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História Entre tapas e balas - Meu irmão linguarudo.


Escrita por: firefly_girl

Notas do Autor


Oi pessoas! Sei que demorei, mas eu tenho bons motivos. Eu tive provas escolares e estou com um bloqueio horrível.
A propósito, alguém sabe como vencer bloqueis de criatividade?

Capítulo 5 - Meu irmão linguarudo.


Eu sabia que havia algo de muito errado comigo quando me vi tentando decidir se ia com ou sem jaqueta.

Desde quando eu escutava o que as pessoas falavam? Ainda mais uma garota que eu mal conhecia, isso era no mínimo estranho.

Não, eu não estava fazendo para impressiona-la, não depois de ver o olhar dela para o garoto loiro, Luke. Mas por algum motivo o conselho parecia fazer diferença neste momento.

Eu não iria mudar minhas roupas porque uma garota falou que eu ficava melhor sem jaqueta.

Coloquei minha jaqueta por cima da blusa branca e peguei minha mochila em meio a uma pilha de roupa suja.

Andei até a porta confiantemente, mas não consegui passar dela. Xingando a mim mesmo, segui em direção ao espelho. Me olhar não algo que eu estava acostumado a fazer. Não evitava, como fazia quando eu tinha doze anos e parecia um boneco de posto de gasolina, todo desengonçado. Fora uma fase vergonhosa e eu preferia não lembra-la. Graças aos deuses meu corpo mudara e eu não era mais um palito de picolé.

Encarei meu reflexo e tirei a jaqueta, provavelmente a tatuagem chamaria atenção.

"Você fica melhor sem ela"

Me sentia exposto e vulneravel, mas talvez fosse a hora de mudar, sendo sincero comigo mesmo, eu estava apenas me escondendo atrás dos panos.

Larguei a jaqueta em cima da cama e me afastei.

Minha mãe já estava coando o café quando cheguei na cozinha. Parecia cantar baixinho.

- Faz um tempo que você não canta pra mim dormir - falei me sentando na bancada da cozinha - Estou com saudades dos cafunés.

Ela acabou de coar o café e se virou pra mim sorrindo.

- Faz um tempo que você não me chama de mamãe - ela replicou colocando uma xícara de café pra mim - Sinto falta da época que você corria pela casa de cueca e dizia que foi assaltado por piratas.

Resmunguei insatisfeito, ela tinha que falar sobre isso?

- Você é muito cruel às vezes, mamãe - falei tomando meu café emburrado.

Ela apenas sorriu e pegou uma xícara pra si. Senti falta disso no internato, conversar com ela de manhã sempre fazia o dia parecer melhor.

- Precisamos cortar esse seu cabelo - ela disse estragando o momento.

- Disseram que eu pareço alguém que tomou um choque.

Ela riu e concordou. Se erguendo na ponta dos pés, minha mãe pegou um pote do Mikey que dizia "farinha" de dentro do armário e tirou algumas notas de dinheiro de dentro dele.

- Leve seu irmão pra cortar também - ela disse me entregando o dinheiro - E seu boné já secou.

Tyson o sujara de areia no parque e tive que lavar.

- É melhor você ir ou vai perder o ônibus - ela disse me encarando inocentemente - Você demorou pra se arrumar hoje. Algum motivo especial?

Maldita jaqueta!

- Não conseguia descobrir quais roupas estavam limpas - não era totalmente mentira.

- Você precisa tomar um jeito, o quarto do seu irmão é mais arrumado que o seu.

Isso era uma verdade vergonhosa, as coisas de Tyson sempre estavam arrumadas, os brinquedos ficavam todos em seus devidos lugares e suas roupas sempre estavam dobradas e guardadas nas devidas gavetas.

- Eu vou arrumar hoje a noite.

Peguei meu boné ao lado do tanque e roubei uma maça da fruteira.

- Tchau mãe!

Enquanto corria para não perder o ônibus, o que quase aconteceu, me dei conta de que eu já estava me acostumando aquela vida nova. Seguindo a rotina, me sentei no mesmo lugar no ônibus, onde em alguns minutos Nico se sentou ao meu lado.

Pessoas iam e vinham pelas calçadas, as lojas abrindo e as cafeterias já lotadas.

Eu passara por todas elas no dia anterior, nenhuma precisava de um novo funcionário, aparentemente nenhum trabalho sério queria um adolescente pra meio período. Admito que foi um dia cheio de momentos constrangedores, tipo quando eu tentei o emprego para trabalhar no estoque de uma loja de equipamentos esportistas e o atendente que conversou comigo ficara me encarando como se eu fosse um pedaço de carne e ficou usando desculpas para tocar meus braços. Eu nunca mais voltaria naquela loja.

A única coisa que encontrei de útil no meu longo dia foi uma oficina mecânica que precisava de um ajudante por três semanas, o pagamento era pequeno, mas eles aceitaram o meu horário e eu poderia trabalhar lá enquanto procurava um emprego de verdade, além do mais ninguém tentou me assediar, então me pareceu certo aceitar.

O ônibus parou na escola e eu tive que esperar a onda de alunos desesperados que tentava sair, de onde vinha essa animação deles para entrar na escola eu não sabia.

O caminho entre a porta do ônibus e meu armário foi o suficiente para me fazer sentir falta da minha jaqueta. Eu era quase um Aquíles de chinelo de dedo. Um guerreiro sem amardura. Um pudim sem calda.

Pra ajudar, não conseguia lembrar a senha do meu armário e levou uma vida até conseguir abri-lo.

Quando finalmente consegui, os autofalantes acima de mim fizeram barulho e a voz do diretor quase limpou a cera dos meus ouvidos.

"Todos você já estão acostumados com isso, então todos no anfiteatro"

Mesmo com meus ouvidos chiando, segui os vários estudantes que iam em direção ao tal anfiteatro. Apesar de meio surdo, eu estava feliz, perderia minhas aulas de química.

Entrei com os outros estudantes, mas eu não estava preparado para o que vi, tudo bem que era uma escola de gente muito rica, mas aquilo era demais. O anfiteatro na verdade era um auditório gigantesco, com assentos de veludo em níveis, que desciam até um grande palco onde se encotrava o diretor e um outro homem em cadeira de rodas. Atrás deles tinha uma tela gigantesca, estilo cinema. As paredes altas do lugar tinham alguns espaços que acomodavam grandes armaduras, com escudos que pareciam pesar uma tonelada e capacetes com penachos. Eu poderia facilmente usar um daqueles escudos para praticar snowboard, mas acho que ninguém ali acharia isso exatamente engraçado. Eu ia me sentar em um lugar qualquer, mas aquele garoto, Grover, me viu isolado e me puxou para um assento nas fileiras mais altas com ele.

- Eai, cara? - ele falou se acomodando no assento ao lado.

- Ah, oi - eu disse - O que diabos está acontecendo?

- Ele vai anunciar algumas coisas e depois vamos tomar um café de boas vindas, de graça ainda por cima - Grover disse - as enchiladas do colégio são as melhores.

Eu não sabia como responder, mas o diretor me ajudou com isso.

- Fiquem quietos pirralhos, sentem se em qualquer lugar, menos no colo uns dos outros.

Uma onda de Ahs soou nas fileiras da frente, mas um olhar do diretor foi o suficiente para calar todo mundo. Anos de convivência com Gabe e seus amigos me deram experiencia o suficiente para saber que aquele cara andara tomando umas.

- Bem, eu não dou a mínima pra isso, mas recebo para fazer essa porcaria todo ano. Eu sou o Sr. D como todos já sabem e esse parado ao meu lado é Quíron, que para quem não sabe, está deixando o cargo de coordenador para dar aulas de latin de novo pra vocês - o diretor falou entediado - Sinceramente, eu não sei o que tem dentro da cabeça dele.

Quíron, apesar da fala do diretor, abriu um sorriso e piscou para nós, fazendo todos comemorarem.

- Vamos seguir logo com isso, você estão me fazendo perder meu tempo - o diretor levantou um papel - O cronograma é o seguinte:

Nenhum barulho era feito no anfiteatro.

- As qualificatórias para a temporada de futebol americano começa daqui a três semanas.

Urros ecoaram em um canto do anfiteatro, onde, imagino eu, o time de futebol estava reunido.

- Não fiquem tão animadinhos, se não me engano vocês foram esmagados na semifinal do ano passado.

As comemorações cessaram e risos soaram pelo lugar.

- As de basquete começam uma semana depois das de futebol - mais comemorações - Se mais alguém gritar vai ficar na detensão por dois meses.

Ninguém arriscou e o Sr. D olhou avaliou o papel novamente e falou:

- Galera da natação, os testes de vocês começam mês que vem - ele continuou sua lista - Clubes de: Xadres, Karate, Matemática e Robótica, as competições começam em dois meses. Teatro, a peça de vocês foi marcada para o meio do ano. Clube de Artes, a sugestão da exposição foi aceita, será marcada para o final do ano. Agora vamos para o refeitório comer o café de boas vindas, porque eu estou faminto.

Ele saiu do palco sem esperar ninguém se levantar, já Quíron ficou parado lá enquanto vários estudantes desciam para comprimenta-lo e o resto ia em direção a porta.

Segui Grover, que estava visivelmente louco para comer as tais enchiladas. Annabeth passou correndo e se jogou em Quíron, que segurou a roda da cadeira para não ir deslizando. Era visível o carinho dela por ele, o que me fez sorrir.

A fila da cantina já estava cheia, o que não era surpresa. Surpresa mesmo foi ver um cabelo ruivo surgindo do nada ao meu lado.

- Oi meninos! - ela disse animada.

Eu me lembrava dela, foi a garota que me ajudou no primeiro dia, mas não lembrava seu nome. Os cabelos dela parecia ter vida própria, os cachos caiam desordenados pelos ombros. Sua blusa estava cheia de pequenas manchas e o sapato parecia ter sido personalizado por ela mesma (se eu fizesse algo assim com os meus, minha mãe usaria minha cabeça de esfregão). Ela ara bem bonita pra falar a verdade.

- Oi Rachel - disse Grover.

Rachel acenou simpática para ele e depois focou em mim.

- Percy, não é? - perguntou ela me deixando ainda mais constrangido por não ter lembrado seu nome.

- Sim - eu disse sentindo minhas bochechas esquentar.

- Como tem sido seus primeiros dias? - ela perguntou.

- Bem... eu acho.

- Com bem - disse Grover ao meu lado - ele quis dizer que ele estava muito solitário.

Eu não podia contrariar, então apenas dei um passo para frente na fila que começava a andar.

- Isso é fácil de resolver - disse Rachel.

Bom, tivemos aula de artes juntos depois disso e ela fez questão de cumprir o que disse, se sentou ao meu lado e contou sobre todo mundo do colégio.

Foi bom, me senti um adolescente de verdade por alguns minutos.

* * *

- Você fez mesmo isso? - perguntou Grover rindo.

- Fiquei suspenso por três semanas - comentei me lembrando daqueles tempos - Mas valeu a pena, ver a calça do meu professor de álgebra lambuzada de manteiga de amendoim foi uma das coisas mais engraçadas que eu já vi.

- Por que ninguém faz essas coisas por aqui? - ele se lamentou - Seria tão mais divertido vir ao colégio!

Estavamos sentados em uma das mesas do pátio. Eramos eu, Grover, Frank e Hazel. Conheci Frank na aula de história, ele estava sentado na cadeira da frente desenhando e seu lápis quebrara ao meio, eu emprestei um meu para ele e acabou que uma conversa desenrolou. Apesar da cara de bebê e dos olhos puxados, ele era realmente alto e um tanto forte, do tipo não ligo para o que você faz, mas mexa comigo e eu quebro a sua cara. Frank se sentara comigo e com Grover (meu recém nomeado amigo) no recreio e sua melhor amiga Hazel se sentou também meio tímida. Os cabelos escuros encaracolados emolduravam sua pele chocolate brilhante. Se eu fosse a minha mãe, eu provavelmente já teria perguntado qual pasta de dente ela usava.

Embora eu parecesse muito pleno por fora, por dentro eu estava igual à uma criança que comeu muita açúcar. Era o primeiro dia naquela escola que eu não ficava totamente sozinho, o que não era algo tão grandioso, considerando que eu estava ali apenas há quatro dias.

- Não menospreze a criatividade do povo daqui, Grover - disse Hazel - Por exemplo: teve aquela vez que os irmãos Stoll trocaram a maleta do professor Neil e quando ele abriu a maleta teve uma explosão de purpurina cor de rosa na cara dele e começou a tocar Brilhe, do filme da Moana .

Eu estava começando a gostar daquela escola, o que compravava a minha teoria de que havia algo de muito errado comigo.

- Você tem razão - disse Grover - Eu tinha me esquecido disso.

Eu ia pedir por mais histórias, mas algo se chocou com força contra a minha cabeça, caindo na grama perto de mim. Esfrendo o local dolorido, me levantei e peguei a bolinha branca de basebol. Para uma coisa tão pequena aquilo doia um bocado.

- Ô cabeção, você pode mandar isso pra cá? - uma garota alta e extremamente muscolosa perguntou impaciente.

Tinham uns caras rindo perto dela, aparentemente não foi tão sem querer assim. Grover me olhou com os olhos arregalados, antecipando meus movimentos. Acho que ele já sacara minha personalidade.

- Acho que não - respondi brincando com a bola.

- O que é? Você é tão idiota que não é capaz nem de arremessar uma bola? - ela levantou o queixo em desafio.

Eu sabia que era errado, sabia que provavelmente era melhor devolver a bola e me sentar.

- Por que você não vem pegar? Vai que eu arremesso e acerto nessa sua cara feia.

Os olhos dela faiscaram, os punhos se cerraram e o corpo entrou em posição de ataque. Parece que eu não sou o único cabeça quente da situação.

- A não ser que você queira ela enfiada pela sua guela, é melhor me devolver imbecil.

Hazel me encarava como se eu fosse uma bomba prestes a explodir, já Frank se endireitou, ficando totalmente na frente dela. Grover parecia querer entrar embaixo da mesa. Eles não tinham nada a ver com aquilo, se eu queria arrumar problemas, que envolvesse somente a mim.

- Vai buscar - e então arremessei a bola com força.

Era pra acertar na lixeira, mas com minha excelente mira acertei na forte à uns dois metros dela, ninguém precisava saber que não era o meu objetivo. Ignorei o olhar assassino de Clarisse e me sentei de novo. Frank relaxou a postura e Grover sorriu orgulhoso. Bem, uma briguinha não valia o suficiente comparada aos recreios que eu passaria sozinho.

- Bem, você passou no teste - disse Hazel tomando seu suco de maça.

- Que teste? - perguntei.

- Um que decidiria se você merece nossa compania - respondeu Frank - O que acham de nos batizarmos de o grupo dos excluidos?

- Muito sem criatividade - dispensou Hazel.

- Isolados de plantão - sujeriu Grover.

- Muito brega - respondeu Frank.

- Ter um nome é muito brega - comentou Hazel.

Eu ia sujerir um outro nome idiota, mas um splash soou atrás de mim, chamando a atenção de todo mundo no pátio. Clarisse tentara pegar a bola dentro da fonte e caira lá dentro. Pessoas começaram a rir e ela saiu da fonte furiosa, aguando a grama enquanto andava para dentro do colégio.

Me virei de volta para mesa e peguei uma maça que estava esquecida na bandeja de Grover.

- O nome virá com o tempo.

* * *

A tal oficina mecânica era até que bem legal, vários carros e motos de gente rica entravam e saiam o tempo todo. Não que eu pudesse chegar perto deles, meu trabalho era apenas ajudar, carregando peças pesadas, limpando o chão, ajudando as pessoas a estacionarem e coisas desse tipo. Ainda assim, ali estava eu, olhando hipinotizado para uma Ducati vermelha. A luz batia nela e era refletida como um espelho. Nenhum arranhão. Provavelmente valia mais do que todos os meus orgãos juntos.

- Ei garoto, que tal vir me ajudar? Antes que a sua baba inunde toda a oficina - disse um dos mecânicos.

Ele era alto, com cabelos vermelhos e olhos castanhos cheios de humor, devia ter uns 30 e poucos anos. Estava abaixado ao lado de uma outra moto, mexendo no motor.

- Eu nem babo tanto assim - falei me aproximando - do que precisa?

Luís, esse era o nome dele.

- De uma vela de ignição - ele respondeu soltando uma porca da moto - fica no armário 8 da sala de equipamentos, na caixa número 5.

Eu não fazia ideia do que era uma vela de ignição, mas segui as orientações. Achar o armário foi fácil, difícil foi encontrar a caixa, já que os números estavam todos bagunçados. De repente meu quarto não parecia mais tão bagunçado. Me sentindo um verdadeiro caçador de tesouros, encontrei a caixa 5, que estava enfiada entre a 7 e a 13. A tal vela era relativamente pequena, o que era bom, considerando que a maior parte da minha força e energia foram gastas no treino de natação (não tão doloroso quanto o anterior). Mesmo com o néctar, que eu descobrira ser de graça para atletas, eu ainda sentia minhas pernas tremerem de tempos em tempos.

Voltei para perto dos carros e parei pra olhar de novo para a Ducati, mas agora tinha um cara em cima dela colocando um capacete. Me dei conta uns segundos depois, que era Luke. Ele mexeu no acelerador e a moto fez um barulho tão alto que quase sacudiu a oficina. A Ducati ganhava vida nas mãos dele, uma arma engatilhada. Claro que ele tinha uma Ducati, que tipo de jogador ricasso ele seria se não tivesse uma?

- Você está sendo pago pra olhar para os automóveis ou para trabalhar? - disse uma voz severa atrás de mim.

Me virei com o coração na boca e meu sangue gelando, dando de cara com o dono da oficina. Eu sei que devia respeito e que ele seria meu patrão pelas próximas semanas, mas não tinha como descreve-lo como algo menos que horrível. O rosto meio deformado parecia preso em uma careta que nunca se desfazia. Um ombro era mais baixo que o outro, deixando-o mais torto que as minhas letras. Sua barba era grande e embolada (sinceramente parecia palha de aço) e seu macacão parecia ter mais óleo do que pano.

- Trabalhar, senhor - me apressei em falar - A moto é magnífica, eu apenas fiquei deslumbrado.

Ele me encarou com aqueles olhos profundos e carregados, e então desviou.

- De fato uma grande obra de arte - ele disse analisando a moto - Agora volte ao serviço.

- Sim, senhor.

Corri para perto de Luís, que me encarava divertido.

- A primeira bronca a gente nunca esquece - ele disse pegando a vela de ignição da minha mão.

Luke levou sua moto para fora da oficina e se misturou aos outros carros.

- Você curte motos, menino? - Luís perguntou enquanto colocava a vela no lugar dela.

- Um pouco - respondi.

Não que fosse o melhor dos pilotos. O maior tempo de treino que eu tivera até então foi com a moto velha de um colega de serviço da minha mãe. Ele me deixara dirigir por umas horas.

- E sabe alguma coisa sobre o motor delas?

- Só que eles apavoram a minha mãe.

Luis riu e acenou para que eu me abaixasse.

- Bem, então acho que se vai trabalhar aqui precisa aprender. Esse é o cabeçote...

E assim seguiu me mostrando as partes da moto, me explicando pra que serviam e os problemas mais comuns. Ele me mostrou até como trocar algumas peças, me fazendo repetir o processo depois.

Sua explicação foi interessante, mas isso acabou me deixando atrasado para pegar Tyson na escola. Acho que se eu tivesse corrido um pouquinho mais rápido eu teria rompido a barreira do som.

Cheguei na escola morrendo e puxando metade do ar do planeta. Achei que Tyson fosse estar me esperando bravo em algum banco, mas ele estava correndo com dois meninos loiros no parquinho. Um dos meninos me viu primeiro e parou bem do meio do caminho, fazendo com que o outro se chocasse em suas costas e derrubasse os dois. Tyson tentou parar, mas tropessou no cardaço desamarrado e caiu em cima dos outros dois em um perfeito strike. Para a vergonha deles e o meu divertimento, algumas menininhas que brincavam de boneca em um canto começaram a rir.

Me aproximei tentando ajuda-los a levantar, o garoto da frente (de camisa azul) parecia meio tonto e dava quase pra ver os passarinhos voando ao redor da cabeça dele. O outro (de camisa verde), identico ao primeiro, massageava a testa e me encarava com olhos arregalados. Tyson... bem, era Tyson.

- Você parece a panela que fica no forno da mamãe - ele disse - Cheia de óleo.

Eu tinha que dar o braço a torcer, meu irmão era criativo.

- É, eu sei.

O pirralho de verde continuva me analizando com os olhos castanhos arregalados.

- Meninos, esse é o meu irmão, Percy - Tyson disse pegando a minha mão e me apresentando como se eu fosse uma espécie de super herói.

Os dois gemêos trocaram olhares e depois me encararam de novo.

- Quantos anos você tem? - perguntou o de azul.

- 16.

- Qual seu esporte favorito? - perguntou o de verde.

- Natação.

- E seu animal favorito?

- Cavalo.

Eu conhecia esse estilo curioso de algum lugar.

- Você tem algo contra escovas de cabelo?

Aí pegaram pesado.

- Não.

- É verdade que você sabe lutar com espadas e ensinou um pouco pro Tyson?

- Sim, é verdade.

- Nossa irmã sabe lutar boxe, mas ela nunca quis nos ensinar.

Tyson balançou a cabeça orgulhoso.

- Eu disse, meu irmão é incrível.

Eu estava emocionado, ele parecia realmente achar isso de mim. Eu não iria acabar com isso falando que eu era só um idiota qualquer do ensino médio.

- Oliver! Josh! - a voz soou perto do portão.

Para a minha vergonha, Annabeth se aproximou de nós. O rosto estava frio, o olhar estava mais afiado que as facas da cozinha da minha mãe. Ainda assim, ela estava assustadoramente bonita.

Com ela ao lado dos gêmeos eu entendi porque eles me eram tão familiares. Como é que eu não tinha percebido? Era o mesmo cabelo.

- A Héstia tá chamando. Vocês não...- ela me viu - Percy?

- Ãhn... Oi - eu disse.

Ela analisou minha blusa manchada, me fazendo pensar que eu deveria levar roupas reservas a partir dali.

- Você é algum tipo de espião contratado para me investigar? - Annabeth perguntou.

- Não - eu respondi - Espera, tem algum motivo pra te investigar?

- Ela quebrou um dos vazos de flor da mamãe com um chute - disse o menino de azul - Eu vi.

Annabeth fixou os olhos gelados nele, fazendo o menino praticamente tremer de medo.

- Conte isso pra sua mãe, Josh, e eu falo que foi você que quebrou a janela do quarto de hóspedes - com a voz que ela usava, eu duvidava que o menino sequer fosse falar o nome dela de novo.

Ele acenou freneticamente, o que deixou Annabeth satisfeita o suficiente para se virar para mim novamente.

- O que está fazendo aqui então? Já que não está me seguindo.

- Eu vim pegar meu irmão - respondi levantando a mão de Tyson.

Ele encarava Annabeth curioso, parecia admirado, mas com medo. Sentimentos que eram completamente compreensíveis.

Annabeth olhou para o meu irmão e suavisou um pouquinho o olhar.

- Oi - meu irmão disse e estendeu a mão timidamente - Eu sou o Tyson.

- Oi Tyson - ela disse segurando a mão dele - Eu sou Annabeth.

- Você é amiga do Percy? - Tyson perguntou.

- Não exatamente - foi a resposta dela - nós estudamos juntos.

- Ele é muito chato na escola? - meu irmão perguntou.

Aonde foi parar o "meu irmão é incrível"?

- Um pouco - ela respondeu me olhando de canto.

Eu estava ficando impressionado pelo modo como as pessoas me viam.

- Como você conheceu o irmão do Tyson? - perguntou o menino de verde.

- Nós nos esbarramos no colégio, ao que parece o irmão do Tyson precisa de um óculos, porque ele não consegue ver para onde anda.

- E a sua irmã precisa prestar atenção por onde anda - Se ela tinha o direito de me difamar, eu também podia revidar - parece um trem desgovernado.

O olhar dela foi de frio para divertido.

- Como é que é? - ela perguntou com a mão na cintura.

- Isso mesmo que você ouviu, garota. Um dia desses vai acabar atropelando alguém muito leve e vai ter que pagar a conta do hospital da pessoa.

- Cala a boca, garoto - ela rebateu.

Tyson, que até então encarava a cena analiticamente, arregalou os olhos e pareceu se dar conta de algo muito importante.

- Você é a-

- Precisamos ir Ty - interrompi ele antes que falasse algo muito constrangedor para mim - temos um encontro.

Ele olhou para mim confuso e perguntou:

- Com quem?

- Com o cabelereiro.

Os três meninos fizeram cara de pânico, a mesma que eu me lembrava de fazer quando era pequeno. Annabeth olhou para o meu boné e depois sorriu para Tyson.

- Seu irmão está precisando mesmo - ela zombou - nós temos que ir. Tchau Tyson!

Ela olhou para mim de novo, dessa vez com um meio sorriso.

- Tchau, garoto!

Ela empurrou os irmão em direção a saida, deixando me apenas com Tyson, que parecia com medo.

Ele não falou uma palavra comigo enquanto estavamos no táxi, o que era preocupante, apenas apertou minha mão quando chegamos na porta da barbearia.

Tyson sempre teve medo de ir cortar o cabelo. Ele tinha pavor de pessoas com tesouras perto da cabeça dele.

- Ei amigão - falei me abaixando pra ficar na altura dele - Qual o problema?

- Temos mesmo que cortar o cabelo? - ele perguntou fazendo bico - Não podemos ir embora?

- Sinto muito, Ty - eu disse mexendo no cabelo dele - nós estamos parecendo malucos.

As pessoas passavam reclamando ao nosso redor por estarmos parados no meio da calçada. Peguei Tyson no colo e ele escondeu o rosto no meu pescoço. Entrei com ele no ambiente aconchegante e nos sentei em uma das cadeiras pretas do lugar

- Eu tô com medo - ele disse baixinho.

- Eu sei, mas você precisa ser corajoso - eu não conseguia entender esse medo, mas ele precisava supera-lo - Eu prometo que não vou deixar ninguém machucar você.

Ele levantou a cabeça e encarou em dúvida.

- Promete pelo o quê?

- Prometo pela minha coleção de barquinhos em miniatura.

Isso pareceu ser o suficiente e ele se acomodou direito no meu colo, olhando para um dos homens de uniforme que cortava o cabelo de um senhor, ainda parecia nervoso.

- Sabe de uma outra coisa? - perguntei cutucando ele - Meninas adoram cabelos descolados.

Ele me olhou muito sério.

- Então é por isso que a Annabeth não gosta de você?

Eu me sentia ofendido, mas estava feliz que isso fora o suficiente para distraí-lo.

- Acho que isso foi um dos motivos, ela disse que eu pareço alguém que levou um choque.

Tyson tirou meu boné e deu uma olhada no meu cabelo.

- Ela tem razão - ele disse por fim e deu uma fungada perto do meu cabelo - Mas pelo menos o seu cabelo é cheiroso.

Eu estava sendo consolado pelo meu irmão de 5 anos, se isso não era o fim do poço, eu não sabia o que seria.

- Ela é a garota bonita que você falou?

Eu não devia ter falado que ela era bonita quando fizemos o acordo, devia ter deixado esse fato de fora.

- Sim, é ela.

Um dos cabelereiros terminou o corte do seu cliente e chamou o próximo. Levei Tyson até a cadeira alta e me afastei um pouquinho.

- Bem, o que vai ser? - peguntou o cara de uniforme.

- Só aparar - respondi.

Meu irmão balançava as pernas nervoso e o homem notou isso também.

- Qual o seu nome carinha? - ele perguntou colocando uma plástico ao redor dos ombros de Ty.

- Tyson - disse meu irmão baixinho.

- E você tem quantos anos, Tyson?

- 5

- Bem, que tal fazermos um acordo? - o homem propôs - Se você não se mecher enquanto eu corto seu cabelo, eu te dou um pirulito.

Meu irmão olhou pensativo para o homem, mas por fim acenou. Não havia muita coisa que Tyson não fizesse por doces. Um vez ele quase me alugara para uma garota em troca de um pacote de marshmelos.

Como prometido, vigiei cada movimento do cabelereiro, mesmo quando outro funcionário cortava o meu cabelo e tive que fazer isso pelos espelhos.

O homem que cortava o cabelo do Tyson parecia acostumado a lidar com crianças, então pouco a pouco meu irmão relaxou.

Como previsto, Tyson terminou o dele primeiro e ficou me esperando em uma cadeira, com seu pirulito azul na boca.

Fios de cabelo preto choviam a meu redor e sujavam o chão. Quando o moço finalmente acabou seu trabalho eu me sentia um pato depenado, mas pelo menos meu cabelo parecia menos bagunçado.

Andamos o restante do caminho pra casa, já estava meio escuro, mas as ruas de Manhattan eram bem iluminadas.

Gabe já estava jogando na sala quando chegamos, pelo jeito como falava já devia estar na 9° garrafa.

Minha mãe cozinhava alguma coisa com um cheiro muito bom. Ainda estava com seu uniforme azul.

Tyson nem mesmo me esperou fechar a porta, saiu em disparada e abraçou a cintura dela.

- Olha só o que temos aqui - ela disse abraçando meu irmão.

- Mamãe, eu cortei o cabelo - ele disse passando a mão para o cabelo ex-arrumadinho.

- Deixe-me ver isso - ela afastou ele um pouco e avaliou o corte - Muito bom, agora você não tem desculpa para ir com o cabelo bagunçado para a escola.

- Meu irmão vive cortando o cabelo e mesmo assim tá sempre com ele bagunçado.

- O cabelo do seu irmão é...- ela olhou pra mim direito e finalmente percebeu minha blusa suja - Filho! Sua blusa branca!

Tyson nem sequer me deu a chance de me defender.

- Agora não é mais branca - ele disse rindo.

- Eu esqueci de falar que ia trabalhar em uma oficina pelas próximas semanas? - perguntei tentando fugir do olhar bravo da minha mãe.

- Já não era sem tempo - disse a voz arrastada de Gabe atrás de mim. Ele se aproximava da cozinha meio cambaleante. Fedia tanto que meus olhos lacrimejaram.

- Já está passando da hora de você ajudar com as contas, pirralho - ele provocou.

Meu bom humor resultante do dia perfeito vacilou.

- Igual você ajuda, Gabe? - perguntei.

- Olha aqui seu moleque - ele apontou o dedo para a minha cara - Essa casa é minha, você é o intruso nela. Então acho melhor ficar quietinho.

Eu ia xinga-lo e provavelmente piorar a situação, mas minha mãe me interrompeu.

- Ele sabe disso Gabe. Você precisa de algo?

Ela olhou pra mim severa e acenou em direção ao quarto.

Peguei a mão de Tyson e o puxei em direção ao meu quarto. Nem mesmo precisei falar o que ele tinha que fazer, Ty tirou a roupa e entrou no banho.

Apagando o encontro com Gabe da minha mente, entrei no banho com meu irmão.

Mas enquanto lavava o cabelo agora curto dele, Tyson fez uma pergunta que eu não esperava.

- Como o papai era?

Eu não estava pronto para isso, então precisei de um tempo para responder.

- Ele era um cara incrível, fazia piadas ruins o tempo todo e estava sempre rindo.

Eu me lembrava dele fazendo paquecas pra gente aos domingos, assoviando músicas dos beatles e vestindo o avental rosa da mamãe.

- Ele adorava pescar. Uma vez fomos todos juntos no barquinho dele, a mamãe não sabia pescar e quando tentou, ela conseguiu pescar um peixe três vezes maior que o do papai. Ele ficou emburrado por uma semana.

Eu sentia falta dele, na verdade eu sentia muita falta dele. Dos abraços, dos carinhos, das broncas e das palhaçadas. Tyson me escutava com mais atenção que eu já vira nele a vida toda.

- Quando a mamãe falou que estava grávida de você, ele saiu gritando isso pela praia inteira. Foi ele que me ensinou a nadar quando eu era pequenininho e me ensinou a navegar quando eu tinha 7 anos. 

Tyson sorriu e desligou o chuveiro. Entreguei a toalha dele e peguei a minha.

Um dia vou te ensinar a controlar um navio também.

Mamãe nos esperava colocando minhas roupas sujas em um cesto.

- Que tal você guardar os cadernos e CDs e depois arrumar seus sapatos no lugar enquanto eu arrumo as roupas - ela me propôs depois que coloquei minha roupa de dormir.

Achei uma boa oferta e comecei a guardar as coisas.

Quando finalmente achei que tinha acabado, minha mãe disse que faltava um CD perto do meu criado, mas eu não conseguia achar.

- Tá ali, filho - ela apontou - acho que você precisa de óculos.

Andei até o criado e me abaixei para pegar.

- A Annabeth disse a mesma coisa - disse Tyson me fazendo gelar.

Minha mãe olhou para mim e fez uma cara de vencedora.

- Quem é Annabeth, amor? - ela perguntou inocente para Ty.

Acho que ele não entendeu o meu olhar de "fique quieto".

- A amiga bonita do Percy - ele respondeu alheio a merda que ele estava fazendo.

Mamãe se virou para mim com um sorriso enorme.

- Uma amiga bonita?

- Ela nem é minha amiga, é uma conhecida.

Tyson, aquele traidorzinho de meia tigela falou:

- O Percy deu até balas pra ela.

Minha mãe arregalou os olhos.

- Como pedido de desculpas por ter sem querer jogado as dela no chão - acrescentei depressa.

- E como ela é, Tyson? - minha mãe perguntou me ignorando.

- Ela tem cabelos de princesa - ele disse - E o Percy-

- Tyson, tá na hora de passar patrulha canina - usei meu último recurso apontando para a TV - Você vai perder se não ligar logo.

Ele procurou o controle desesperado e ligou a televisão.

Minha mãe me encarava com os olhos cerrados. Mas agora não mudaria nada, Tyson nunca prestava atenção em nada enquanto assistia desenho.

- Boa jogada - minha mãe disse se levantando da minha cama, onde estava sentada, e vindo até mim - mas agora eu sei o nome dela.

Ela me deu um beijo no cabelo e saiu do meu quarto.

Tyson ficou ali assistindo TV, alheio aos mil xingamentos que eu praguejava baixinho.


Notas Finais


Tá uma bosta? Tá uma bosta! Mas eu consegui fazer outra coisa? Não.
Eu sei que muitos de vocês veem a Rachel como uma vadia, mas eu não consigo ve-la assim. O Percy era amigo dela e a própria Annabeth fica também depois que ela vira oráculo.
Última pergunta, vocês preferem as narrativas do Percy ou da Annabeth?


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