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História Entre tapas e balas - Olhos de ressaca


Escrita por: firefly_girl

Notas do Autor


Oi pessoas! Já que gostaram do primeiro decidi continuar.
Leiam as notas finais!

Capítulo 2 - Olhos de ressaca


Annabeth

O dia começou pouco promissor. Pra começar eu sonhei que estava sendo perseguida por algo gigante, que conseguiu me pegar e me arremessou longe. Levantei meio desesperada e cai da cama.

Melhor impossível.

Não me leve a mal, eu adoro a escola, minha vida é toda lá, mas tem dias que tudo o que eu quero é voltar a dormir e só acordar no ano seguinte. Mas a vida não é sempre o que a gente deseja, não é mesmo?

Tomei um banho quente pra tentar relaxar os músculos doloridos do treino de ontem e coloquei meu uniforme. Parei em frente ao espelho e fiquei encarando meu cabelo, eu adoro ele, é lindo, o problema era faze-lo se acalmar. Devo ter ficado uns 10 minutos para desembolar e mais 5 minutos para deixar os cachos caindo de maneira arrumada pelos ombros. 

Arrumei meu quarto (detestava deixa-lo bagunçado) e desci para tomar café.  

Encontrei Héstia, a governanta da casa desde que eu nasci, arrumando as coisas. Era uma mulher em seus 40 e poucos anos, era quase uma mãe pra mim. Fios de cabelo brancos começavam a se misturar com seus fios castanhos, o sorriso dela continuava amável, como sempre foi, e os olhos castanhos eram sábios. Me lembro da primeira vez que eu quebrei a cara com um garoto e voltei pra casa chorando, Héstia me trouxe um pote de sorvete e colocou Meu Malvado Favorito pra gente assistir, ela ficou ali a noite inteira comigo.

 Ninguém estava na mesa, apesar de toda comida que havia ali. Provavelmente meu pai já devia ter ido trabalhar. Ele era professor, lessionava história em universidades, então não tinha muito tempo pra ficar em casa. Minha madrasta nunca levanta cedo e meus irmãos levantam um pouquinho mais tarde que eu, então o café da manhã era eu e eu.

- Oi Annie! Bom dia querida! - disse Héstia me abraçando.

- Oi Héstia - falei desanimada e me sentei na mesa.

- Seu pai pediu para avisar que ele e sua madrasta vão sair a tarde. Eu vou buscar os meninos, mas eu terei que sair mais cedo, então eles vão ficar por sua conta.

Cuidar dos meus irmãos é uma tarefa impossível. Oliver é quieto, mas o Josh é uma peste.

Em geral eu mantinha certa distância dos meus irmãos, minha madrasta não gostava muito de mim, então era menos complicado assim.

Tomei meu café mais rápido que eu pude. Quanto mais tempo naquela mesa eu ficasse, mais deprimida eu ficaria também.

Dei um abraço em Héstia e saí a passos rápidos. Meu Porsche me esperava na garagem, brilhando ali sozinho.

Saí daquela casa o mais rápido que eu pude.

Lá fora, o mundo estava a todo vapor, pessoas corriam com seus telefones no ouvido, carros buzinavam, motos se espremiam entre os outros transportes e as vozes ecoavam em todos os lugares. Era isso que eu mais amava naquela cidade, não importa o que acontecesse, as pessoas nunca paravam, seguiam a sua vida. Poderia aparecer uma nave alienígena ali e as pessoas apenas tirariam fotos, então seguiriam a vida como se isso não tivesse acontecido.

Liguei o rádio, tentando preencher o silêncio dentro do carro.

Cheguei na escola ao mesmo tempo que Silena em seu carro rosa (com cilhos nos faróis). Era a primeira vez que nos viamos pessoalmente desde o início das férias, além do mais ela faltara o primeiro dia de aula. 

Ela estava radiante no uniforme de líder de torcida. Confesso que eu não queria entrar pra equipe, mas ela falou tanto na minha cabeça que acabei entrando com ela.

- Migah sua linda! - ela praticamente se jogou em mim.

Silena era o tipo de garota que as pessoas paravam o trânsito pra deixa-la passar. Os cabelos castanhos sedosos brilhavam mais que pisca-pisca no natal. O conjunto de pele perfeita (ela nem sequer tinha espinhas), nariz empinado, sombrancelhas bem feitas e dentes muito retos faziam inveja em qualquer um.

- Ei calma - falei tentando me equilibrar - Você é leve, mas o impacto não.

- Você é tão fria às vezes Annie, eu morrendo de saudade e você nem aí pra mim - ela falou me soltando - E quanto ao impacto, eu sou um ser humano impactante, então lide com isso.

- Se eu tivesse metade da sua confiança eu dominaria o mundo, Lena.

- Você só não domina porque não quer.

Entrelaçamos nossos braços e seguimos em direção ao pátio principal, ela contando sobre a ida dela ao Caribe e eu tentando não rir do intusiasmo dela.

- O melhor eram os gatinhos, estavam pra todos os lados. Se o paraíso existir, deve ser daquele jeito.

Nos sentamos em uma das mesas do pátio, uma mais no canto, onde o Sol batia em uma parte e em outra não, aquela mesa já era praticamente do nosso grupo.

A luz do Sol fazia a grama parecer mais viva e uma brisa leve passeava pelo lugar.

Thalia chegou logo depois com Jason e Piper, ela parecia indignada, mas era Thalia, ela sempre estava indignada com algo.

- Vocês acreditam que o babaca do Will fez uma festa durante as férias e não chamou a gente - ela sentou do meu lado e cruzou os braços.

Thalia era tão diferente de Jason que às vezes eu me perguntava se eles eram realmente irmãos, Jay parecia um príncipe loiro saido de um conto de fadas, enquanto Thalia parecia uma mistura de vampiro com um anão de jardim. Bonita? Sim, mas totalmente imprevisível. Ela poderia estar fazendo cookies em um minuto e no outro batendo em você com eles.

- Thalia, você passou suas férias em San Francisco comigo, como você ia vir? - perguntei.

Foram féria excelentes se você quer saber.

- Não importa! - ela declarou como se o ato fosse uma declaração de guerra - ele devia ter me chamado!

- Ele também não me convidou e eu não estou fazendo uma tempestade em copo d'agua - comentou Jason - E olha que eu sou capitão do time de futebol.

- Eu sou mais importante - ela replicou.

Piper estava tentando não rir da cara do namorado.

Era muito cedo pra contrariar Thalia, Jason parecia concordar, já que apenas pegou o telefone e ignorou totalmente a irmã, deixando-a ainda mais puta da vida.

Infelizmente para o Will, ele chegou bem nesse momento.

Me afatei lentamente no banco. Silena viu uma outra amiga e fugiu da mesa, Jason parecia que ia fazer o mesmo com Piper, mas era eu ou eles, então sai da mesa primeiro e fugi para mais longe que pude. 

Olhei pra trás para ver se já estava longe o suficiente e nesse meio minuto acabei me chocando em alguém. Recuei um passo. Vi os olhos ao mesmo tempo que o cheiro dele me envolveu (babaca, mas cheiroso). Confesso: eram olhos verdes muito lindos. Eu os tinha visto no dia anterior e tinha ficado impressionada do mesmo jeito, a única diferença é que agora tinha algo diferente neles, uma revolta que não estava ali ontem, sim, antes já tinha a rebeldia, mas isso era diferente. Era como uma onda prestes a destruir castelinhos de areia. Citando Machado de Assis, eram "olhos de ressaca"*.

Eu achei que ele fosse ser grosseiro outra vez, mas ele abriu um sorriso.

- Acho que você também precisa de um freio - ele disse rindo. Um dos dentes de cima dele tinha uma lasquinha quebrada, algo que eu não notei no dia anterior, e sendo sincera, achei muito fofo.

- E você presisa parar de entrar no meu caminho quando estou distraída - ótima resposta Annabeth.

Ele tinha desistido da jaqueta preta e colocado uma jeans, o que eu achei que foi uma ideia excelente. Combinava com o tom de pele meio bronzeada dele e ressaltava seus ombros largos. Percy era realmente alto, quase do tamanho do Jason. 

- Não seria mais fácil você não se distrair? - ele tinha o ponto, não que fosse assumir isso em voz alta.

- Digo o mesmo, você não saiu da frente, o que quer dizer que também estava distraído.

Ele pareceu refletir sobre isso. Algumas mechas de cabelo tentavam escapar pelos cantos do boné. Parecia ser um chapéu antigo, o preto estava desbotado, mas a âncora branca, levemente azulada, estava intacta.

- Eu acho que você tem razão - ele disse então. 

- Eu sempre tenho razão - modéstia à parte, isso era verdade.

Eu já ia continuar andando, mas ele segurou meu pulso. Um calor se espalhou pelo meu corpo e minha pele formigou, provavelmente eu estava ficando vermelha. 

Eu conhecia aquele sentimento, lembrava da última vez que isso aconteceu. Não fiquei muito feliz.

Ergui o queixo e mudei meu equilíbrio para outra perna, entrando em posição de defesa.

Percy largou meu braço como se estivesse pegando fogo e encarou sua mão, colocando a no bolso da calça logo em seguida.

A blusa de baixo era branca e revelava que ele tinha um corpo bonito, não que eu estivesse prestando atenção nisso, apenas percebi sem querer.

- Ãhn... eu acho que devo um pedido de desculpas a você - ele desviou os olhos enquanto falava isso, a pele clara ganhando tons de rosa - eu fui meio babaca ontem.

Confesso que fiquei meio surpresa, ele não parecia o tipo de pessoa que pede desculpa por coisas assim. Ele trocava a perna de apoio, demonstrando o nervosismo dele, o que me fez concluir que ele realmente se sentia culpado e esperava que eu o desculpasse.

- Sim, você foi - concordei com o que ele disse, o fato de ele realmente se sentir culpado não queria dizer que eu facilitaria as coisas pra ele.

As orelhas dele ficaram vermelhas também. Eu sei que soa cruel, mas eu estava achando aquilo muito divertido.

- Bem..  e você pode me desculpar? - ele coçou a nunca. Eu realmente estava deixando ele nervoso.

- Vou pensar no seu caso.

Eu pretendia passar por ele e deixa-lo remoendo isso, mas Percy acabou com o meu plano quando segurou a minha mão, me impedindo de seguir o caminho.

A borboletinha caiu no chocolate e entrou na minha barriga por engano.

Encarei Percy de novo, os olhos tinham mudado levemente de tom. Arqueei minhas sombrancelhas. "O que?"

Ele levou a outra mão até o bolso lateral da mochila e tirou um pacote de bananinhas, eu adorava aquelas balas.

- Talvez isso ajude na sua decisão - ele balançou a bala na minha frente e sorriu meio convencido.

- Você acha - falei da maneira mais amedrontadora que consegui - que pode me subornar com balas?

O sorriso de confiança vacilou.

- Ãhn... Sim? - a mão dele continuava na minha, fazendo com que pensar exigisse duas vezes mais foco.

Bem... meu dia estava estranho, balas poderia ajudar e seria muito mal educado da minha parte recusar um pedido de desculpas.

- Por favor - ele disse antes que eu pudesse acabar o pensamento - Eu agora estou devendo dois sorvetes ao meu irmão, você não tem noção de como é difícil fazer ele abrir mão das balas dele.

Peguei as balas da mão dele, fazendo o sorrir ainda mais. Percy tinha um sorriso bonito, com vestígios de criança levada, o que de certa forma o deixava mais charmoso.

- Tudo bem, desculpado - acho que eu também estava sorrindo - Agora solta a minha mão ou vou quebrar seus dedos um por um.

O sorriso de Percy morreu na hora e ele largou a minha mão. Estranhamente, eu não sabia onde coloca-la, então segurei a alça da mochila.

- Obrigada pelas balas - passei por ele e dessa vez não fui impedida.

Acho que dei uns seis passos antes de um corpo se juntar ao meu.

- Então... - a voz dela soava inocente - parece que não sou a única com radar de gatinhos.

- Eu tenho olhos, qualquer um pode notar um garoto daquele tamanho.

- De onde eu vi, você parecia estar mais do que notando.

- Não sei do que você está falando.

- Te conheço Annie, além disso, sou ótima em entender sentimentos, geralmente vejo antes das próprias pessoas.

Apenas revirei os olhos.

*  *  *

Com excessão da minha conversa com Percy, a manhã continuou do mesmo jeito que começou. Saí da última aula com Thalia quase dormindo.

- Você está mais estranha que o normal hoje, Annie - ela comentou bocejando - Tá tudo bem?

Eu não sabia o que dizer. As coisas estavam como sempre foram, então o que havia de errado comigo?

- Eu tô bem - falei mais por falar.

Eu estava com fome, mas não queria voltar pra casa.

- O que você acha de almoçar lá em casa hoje? - perguntei para ela.

- Desculpa, hoje eu não posso - ela respondeu apertando minha mão - Que tal amanhã?

- Tudo bem.

Ela olhou pra mim e me analizou por uns segundos até que abriu um sorriso. Ah não.

- Você tá muito séria pro meu gosto - o sorriso dela aumentou, eu sabia o que ia acontecer a seguir - O que o cachorro estava fazendo com um violino?

- Não come-

- Indo à um cãocerto - ela desatou a rir com a própria piada.

- Deuses! - levei a mão testa.

- Tem mais uma - ela se apressou em dizer - Qual a ferramenta que já morreu?

Ela esperou pela minha resposta, que nunca iria vir.

- A foice

Tudo bem, talvez eu tenha rido um pouquinho.

Soltei o braço dela e apressei meu passo, vai que isso é contagioso.

- Espera aí - ela correu pra me acompanhar - Por que a Rússia perdeu a guerra?

Qual é!

- Porque ela Moscou.

E foi assim até ela ter que ir embora com Jason. Apesar de serem muito ruins, as piadas me deixaram um pouquinho melhor. Thalia me conhecia bem a esse ponto.

*  *  *

Eu e minha madrasta nunca nos demos muito bem. Acho que não devia ser muito confortável ter que viver com a filha da ex mulher do seu marido, ainda mais quando eu era tão parecida com a minha mãe.

No geral, nós apenas ignoravamos uma a outra e evitavamos ficar no mesmo ambiente.

E esses era um dos motivos por eu estar comendo na área de serviço enquanto Héstia costurava minha blusa do Star Wars.

Minha madrasta estava fora com algumas amigas, algo comum, geralmente eu fazia o mesmo para evitar almoçar ao seu lado. E ela iria encontrar meu pai depois disso, o que me deixava livre dela.

O problema era que eu odiava comer sozinha, então ali estava eu, na mesinha branca perto da janela, acabando meu almoço.

- Acho que está na hora de jogar isso no lixo Annie, já bateu a cota de costuras.

- Nem pensar, se não tiver como costurar eu uso rasgada.

Eu tinha uma relação inexplicável com aquela blusa.

- Seu pai me - ela foi interrompida bor um barulho alto do lado de fora.

Saímos assustadas e demos de cara com Hédis, o faz tudo da casa, caído no chão, a perna em um ângulo estranho. Os cabelos loiros com mechas brancas espalhados pela grama.

- Hédis! - Héstia parecia realmente preocupada.

- Minha coluna - ele falou meio sem voz, os olhos negros demonstrando dor  - não consigo move-la.

Héstia queria levanta-lo e o levar de carro ao médico, mas eu não sabia o que havia quebrado, então decidi chamar uma ambulância. 

Deixei Héstia ir com ele e fiquei em casa andando de um lado para o outro enquanto esperava por notícias. Elas chegaram uma hora depois.

- Annie, ele deslocou o quadril, quebrou a perna direita, deslocou a clavícula e torceu o braço esquerdo - Héstia falou pelo telefone - Ao que parece ele estava consertando o telhado e se desequilibrou. Mas agora ele está bem.

Fiquei aliviada de não ter sido algo pior, pelo menos ele voltaria a andar depois disso, mas o alívio durou pouco.

- Querida, você vai ter que buscar seus irmãos na escola


Notas Finais


Primeiramente, "olhos de ressaca" refere se à ressaca do mar, que é o movimento violento que o mar faz contra a costa.
Segunda coisa: eu sei que vocês são querem o casal se pegando logo, mas vai demorar um pouquinho. A coisa que eu mais gosto em Percabeth é amizade dos dois, para construir isso na hístoria eu preciso definir bem os personagens, então relaxem aí.


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