História Erase This - Save Me

Passei muito tempo com a cabeça enfiada debaixo do travesseiro, minha mente disparava tentando encontrar uma solução para meu problema e de Mad, era difícil encontrar uma alternativa plausível. Cheguei até pensar em emancipação, mas isso iria precisar da autorização dos pais e eles obviamente não fariam isso. 

    Depois de muito sofrer, sem encontrar uma saída, comecei a vislumbrar as únicas duas opções que tínhamos, e na minha cabeça fazia muito mais sentido ir morar com papai. Depois de um tempo, eu conseguiria convencer facilmente ele deixar os meninos a frequentar a casa em L.A. Não iríamos nos ver com a  mesma frequência de agora, mas já era um começo e ainda, essa seria uma solução apenas por poucos anos, depois voltaríamos a HB e o melhor, teríamos a casa só pra gente. 

    Rolei na cama ficando com os olhos estatelados nas estrelas coladas no teto do meu quarto, Brian tinha comprado pra mim esses dias e feito o trabalho de colocá-las bem acima da minha cama. Elas brilhavam no escuro e ele dizia que era o meu “céu particular”. Sorri lembrando da cena e imediatamente senti uma lágrima grossa rolar pelo meu rosto… seria de fato triste demais não ter mais contato diário com o garoto que eu amava, logo agora que finalmente estávamos nos dando tão bem. 

    Suspirei resignada, de qualquer forma Los Angeles seria melhor que Londres, no fim meu pai seria bom e abriria muitas exceções, assim não perderíamos contato com os meninos. O difícil seria convencer Mad a morar com papai, mas colocando seu relacionamento no meio tinha certeza que ela iria concordar com mais facilidade. 

    Quando a porta do meu quarto abriu, olhei em direção a porta e encontrei um Brian preocupado. 

- Oi amor, acabou o ensaio com os meninos? - indaguei enquanto me arrastava para o lado, abrindo espaço para ele. 

- Sim e foi muito estranho ver a sua irmã chegando com os joelhos ensanguentados, visivelmente perturbada, para conversar com o Matthew… o que você falou pra ela Belle? - imediatamente sentei na cama depois da informação, provavelmente Mad tinha se estatelado no chão quando saiu descompensada pela rua. Suspirei profundamente enquanto esperava Brian se sentar ao meu lado. 

- Eu contei sobre as garotas no parque… - comecei e ele me encarou, prestando atenção - Mas foi tranquilo, deixei claro que provavelmente tudo está relacionado ao time de basquete. - conclui e ele soltou um suspiro, aliviado. 

- Mas então não faz sentido, por qual motivo ela estava daquele jeito? - ele parecia preocupado, meu coração se apertou, mas eu sabia que precisava contar a verdade. 

- Mamãe chegou e nos chamou para conversar mais cedo… - respirei fundo tentando me manter estável diante do assunto, a garganta já arranhava anunciando o choro reprimido. Brian percebeu meu estado e  tão logo suas mãos envolviam as minhas, num incentivo - Ela começou a falar sobre o trabalho e por fim revelou que a empresa decidiu expandir, vão abrir uma filial na Europa, em Londres… Minha mãe vai tomar conta dessa filial. - ele imediatamente retesou com a informação, provavelmente conectando as ideias e prevendo o que eu estava prestes a falar - Enfim, eu e Mad vamos ter que nos mudar, mamãe falou que poderemos escolher em ir com ela ou ficar com nosso pai em Los Angeles. - disse por fim, sentindo um peso sair dos ombros, era bom poder compartilhar com alguém, Brian me puxou para um abraço. 

    Mais uma vez as lágrimas escapavam dos meus olhos, enquanto eu o apertava forte contra mim, tê-lo ali tornava mais real o fato de que eu teria que deixá-lo em alguns meses, isso doía demais. Continuamos abraçados por longos minutos e quando nos separamos notei seus olhos vermelhos, ele também chorava. 

- Nós vamos ficar aqui até o final do ano letivo, o que dá uns dois, três meses, e depois vamos ter que escolher com quem ir morar… - acrescentei enquanto limpava as lágrimas, Brian ainda me encarava atônito com as informações. 

- O pai de vocês não pode mudar pra cá? - perguntou esperançoso. 

- Não, porque a sede principal da empresa está em L.A, ele não pode ficar afastado por tanto tempo… Ainda que conseguiu tirar dois meses para tomar conta de nós aqui, porque minha mãe vai embora para Londres agora no final desse mês já. - conclui, um suspiro pesaroso saiu de seus lábios. 

- Que merda isso Belle… - resmungou, transparecendo tristeza. 

    Ele então me puxou para perto, encostando minhas costas contra seu peito, seus braços envolvendo por completo minha cintura, fazendo que eu ficasse entre suas pernas. Liberei o peso contra ele, deixando que me envolvesse, queria aproveitar o máximo de seu aperto. 

- Eu pensei muito e acho que a melhor decisão é ir para L.A, meu pai disse que disponibiliza um motorista para trazer a gente aqui de vez em quando… - comentei tentando soar positiva - No final das contas é melhor do que ficar praticamente do outro lado do mundo, não é? 

- Sim você tem razão… Vai ser muito estranho não poder ficar com você todos os dias. - reclamou baixinho em meu ouvido e eu concordei. 

- Acho que eu vou sofrer todos os dias por isso. - conclui enquanto me virava para encará-lo, colocando uma perna de cada lado seu, evolvendo-o - Mas pode ter certeza que com o tempo eu convenço meu pai e ele será mais flexível, não vamos ter que ficar tanto tempo sem se ver… Além disso, quando fizermos 18 anos vamos voltar pra HB e ter a casa só pra gente. - exclamei, tentando parecer animada e arrancando um meio sorriso do garoto. 

- Estou gostando de ver o seu otimismo. - comentou enquanto nossos lábios roçavam, muito próximos - Realmente espero que você não me troque por nenhum playboyzinho de L.A. - proferiu incisivo, arrancando-me uma risada. 

- Jamais! - respondi o encarando sério e finalmente ele atacou meus lábios. 

Nossas línguas dançavam em perfeita sincronia, já sofria pela falta do seu toque e carinho, com certeza aproveitaria esses últimos dias ao máximo. Continuamos nos atacando, pois provavelmente Brian tinha o mesmo pensamento que eu. 

Em certo momento escutei um estrondo vindo do quarto de Mad, anunciando sua chegada, mas preferi ignorar e voltei atenção para meu namorado. Fui hábil suficiente para rapidamente tirar a camiseta que envolvia seu corpo. 

Ele estava tentando repetir a ação comigo quando um grito alto nos despertou.  

- Que porra é essa? - questionou assustado, ofegante, sustentando seu peso sobre mim. 

- Não sei, acho que eu vou checar a Mad. - sugeri preocupada e ele assentiu, me dando passagem. 

    Tão rápido eu estava no quarto da garota, no chão algumas manchas secas de sangue estampavam a madeira, segui o pequeno rastro até o banheiro, a porta estava aberta e encostada nela encontrei Madson. 

    Ela estava visivelmente perturbada, com os cabelos desgrenhados, olhos vermelhos e borrados de tanto chorar, que vagavam para além da realidade e em sua mão um pequeno canivete afiado, prestes a entrar na pele do outro braço. 

Meu coração acelerou imediatamente com a cena, e num rápido impulso eu pulei sobre ela, envolvendo-a num abraço, enquanto tirava o objeto afiado de suas mãos, aliviada por ter chego a tempo de evitar uma tragédia. . 

- Madson, meu deus! - exclamei ainda a segurando contra mim, ela chorava soluçando - Isso tudo é pela mudança? Fica tranquila eu vou dar um jeito! - falei, tentando acalmá-la. 

    Eu começava a ficar realmente preocupada com a sanidade mental da minha irmã, ela sempre foi sensível e uma mudança como aquelas iria afetá-la profundamente. Nossos pais teriam que repensar essa história. 

    Quando percebi que o choro tinha cessado consegui soltá-la devagar e me sentei em sua frente. 

- Mad você pode conversar comigo, eu te ajudo, sou sua irmã, e você sabe que nós suportamos qualquer coisa juntas! - afirmei enquanto envolvia uma de suas mãos na minha, ela assentiu com a cabeça, agora seus olhos tinham voltado para realidade e me encaravam - Eu vou conversar com o papai e a mamãe, nós vamos arrumar uma solução! - exclamei tentando parecer positiva e ela rolou os olhos, desinteressada. 

- Não é por isso… - sussurrou baixinho me deixando confusa. 

- Como assim? Que outro motivo te deixaria dessa forma? - questionei intrigada. 

- Matthew… - sussurrou mais uma vez, ela suspirou antes de continuar - Ele me traiu Belle. - meneei com a cabeça, não entendendo porque ela dizia aquilo, tinha deixado bem claro na nossa conversa mais cedo que não se tratava disso. Comecei a argumentar contrariamente. 

- Mad eu já te disse, não sei o que significa aquilo no parque, mas não acho que… -fui interrompida. Visivelmente abalada, ela me atropelou com suas palavras. 

- Não… eu fui até a casa dele, contar da mudança, e de repente ele começou a agir estranho como se tivesse algo para confessar. Acho que ficou com medo de eu contar sobre o que você tinha me falado, então ele finalmente contou que me traiu com a Stacy, líder de torcida, no dia que me deixou em casa e voltou para o bar.  -  as palavras saíram rápidas, como se machucassem sua boca e de fato deviam fazer isso. 

    Eu estava realmente surpresa com a informação, de tudo que poderia acontecer, jamais pensei que Matt trairia minha irmã. 

- Mad eu sinto muito… - foi a única coisa que consegui dizer, pois naquele momento começava a entender de verdade sua dor. 

- Ele transou com ela, você tem noção disso? - indagou com voz chorosa, o olhar perdido voltava a preencher seu rosto - Ele me traiu… - afirmou mais uma vez antes de soluçar alto e voltar a chorar, novamente puxei seu corpo para um abraço. 

    Queria poder dizer algo que a confortasse, mas nenhuma palavra parecia boa suficiente.  Dentro de mim uma raiva gigante crescia, a vontade de socar aquele idiota por deixar minha irmã nesse estado, ainda mais quando lembrava da cena que há poucos tinha encontrado. 

    Uma luz se acendeu em minha mente, de repente eu tinha a solução que poderia salvar a garota, e de fato parecia o mais sensato a se fazer no momento. 

- Nós vamos para Londres Mad. - falei ainda sem soltá-la - Está decidido, eu vou falar com mamãe, nós vamos embora e você vai deixar isso pra trás! - ela não rebateu, indicando que provavelmente concordava com a decisão. - Isso aqui não é solução Madson… - acrescentei enquanto nos separamos e apontei para o canivete no chão -  Eu não vou deixar você se ferir mais, vamos ter uma vida diferente, vou te ajudar a superar isso. - ela enxugou as lágrimas com a mão, me observando, atenta. 

- Mas Belle, você tem o Brian, eu não posso pedir que faça isso… - iniciou. 

- Brian vai entender, eu sei disso, e outra você é o mais importante na minha vida Mad. - conclui por fim e ela abriu um meio sorriso, antes de nos abraçarmos novamente. 

- Obrigada. - sussurrou baixinho em meu ouvido. 

- Não tem o que agradecer, isso é o que irmãs fazem. - conclui nos separando - Bom, agora você vai tomar banho, enquanto eu procuro antisséptico e curativo para cuidar do seu joelho, ok? Depois vou conversar com a mamãe, sozinha, e explicar a situação. 

     Ela assentiu, levantando e indo abrir o chuveiro, diante da sua atitude me retirei do local, levando o canivete embora comigo. 

Só quando estava fora percebi que tremia, um misto de emoções começava a circular pelo meu corpo, sabia que precisaria enterrar a maioria delas para ser racional e cuidar da minha irmã. Definitivamente era muito para processar de uma vez só. 

    No mesmo minuto a campainha soou, desci as escadas castigando o assoalho sob meus pés, tentando transferir um pouco da raiva que sentia. Quando abri a porta da frente meu sangue ferveu, indo direto para o topo da cabeça e nublando meus pensamentos. 

- O que você está fazendo aqui? - perguntei brava, encarando o garoto em minha frente, ele estava deplorável, com olhos vermelhos e inchados. 

- Eu só quero ver a Mad, por favor… - pediu fazendo menção de entrar e eu o empurrei para fora. 

- VOCÊ NÃO VAI VER NINGUÉM MATTHEW! VOCÊ VAI DAR MEIA VOLTA E SAIR DAQUI! - exclamei continuando a empurrá-lo - EU ENCONTREI MINHA IRMÃ COM ESSA PORRA NA MÃO, POR SUA CAUSA! - gritei enquanto jogava o canivete fechado para seus pés, ele saltou, assustado. 

- Meu deus ela… ela ta bem? - perguntou perturbado. 

- Sim, por que eu cheguei a tempo… - respondi tentando controlar o tom de voz - Olha só, eu vou cuidar dela tá, mas você precisa se afastar Matt, a história de vocês acabou… - iniciei e ele pareceu assentir, enquanto pegava o objeto do chão e começava a andar lentamente para trás - Vai ser o melhor para os dois… você tem que deixá-la seguir em frente, muita merda aconteceu, não tem mais o que consertar. - terminei o discurso e o assisti concorda, em seguida girando sob os calcanhares, saiu para a rua. 

    Permaneci estacada no lugar por alguns minutos, minha respiração estava descompassada e eu tentava inutilmente controlá-la. O mundo parecia girar sob meus pés, como em tão pouco tempo a vida tinha virado de cabeça para baixo? 

    Ainda perdida em pensamentos senti dois braços me envolverem gentilmente por trás, conhecia o dono daquele toque e de repente soube que, no final, tudo ficaria bem.