-Como foi? -Eloise perguntou a Jane sobre a sua conversa com o príncipe.
-Acho que foi tudo bem. - a princesa suspirou enquanto vestia um vestido florido na frente do espelho- Aonde está Judith enquanto precisamos dela?
-Ela não saiu do seu quarto. - Eloise fala enquanto amarrava o corpete na princesa - Depois que você saiu ontem a noite, o príncipe foi direto para o quarto dele e se trancou sozinho e Judith se viu cercada por duques e marqueses.
-Estranho... Irei ao quarto dela quando acabarmos.
Após ambas se vestirem a estarem completamente apresentáveis para o passeio a tarde no jardim com a família real, elas seguiram para o quarto de Judith mas a porta estava trancada.
-Judith, abra a porta, por favor. -Jane pediu algumas vezes até que começou a se preocupar por não obter respostas. - Eu sou sua princesa, futura rainha e prima mais velha, eu ordeno que abra a porta ou irei chamar um guarda para arrombá-la.
Judith destrancou a porta e a visão que Eloise e Jane tiveram foi traumatizante: Judith estava pálida, vestia uma camisola branca ensopada de sangue na altura da região da virilha. Eloise e Jane entraram o mais rápido que puderam e fecharam a porta.
-Prima, o que houve? -Judith abraçou Jane pela primeira vez em anos e começou a chorar. - Quem fez isso com você?
Judith se afastou deixando os hematomas de seus braços a vista.
-Isso é imperdoável. -Eloise sussurrou mais pra si mesma do que para alguém no quarto.
-Eloise me contou que, após a minha saída, o príncipe também subiu. Deduzo que foi algum homem, duque ou marquês. Bom, mesmo esse ser tendo nome, não pode ser considerado humano. Quer desabafar? - as três sentaram na cama.
-A maioria dos senhores apenas me cortejou, eu fiquei até tudo acabar então quase ninguém o viu me seguindo até aqui. Nem eu mesma vi. - Judith começou a chorar.
-Ei, não é sua culpa. - Jane pega na mão de sua prima - Pode me contar quem foi, se você não quiser tudo bem. Mas se me permitir, eu irei fazer esse monstro sofrer.
-Jane, não existe punição para esses homens. Ele não me matou, ele apenas tirou a minha virgindade, o máximo que farão será nos casarmos e eu não quero isso.
Jane assentiu e começou a andar pelo quarto.
-Conde de Dumbarton. Nem sei o nome dele. - Judith soluçou pela última vez para que os olhos de vingança aparecessem - Ele será Duque em breve, se você puder puni-lo ou fazer qualquer coisa. Juro, nunca mais iria te perturbar.
-Você não precisa prometer nada. Eu faria com qualquer mulher, porque sou uma também. Eloise, cuide dela pelo resto do dia enquanto irei resolver algumas coisas. - Jane saiu do quarto enquanto Judith deitava na cama com sua cabeça no colo de Eloise que a tranquilava.
"Ninguém faz isso com uma mulher, com uma pessoa e muito menos com uma minha" - pensou Jane que seguiu para o térreo, aonde encontrou vários nobres na sala de jogos, incluindo seu noivo e futuro cunhado.
-Já está com saudades? - Eliote parou a sua partida de xadrez para sorrir para a dama, mas reparou em sua feição. - O que houve? - Ele levantou e perguntou em seu ouvido.
-Quem é o Conde de Dumbarton? - Jane perguntou impaciente, fez até que August se aproximasse para escutá-la.
-Vamos conversar a sós - falou Eliot e os três foram para uma sala ao lado.
-O que houve? - August perguntou assim que fechou completamente a porta.
-Judith foi estuprada e agredida por esse conde. - Jane sentou numa poltrona no canto da sala escura.
-Mas como sabe que ela foi estuprada? -Perguntou seu noivo.
-Porque ela era virgem! - a princesa deixou a sua voz subir o bastante para a levarem a sério. - Ela não me contou detalhadamente, mas só vendo pra saber a gravidade.
-Então vamos vê-la - sugeriu o príncipe. Jane ficou furiosa, se levantou e foi rapidamente até o seu noivo:
-Nunca duvide de uma coisa dessas, você não sabe o quanto deve ter sido difícil para ela se abrir para mim?
-Minha querida, - o príncipe pegou em sua mão- eu sou amigo dela e, para ser imparcial, eu preciso ver as provas. - Dito isso, os três foram até o quarto de Judith.
- Não ouse duvidar na frente dela. - avisou Jane, antes de abrir a porta. Por sorte, Judith ainda estava do mesmo jeito o que fez com que os príncipes tivessem um pequeno estado de choque. - Que bom que está se distraindo. - disse Jane ao ver a prima lendo um livro, mas assim que Judith viu os homens, ela quis se esconder.
- Judith, nós precisamos ouvir de você tudo. - disse August carinhosamente.
Judith suspirou e começou o seu relato:
-Ontem, após Eliot sair do jardim, eu fui cortejada por vários homens e um deles foi esse conde, mas eu não dei muita importância porque é normal pra mim. Mas, após eu me despedir, eu vim para o meu quarto, mas na porta ele me abordou. Ele me obrigou a entrar, tampou a minha boca com um pano, enquanto ele fazia e me batia.
Eloise colocou as mãos na boca para abafar o seu horror.
-Judith, eu sei que é uma dama de respeito, mas poderia mostrar aonde ele te bateu?- perguntou Eliot.
Ela mostrou os braços e as pernas, ambos roxos.
-Também tem em minhas costas e nádegas. - a voz dela tremeu.
-Não precisa, minha querida. - disse firmemente Jane. - O que vimos foi o bastante.
-Tomaremos as devidas providências. Nos acompanhe, querida noiva. - os três voltaram para a sala escura. - Nós não podemos fazer nada. - disse Eliot se jogando na cadeira central.
-Como? - Jane o olhou intrigada.
-O pai dele é dono da metade das terras do reino. - ele colocou as mãos no rosto.
-Ainda bem que o pai dele é dono da metade das terras do seu reino. O casamento ainda não ocorreu, ainda sou a representante legal pelo meu reino. - Jane foi em direção a sala de jogos e August a seguia calado. - Quem é o Conde de Dumbarton? - ela perguntou em voz audível por todos da sala e um homem se levantou.
-Majestade,- ele fez uma pequena reverência- o que posso fazer por você?
Jane abriu a sua boca para responder, mas uma voz mais grave saiu:
-Conde de Dumbarton, o senhor foi convocado para uma reunião extraordinária com o príncipe regente, a princesa regente, a rainha, o rei, a princesa prima da rainha e o príncipe caçula. - comunicou Eliot, por trás dele August estava com um sorriso largo no rosto, sentia-se orgulhoso de seu irmão.
-Qual o motivo, Majestade? - balbuciou o conde.
-Esteja em meia hora no salão central.
Meia hora depois, todos estavam no salão, Judith tinha se arrumado, mas levara uma caixa aonde trazia a sua camisola ensanguentada.
-Eu os chamei aqui para esclarecermos um assunto - disse Eliot sentado no trono e, de pé, a sua noiva. Ele estendeu a mão para Judith entregar-lhe a caixa. -Nós sabemos como a primeira vez de uma dama deve ser guardada e respeitada, mas não foi isso que aconteceu - ele tirou a camisola para todos verem e o rei e a rainha ficaram chocados.
-Queira-me desculpar, mas ainda não sei o motivo para eu estar aqui. - o conde falou petulantemente.
-Princesa. - disse Eliot olhando para sua noiva.
-Ontem o senhor violou uma dama que, por sua infelicidade, tem o meu sangue. Mesmo se não tivesse alguma ligação com ela, é a minha obrigação como mulher e como futura rainha exigir justiça.
-Eu não falo sem a presença do meu pai - retrucou o conde.
-Você precisou da presença do seu pai para fazer o que fez? - indagou Jane e todos ficaram quietos.
-Eu sugiro - o rei começou calmamente - que o senhor se retire da corte por um tempo para que não afete os negócios de seu pai e acalme os nervos aqui. - o rei pousou a sua mão no ombro do Conde e todos se entreolharam. - Agora, saia. - e assim o fez, deixando apenas a família real no salão.
-Rei? - perguntou Jane - O senhor não tinha o direito de intervir, a vítima foi alguém do meu reino, então as nossas regras devem ser seguidas.
-Não, - retrucou o rei- o acontecido foi no meu reino, portanto eu decido o que acontece.
Jane engoliu em seco:
-O senhor prometeu que estaríamos seguras aqui.
-Vocês estão, eu não posso controlar o que acontece debaixo das calças de um homem.
-Basta! - August se manifestou pela primeira vez- Esse homem já tinha feito isso e nada foi feito por ninguém.
-Esse homem será dono da metade do reino em breve, seu pai está moribundo. - o rei elevou a voz.
Jane desceu donde estava para ficar no mesmo piso que o rei e olhá-lo nos olhos.
-Fique sabendo que isso acabará em breve, durante o meu reinado nenhum homem assim irá sair impune.
- Mulheres não comandam esse reino - o rei debochou.
-O senhor verá, Majestade. - ela fez uma reverência e saiu com Judith e Eloise.
-Princesa, aqui os negócios são diferentes. -disse Eloise.
-Então, eles que se arrependam da união porque eu continuo a mesma.
Na hora de dormir, alguém bateu na porta de Jane que já vestia a sua camisola.
-Majestade. - Eloise fez uma reverência e saiu pela porta e a fechou.
Jane olhou para Eliot que estava com a mesma roupa ainda.
- O que queres? - disse Jane escovando o cabelo na frente do espelho dando as costas para o noivo.
-Quero me desculpar pelo o ocorrido e lhe fazer uma promessa. - ele se aproximou para ajudá-la a tirar o colar que emperrou, foi quando ela se virou e percebeu o quanto ele era alto: a cabeça dela bata no peito dele.
-Não acredito em promessas feitas por homens. Pode parecer ignorância, mas eu aprendi com o meu pai e os negócios dele.
Eliot riu e tampou a boca com as costas da mão.
-Eu percebo que, como princesa, o seu pai sempre te deixou atualizada dos negócios do reino
-Certamente, porque sabia que eu teria que saber algum dia. - ela o olhou diretamente em seus olhos gélidos,mas parecia aconchegantes.
-Então, comigo no poder eu prefiro que a minha esposa me ajude; porque creio que o casamento abrange isso também.
-Concordo. - ela assentiu. - Era só isso?
- Também queria lhe parabenizar pela sua atitude hoje durante o dia inteiro, desde me acordar até enfrentar o meu pai. Fico feliz em saber que a minha união será com alguém assim. - ele sorriu e ela contribuiu também.
-Eu também lhe subestimei, convocar aquela reunião foi um ato de coragem.
-Bom, acho que é isso. - disse ele andando até a porta.
-Boa noite, Eliot.
-Boa noite, Jane. - ele saiu do quarto e a princesa foi dormir pensando que daqui menos de um mês eles não iriam para quartos separados.
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