmado, Chan-il apoiou as costas do mais baixo que ergueu uma mão, tentando sinalizar, enquanto ainda tossia, estar bem.
- Não se… preocupe. - ele tentou se recompor. - Eu já estava meio resfriado, não devia ter pegado essa chuva. - explicando, Skylar jogou os cabelos pra trás. Sentiu sua própria pele quente.
- Droga! Você tem que trocar essas roupas encharcadas! Como vou pra casa da Ri-In, estou com algumas roupas aqui na mochila. Vai ficar grande em você, mas é melhor do que piorar esse resfriado.
- Não! Eu já diss… - e uma nova leva de tosse o interrompia. - Não precisa se preocupar, Chan-il!
- Deixa disso!
Skylar não tinha como contestar. Se algo o cativava em Chan-il era sua bondade e a disposição que tinha para ajudar tudo e todos. Logo o ruivo estava agachado, abrindo a mochila que colocara no chão, para tirar dali uma muda de roupas.
- Toma! Vai no banheiro aqui da estação e se troca. A gente tem que esperar até o metrô voltar a funcionar mesmo! Se eu te entregar pro Cirrus doente, ele vai me dar um socão e com razão!
Se Skylar tinha três certezas naquele momento era de que: teriam de esperar o metrô voltar a funcionar, sua saúde pioraria se ficasse com aquelas roupas molhadas e que Cirrus reclamaria horrores com Chan-il se isso acontecesse.
Ele foi até o banheiro e fez o que o ruivo havia ordenado pedido.
Retirando os objetos pessoais dos bolsos da calça, aproveitou para olhar o celular. Precisava avisar a seu namorado que chegaria mais tarde devido a todo caos que a cidade estava. Porém, assim que tentou desbloquear o aparelho, nada aconteceu. Apenas o indicador de bateria apareceu na tela para lhe mostrar que o aparelho estava descarregado. Estalando a língua, irritado com tudo o que havia dado errado naquele dia, Skylar se apressou para se trocar. As roupas de Chan-il ficaram evidentemente largas nele, porém estava confortável e quente - bastante diferente das que estava usando anteriormente. Assim que terminou de se aprontar, reencontrou seu amigo em frente às catracas. Um sorriso aliviado cruzou seus lábios assim que o viu com seu celular na mão.
- Chan-il! Me empresta seu celular, por favor?
- Acabou de descarregar. - ele afirmou ao mostrar o aparelho. - Ia avisar a Ri-In que ia me atrasar, mas… acho que não tem jeito. Só podemos esperar.
Skylar suspirou, recostando-se na parede enquanto o ressoar dos trovões lhe avisava que aquela tempestade não acabaria tão cedo. Ele nunca esteve tão certo em toda sua vida.
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Os olhos verde-turquesa estavam vidrados no nada enquanto ele ouvia aquela mensagem pela trigésima sétima vez: “Não é possível completar essa chamada”. Os dedos que seguravam o celular tremiam quando ele abriu o aplicativo de mensagem. Começou a digitar: “Oi”. Mais uma mensagem após tantas anteriores:
“‘Cadê você?’ ------------- Enviado às 18:10”
“‘Skylar’ -------------------- Enviado às 18:20”
“‘Oi’ ------------------------- Enviado às 18:30”
“‘Ei’ ------------------------- Enviado às 18:39”
“‘Cadê você?’ ------------ Enviado às 18:46”
“‘Fala comigo’ ------------ Enviado às 18:52”
“‘Quando vai chegar?’ - Enviado às 18:57”
“‘Cadê você?’ ------------ Enviado às 18:59”
“‘Cadê você?’ ------------ Enviado às 19:01”
“‘Cadê você?’ ------------ Enviado às 19:04”
“‘Cadê você?’ ------------ Enviado às 19:10”
“‘Tá com a Chan-il?’ --- Enviado às 19:18”
“‘Me responde!’ --------- Enviado às 19:19”
“‘Cadê você?’ --------- Enviado às 19:21”
Não demorou para que sentisse hiperventilar. A ansiedade, avassaladora, consumia seu seu ser, transtornando sua mente que não conseguia parar de processar o que seria seu pior pesadelo.
- Ele não vai ficar preocupado? - Chan-il perguntava.
- Deixa aquele idiota ficar preocupado, não dou a mínima! - Skylar respondeu enquanto desligava o celular. - Eu agora só quero aproveitar esse momento com você.
Skylar envolveu o pescoço do mais alto com seus braços e Chan-il correspondeu beijando-o com paixão, suspendendo-o ao agarrar suas coxas por baixo. Plantou-o na parede e, sem cerimônias, começou a despi-lo.
- NÃO!!!!
Cirrus exclamou, desesperado, ao mesmo tempo em que arremessou o aparelho naquela parede onde, tinha certeza, os dois estavam até então.
A tela do celular quebrou completamente ao ir de encontro à parede e logo depois ao chão.
Ofegante, ele piscou, levantando-se, para encontrar o vazio que ali estava. Não havia ninguém. Sua mente estava lhe pregando peças mas, ele tinha certeza: Skylar estava o traindo.
Subitamente a tela acendeu e o celular começou a vibrar. Cirrus pulou do sofá e foi até o chão, recolhendo o aparelho. Um número desconhecido. Engolindo a seco e preocupado, ele atendeu.
- Alô?
- Olha, eu só estou te ligando porque seu pai mandou.
Aquela voz. A maldita voz de Jiso, sua madrasta, fez seu sangue ferver.
- Vai pro inferno, sua desgraçada!!!!
Cirrus berrou, desligando na mesma hora a chamada. Aproveitou para, logo em seguida, tentar novamente ligar para Skylar, porém, novamente: “Não é possível completar a chamada.”. Balançando a cabeça negativamente, ele deixou o corpo deslizar pela parede, indo até o chão. Abraçando o celular junto ao seu peito, ele tentava controlar a respiração descompassada.
- Skylar… Por quê?!
Tomado pelo desespero, abraçando a si mesmo, Cirrus fincou suas unhas em seus braços, arranhando-os freneticamente em movimentos para cima e para baixo. Sentia que ia enlouquecer. As lágrimas caíam enquanto ele se afogava no desespero.
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Passava das dez quando a porta se abriu. Skylar, que tinha uma chave reserva, estranhou ao entrar e encontrar as luzes apagadas. Seria uma surpresa de aniversário? Acendeu as luzes e se surpreendeu ao encontrar o bolo decorado sobre a mesa, os balões coloridos e a faixa. Um largo sorriso se abriu em seu rosto, porém… Olhando mais para frente, na sala, encontrou o corpo encolhido no chão.
- Cirrus?! - confuso, Skylar piscou e correu até ele. - Ei, Cirrus! O que… CIRRUS! - por trás das lentes redondas, os olhos castanhos cresceram, assustados, ao encontrar os inúmeros arranhões que marcaram em vermelho a pele de seu namorado. - O que foi isso?!
Só então Cirrus ergueu o rosto para encará-lo e não poderia ser pior. O que eram aquelas roupas que Skylar vestia? Nitidamente não eram deles e pertenciam a alguém bem mais alto.
- Me diz, Cir… Ei!
Não houve tempo para terminar. Cirrus o agarrou pela gola do largo moletom. Os olhos esverdeados assumiram um tom escarlate ao encará-lo, tão próximo quando o puxou para perto.
V- ocê tava dando pro Chan-il, não é? - entredentes, Cirrus indagou em tom de ameaça. - RESPONDE! - ordenou ao elevar o tom.
- Q-quê? - Skylar nada entendeu. - Cirrus, eu fiquei preso na chuva!
- E você não tem celular para me avisar, não é? Desligou ele enquanto iam pra onde? Um motel? Ou ele te comeu no meio do sítio onde ia ter o tal evento, se é que esse evento EXISTIA?!
Cirrus literalmente cuspia em cima de Skylar aquelas palavras. Ele, por sua vez, sentia-se zonzo, sem compreender de onde havia surgido toda aquela história que Cirrus lhe narrava e o tinha como protagonista.
- Você está me ofendendo, Cirrus! - Skylar foi incisivo, encarando o mais alto.
- Ah, você está ofendido? Pois quem devia estar sou eu, o corno aqui!
- Você está louco!
- Louco pra acabar com você!
A resposta de Cirrus veio acompanhada de um soco certeiro que atingiu o rosto de Skylar, que caiu de costas no assoalho ao assistir seus óculos voarem para longe. Insaciável, Cirrus rapidamente montou sobre ele, tendo a cintura de Skylar presa entre seus joelhos.
- POR QUE FEZ ISSO COMIGO?! - exclamou um descontrolado Cirrus que prendia, firmemente, os pulsos de seu namorado no chão. - POR QUEEEEE?!?!
A ira que seu exclamar transmitia se converteu em dor quando suas lágrimas caíram sobre o rosto de Skylar que, resiliente, não reagiu. Permaneceu parado, observando a atitude completamente insana de seu namorado. Por mais que fosse uma situação estressante, ele havia convivido o suficiente com Cirrus para entender aquele surto. Porém, era difícil ao se ver, novamente, vítima da agressão de seu namorado.
- Me solta.
Skylar ordenou em um tom de voz baixo, a expressão calma impassível irritando ainda mais Cirrus, que apertou com ainda mais força os pulsos que mantinha preso ao chão.
- Eu não vou permitir que faça isso! Sabe… Sabe, eu… Eu faria de tudo pro Chan-il desaparecer!!!
- Você não faria isso. - Skylar continuava o encarando. - Você sempre foi amigo do Chan-il.
- Mas agora eu o odeio porque você é incapaz de esquecer aquele desgraçado!
- Cirrus…
- Eu o odeio!!!
Cirrus urrou, as lágrimas caindo sem parar enquanto, enfraquecido pelo turbilhão de emoções que o consumia, soltou Skylar para se curvar, apoiando sua cabeça no peito de seu namorado onde, de punhos cerrados, ele tentou debilmente desferir algun socos.
- Eu te odeio, Skylar! Te odeio!
Esse, por sua vez, apenas levou a mão, agora livre, à nuca de Cirrus. Afundou seus dedos nos cabelos castanho-claros e o afagou. Fechou os olhos e suspirou, perguntando-se por quanto tempo aguentaria aquela instabilidade. Amava Cirrus, mas conviver com ele era uma montanha-russa. Já havia lhe recomendado começar uma terapia urgentemente, mas Cirrus era orgulhoso demais para aquilo, para se abrir para alguém que não fosse com aquele que dependia emocionalmente: Skylar.
Ao receber aquele carinho, Cirrus foi, aos poucos, se derretendo. Chorava como uma criança que havia acabado de ralar os joelhos, completamente entregue àquela frustração que o consumia.
- Quantas vezes vou precisar dizer que te amo para que pare de pensar que vou te abandonar?
Cirrus sentiu as bochechas corarem ao ouvir o questionamento de Skylar. Ali, agora com a cabeça apoiada de lado sobre o peito dele, Cirrus ouvia as batidas do coração de seu namorado em meio a seus próprios soluços. Havia tanta convicção e plenitude nas palavras de Skylar, que ele não conseguiu mais contestar. Manteve-se em silêncio.
A tempestade fez com que o metrô parasse. Ficamos presos no local do evento também. Tentei te ligar, mas meu celular ficou sem bateria. - explicou. - Como eu estava voltando a tossir depois de pegar chuva, o Chan-il me emprestou uma roupa porque ele estava com a mochila pronta para ir pra casa da Ri-In hoje.
A explicação de Skylar fez com que a ficha finalmente caísse. De fato, Ri-In havia comentado com Cirrus que Skylar passaria o fim-de-semana com ela e que iria, após o evento, para sua casa. Se tivesse dado menos ouvidos a suas dúvidas e angústias…
Levantando-se, porém sem sair de cima do mais baixo, Cirrus o encarou. O rosto bonito de Skyalr estava tomado por uma vermelhidão que começava a assumir um tom púrpura quando o hematoma começou a ficar evidente.
- Me desculpa. - ele sussurrou, abaixando a cabeça e escondendo o rosto com a franja comprida que caiu por cima dos olhos. - Sou um lixo mesmo.
- Chega. - ainda sem elevar o tom, Skylar foi imperativo, apoiando-se nos cotovelos para, em seguida, tocar a curva do rosto de Cirrus. - Odeio ver você chorando. - ele comentou enquanto a ponta de seu polegar colhia uma lágrima teimosa que atravessava sua bochecha.
- Me des…
Não houve tempo para completar. Skylar o puxou pela gola da camisa pólo que ele vestia e abocanhou seus lábios. Surpreso, Cirrus arregalou os olhos ao sentir a boca ser invadida pela língua que percrustrava cada canto ali dentro. Entregando-se àquele beijo, gemeu quando sentiu Skylar mordiscar seu lábio inferior. O gosto metálico foi compartilhado pelos dois, mas ele queria mais. Mordeu mais uma vez e quando o fez viu Cirrus reagir ao agarrar os cabelos escuros de seu namorando, puxando-os para trás. Foi a vez de Skylar gemer, rendendo-se àquela submissão que refletia a toxicidade de seu relacionamento. Cirrus o empurrou na parede, cessando o beijo para deslizar sua língua pela curva do pescoço do mais baixo que se arrepiou com aquele toque. Parecia uma mera atitude guiada pelo desejo porém, como um animal selvagem, Cirrus aproveitava para farejar qualquer traço que fosse do cheiro de Chan-il. Porém, tudo o que encontrou foi o aroma inebriante de Skylar, um leve aroma do perfume que usou na manhã estava impregnado, mas era o corpo de seu amado, seu território que ele demarcava agora com seus dentes.
- Ahh!!! -
Um gemido alto escapou dos lábios de Skylar. Ele tentou se afastar, mas assim que o fez, Cirrus o mordeu com mais força. Um filete de sangue escorreu. Doía. Agiu por puro reflexo quando o agarrou pelos ombros e o empurrou para longe. Cirrus, por sua vez distraído, caiu sobre a mesinha de centro, sua cabeça indo de encontro com a quina do móvel. Assim que deu por si do que tinha feito, Skylar se alarmou, correndo até ele.
- Cirrus! Meu Deus! - seus olhos cresceram ao ver o filete de sangue que escorria do corte aberto no supercílio de seu namorado. - Droga! Me desculpa! Eu vou pega..
- Não, vamos continuar!
Skylar, que tentava correr até o banheiro para buscar o kit de primeiros socorros, sentiu seu braço ser segurado. Encarou com surpresa aquele que limpou com a mão mesmo o sangue que caía sobre seu olho.
- Eu quero você! - ele disse com desejo.
Atordoado por aquela situação e ao ver Cirrus ferido, Skylar balançou a cabeça negativamente. Agachou-se para tomar em suas mãos o rosto bonito de seu namorado.
- Isso não está certo, Cirrus! - ele afirmou em tom de preocupação.
- Do… Do que está falando?
Não podemos continuar normalizando essa loucura que estamos vivendo! - Skylar foi direto. - Olha só, eu acabei de te empurrar e te machucar. Você me deu um soco quando cheguei! Isso é loucura!
- Não é. É assim que nós somos, Skylar! - com um sorriso nervoso, Cirrus argumentou. - É assim que sempre funcionamos, não é?
- E foi um horror, Cirrus. - Skylar franziu o cenho. - Agora que somos namorados… Não quero viver dessa forma com você. Eu não queria te machucar!
- Eu também não queria te machucar! - Cirrus avidamente afirmou. - Eu não sei porque… porque sou assim! Skylar…
- Acho melhor eu ir embora, Cirrus. Por um tempo…
- Não!
A voz de Cirrus falhou. Estava angustiado. Não poderia permitir que Skylar se afastasse.
- Eu… Eu fiz uma festinha pra você, olha!
Skylar acompanhou a caminhada de seu namorado pela sala quando ele mostrou os balões, o bolo decorado. Cirrus apertava os próprios dedos, o pânico estampado em seu rosto.
- Fe… Feliz aniversário, Skylar! Obrigado… Obrigado por ter vindo!
As lágrimas, novamente, corriam livremente pelo rosto bonito. Cirrus era como uma rosa repleta de espinhos que machucaria qualquer um que se aproximasse dele, porém, como não se aproximar e se apaixonar por algo tão belo… e frágil como ele?
- Eu prometo que vou melhorar, Skylar! Eu prometo…
Skylar bufou, cruzando os braços. Aproximou-se do rapaz que encarava os próprios pés, a vista embaçada pelo choro. Cirrus sentiu as mãos de seu companheiro tocarem seus braços para, posteriormente, ele usar uma das mãos para erguer seu queixo. Encararam-se sem vacilar.
- Promete que amanhã vai ligar para a terapeuta que eu falei?
Cirrus assentiu enquanto mordia o lábio. No fundo, ele sabia, precisava de ajuda profissional.
- Prometa. - Skylar exigiu.
- Pro… Prometo. - Cirrus disse entre soluços.
- E se precisar tomar remédios, você vai tomar. - advertiu.
- Se for… pela gente…
- Não. - ele foi firme. - Por você! Você tem que se cuidar e se curar por você!
Não aguentava vê-lo chorar. Skylar o envolveu em seus braços e ali permaneceram por alguns minutos. Acreditaria na promessa de Cirrus. Ele precisava se tratar e o relacionamento dos dois dependia disso. Não poderia prosseguir em um relacionamento tão tóxico e instável. No mais, Skylar temia que o pior acontecesse devido ao estado emocional tão frágil de seu namorado.
- Vamos jantar? Estou com fome.
Quebrando o gelo, Skylar propôs. Foi a melhor coisa que fez.
Cirrus correu para esquentar a comida mais uma vez e ambos comeram todos os pratos que havia preparado para aquele dia especial. Antes de comerem a sobremesa, ele afundou uma velinha no bolo e riscou um fósforo para acendê-la. Ao lado de sua cachorrinha, cantou parabéns para Skylar que, um tanto quanto emocionado, sorriu ao vê-lo tão animado com seu aniversário.
Assim que comeram, Skylar foi para o banho. Sentia-se pegajoso do dia inteiro com aquela roupa e depois de pegar aquela chuva toda. Lavou seus cabelos e aproveitou a água quente que relaxava seus músculos. Decidiu ficar ali mais um pouco. De olhos fechados, abraçava seu próprio corpo quando ouviu a porta do box abrir. A fumaça, que embaçava o vidro e criava uma névoa em todo banheiro, quase não o deixou ver o rosto de Cirrus que, sem cerimônias, adentrou o pequeno espaço e, se colocando de joelhos, abocanhou o membro de Skylar.
- Ah! Ci… Cirrus!!!
Perdendo o equilíbrio, Skylar teve que apoiar as costas na parede de azulejos. O membro, até então amolecido, rapidamente enrijeceu ao sentir as sugadas ávidas e ritmadas que a boca de Cirrus fazia. Veloz, ele levava sua boca até a base do pênis de Skylar para voltar até sua ponta. Uma, duas, três vezes. Parava um pouco para deslizar a língua pela cabeça do membro que envergava, tamanha excitação. Então voltava a abocanhá-lo uma, duas, três, quatro…
- AAAHH!
O líquido quente jorrou dentro da boca de Cirrus. Skylar, nas pontas dos pés, contorceu-se enquanto derramou todo seu prazer em seu amado. Não houve tempo para se recompor.
Cirrus se levantou para beijá-lo e, com paixão e desejo, envolveram-se em seus braços, tentando ao máximo sentir o corpo um do outro. Precisava agir rápido, pois sentia que estava em seu limite. Sendo assim, o mais alto virou Skylar de costas, prensando-o contra a parede. Puxou-o pelo quadril para, de forma delicada, porém firme, adentrar seu namorado.
Seu membro latejava quando ouviu o gemido do mais baixo. Transbordando de desejo, Cirrus mordiscou a orelha de seu amado.
- Eu te amo, Skylar. - sussurrou, deixando seu hálito quente brincar com sua pele.
Não houve tempo hábil para corresponder a declaração. Cirrus começou os movimentos de entrada e saída que Skylar sabia bem, só teriam fim quando seu namorado gozasse tudo dentro de si. As mãos do mais alto seguravam com firmeza seu tórax e seu quadril enquanto ele se esforçava ao máximo para intensificar ainda mais aquele movimento. Um gemido sôfrego escapou dos lábios de Cirrus quando Skylar sentiu o sêmen de seu amado preencher seu interior. Quente. Delicioso. Acabou chegando ao orgasmo mais uma vez ao sentir Cirrus chegar ao ápice.
Ofegantes, encararam-se quando Cirrus o virou de frente. Trocaram mais um beijo urgente e apaixonado que, aos poucos, se acalmou, convertendo-se em uma carícia suave, que acompanhava as mãos que deslizavam um pela pele do outro. Castanhos e verdes, penetrantes, encontraram-se para reafirmar uma certeza que tinham naquele momento: se amavam. Aquela afirmação era algo que o coração dos dois sabia muito bem, porém, a mente quebrada de ambos teimava em dizer o contrário. Se pudessem dar ouvidos apenas à seus corações, apaixonados, ao invés de suas mentes adoecidas…
- Me perdo…
- Shhh!
Skylar cruzou os lábios de Cirrus com o indicador.
- Eu confio em você. Amanhã, quando você tiver ajuda, tudo vai ser diferente.
Assentindo, Cirrus apoiou sua fronte na de seu namorado e, silenciosamente, como em uma prece, agradeceu por ter Skylar ali. Ele tinha razão. Tudo tinha melhorado já. Estavam juntos. Estavam em paz. Se ir nessa terapeuta fosse fazer aqueles fantasmas desaparecerem, o sentimento de inferioridade que nutria ao se comparar a Chan-il… Tudo melhoraria, ele tinha certeza! E para defender o amor que tinham, que havia se tornado a razão de sua vida, Cirrus faria tudo o que fosse possível para fazer de Skylar o homem mais feliz do mundo.
- Eu te amo, Skylar. - declarou Cirrus.
- Eu também te amo, Cirrus.
- De verdade?
- Eu espero que chegue o dia que você não duvide disso. Até lá, eu vou te amar cada dia mais para que você possa compreender!
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