História Erase This - Far From Never

Estava relaxada sobre os travesseiros apenas com a camiseta de Jason me vestindo, ele falava algo sobre os jogos difíceis da última temporada enquanto eu fingia estar interessada, na verdade, nossas tardes eram baseadas nisso: eu ia para casa dele, ou ele ia para a minha, transávamos e ele ficava falando algo estúpido enquanto eu fingia escutar.

  Engatinhei pela cama o abraçando por trás e depositando beijos em sua nuca, Jason tinha um corpo de dar inveja, musculoso, costas largas, uma barriga definida que deixava qualquer garota de boca aberta.

- Eu vou torcer por você em todos esses jogos. – murmurei mordiscando sua orelha e ele arrepiou rindo de leve.

- É capaz de eu errar os arremessos cada vez que ver você pulando com aquela saia minúscula. – ele me puxou com um dos braços para seu colo, o encarei por um momento e ri.

- Idiota, pervertido. – soquei seu peito fraco e o abracei em seguida.

- Amo você garota. – franzi o cenho ainda me acostumando com a palavra, não era a primeira vez que ele dizia, mas eu conseguia lidar melhor agora.

- Você ama me usar, isso sim. – brinquei o empurrando na cama e montando sobre seus quadris.

- Você que acaba comigo, em todas as formas. – sussurrou manhoso me trazendo para si, beijei seus lábios levemente.

- Eu preciso ir embora. – adverti-me após ver que já tinha escurecido.

- Uma pena... Domingo fica chato sem você. – sorri apertando seu nariz e me levantando.

  Peguei a saia jogada no chão do quarto e a vesti, estava com preguiça de colocar o resto da roupa, calcei os tênis, e amarrei o cabelo num coque... Estava pronta.

- Calma, você vai assim? – perguntou apontando para minha roupa.

- Aham, amanhã levo embora o que sobrou por aqui. –andei até ele passando os braços por sua nuca.

- Menos essa aqui, fica comigo. – disse enquanto girava a renda preta entre os dedos.

- Presente adiantado de aniversário. – lhe lancei uma piscada e o puxei para fora da cama, nos beijamos.

  ...

  Cheguei em casa desejando minha cama mais do que tudo, no outro dia teria aula e treino, precisava dormir se não, não acordaria e a bruxa loira me mataria por faltar ao treino mais uma vez... Eu tinha certeza que ela só me mantinha na equipe porque eu namorava o capitão do time e porque saltava como ninguém.

  Fazia o trajeto para as escadas quando papai apareceu me surpreendendo por estar em casa, o abracei forte com saudade e sem que eu percebesse ele me arrastou até a sala onde Angélica já nos aguardava sentada no sofá.

- O que você trouxe pra mim dessa viagem pai? – perguntei esperançosa sentando ao sofá em frente aos dois.

- Tem uma mala com algumas coisas dentro do seu quarto, depois você vê! – sorri assentindo. – Mas eu queria falar sobre outra coisa... Você por acaso andou conversando com sua mãe ou Madson?

- Falo com a Mad todo dia, mas a mamãe só de vez em quando.

- Então Mad comentou com você que virá pra cá dentro de algumas semanas? – abri a boca num “O” surpresa.

- Não, não mesmo! – estranhei a notícia, Mad andava tão distante, não pensei que gostaria de vir me visitar... alguma ideia estava por trás daquela mente diabólica.

- Então quando se falarem hoje pergunte a ela melhor sobre isso, eu realmente acho estranho que sua irmã queira vir para cá... Você sabe que nunca nos demos bem, tinha sorte que era a única naquela casa que ainda me queria por perto. – sorri amarelo sentindo uma pontada de dor relembrando o sofrimento de não tê-lo ao meu lado antes.

- Mad só é cabeça dura papai, ela cresceu antes do tempo... – “...aliás, nós duas crescemos rápido demais” acrescentei em pensamento pontuando cada fato que tinha me marcado por esse ano.

- Tenho medo por isso. – resmungou formando um vinco com as rugas da testa.

- Fica tranquilo, ela tem mais juízo que eu. – ri baixo e por um momento senti como se ela tivesse ao meu lado, sentia falta da morena ranzinza.

- Espero... Bem, essa semana vou estar em casa, então gostaria que fosse pontual quanto ao horário do jantar. – assenti levantando e revirando os olhos, aquela besteira de sentar à mesa como uma família me irritava.

  Segui para meu quarto, eu queria passar o resto da noite na cama, tomando sorvete e comendo chocolate. Devo admitir que agia como uma frustrada amorosamente que descontava toda sua tristeza e saudade em comida... E sim, eu era uma frustrada dessas. Eu me mantinha firme quanto às lágrimas, mas quando era necessário assistia um romance daqueles bem dramáticos que serviam de motivo para o choro.

  Enfiei-me diretamente para o banheiro, o cheiro de Jason me dava enjoos e eu chegava à conclusão que estava mais difícil do que tudo sustentar um relacionamento com o garoto... E era culpa minha de não dar certo, uma parte minha queria mais que o relacionamento deteriorasse cada vez mais, enquanto a outra pensava sempre sobre tentar esquecer o que deixei em HB.

  Com o tempo não conseguia mais enterrar todos meus problemas numa tarde com ele, nada me distraia, tudo me fazia lembrar a saudade, da vontade que eu tinha de voltar pro meu lugar, da vontade que eu tinha de costurar o passado de uma forma diferente.

  Jason era tudo e nada ao mesmo tempo; tudo que uma garota gostaria de ter, tudo que qualquer garota procura em um garoto, mas ainda assim não era o suficiente para mim... Não era suficiente para cicatrizar o passado, não era suficiente para fazer eu me apaixonar de verdade, de forma que eu esquecesse quem realmente amava.

  Dizem que para curar um amor antigo só se cultivando outro amor, creio que esse não era meu caso, nunca foi... Ou eu tinha um coração muito persistente que teimava em seguir o lado errado, não que Brian fosse sinônimo de algo ruim, mas com certeza eu estar em sua vida nos transformava em algo ruim.

  Sai do chuveiro na ideia que me mantinha em Los Angeles: “se fosse para dar certo, já teria acontecido”. Eu sempre usei a desculpa de incomodar a todos se voltasse, mas ela já não adiantava mais porque eu sabia que meus amigos também sentiam minha falta. A desculpa era Brian, Brian me mantinha longe, tudo porque eu não tinha coragem de olhar para ele sem que pudesse desabar.

  Vesti-me com uma camiseta de Sam, ela me servia de abrigo e ao contrário de meses atrás não me fazia chorar... Eu sabia que o ruivo esteve aqui na Terra para ser meu porto seguro e mesmo lá do céu ainda servia nesse papel. Meu corpo relaxava dentro daquela veste, apenas lembranças boas me revestiam e seu eu chorava de saudade era uma saudade boa, daquela que a gente cultiva por lembrar-se de uma pessoa querida.

  Deitei na cama meio grogue pelo excesso de pensamentos em minha cabeça, respirei fundo, fechei os olhos, imaginei o mar... Imaginei alegria, paz, imaginei Brian. Soquei o colchão com força, não me conformava conviver com o fato de que ele não saia da minha cabeça, era torturante, não dava mais para ignorar.

  Eu provavelmente entraria num colapso nervoso se o telefone não tivesse tocado e interrompido a erupção que acontecia em mim.

- Alô?

- Bellinha! – suspirei aliviada, aquela voz tirou toda aflição que eu podia sentir.

- Jimmy! Que saudade, que saudade...

- Tá tudo bem com você?

- Sim, mas LA é um saco sem vocês, sinto falta de HB. – confessei enquanto me ajeitava confortavelmente na cama.

- Você sabe que pode voltar quando quiser, aliás, já está na hora hein? – ri fraco quase cedendo ao seu pedido.

- Bem que eu queria, mas tem tanta coisa aqui pra resolver e... – ele não me deixou terminar.

- E você não aguentaria encarar o Brian ainda, sei bem disso. Ai vocês me estressam com essa história sabia? Dois retardados renegando amor, cara eu não vou falar pra você pensar bem no que tá fazendo porque eu sei que você pensa nisso todos os dias... Sinto te dizer gata, mas você não vai esquecer o bonitão. – bufei irritada como a forma que ele conseguia me desvendar em tão poucas palavras.

- Eu fiz muita merda sem pensar Jim, se eu tivesse vindo pra LA e ficado numa boa apenas dando um tempo de tudo seria mais fácil voltar para casa, mas eu resolvi construir uma nova vida aqui... Arranjei um namorado, comecei a tirar notas boas na escola, não bebo, e faço parte de um grupo de patricinhas. – uma risada alta veio do outro lado da linha.

- Que vida de bosta ein? Acho que você tá precisando de um bom macho e uma boa surra pra voltar a ser a Belle que eu conheci... Cara, eu não gosto de ficar cutucando muito em um assunto, mas só pra completar, você e o Syn ainda tem muito o que resolver e ficar fugindo dele e dos seus reais sentimentos só vão te fazer sofrer mais. Porque não experimenta encarar os problemas de uma vez? Faria bem, a você, a ele, a todos. – ele tinha total razão sobre tudo, mas eu era teimosa e não sairia de LA até que as circunstâncias se tornassem extremas.

- Eu vou ver quanto aguento aqui ainda, um dia volto pra HB, até lá continuo na minha vida de merda... – ele riu mais uma vez, ri também. – Você por acaso sabe da Mad?

- Ah to aqui na sua casa, ela disse que ia te ligar e eu quis falar com você.

- Te amo por isso, tava precisando de uma conversa com o melhor de todos!

- Eu sei, todos precisam de mim! – se gabou me fazendo rir novamente.

- Você não presta cara, passa pra garota ai, preciso perguntar uma coisinha pra ela.

- Tudo bem, vê se não me esquece... E a propósito, manda mais algumas fotos de você naquele uniforme de cheerleader, tá uma gata. – corei absurdamente enquanto ria.

- Vai logo, passa o telefone pra minha irmã! – exclamei ainda rindo.

- Que foi? – perguntou séria e meu humor obscureceu imediatamente.

- Ahn, oi Mad.. Como você está? – eu tinha medo de fazer essa pergunta, dias atrás ela começou a brigar comigo por isso... longa história.

- Bem e você?

- To bem também... Queria te perguntar algo: você tá planejando vir pra LA? – falei sem cerimônias.

- Sim, to indo pra te buscar, você volta comigo. – comecei a rir instantaneamente.

- Você enlouqueceu ou o quê? Tá pensando que vai me levar de volta? Se for pra isso nem precisa vir Mad. – ela permaneceu em silêncio alguns segundos.

- Quando eu chegar ai veremos se não sou capaz disso! – seu tom alterava levemente.

- Não quero brigar, esquece isso... Já to te falando que não vai dar certo, mas se você quiser insistir...

- Ai tchau Anabelle. – dito isso ela desligou.

  Soltei um muxoxo, era terrível essa situação com minha irmã, aquela com quem sempre contei, que sempre me ajudou... De tudo que eu mais sentia falta daquele lugar era dela. Uma pena não saber expressar isso sem que acabássemos numa briga.