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História Entre tapas e balas - Você pode ler pra mim?


Escrita por: firefly_girl

Notas do Autor


Oi vagalumes!
Acho que você estão querendo me matar, mas eu tenho bons motivos. Na verdade um só: ESCOLA.
Mas tá aí o capítulo.

Capítulo 12 - Você pode ler pra mim?


Ãh, tudo bem. Isso não estava dando certo.

Eu devia estar em frente ao espelho há uns 20 minutos, metade desse tempo tentando arrumar um jeito de esconder o trecho em que meu cabelo estava azul. Aquela tinta parecia ter se tornado parte do meu cabelo, não saia de jeito nenhum. Meus braços estavam vermelhos de tanto esfregar e ainda assim tinham alguns pontos coloridos. Isso porque já haviam passado dois dias, então agora imagine como estava no dia seguinte.

Thalia tinha me acusado de pintar o cabelo sem ela e tive que convence-la de que tinha sido um acidente com tintas.

Pior que meu cabelo só estava a minha bota, que parecia uma pintura abstrata.

Não pude evitar o sorriso.

Será que Percy tinha conseguido tirar o amarelo dos cabelos?

Ele teve que tomar um banho antes de ir embora, mas a tinta parecia não querer abandona-lo. Quando o vi no dia anterior a tinta ainda não tinha soltado totalmento.

Acabei prendendo os fios em um rabo de cavalo mesmo, dane-se o fato de estar azul.

Desci as escadas o mais rápido que as muletas permitiam (ou seja, tartarugas me ultrapassavam), apenas para ter a surpresa de encontrar meu pai sentado na mesa.

Ele parecia calmo e entediado enquanto lia seu rotineiro jornal. Eu sei que parece meio antiquado, mas ele sempre teve esse hábito.

Héstia servia o café dele quando me sentei, a xícara cheia até o topo.

- Bom dia - eu disse analizando a mesa.

Meu pai dobrou o jornal e colocou ao seu lado na mesa. Meu corpo ficou tenso, ele geralmente só largava aquele trem quando tinha uma bronca para dar.

Mas ele sorriu. Um sorriso pequeno e rápido, mas de verdade.

- Bom dia - ele levou a xícara até a boca e soprou.

Meu pai deu uma olhada para o meu cabelo e a diversão passou rapidamente pelos olhos dele.

- Héstia me falou que você vai trocar sua bota hoje - ele disse.

Olhei para aquela coisa quente e idiota que fazia minha perna formigar. Eu odiava aquela porcaria, mas ainda assim não queria tira-la.

- Vamos ao médico depois do almoço - falei pegando um copo de suco de manga.

Meu pai acenou e deu um gole em seu café.

Decidi pegar um waffle, mas uma caixa de cereal apareceu no meu campo de visão. Não era o mesmo que Percy tomava, mas era tão ridículo quanto. O bichinho na capa parecia olhar diretamente para mim.

Eu não vou tomar cereal colorido no café da manhã!

"É por isso que você é tão ranzinza" disse a voz de Percy na minha cabeça "Minha mãe é mais adolescente que você"

"O fato de eu não gostar de cereal não significa que eu sou velha" eu repliquei mentalmente "Você sabe os estragos que isso faz nos dentes?"

"Bla bla bla" ele falou "Vai parar de comer doces também? Porque da última vez que eu chequei eles não eram exatamente bons para os dentes"

Suspirei e peguei a porcaria da caixa e também uma tigela, virei o cereal e joguei o leite por cima.

Meu pai me olhava confuso, o que não era pra menos considerando que eu sempre fora uma integrante ativa do grupo contra cereais. Héstia apenas arqueou as sombrancelhas antes de continuar a trazer mais coisas para a mesa.

Coloquei uma colher com cereais na boca e mastiguei relutante.

"Viu, eu estou comendo cereais".

Eu tinha que admitir, aquele troço era bom.

Frederick me observou curioso, mas não falou nada sobre minha súbita vontade de comer cereal.

- Vão acabar de instalar a casinha na árvore semana que vem - ele avisou.

- Sério? - perguntei parando com o cereal.

- Sim - ele falou - Percy disse que talvez você fosse querer decorar a casinha, então eu não contratei ninguém, mas se você quiser eu posso...

- Não - interrompi - Eu posso decorar.

Meu pai sorriu e continuou tomando seu café.

As surpresas só aumentaram quando meus irmão desceram as escadas correndo.

- Oi pai! - disseram os dois ao mesmo tempo.

- Oi - disse meu pai - Acordaram mais cedo hoje?

- A mamãe vai levar a gente na casa de um amigo antes da aula - disse Oliver.

Os meninos se sentaram nas cadeiras e atacaram a comida. E quando digo atacaram, quero dizer atacaram mesmo, no sentido literal da palavra.

Comi meu cereal em silêncio, os meninos tagarelavam sobre qualquer coisa. Meu pai apenas ficou calado enquanto os gêmeos discutiam sobre o desenho que fizeram na escola. O assunto deles mudava rapidamente e era difícil acompanhar.

Não demorou muito para Ariane se juntar a mesa, os cabelos lisos bem arrumados e a roupa impecável. Ela apenas nos cumprimentou e depois ficou falando distraidamente com os meninos.

- Pai - eu aproveitei que os outros estavam distraídos para perguntar - Eu gostaria de saber se as meninas podem ficar aqui no final de samana e se podemos usar a piscina.

Meu pai pensou por alguns segundos.

- Claro - ele disse - Vou pedir a Percy que limpe a piscina.

- Obrigada - eu queria abraça-lo.

"Então abrace" disse a voz de Percy.

Mas aquilo não era tão simples quanto comer cereal. Eu não estava confortável com aquilo, não dava um abraço no meu pai devia fazer anos.

Então apenas acabei meu cereal e sai de casa com meu motorista provisório. Outra coisa que iria acabar quando eu tirasse a bota. Claro, eu queria que a coceira parasse e voltar a fazer as coisas sozinha era bom, mas eu sentiria falta do meu motorista, ele vinha sendo um bom acompanhante. Além do mais eu teria que voltar aos treinos em breve e eu não estava tão animada quanto deveria.

A escola estava um pouco vazia quando cheguei, os alunos começavam a chegar aos poucos e os que já tinham chegado se reuniam em grupinhos.

O tempo estava um pouco menos quente do que o restante da semana, mas eu ainda estava derretendo.

Andei pelos corredores em direção ao pátio, minhas muletas faziam mais barulho do que gostaria.

Encontrei Luke isolado em um dos bancos, o que era muito incomum. Ele olhava fixamente para o tronco de uma árvore e não tinha o típico sorriso no rosto.

Me sentei ao lado dele e olhei para o tronco também.

- É uma madeira bem interessante - eu comentei.

- É sim - ele concordou distraidamente, o cabelo loiro estava um pouco bagunçado, o que dizia que ele tinha passado as mão ali.

- É por isso que está olhando assim pra ela - perguntei olhando para ele - Está apaixonado? Kelye vai ficar com ciúmes.

Isso aparentemente foi a coisa errada a dizer, porque fez ele explodir.

- Ela não tem esse direito - ele disse furiuso - Não depois de enfiar a língua na garganta do meu melhor amigo. Então se eu quiser comer metade do colégio, eu o farei.

Corei fortemente, Luke não costumava falar desse jeito. Mas eu entendia, por mais que eu odiasse a lider de torcida, aqueles dois eram um casal desde que começaram o ensino médio. Eu sabia que Luke era totalmente apaixonado pela garota.

- Desculpe, Annie - ele disse apertando a ponte do nariz - Você não tem nada a ver com os meus problemas, eu apenas estou um pouco estressado, nunca imaginei que ela fosse fazer isso.

"Eu também não" pensei. Tipo, Luke era maravilhoso. Bonito, inteligente, simpático, gentil, educado. Um verdadeiro príncipe encantado. O que deu na cabeça dela?

- Tá tudo bem - eu falei - Acho que é normal se sentir assim depois de tudo isso.

- Eu só... - ele começou - Não consigo esquecer o que eu vi, está me deixando maluco.

- Por que você não tenta se distrair - sugeri - Sei lá, vai pra praia, anda de moto por aí sem rumo...

Os olhos de Luke se acenderam.

- Ou eu faço uma festa - ele disse se levantando - Annabeth, você é genial! Muito obrigado - e saiu correndo.

Ah, não era isso que eu estava sugerindo, mas tudo bem. Ninguém nunca entendia meus conselhos mesmo.

* * *

- Então ele deixou? - Silena perguntou animada.

- Acho que foi isso que ela quis dizer com "meu pai falou que vocês podem passar o final de semana lá em casa" - disse Thalia como se fosse obvio (e de fato era). Ela estava com humor pior do que o normal.

Nós três andavamos juntas pelos corredores da escola. Adolescentes desesperados por comida corriam em direção ao refeitório.

- Eu sei Thalia - Silena disse revirando os olhos - Só estou tentando confirmar que ela realmente falou isso e não era só uma alucinação por conta do calor. Eu não sou tão burra quanto todos pensam.

Ela parecia realmente frustrada.

- É claro que não é - eu disse suavemente - nenhuma de nós pensa isso, Lêna.

- A não ser quando você empurra uma porta com plaquinha de "puxe" - disse Piper - Isso não é muito inteligente.

- A Annabeth também fa isso as vezes - Thalia apontou rindo.

- E você não? - perguntei sarcasticamente.

- Claro que não - ela respondeu.

- Ah, e aquela vez na semana passada... - comecei.

- Talvez ocorra algumas vezes - ela interrompeu.

Entramos no refeitório rindo. O ar condicionado provavelmente já estava no máximo, o que explicava a quantidade de gente ali dentro, que tentava fugir do calor que estava lá fora.

Acompanhei as meninas na fila, não que eu conseguisse carregar uma bandeja, então elas se revezavam para me ajudar.

Andamos em direção a mesa de sempre, que já estava lotada como de costume.

Leo Valdez fazia suas rotineiras piadas ruins em uma das pontas da mesa. Ninguém ria como sempre. Jason tentava faze-lo parar, mas falhava miseravelmente. O loiro se virou para nós quando nos sentamos na outra ponta. Pra ser mais exata, seu olhar se fixou em Piper, que discutia distraidamente com irmã. Era estranho ver aqueles dois cada vez mais distantes. Eu tinha me acostumado a ve-los se agarrando pelos cantos e grudados o tempo todo. Era pior que meleca. O tipo de casal que você esperava ver se casando depois do ensino médio. Piper vinha lidando relativamente bem com o "tempo" deles. Jason tinha sido o primeiro e único namorado dela, não era pouca coisa. Mas minha amiga merecia ser feliz e se o relacionamento não estava permitindo isso, era hora de parar.

Cabelos vermelhos chamaram minha atenção em uma das mesas. Rachel tomava seu suco e olhava quase rindo enquanto Percy e outro garoto discutiam amistosamente sobre alguma coisa. Era incrível como Percy conseguiu atrair as pessoas em tão pouco tempo. A mesa que antes tinha quatro integrantes, agora passava de 10. Não era um grupo muito comum, ia de mimicos à artistas, calouros à veteranos, calados à extrovertidos. Pessoas sem um grupo, percebi após alguns segundos. Jovens que não se encaixavam em nenhum lugar. Percy tinha dado a eles um lugar, não tinham que se encaixar em padrão. Apenas tinham que querer estar ali. Isso era a cara do moreno, fazer as pessoas se sentirem bem parecia a especialidade dele.

- Terra chamando Annabeth - Thalia me cutucou.

Me virei para ela meio perdida, as meninas me encaravam esperando.

- Ãh, o que eu perdi? - perguntei pegando uma batata frita da bandeja.

- Eu estava perguntando se vocês queriam sair comigo depois da aula - Thalia explicou - Estou livre hoje e totalmente entediada.

- Tenho treino - Silena falou - Mas acho que dá pra lanchar com vocês antes dele.

- Eu tô atoa - disse Piper - Podemos ir em alguma lanchonete.

Elas olharam pra mim com expectativa.

- Não posso - eu falei - Vou tirar a bota hoje a tarde.

Elas acenaram e deram uma mudança básica de assunto, indo parar em prova de matemática.

- Perdi média - Thalia falou tristonha - A sra. Dodds está inspirada esse ano. Ela vai passar uma prova daqui a duas semanas pra gente recuperar nota, então eu meio que tenho que aprender matemática em duas semanas.

- Eu posso te ajudar se quiser- eu me ofereci.

- Meu pai contratou um professor particular - ela disse - E ele é um gato que curte rock, então me desculpe amiga, dessa vez vou ter que recusar.

Revirei os olhos e mudamos de assunto de novo.

* * *

Crianças. Muitas crianças. Gritando e correndo.

Uma menininha passou correndo no meio e quase atropelou um garotinho que brincava de carrinho no chão.

- Você parece alguém prestes a desmaiar de pânico - zoou Percy ao meu lado - São crianças, não monstros venenosos.

Ele tinha trocado a blusa azul  de serviço por uma branca e colocado o boné preto. Nós dois estávamos entrando no colégio dos meninos com Héstia, que parava o tempo todo para cumprimentar alguém.

Depois de tantos dias me apoiando em muletas e sentindo o pé a afado dentro de uma bota, andar de novo estava sendo estranho, mas inegavelmente bom.

- As vezes tenho minhas dúvidas - comentei olhando para um garoto fazendo pirraça enquanto a mãe o arrastava para fora de um brinquedo - Por que estamos aqui mesmo?

Percy olhou pra mim. Ali, com os olhos brilhando na luz de fim da tarde e o corpo levemente dourado, ele poderia muito bem ser confundido com um deus.

- Você disse que queria ter um relacionamento melhor com seus irmãos - ele explicou - Então vamos conseguir isso. Mas primeiro temos que acha-los.

Encontrei nossos alvos perto do escorregador junto com algumas meninas, brincando de amarelinha.

Tyson viu o irmão primeiro e depois a mim. Acho que não demorou 5 segundos para ele estar na nossa frente.

O garoto sorriu para Percy, um dos dentes da frente tinha caído e o cabelo rebelde deixava o muito parecido com o do irmão (embora o do pequeno fosse um pouco mais arrumado).

- Oi, Pê - ele disse antes de abraçar o irmão, depois se virou pra mim - Oi, Annie.

Surpreendendo me, a miniatura se aproximou de mim e passou os braços ao redor da minha cintura. Fiquei sem reação, não estava exatamente acostumada a ser abraçada por outras pessoas além das minhas amigas e de Quíron. Olhei para Percy sem saber o que fazer, mas ele apenas sorriu me encorajando. Retribuí o abraço meio desajeitada.

- Oi, Tyson - eu disse soltando-o.

Os gêmeos chegaram até nós. Na verdade eles chegaram até Percy, e pareciam animadíssimos com a presença do moreno. Os meninos tinham se afeiçoado a Percy em poucas dias, Josh parecia venera-lo, era quase uma sombra atrás do mais velho.

Oliver olhou pra mim surpreso (éramos dois) e cutucou a perna de Percy. O moreno olhou para meu irmão confuso e Oli fez sinal para Percy se abaixar. Ele obedeceu e meu irmão falou algo no seu ouvido. Os olhos de Percy focaram em mim e ele sussurrou algo de volta.

Eu já estava cogitando voltar para casa sozinha, mas então Percy se levantou e começou a puxar assunto com as crianças, como foi o dia delas, o que comeram no recreio, qual pegadinha fizeram dessa vez, e assim foi até Héstia parar do nosso lado.

- Héstia, a gente pode ir no parque tomar sorvete? - perguntou Josh.

Os olhos de Tyson se arregalaram e foram direto para o irmão, que sorriu e acentiu.

- Meninos- Hestia começou sua negativa.

Quatro crianças (uma delas tinha passado um pouquinho do tamanho para isso) olharam para ela com olhar de cachorrinho pidão, tornando impossível para Héstia dizer algo além de "tudo bem".

- Percy, já volto - Tyson saiu correndo.

Enquanto os gêmeos conversavam animadamente, Tyson parou ao lado de uma garota que estava sentada em um dos bancos, devia ter uns 17 anos, os cabelos escuros estavam soltos pelo ombro e a roupa de marca não tinha um amasso. Parecia meio entediada e olhava para o parquinho vigiando uma das crianças. Tyson começou a conversar com ela, que parecia negar distraidamente. Em determinado ponto Tyson apontou para nós e a garota seguiu seu dedo. Seus olhos focaram em Percy, que discutia com Josh qual sabor de sorvete era melhor, e o olhar distraído mudou para outra coisa. Francamente!

A garota acenou para Tyson que pulou de felicidade e correu até uma garotinha que brincava no balanço. Ele disse algo para ela, que sorriu e saiu do balanço, andando com ele em nossa direção.

- A Ella também vai pro parque - ele disse para o irmão - Ela pode ir com a gente, não pode? A irmã dela vai pega-la daqui a pouco.

O irmão confirmou e sorriu para a garotinha.

- Podemos ir? - perguntou Héstia.

As crianças acenaram e Percy se abaixou, sussurrando algo no ouvido dos gêmeos.

Andamos até o portão da escola, e eu não posso dizer que estava confortável, porque eu estaria claramente mentindo.

Tyson arrumou sua mochila nas costas e pegou uma das mãos de Percy, deixando a outra para Ella.

E então aconteceu a coisa nova. Cada um dos gêmeos se colocou em um lado meu e pegou minha mão.

Héstia me olhou sem entender, mas eu também não estava entendendo. Bem, não até Percy piscar para mim.

Segurei a mão dos meus irmãos, embora fosse algo novo e estranho eu não queria que parasse.

Seguimos em direção ao parque, Héstia parecia um pouco perdida nos acontecimentos, mas sorria de canto. As pessoas corriam pelas ruas, sempre com pressa, sempre sem tempo, ou seja, a Nova York de sempre.

Tudo bem. Eu podia ser mestre em exatas e mandar muito bem na ginástica, mas era um completo desastre quando o assunto era crianças. Minha sorte era que Percy não era. Ele puxava assuntos com as crianças com a mesma facilidade que o fazia com adultos. Dava para entender o porque de Tyson ser tão apaixonado pelo irmão.

As crianças nos abandonaram assim que chegamos ao parque, em poucos segundos já estavam na fila do sorvete.

Minha governanta avistou uma amiga e nos deixou com os pequenos na fila e um bolo de dinheiro na mão.

Os meninos conversavam eufóricos, fazendo as outras pessoas na fila sorrirem. Percy riu ao meu lado e me olhou.

- Ah, o quê? Não vai me dizer que também não gosta de sorvete, vai? - ele perguntou - Porque se for isso eu desisto, você já pode ser enterrada.

Bati no ombro dele e sacudi a cabeça.

- Eu adoro sorvete - declarei - Só estou surpresa com toda essa situação.

Percy abriu um sorriso enorme.

- Pode dizer - falou o moreno.

Olhei para ele confusa.

- Dizer o quê?

Percy deu de ombros.

- Que tal "Percy, você é o cara mais incrível que eu já vi" ou então "Percy, você é mais perfeito que panqueca com calda de caramelo"

Tudo bem, isso foi o suficiente pra me fazer rir.

- O que acha de "Percy, você precisa abaixar o ego, porque ele chegou na exosfera"

- Eu te ajudo com seus irmãos, reformo seu parquinho velho e é isso que eu recebo? - ele colocou a mão no coração - Na próxima eu deixo você com seu mundinho triste.

Não tive tempo de revidar, nossa vez chegou e Tyson puxou o irmão para baixo. O pequeno cochichou no ouvido do mais velho, que concordou e sorriu. Percy se levantou e perguntou.

- Quem vai primeiro? - todos eles levantaram a mão ao mesmo tempo, tornado aquilo muito mais complicado - Que tal treinarmos o cavalheirismo? As damas primeiro.

Ella se aproximou do balcão e ficou na ponta do pé, mas não conseguiu ver, então olhou para Percy com os grandes olhos castanhos. Percy sorriu e pegou a garota, colocando-a por cima dos ombros.

- Eu quero aquele verde - ela apontou.

- Annabeth, você é a próxima - Percy anunciou enquanto o homem do trailer arrumava o pedido de Ella.

- Crianças primeiro - eu falei.

Os meninos fizeram um zerinho ou um e impar ou par para decidir a ordem. Tyson pediu "o de sempre, seu José" e os gêmeos pediram de flocos. Por fim só faltavamos eu e Percy.

Pedi o meu morango de sempre e esperei enquanto o moreno pegava o seu sorvete azul estranho.

Percy tirou a cateira para pagar o dele, o de Tyson e o de Ella, mas o impedi antes que ele pagasse e levantei o dinheiro que Héstia tinha me entregado.

- É o dinheiro que Ariane entrega para comprar coisas para os meninos - coloquei o dinheiro do total na mão do homem do sorvete e esperei pelo troco.

- Ela não vai ficar brava? - Percy perguntou receoso.

- Aquela lá adora um motivo para pedir mais dinheiro ao meu pai - eu falei pegando troco - Estamos fazendo um favor pra ela.

Percy acenou e começamos a andar parque a dentro com os mais novos.

Algumas poucas crianças andavam pelo lugar com seus responsáveis, os últimos mexendo no telefone e as primeiras tentando chamar a atenção deles.

Eu gostava daquele parque, os vários arbustos e árvores faziam parecer que eu tinha entrado em outro mundo, algo bem distante da tumultuada e barulhenta metrópole que era Nova York.

Nos sentamos em um dos bancos e os pequenos se sentaram no chão.

Me distraí olhando para um beija flor que passava ali perto e quando dei por mim meu sorvete tinha diminuido uma boa quantidade. Eu poderia ter acreditado que eu tinha comido aquilo enquanto estava distraída, mas o rosa no canto dos lábios de Percy o denunciou. Aquele ladrãozinho de meia tigela!

Abri a boca chocada pelo furto e ele ainda teve a audácia de se fazer de sonso.

- Seu f- as crianças olharam pra nós nesse exato momento e eu não achei que seria uma coisa legal falar o que eu estava pensando - F-folgado, vá buscar outro sorvete!

O moreno gargalhou do meu improviso. Ele roubava meu sorvete e ainda ria as minhas custas?

- Tio Percy, podemos ir brincar? - Ella perguntou cutucando a perna dele.

Ela tinha se sujado relativamente pouco comparada aos outros (incluindo Percy).

- Claro - ele disse, tinha uma mancha azul na blusa e a boca estava no mesmo tom - Mas evitem cair, por favor, ou ninguém nunca mais vai me deixar chegar perto de vocês.

As crianças acentiram e nos abandonaram ali.

Aproveitei que Percy olhava as crianças para tentar roubar seu sorvete, mas o moreno tinha um reflexo muito melhor do que eu imaginava. Ele levantou sua pazinha bem a tempo de bloquear meu ataque, como se ela fosse uma espada.

- Quer mesmo jogar esse jogo comigo? - o olhar de Percy se fixou no meu, o rosto ficou sério e ele parecia ameaçador e, tudo bem, muito bonito.

- Não acha que eu seja capaz? - perguntei me inclinando levemente na direção dele.

- Eu acho você capaz de muitas coisas, Annabeth - Percy se inclinou um pouco também - Mas esse - ele acenou para as pazinhas com o queixo - esse é o meu jogo.

- Isso é um desafio? - perguntei arqueando as sombrancelhas.

Percy pensou um pouco e, mantendo a pazinha cruzada com a minha, levou o sorvete aos lábios.

Era muito errado estar prestando muita atenção no gesto?

Provavelmente. Mas meus olhos faziam o que queriam e no momento era aquilo que eles queriam olhar.

- Na verdade sim - disse Percy com sua língua azul, ele mudou sua postura para solene - Annabeth Chase, eu Percy Jackson te desafio para um duelo.

- Com colherzinhas de sorvete? - perguntei divertida.

- Não sou um amador - ele disse indignado - Amanhã, depois da aula, na sua casa. Faremos um duelo, eu levarei as armas.

Olhei para o moreno desconfiada, sem saber o que esperar dele. O garoto ao meu lado era totalmente imprevisível, poderia levar um graveto ou um bastão de ferro de 10 toneladas que eu nem conseguiria levantar. Mas era justamente isso que tornava estar com ele tão divertido, eu nunca sabia o que ia acontecer. E isso era emocionante.

- Pois bem - eu falei por fim - Eu aceito o desafio.

Percy sorriu e voltou a tomar seu sorvete. Aproveitei para acabar o meu também, que começava a derreter e em poucos segundos melecaria minha mão se eu não acabasse com ele.

Ficamos ali olhando para as crianças correndo, Héstia estava sentada do outro lado do parque vigiando tudo igual à um gavião.

Foi naquele parque que tive a chance de ver a coisa mais fofa da minha vida até então. Tyson se aproximou de Ella e lhe ofereceu uma florzinha branca. A garotinha sorriu e deu um beijo na bochecha dele, que corou violentamente, ficando mais vermelho que o cabelo dela.

Percy riu ao meu lado, parecia encantado com o irmão.

- Seu irmão é um fofo - eu falei olhando para o pequeno - um verdadeiro cavalheiro.

- O irmão dele ensinou muito bem - disse Percy convencido.

- Não sabia que vocês tinham outro irmão - eu comentei - Você devia me apresenta-lo qualquer dia desses.

Percy me olhou transtornado.

- Eu sou muito cavalheiro se quer saber - ele disse com a mão no coração - Você que é uma dama muito difícil de agradar.

- Eu não sou dificil - protestei - Diga-me Percy, você alguma vez na vida deu flores a alguém?

- Sim - ele disse imediatamente - Minha mãe pode provar, todas elas foram bem plantadas.

Revirei os olhos.

- Pra sua mãe não vale.

- Não seja por isso - ele se esticou no banco e puxou uma pequena flor que crescia no arbusto ao lado - Uma flor para uma flor - ele disse piscando e me entregou a flor rosa.

Talvez eu tenha arrepiado.

- Oh Percy, isso foi tão...

- Fofo? - ele sugeriu.

- Falso - eu completei - Vai ter que se esforçar um pouquinho mais.

Percy me olhou exasperado.

- Viu? - ele disse - Foi isso que eu quis dizer com "uma dama muito difícil de agradar".

Fiquei quieta, não tinha um bom argumento. Eu sabia que estava enchendo o saco, Percy vinha sendo de fato um cavalheiro, com suas maneiras tortas, mas ainda sim um cavalheiro. Não um príncipe, mas um garoto legal.

Um amigo.

Sem que eu percebesse, Percy tinha se tornado exatamente aquilo. Alguém que estava ali sempre, me enchia o saco o tempo todo e evitava que eu me isolasse naquela bolha que eu costumava ficar.

Sim, Tyson tinha um bom motivo pra adorar o irmão.

E eu não podia culpar Rachel por grudar nele que nem chiclete, mesmo que isso fosse irritante.

- Além do boxe, o que você faria se não fosse lider de torcida? - Percy perguntou do nada.

Pensei um pouco no que eu queria quando entrei no ensino médio.

- Eu faria parte do clube de matemática - respondi sinceramente.

- Deuses, só piora! - Percy exclamou e eu bufei - Tá bom, se o clube é de matemática, você estaria estudando. Não dá pra encaixar no resto da rotina?

- Eu também pensei isso - comentei - Mas a reunião deles é ao mesmo tempo que o treino das líderes de torcida.

- Você não é pobre - ele disse - Mas tem o azar de um.

Isso me fez rir. Continuamos falando de várias coisas sem sentido, até que uma garota se aproximou de nós, era a mesma da escola. Seu olhar passou por mim rapidamente e focou em Percy, como se eu fosse apenas um detalhe do banco em que estávamos sentados.

- Oi - ela disse colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha - Eu sou Layla, irmã da Ella.

Percy sorriu como o de costume e estendeu a mão.

- Percy, irmão do Tyson - ela pegou a mão dele e parecia muito relutante em soltar.

- Então você é o tão falado irmão do Tyson? Minha irmã fala muito de vocês dois - Layla falou.

As bochechas de Percy ficaram vermelhas e ele coçou a nuca. Os olhos da garota não pareciam estar focados somente na tatuagem no braço dele.

Sério? Essas meninas não conseguiam resistir nem um único minuto?

Layla estendeu um dinheiro para Percy, que a olhou confuso.

- Imagino que vocês tenham tomado sorvete - ela disse.

- Ah, na verdade foi ela quem pagou - ele disse acenando para mim.

A garota olhou para mim com certo desanimo e ofereceu o dinheiro. Peguei as notas no automático e fiquei encarando Layla.

- Ãh, eu acho que está na hora de ir - ela disse e sorriu mais uma vez para Percy - Foi bom conhecer vocês.

Ela saiu em busca da irmã, que pareceu triste ao ser chamada.

- Acho que está na hora de irmos também - Percy disse ao meu lado e olhou para os meninos que pareciam tudo, menos com vontade de sair do parque.

O moreno se levantou e foi atrás dos menores.

Suspirei no banco e comecei a juntar as coisas que os meninos tinham largado ali. Tinha sido mais divertido do que eu pensava que seria.

O dinheiro que Layla tinha me entregado caiu no chão e se desdobrou, deixando a mostra um papelzinho branco com um número rabiscado. Sério? Não tinha nada mais brega?

Esperei enquanto Percy convencia os pequenos a sairem dos brinquedos e Héstia se despedia das colegas.

Andamos de volta até o carro estacionado em frente à escola e talvez, só talvez, eu tenha aproveitado para jogar alguns papéis no lixo.

Os gêmeos pareciam menos hesitantes em segurar minha mão no trajeto da volta, até tentavam conversar comigo, embora o fato deles estarem cansados não estar ajudando no diálogo.

- Eu disse que seria melhor se eu viesse com meu carro - eu falei quando Percy estava se despedindo de nós. Tyson parecia exausto ao lado do irmão - Agora eu poderia te dar uma carona.

O moreno olhou para meus irmãos que se apoiavam em mim quase dormindo.

- Não se preocupe com isso - ele respondeu - Vamos pegar um táxi, não é cara?

Tyson olhou para o irmão e abriu os braços em um pedido silencioso. Percy se abaixou e pegou o menino, que se enroscou como um macaco no mais velho.

- Então até amanhã - eu falei.

O moreno arrumou Tyson nos braços, o pequeno já cochilava. Eu não tinha como negar, aquilo era muito fofo.

- Até amanhã - Percy disse - Vai estar de carro, não vai?

- Vou.

- Posso deixar uma coisa nele antes da aula pra você levar para sua casa depois?

- Claro - respondi.

Percy se despediu dos garotos e de Héstia, depois seguiu andando, a mochila de Tyson sacudindo nas costas dele.

O caminho para casa tinha sido silencioso, os gêmeos estavam cansados demais para conversar.

Héstia colocou os dois no banho enquanto eu tomava o meu. Um cheiro maravilhoso de chá me guiou até a cozinha, onde Oliver e Josh tomavam chá com biscoitos. Uma terceira xícara estava posicionada na bancada perto deles. Me sentei ali, ao lado dos gêmeos que conversavam com Héstia.

-... e a gente precisa desenhar nosso superherói favorito - Josh acabou sua narrativa, ele usava o pijama azul de carrinhos, que fazia par com o verde de Oliver.

- E quem vocês vão desenhar? - a governanta perguntou enquanto limpava o fogão.

- O superman - Josh disse animado.

- Por que o superman? - perguntei me inserindo no assunto.

- Por que ele é grande e forte, tem vários super poderes e pode voar - ele respondeu.

Héstia sorriu e olhou para Oliver.

- E você, Oli? - ela perguntou.

- Eu não sei - ele respondeu - Eu não decidi ainda.

Héstia nos deixou conversando mais um pouco, antes de mandar os gêmeos para a cama.

- Annie, você pode ler pra gente? - Josh perguntou.

A pergunta me surpreendeu, eu não esperava por essa. Eu já tinha visto Héstia contando histórias para acalmá-los antes de dormir, mas eu nunca, nem em mil anos, pensaria que estaria no lugar dela. Acho que meus irmãos interpretaram meu silêncio como negativa, porque olharam desapontados um para o outro.

- Claro - respondi me recuperando.

Os gêmeos sorriram e subiram as escadas correndo.

Héstia me olhou orgulhosa e  depositou um beijo em minha testa, antes de terminar seu trabalho. Subi as escadas rapidamente, dessa vez de verdade.

Cada um dos gêmeos tinha seu próprio quarto, mas costumavam dormir no mesmo, as vezes no de Josh outras no de Oliver. O da vez era o de Oliver, que tinha vários desenhos e fotos emoldurados nas paredes. Bisbilhiotei enquanto os meninos decidiam qual livro queriam. As fotas eram de uma visão diferente da que eu estava acostumada a ver. Tipo uma em que Ariane comia batatas fritas e tinha ketchup no queixo. Era algo inimaginável para minha madrasta, sempre vestida de forma requintada e agindo elegantemente.

- Annie, você vem? - Oli perguntou chamando a minha atenção.

- Sim - respondi me direcionando para cama, desligando me dos devaneios. 

Me deitei no meio dos meninos e estiquei as pernas sobre o cobertor branco.

- E então, o que vai ser? - perguntei.

- Esse - Oliver disse colocando o livro prateado nas minhas mãos.

Eu não precisava ler o titulo para saber qual era o livro, conhecia muito bem, tinha um identico guardado na minha estante, meio surrado de tanto tempo que passou nas minhas mãos quando pequena, mas era o mesmo.

Comecei a história hesitantemente, minha mente voou, para muito longe e ao mesmo tempo no mesmo lugar.

* Flashback *

"Mamãe, você lê pra mim?" eu peguntei parada em frente a mesa dela.

O escritório da mamãe, no segundo andar da casa, era muito legal, tinha vários livros e maquetes que pareciam casas de verdade. Ela devia gostar muito daquele lugar, porque passava todo o seu tempo livre ali dentro.

"Estou ocupada, Annabeth" ela respondeu sem tirar os olhos do computador, a voz estava como o de costume, naquele tom que me deixava muito ansiosa "Já fez seu dever de casa?"

O cabelo da mamãe ainda estava arrumado no coque bem feito. Os cabelos loiros quase marrons dela eram tão bonitos, estavam sempre bem arrumados. Eu queria que o meu fosse igual, mas era parecido com o do papai, amarelo tipo gema de ovo e todo descontrolado.

"Sim" eu respondi orgulhosa "Estava muito fácil"

Acho que os professores achavam que eu era burra e passavam coisas que eu fazia aos 3 anos. Puxa, eu já tinha 5 anos, era grande!

"Não é hora de você estar na cama?" ela perguntou arrumando os óculos no rosto.

Os óculos da mamãe faziam ela parecer ainda mais inteligente do que já era, ela parecia uma deusa. Eu queria ser igual a ela quando fosse adulta.

"Não consigo dormir" falei apertando ainda mais o livro prateado contra o corpo "Você pode ler pra me ajudar?"

"Peça a Héstia"

"Ela está de folga e os empregados já foram embora" minha esperança estava morrendo.

Atena não gostava muito de fazer essas coisas comigo, não era como as mães comuns. Ela também não gostava que eu chamasse ela de mamãe na frete dos outros, dizia que isso tirava o respeito que as pessoas tinham por ela. Eu não entendia o que ela queria dizer com isso, mas ela me olhava tão brava quando eu fazia algo errado que eu tinha medo de dizer algo.

Minha mãe levantou o rosto do seu trabalho e fixou seus olhos em mim. Estava irritada com minha intromissão. A esperança morreu de vez.

"Estou ocupada" ela disse outra vez "Você já tem idade para ler sozinha" e voltou ao trabalho, como se eu não estivesse ali.

Sai do escritório derrotada. Outra vez.

*Flashback off*

Terminei a historinha com os dois pequenos enroscados em mim e cochilando. Me descincilei e levantei com cuidado para não acorda-los, mas Oli se remexeu e abriu um pouco os olhos.

- Você devia tomar sorvete com a gente mais vezes - ele bocejou e coçou o olho - Você fica muito mais legal quando não está tentando fugir da gente.

Abri a boca sem reação.

- Eu não tento fugir de vocês - eu falei arrumando o cabelo dele - Por que eu faria isso?

- Você não gosta da gente - ele disse se acomodando no travesseiro.

- Isso não é verdade - eu falei franzindo as sombrancelhas.

- Tá tudo bem - ele disse fechando os olhos - A gente entende - e apagou.

Era isso que eles pensavam? Que eu não gostava deles?

Percy tinha razão, eu não podia deixar que Ariane ficasse entre mim e eles. Eu não podia simplesmente abandona-los.

Cobri os dois com cuidado, esperimentando a sensação, e apaguei as luzes. Fechei a porta devagar dei uma passo silencioso para trás, mas ao me virar, dei de cara com meu pai.

- Pai - eu falei colocando a mão no coração acelerado.

- Eu sei que a velhice está tirando o pouco de beleza que eu tinha, mas não imaginei que a coisa tava tão feia - ele disse franzindo as sombrancelhas.

Sorri um pouco.

- Você não é feio - eu disse olhando-o bem, eu achava meu pai até bem bonito, se não fosse o olhar de gênio maluco - E desde quando você faz piadinhas?

Meu pai se encostou na parede.

- De acordo com o nosso faz tudo, eu sou, com palavras dele "mais entediante que os programas de culinária que a minha mãe assiste, com todo respeito senhor" - meu pai franziu os lábios.

Não pude evitar o riso, aquilo parecia a cara do moreno.

- Percy as vezes é um pouco sincero demais - eu falei me escorando na porta.

- Ele tinha razão - Frederick suspirou infeliz - Até minhas roupas são entediantes, ao que parece eu uso os mesmos modelos de blusas xadrez há 20 anos.

- Eles não são tão ruins - meu pai arqueou as sombrancelhas - Tá bom, são sim, mas se gosta delas deve continuar as usando.

Meu pai incinou a cabeça pensativo e disse depois de uns segundos:

- Tem razão.

- Eu sempre tenho - afirmei fazendo-o sorrir.

Ficamos ali parados sem dizer nada por alguns instantes.

Aquilo era como andar em uma corda bamba, totalmente ocilante, cada passo era um risco de cair e estragar tudo.

- Héstia me falou que vocês foram ao parque - meu pai disse.

- É, os meninos queriam tomar sorvete e acabamos ficando no parque para eles brincarem.

- Como conseguiram tirar os gêmeos de lá? - meu pai perguntou divertido.

- Percy conseguiu convence-los de alguma maneira - eu expliquei.

- Os gêmeos parecem gostar muito daquele rapaz - meu pai constatou.

- Será por que? - perguntei ironicamente.

Meu pai sorriu, mas parecia um pouco preocupado.

- Só espero que eles não se machuquem muito com a saida dele - ele disse.

Demorou alguns segundos para o que ele disse se infiltrar em minha mente.

- Como assim saída dele? - eu perguntei receosa.

- Ele pediu demissão - Frederick revelou - Não pode continuar trabalhando aqui, me avisou ontem. Amanhã é o último dia dele.

Meu coração parou. Ele não tinha me dito isso. Como ele tinha coragem?

De algum jeito consegui me livrar do meu pai e andei até meu quarto no automático. Deitei na cama de costas e encarei o teto por vários minutos.

Percy não tinha aquele direito!

"Ele tem sim" disse minha voz da razão interior.

Mas e a casinha? E se eu precisasse da ajuda dele?

"Frederick vai pagar homens para isso, não seja dramática" disse eu mesma "Admita, está apenas magoada porque ele vai embora e não avisou"

É claro que eu estava magoada, o moreno tinha se tornado meu amigo naquela casa, alguém constante. Como eu poderia me acostumar com aquele lugar sem as piada ruins e constantes dele?

"Ele está apenas saindo do trabalho, não se mudando para o outro lado do planeta"

Tentei ouvir a razão, ele não ia se afastar de mim, não é?

Me virei na cama, desconfortável e inquieta.

Quem eu queria enganar?

É claro que ele iria!


Notas Finais


Sinto muito dizer isso, mas provavelmente vou demorar um tempo para postar o próximo. Estou atolada em trabalhos e a semana de simulados começou, então a corda está começando a apertar em volta do meu pescoço.
Mas é isso por enquanto, o que acharam? Comentem, favoritem ou sei lá, deem sinal de fumaça se quiserem, eu provavelmente não vou ver, mas é isso aí.


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