História Erase This - Light me up

- Gostei da sua irmã, seu cunhado. – comentava Jason, ainda dentro do carro.

- Eles podem ser legais às vezes. – admiti dando um meio sorriso. – Acho que fui muito dura com Mad esses dias... – sussurrei mais para mim mesma e ele acariciou minha bochecha com as pontas dos dedos, fazendo com que eu o encarasse.

- Você ainda pode se desculpar por isso, ela é sua irmã, ira te entender. – baixei a cabeça sorrindo ironicamente.

- Não é tão simples, eu estaria apenas confirmando sua teoria. – voltei a olha-lo e ele parecia curioso.

- Qual teoria?

- Deixa pra lá Jay, não quero pensar nisso agora... – pedi manhosa, indo para seu colo no carro. – Pelo menos ela não vai tentar me levar embora. – sorri acariciando seu rosto.

- É nessa parte que eu gosto mais ainda da sua irmã. – ri fraco antes de ser surpreendida por um beijo seu.

   Estar com Jason era ótimo, simples, sem problemas... Era cômodo ser sua namorada, eu não precisava me preocupar se iria magoa-lo com certas atitudes, pois ele não se importava muito com isso. Ao contrário do meu “relacionamento” com Brian, sempre cheio de altos e baixos, brigas horríveis e uma vaca chamada Michelle entre nós.

- Melhor eu entrar, você precisa descansar pra amanhã. – sorri maliciosamente e ele se curvou para me beijar novamente, pulei para o banco de carona. – O grande jogo é depois de amanhã, é melhor guardar as energias, principalmente para a comemoração... – pisquei para ele, sacana, pendurando a bolsa no ombro e abrindo a porta do carro.

- Você é chata demais, às vezes, Ana. – fechei a porta e me debrucei no vidro para retrucar.

- E mesmo assim você me ama. –ele se esticou até onde eu estava e selou nossos lábios rapidamente.

- Talvez. – revirei os olhos e caminhei até a varanda, acenando quando vi seu carro partir.

  Entrei em casa exausta, arrancando os sapatos de salto e sentindo um alivio depois de sair de cima da máquina torturadora de pés.  Subi as escadas quase que engatinhando, não via a hora de chegar à cama.

  Já em meu quarto, fechei a porta e me joguei no colchão. Comecei a pensar nos acontecimentos da noite, em como Matt tinha sido educado e Mad mostrava gostar do “encontro de casais”, suspirei, chegava a ser engraçado todo esse teatro... Porém uma parte de mim estava feliz por Jason ter conquistado um pouquinho dos dois.

...

  Acordei na borda da cama, praticamente caindo no chão, percebi que nem tinha me trocado para dormir e rapidamente me veio em mente como consegui pegar no sono dentro da saia justa cor creme... Eram roupas desconfortáveis para se passar a noite.

  Olhei no relógio constatando que tinha perdido a hora para o treino, rapidamente peguei o telefone na mão e disquei o número de Jenny:

- Alô?

- Ei Jen, é a Belle. – murmurei sonolenta enquanto bocejava.

- Sua vaca! Não vai vir para o treino?

- Não vai dar pra eu ir hoje, minha irmã tá indo embora e minha mãe que vem busca-la... Já sabe.

- Oh, entendo... Você só está perdendo Lili, a idiota veio para o treino com olho roxo e tudo, o nariz dela parece uma batata, inchado também. – rimos juntas, essa seria uma cena agradável de apreciar.

- Pelo menos eu sei que o roxo e o inchaço ainda estarão no rosto dela amanhã. – Jenny riu novamente.

- Você é má! – exclamou ainda rindo.

- Apenas realista... Ah Jen e você pode me fazer um favor?

- Claro, qual?

- Tenta achar o Jason no treino e pede pra ele vir aqui em casa depois?

- Peço sim, pode deixar! Agora tenho que ir, a maldita tá com um apito na boca nos chamando para treinar. – ri de como ela se referia a Lili.

- Ok, beijos Jen.

- Beijo.

  Espreguicei-me,  enfim levantando da cama e indo diretamente para as janelas, puxando as cortinas e abrindo a veneziana. Uma brisa agradável invadiu o quarto e me veio em mente que o dia estava ótimo para uma corrida.

   Dirigi-me ao banheiro fazendo minha higiene e logo após tomando uma ducha. Selecionei um short de algodão curto e folgado, e uma regata preta justa para a corrida, além dos tênis. Amarrei os cabelos num rabo bem preso e sai do quarto, indo para a escada e a descendo em alta velocidade.

- Onde vai Anabelle? – parei no meio do hall de entrada, identificando a voz de papai que vinha de dentro do escritório.

- Apenas correr... – respondi dando de ombros e sorrindo para o mesmo.

- Certo. Sabe que horas sua irmã vai embora?

- Acho que antes do almoço, se não me engano.

- Está bem, tome cuidado. – sugeriu me olhando por cima dos óculos e eu assenti, sorrindo e acenando em despedida.

  Correr era uma forma de terapia para mim, eu me sentia livre de qualquer um, qualquer coisa... Não precisava pensar em nada enquanto estava aplicando velocidade nas pernas, era como um alívio, já que eu vivia com a cabeça cheia de ideias.

  Enquanto eu corria gostava de me encher de boas lembranças, Sam ocupava boa parte desses pensamentos, eu ainda senti sua falta, lamentava tê-lo perdido, mas é como dizem “seguir em frente” e até agora eu tinha feito isso muito bem. 

  Peguei a rota que levava ao parque dos pássaros, eu amava aquele lugar, principalmente aos domingos, quando ocorriam encontros familiares, crianças correndo de um lado para o outro, cachorros brincando e idosos felizes observando a tudo como se já tivessem cumprido missão na Terra.

  LA não era tão calma como HB às 10h da manhã, porém ainda circulável... Correr nas calçadas era difícil com alguns pedestres, mas o bairro em que morava concedia o privilégio de poucas pessoas na rua. No entanto havia muitas limusines e carros de luxo atravessando os sinais.

  Chegando ao parque tomei um banco vazio para descansar, minhas pernas ardiam um pouco por causa do esforço que tinha feito, e sem tido um prévio aquecimento antes. Fechei os olhos apreciando o som do chacoalhar das folhas das árvores e de passarinhos cantando, se um dia eu fosse embora de LA esse era o lugar do qual mais sentiria falta. Diferente de qualquer coisa por aqui ele não me lembrava de casa, ou Brian, ou Sam, ou algo que se referisse a HB, na verdade ele me fazia esquecer que tudo isso existia, me fazia esquecer até quem era.

  Olhei no relógio averiguando que tinha passado tempo demais no parque, precisava voltar para casa se não nem mamãe eu conseguiria ver para matar a saudade. Há tempo não via a mulher e sentia sua falta, até porque, era a primeira vez que passávamos tanto tempo uma longe da outra, acrescentei uma nota mentalmente que começaria a ligar mais vezes para Sara, ela devia se estar triste com minha falta de interesse.

  Botei as pernas para correr mais uma vez, um pouco mais rápido, na volta para casa, a fim de que eu chegasse a tempo de me despedir dos dois hóspedes e ainda rever minha mãe.

  O caminho de volta sempre parece o mais comprido, e era o que eu mais odiava, parecia que eu estava sendo inserida na realidade mais uma vez, algo que eu não suportava, para falar a verdade. Muitas vezes cheguei a pensar na hipótese de sumir por alguns dias e ficar naquele parque, ou vagando sozinha por LA, era uma ideia agradável diante a toda farsa em que eu estava vivendo.

  Cheguei em frente ao portão da mansão ofegante, apoiei-me sobre os joelhos e encarei a grande casa imponente... Lembrando-me que há alguns meses ela parecia maior ainda aos meus olhos de recém-chegada, tanta coisa tinha acontecido desde então, e principalmente eu tinha me acostumado com todo o luxo, devia admitir o quanto era bom ser rica.

  Resolvi entrar pelos fundos, indo diretamente para a cozinha, estava morrendo de fome... Correr me desgastava por completo.

“- Eu não sei, simplesmente abri mão agora, só quero voltar para HB e esquecer a Belle e tudo mais... Todos esses dias ela tem sido uma idiota, tentando parecer o que não é apenas para me convencer de que não pertence mais ao nosso lugar.” – conhecia muito bem essa voz e me encostei ao batente da porta esperando por ouvir mais. – “E ainda por cima tem aquilo com o papai, ela o trata como se ele nunca tivesse nos renegado, como se ele não tivesse ido embora e não deixado nada para nenhuma de nós enquanto ele vive praticamente num palácio. Ela só vem tomando atitudes infantis todo esse tempo, parece que regrediu ao que era...” – cansei de ouvir as besteiras que minha irmã dizia e entrei na cozinha escancarando a porta.

- Você não tem o direito de falar tudo isso de mim Madson, pelo menos eu não uso drogas nem me embebedo por ai igual você faz com seu namorado e seus amiguinhos, quem regredi na história é sempre você! – exclamei alto, observando mamãe e Matt atônitos com minha chegada. – Aliás, tudo que você tem é ciúme de mim e do papai porque ele sempre preferiu a mim e não você, desde quando éramos criança... Você sempre foi a renegada! – cada palavra saia de mim feito um soco, eu estava irritada por motivos alheios e descontava tudo na morena. – Não sei o que deu em minha cabeça pensando que seria bom você vir para LA, desde que chegou aqui só me envergonhou diante aos meus amigos! – de repente, numa atitude inesperada, Mad saiu correndo.

  Aquela com certeza não era minha irmã, sensível demais ao ponto de não encarar uma briga comigo...

- Qual é o seu problema garota? Pensei que LA tinha te feito mal, mas pelo visto te transformou em um monstro! – Matt disse antes de seguir atrás da namorada, só sobrava mamãe na cozinha.

- Essa definitivamente não era a recepção que eu esperava... – murmurou seca me dando as costas também.

  Cai de joelhos no chão com a culpa me atingindo em cheio, o sentimento de solidão me envolveu e eu tive vontade de correr atrás de Madson também, para me desculpar do monte de merda que tinha dito a ela.

  Levantei rapidamente segurando o choro que queria escapar e sai pela porta dos fundos novamente, sumir daquele lugar era o necessário agora, escapei pelos portões correndo e segui assim sem direção. Queria me castigar de alguma forma e fazia isso botando velocidade a mais nas pernas, de modo que elas ardessem a cada passo.

  De repente o barulho do freio me atingiu e eu parei assustada no meio da rua.

“NÃO OLHA POR ONDE ANDA GAROTA?”

  Gritou um homem de dentro do carro, meu coração martelava rapidamente enquanto eu me recuperava do susto e escutava buzinas desesperadas querendo que eu saísse do caminho. Caminhei lentamente para a calçada, sentando na guia e enfiando a cabeça entre as pernas.

  A ideia de morte parecia tentadora agora, eu só sabia machucar as pessoas que sempre estiveram do meu lado, só servia para magoa-los... Por um fim em minha própria vida talvez fosse o mais sensato a se fazer.

  Levantei a cabeça enchendo os pulmões de ar e tentando arranjar algum modo de fazer com que as lágrimas cessassem. Olhei em volta e dei conta de que não fazia mínima ideia de onde estava, deveria ser apenas mais um castigo de Deus por eu ser uma pessoa tão ruim.