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História Entre tapas e balas - Aparentemente, preciso melhorar o modo como me visto.


Escrita por: firefly_girl

Notas do Autor


Oi, Vagalumes! Não me matem, por favor! Fiz provas muito importantes nos dias dez e onze e precisei de um tempo para me recuperar depois de um mês estudando de 7h da manhã às 18:30. Mas aí está o capítulo, fajuto, mas tá aí.

Capítulo 22 - Aparentemente, preciso melhorar o modo como me visto.


Toc - toc - toc.

As batidas na porta foram o suficiente para fazer meus dedos doerem. Estava tão frio que meus dedos pareciam feitos de gelo.

Esperei pela resposta do sr. Chase antes de entrar, o que demorou menos de três segundos.

O escritório do meu chefe era típico de um fanático por história. Mapas enchiam uma das paredes e quadros retratando momentos históricos estavam para todos os lados. Um elmo com penacho azul era exibido em destaque em uma prateleira cheia de quinquilharias que valiam mais do que o apartamento em que eu morava. Havia também uma janela enorme, que cobria metade de uma parede, mostrando toda a parte lateral direita da casa. Ao lado dela, uma mesa cheia de aviões em miniatura.

E claro, muitos e muitos livros. Atrás da mesa do meu chefe, os livros ocupavam toda parede. Exemplares e mais exemplares, de todas as cores e de todos os tamanhos, organizados em prateleiras numeradas e com um catálogo em uma mesinha de canto.

- O senhor me chamou? - perguntei parando no meio do escritório.

Frederick levantou a cabeça do livro absurdamente grande e olhou para mim.

- Sente-se, por favor - ele diße indicando a cadeira.

Ele arrumou os óculos horríveis e de tamanho absurdo e me encarou com aqueles enormes olhos de gênio maluco. Ele parecia louco, mas acho que essa era uma conseqüência de pessoas que passam muito tempo estudando. Eu via o mesmo olhar em Annabeth as vezes.

Me sentei na cadeira preta confortável, um tanto nervoso por estar ali. Sempre me sentia pequeno naquela cadeira, o que acho que era a intenção.

- Aceita um biscoito? - ele perguntou indicando um vidro cheio de biscoitos assimétricos.

Peguei por educação, não tinha a mínima vontade de comer aquilo ali. Mordi o biscoito de formato estranho, me arrependendo depois, porque não era só o formato que era estranho. Evitar a careta foi um trabalho hercúleo e o mínimo que eu merecia era um troféu (ou um copo de suco naquele momento).

- Gostou? - o sr. Chase perguntou esperançoso.

- Ãh... não - confessei tentando usar minha saliva para tirar o gosto horrível da boca.

- É, eu também não - ele disse se encostando no apoio de sua cadeira - Ariane gostou e comprou uns cinco pacotes...

- E está fazendo o senhor comer também - completei com pena.

- Pelo menos é saudável - ele disse nada convencido.

Me limitei a ficar calado, porque não importava quão saudável fosse aquela porcaria, eu nunca mais colocaria outro na boca.

- Mas vamos ao motivo pelo qual te chamei aqui - ele abriu uma gaveta a sua direita e pegou um envelope - Comprei um presente para Annabeth e quero sua opinião - ele jogou o envelope na mesa e juntou as mãos em cima dela.

Arrastei o envelope pela mesa e abri com cuidado. O senso do senhor Chase não era nada confiável.

Demorei a ler e não só pela dislexia. Mas também porque não acreditei.

- Quer mandar Annabeth para longe em pleno o Natal? - perguntei olhando para a passagem de avião datada para o início das férias de inverno.

- Ela adora viajar - ele afirmou - E já que a mãe dela não vai poder ficar com ela esse ano, pensei em uma viagem. Héstia disse que ela quer conhecer a França e eu tenho uma amiga lá que disse que pode ficar com ela durante as férias. Não é um bom presente?

- Sim, mas... - depositei a passagem na mesa e olhei para meu chefe, que parecia animadíssimo com sua ideia - No Natal?

O sorriso dele se desfez lentamente.

- Acha que ela não vai gostar? - ele perguntou franzindo as sombrancelhas.

- Sinceramente? Não mesmo - eu disse - Me desculpe, senhor Chase, mas não consigo entendê-lo. Quer se aproximar de Annabeth, mas continua a afastando de si por vontade própria. Famílias se juntam no Natal e não o contrário. Nunca vai se aproximar dela dessa forma.

Talvez eu devesse ter ficado quieto e mostrado mais respeito, afinal aquilo ainda era uma relação chefe-empregado, mas poxa, o que aquela gente tinha na cabeça? Tudo bem que era uma passagem particular na primeira Classe que custava mais que todos os meus salários ganhos até então naquela casa, mas quem quer passar o Natal sozinho?

O homem olhou para mim por alguns segundos e depois para a passagem, suas bochechas ficando vermelhas com o passar dos segundos.

- Eu sou um péssimo pai, não é? - ele perguntou deixando os ombros caírem.

- Não - eu disse um pouco mal por deixá-lo triste, mas não podia deixar o homem vivendo uma ilusão - Apenas está usando as estratégias erradas. Não precisa de coisas exorbitantes para agradar Annabeth. O que fez no aniversário dela?

- Dei o carro - ele disse desanimado - O que devo acreditar que não foi um bom presente, não é?

- Oh não, ela ama aquele carro - eu disse - Ameaçou costurar minha boca na semana passada quando quase manchei o banco com suco de uva.

O homem riu baixinho, brincando com o papel da passagem.

- Não é que não possa dar presentes como esse - eu disse suavemente - Eles só não são muito eficientes para o propósito.

- E o que exatamente seria eficiente? - ele perguntou.

- Qualquer coisa que você faça com ela - eu disse - Sei lá, leve-a para um passeio ou a chame para fazer algo divertido, tipo assistir alguma coisa na televisão.

O rosto do senhor Chase se animou.

- Posso chamá-la para assistir um documentário sobre a Guilhotina?

- Isso é o oposto de divertido - eu disse suspirando, afinal assistir um documentário sobre a Guilhotina me parecia mais tortura do que a Guilhotina em si - Ela vai adorar.

E ia mesmo. Porque aquela era Annabeth e mesmo que ela não gostasse do documentário (o que eu duvidava, considerando o fato de que Annabeth achava até artigos sobre papel divertidos) ela fingiria gostar, apenas para ficar perto dele.

- Mas ela provavelmente vai dizer: "Tenho que estudar" - eu disse prevendo os fatos e olhando bem no fundo dos olhos de gênio maluco do meu chefe - Quando ela fizer isso, não desista. Insista mais um pouco. Recomendo que compre um pacote daquelas balas de melancia horrorosas que ela gosta e ofereça.

O homem acenou freneticamente, parecendo memorizar aquilo como um plano estratégico de luta.

Quem diria que um idiota dislexo e hiperativo teria algo a ensinar a um professor de história? Achei que o tempo ensinasse. Tudo bem, essa foi uma péssima piada.

Ele pegou a passagem.

- Então devolvo isso? - ele perguntou.

A passagem brilhou com a luz branca vinda das janelas. Ela parecia dizer "Não deixe me levarem, Percy! Por favor!"

- Na verdade, senhor - eu disse - Tenho uma ideia melhor. Por que não compra para o restante da família e faz uma viagem com eles?

O homem piscou repetidas vezes.

- Não posso viajar - ele disse - Tenho trabalho a fazer.

- No Natal? - perguntei - Não me admira que muitos professores me pareçam amargurados.

- Eu não sou amargurado, se é isso que está insinuando - o homem disse - E o Natal é logo depois das provas.

- As provas não vão sair correndo na sua ausência - eu disse - Infelizmente para o senhor.

O homem soltou uma risadinha anasalada.

- Vou pensar na sugestão.

Já era uma conquista e eu me sentia muito feliz por ela.

- Uma última coisa - ele disse ficando sério e arrumando sua postura, parecendo quase ameaçador enquanto entrelaçava seus dedos por cima da mesa - Percy, é você que está pegando a minha filha?

Engasguei com minha própria saliva, o biscoito horrendo quase refez seu caminho para fora de mim pela contra mão. Tossi e bati a mão no peito, tentando desobstruir minhas vias respiratórias a força.

Meu chefe me encarou com seus amedrontadores olhos de ex professor militar e, apesar de ser uns bons 5 centímetros mais alto que ele, me senti como uma formiguinha cabeçuda.

- Não, senhor - eu disse depois de me estabilizar (bem, quase), sacudindo a cabeça em negativa.

O homem me analisou atentamente, passando bem devagar por cada detalhe do meu rosto. Tão atentamente que fiquei constrangido.

- Mas gostaria de ser - ele constatou. E apesar da postura dura, não parecia bravo com isso.

- Sim - eu confessei, porque nenhuma negativa seria o suficiente para enganá-lo - Mas Luke Castellan chegou primeiro.

Eu teria ficado envergonhado pelo tom de tristeza em minha voz, mas eu já estava com vergonha por admitir ao meu chefe que eu estava a fim da filha dele, então não tinha como piorar (muito).

O sr. Chase acenou lentamente com a cabeça, pensando sabem os deuses o quê.

- Não conte para ela - pedi.

Ele acenou fracamente.

- Está liberado - o sr. Chase disse, voltando sua atenção para os papéis na mesa.

Me levantei antes que ele mudasse de ideia e me prendesse ali para testar métodos de tortura, tipo me fazer ler algo sobre a criação dos sistemas de medida.

Eu era tão óbvio assim? Quer dizer, era meu chefe! Eu devia esconder determinadas coisas melhor. 

Mas ele ainda era pai e é isso que pais fazem, não é? Assustam os garotos para os manter longe de suas filhas. Talvez lá no fundo, bem lá no fundo mesmo, enterrado em baixo de anos de distância e insegurança, o lado paternal dele ainda existisse, só precisava de alguém que cavasse um buraco fundo o suficiente para tirá-lo de lá. Sorte a nossa que eu andava muito entediado e buscando motivos para fugir do dever de física.

Eu estava fechando a porta quando o sr. Chase ergueu a cabeça.

- Garoto - ele chamou, me fazendo parar - Eu também gostaria que fosse você.

Um sorriso se abriu em meu rosto, grande o suficiente para fazer meu rosto doer. Algo estilo Gato de Cheshire.

- Seria muito mais fácil se fosse você que eu tivesse que manter na linha - ele disse.

Não era engraçado, mas me peguei rindo. Porque ele estava tentando e era mais do que eu podia esperar.

- Eu acho que preferia você antes do senso de humor - eu disse.

O homem cruzou os braços e girou ligeiramente a cadeira para o lado. Com os cabelos bagunçados daquela forma, ele lembrava muito Annabeth depois de seu treino.

- É meio tarde para se arrepender - ele disse.

- Eu sei - eu disse e acabei de fechar a porta.

Me encostando nela por alguns segundos, me deixei comemorar internamente.

O pai dela gostava de mim! O que Luke Castellan tinha mesmo?

Bem, a própria Annabeth.

Murchei.

* * *

Eu definitivamente odiava o frio. Odiava os malditos 9 graus marcados no termômetro. Odiava meus pés gelados. E odiava meu nariz escorrendo.

Mas sabe o que eu não odiava? Chocolate quente. Apertei meus dedos ao redor do copo quente para tentar roubar seu calor.

Rachel, do outro lado da mesa, encarava sua xícara de café há quase cinco minutos. Rachel. Quieta. Cinco minutos.

Na mesa ao lado uma criança devorava um cupcake de chocolate, enquanto a mulher que devia ser a mãe digitava furiosamente no celular, como se o coitado tivesse alguma culpa do que acontecia com ela.

Aquele café era bem bacana, estilo café dos anos 80, tipo os usados para cenários de filmes. Eu podia me ver facilmente em outra época, com um casaco de couro e um bigodinho ridículo.

O bigodinho ficaria patético, mas o casaco de couro era uma boa. Eu devia comprar um.

- Percy... - Rachel começou a falar, chamando minha atenção de volta para si. Ela usava um casaco colorido e os cabelos estavam estranhamente domados - Eu te chamei aqui porque precisamos conversar.

Oh-oh.

Lá fora o Sol dava lugar a lua e o mundo se coloria em tons de laranja e rosa. Não parecia um dia bom para discutir.

- O que foi que fiz de errado? - perguntei de imediato.

- Nada - ela se adiantou, mas parecia ansiosa - Mas... Eu quero que seja sincero - e eu não era sempre? - O que sente por mim?

Oh. Era só aquilo?

- Eu gosto de você - eu disse com total certeza.

- Sim, mas... De que forma? - Rachel insistiu.

Aquilo era um pouco mais difícil. De que forma?

- Você é minha melhor amiga - eu disse.

Rachel assentiu lentamente, parecia estar refletindo sobre algo importante.

- Se importa se eu tentar algo? - ela perguntou.

Neguei.

Mas não esperava que o "algo" fosse ela se inclinar sobre a mesa e me beijar. Os lábios de Rachel eram macios, assim como os dedos que seguravam minha nuca, e ela beijava bem. Não tive tempo para analisar muito, já que ela se afastou.

- Era só para ter certeza - ela disse se encostando na cadeira novamente.

- De...? - perguntei meio envergonhado.

Eu esperava que a resposta não fosse "de que você beija mal".

- De que não ia realmente dar certo - ela disse.

Franzi as sombrancelhas. Não ia dar certo? O que não ia dar... Aaaaaah.

- Acho que devemos parar por aqui - Rachel disse enrolando o cabelo e jogando para trás do ombro. Eu não via sentido naquele gesto, já que o cabelo sempre voltava para a mesma posição de antes, mas...

- Meu beijo é tão ruim assim? - perguntei rindo de nervoso.

Rachel deu uma risadinha.

- Não, Percy. Mas sejamos sinceros, os dois peixinhos ali naquele aquário tem mais potencial amoroso do que a gente - olhei para o aquário à nossa esquerda, onde dois peixes estavam posicionados de costas um para o outro, no que parecia o retrato do tédio aquático. Rachel pegou minha mão e respirou fundo - Percy, não posso continuar tentando ocupar um coração que já está ocupado.

- Meu coração não está...

Rachel arqueou as sobrancelhas, em seu olhar de sarcasmo. "Não?"

- Admita, Percy. Está preso a ela - minha amiga disse - Está óbvio.

- Não estou preso a Annabeth - eu rebati.

- Não me lembro de ter dito o nome dela - a ruiva disse sorrindo.

Ah droga! Porque eu tinha que cair tão fácil? Eu precisava conseguir mais neurônios, a falta dos meus estava me deixando no prejuízo.

- Você me induziu! - reclamei como um bebê chorão.

- Não precisa negar, Percy - ela disse suavemente - Está tudo bem. É simples, você se apaixonou. E é normal! Você só poderia ter escolhido alguém mais tolerável, mas não é como se você tivesse alguma escolha. Mas não é essa a questão aqui - Rachel inclinou a cabeça - A questão é que não vou perder meu tempo com algo que não vai dar em nada. Eu tenho amor próprio, meio fragilizado, mas eu tenho. Nada fica bom quando é forçado. E eu gosto de você o suficiente para querer que você viva seu amor clichê de sessão da tarde - ela não me deu tempo de falar nada - Não é como se a gente tivesse algo para terminar, mas acho que deixar claro que não há nada entre nós torna tudo mais leve. E não sobra desculpas para vocês continuarem enrolando.

- Rachel...

- Vocês provavelmente vão continuar enrolando, porque vocês são dois estúpidos.

- Rachel...

- Mas o baile de inverno é em um mês e já que tudo com vocês é ultrameloso, tenho esperança de que algo aconteça.

- Rachel! - aumentei meu tom de voz para fazê-la parar.

A garçonete que passava se assustou e quase derrubou uma xícara, o que me resultou um olhar mortal. Mas pelo menos Rachel parou.

- Você pode ir mais devagar? Pretendo não ter minha vida amorosa planejada hoje. Ou o meu casamento, que provavelmente você estaria planejando em cinco minutos.

- O que quero dizer é que não é pra ser - ela disse - Nós dois somos amigos e você já está apaixonado por alguém.

- Rachel, ela está saindo com outra pessoa - eu disse frustrado.

- Porque você não lutou o bastante por ela! - a ruiva falou - Se tivesse deixado claro seus sentimentos, ela estaria agarrando você nos fundos da escola e não Luke Castellan. Eles nem tem química!

- Mas ela gosta dele.

- Ela gosta ou quer gostar?

Era uma boa pergunta, mas não tinha como eu responder, Annabeth era confusa. Mulheres eram confusas.

- Pare de se afastar e a conquiste, seu tonto - Rachel disse - Você só precisa de uma roupa melhor e alguns sorrisos maliciosos e ela vai estar desesperada. Confie em mim.

- Está me dizendo que eu me visto mal?

- Estou dizendo que você precisa se vestir melhor.

Me parecia a mesma coisa, mas deixei para lá. Eu podia ser pouco experiente com o sexo feminino, mas de uma coisa eu sabia muito bem: elas estão sempre certas e você está errado. Ponto.

- Convide-a para ir ao aniversário da sua mãe amanhã - Rachel sugeriu.

- Ela tem um encontro com Luke amanhã a noite - eu disse desanimado

- Então convide-a para sair amanhã na hora do almoço.

- Acha que tenho chances? - perguntei descrente.

Rachel bufou.

- Percy, sorria para aquela garçonete - ela disse indicando sutilmente a garota que passava à duas mesas de nós.

- Por que eu...

- Apenas faça.

Olhei para a garota e esperei que ela olhasse para mim em algum momento. Demorou alguns segundos, mas ela o fez quando voltava com uma bandeja cheia de lixo e talheres.

Dei meu melhor sorriso, achando que ela me acharia um maluco. O efeito, no entanto, não foi o que eu esperava. A garota deixou a bandeja cair e quase tropeçou na própria bagunça. A sorte era que o cliente da mesa mais próxima segurou seu braço antes que ela caísse. Me senti culpado pela bagunça que eu tinha a feito causar, mas antes que eu tivesse tempo de me levantar ela já havia juntado tudo e seguia a passos apressados para a cozinha.

Franzi as sombrancelhas, confuso era um eufemismo.

- Você só precisa fazer isso com Annabeth - Rachel disse depois de bebericar seu café.

- E se não funcionar? - perguntei desconfiado.

- Então eu lhe ajudarei com um recurso infalível.

- E qual seria?

Rachel me lançou um olhar misterioso e cheio de malícia.

- Esse eu não posso te contar, estragaria a surpresa - ela disse e acabou seu café - Chame-a para sair Percy, pare de resistir e ataque. O resto eu resolvo.

* * *

Caminhando sozinho pela calçada, tive finalmente tempo para deixar minha mente vagar. As luzes de Manhattan brilhavam tanto que mal parecia ter anoitecido. Pessoas andavam apressadas pela calçada, algumas cabisbaixas, exaustas e ansiosas para ter seu tão merecido descanso. Um cara vendia balas no sinal, correndo entre os carros para conseguir vender a tempo.

Milhares de janelas deixavam as luzes escaparem de dentro das casas. Era divertido imaginar o que estaria dentro de cada uma delas. Uma família assistindo um canal qualquer enquanto comiam pizza. Ou então uma criança jogando videogame na sala enquanto o pai tentava assistir sua novela escondido no quarto.

Eu amava minha cidade. Se algum dia viesse o fim do mundo, seria ali que eu gostaria de passar meus últimos minutos.

Me permiti pensar no que realmente queria. Será que Annabeth trocaria Luke Castellan por mim? Embora fosse horrível de admitir, o cara era incrível. Era inteligente, tirava notas boas, era bonito e provavelmente acabaria entrando em uma universidade como Harvard. Annabeth era alguém sensata, ela jamais trocaria o estável por algo instável. E eles formavam um casal bonito, provavelmente ela se formaria em arquitetura e os dois viveriam juntos em uma mansão em um condomínio fechado. E eu entregaria pizza para eles aos sábados com minha moto e ficaria olhando do outro lado da janela enquanto eles dividiam os pedaços.

Por outro lado, ela poderia me escolher e nós faríamos passeios pela cidade em minha moto, com os braços dela ao redor da minha cintura. Eu a levaria para sua entrevista na universidade e esperaria do lado de fora ansioso, mas ela voltaria ainda mais nervosa e eu teria que comprar um pote enorme de sorvete. No fim ela seria aprovada e teríamos que comemorar em algum lugar com muita comida e talvez, só talvez, a noite se prolongasse.

Tirando me dos pensamentos infinitos que preencheram minha mente, uma loja me chamou atenção. Era uma loja de roupas masculinas com uma iluminação incrível. Em geral eu não ligava muito para roupas, mas lá estava ela. Talvez fosse um sinal dos deuses para que eu tentasse ou somente o acaso que me fizera perceber justamente aquela loja. A plaquinha com o preço me assustou, não porque eu não tinha o dinheiro, porque eu tinha, mas eu gastaria uma quantia considerável alí. Duzentos dólares em uma única peça? Parecia um absurdo.

Mas a peça brilhou e pelo reflexo do vidro, eu conseguia me ver dentro dela. Acabei entrando na loja. A recepcionista não foi muito educada, mas não importava. Eu queria a peça e nada me faria sair dali sem ela. Experimentei apenas um tamanho, parecia feito para mim. De modo que comprei sem pensar.

Sai da loja apenas com a sacola na mão e um sorriso no rosto.

Liguei para Rachel, porque era um dos únicos números que eu tinha e quem poderia me ajudar com o que eu precisava.

- Sim, você esqueceu seu boné comigo - ela disse sem nem mesmo me cumprimentar.

Tateei a cabeça e só então percebi que estava sem meu boné.

- Pego com você amanhã, mas não é isso que eu queria - eu disse - Você tem o número da Annabeth?

- Não - ela disse sorrindo - Mas sei quem tem. Te mando em cinco minutos.

Não demorou os cinco minutos, ainda bem. Porque eu estava quase em casa e minha mãe me encheria o saco até minha morte se me visse convidando Annabeth para ir tomar um café.

Disquei o número que recebi sem pensar. Pensar me atrapalhava. A vida era melhor quando eu simplesmente fazia as coisas.

Tum... Tum... Tum...

- Alô?

A voz quase não se sobrepôs ao barulho do meu coração acelerado.

- Annabeth? - perguntei.

- Percy?

- Sim.

- Como conseguiu meu número? - ela perguntou curiosa.

- Segredo de estado - eu disse bagunçando meu cabelo por conta do nervosismo.

- E o motivo da ligação, também é segredo de estado? - pela voz ela estava sorrindo.

- Não, isso eu posso contar - eu disse sorrindo também - Vai fazer algo amanhã depois da aula?

- Eu pretendia voltar para casa.

- O que acha de ir tomar um café comigo? - perguntei - Você ainda tem que me contar como foi no clube de matemática hoje.

Annabeth ficou em silêncio. Cheguei a pensar que ela estava apenas tentando achar um jeito de dizer não, mas então ouvi outras vozes ao fundo.

- O que está fazendo? - perguntei curioso.

- As meninas estão aqui em casa e Silena está reclamando que minhas roupas são caretas - ela disse suspirando - Ela que jogar tudo fora.

- Eu gosto das suas roupas - deixei escapar. Ops. Não era para ter saído, tentei melhorar - São... interessantes.

Annabeth ficou em silêncio por mais um tempinho.

- E então, o café... - eu insisti.

- Não vai ter treino amanhã?

- O treinador tem um compromisso importante e nos deu o dia de folga.

Ela falou algo com Silena que saiu abafado, algo do tipo "Não toque nessa camisa, sua louca!". Esperei mais um pouco.

- Desculpe - ela disse - Silena é impossível as vezes. Eu aceito o convite.

Alívio preencheu meu corpo.

- Então até amanhã - eu disse mais leve.

- Até amanhã.

Desliguei o celular e respirei fundo. Tinha me saído melhor do que eu esperava. E se no fim das contas não desse certo, eu andaria sozinho pela cidade com minha nova jaqueta de couro.

Mas se desse certo...


Notas Finais


Como vocês podem notar, ficou horrível, mas a boa notícia é que acabou a fase chata, as coisas vão melhorar muito agora.
Peço desculpas pela demora, mas foram meses muito difíceis. Não dá para escrever quando sua mente está tão cansada que mal consegue formular palavras.
Tenho muitos comentários para responder, eu sei, não respondi nem metade dos comentários do capítulo anterior, mas comentem mesmo assim.


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