História Erase This - Until The End

Quando identifiquei a chamada no celular sai correndo do quarto de Mad, não podia atender aquele telefonema na frente das meninas, provavelmente elas pensariam que devia ser o Ector me ligando, no máximo. 

    Entrei dentro do quarto e apertei o botão para atender. 

- Alô? Por favor, gostaria de pedir uma pizza! - exclamou a voz do outro lado, imediatamente sorri. 

- É pra já, qual sabor você gostaria meu jovem? - indaguei, entrando na brincadeira. 

- Metade pepperoni, metade você sem roupa na minha casa. - não aguentei e comecei a ri. 

- James Sullivan você não presta! - exclamei, tentando controlar a respiração, percebi que ele ria também. 

- Não tenho culpa se você está extremamente gata! Aquelas fotos que me mandou, eu tive que controlar os caras! - abri a boca surpresa. 

- Você mostrou pra eles? - questionei, assustada. 

- Calma, eles viram, mas eu disse que eram fotos de uma fã, na internet. - soltei a respiração, aliviada - Eles obviamente piraram… - acrescentou rindo e eu o acompanhei. 

- Estava com saudade seu desnaturado! 

- Desculpa Bellinha, sabe como é, vida de rockstar cansa. - respondeu orgulhoso - Mas se te conforta, também estava com saudade de te escutar! - sorri com a afirmação. 

- Como está sendo a turnê? Muitas groupies? - perguntei, enquanto sentava na minha cama, mais confortável para conversar. 

- Muito foda, nós estamos tocando para uma multidão! Às vezes parece um sonho… - respondeu, e eu podia vê-lo sorrir me meus pensamentos, estava muito feliz pelos meninos - E groupie é o que mais tem né, principalmente aquelas com uma deathbat tatuada embaixo do peito. - acrescentou, rindo novamente. 

- James Owen Sullivan se você estivesse na minha frente ia levar um belo tapa! - respondi tentando parecer brava, mas ele ria tanto que não me contive. 

- Não podia perder a piada. - afirmou quando estava mais controlado - Agora me fala você, deu tudo certo pra apresentar o trabalho e concluir o curso? 

- Sim! Eu e Mad pegamos o diploma, finalmente, estávamos comemorando até ontem. 

- Ah eu tenho saudade das comemorações com as irmãs Harley. - comentou rindo fraco, fazendo meu coração apertar de saudade. 

- Eu também Jimmy. - concordei, pensativa. 

- Tá, agora precisamos conversar sério. - ele fez um barulho com a garganta, como se estivesse preparando para uma revelação - Eu tenho uma surpresa pra você, mas promete que não vai gritar agora, porque se não estraga o plano. - minhas sobrancelhas estavam unidas, a curiosidade crescia dentro de mim. 

- Prometo, agora fala logo! 

- Ok, então, não quis comentar antes e sei que você também é alheia a procurar essas coisas, mas a nossa turnê passa por vários países… - começou, e eu já sentia o frio na barriga habitual do nervosismo - Dentre eles alguns na Europa… - meu coração disparou, se Jimmy fosse um pouco mais misterioso eu não iria aguentar - E isso inclui Londres, daqui quatro semanas. - as últimas palavras me fizeram cair com o rosto em direção a cama, gritei abafado no travesseiro, aliviando a pressão em meu peito - Você está gritando contra o travesseiro? - perguntou, rindo. 

- Seu idiota, porque você não me contou que era uma turnê mundial?! - indaguei alterada, me sentindo estúpida por não ter acompanhado as notícias da banda nos últimos meses.. 

- Justamente porque queria fazer surpresa, além disso se você soubesse antes iria ter tempo para inventar uma desculpa e negar o que eu estou planejando. - respondeu calmo, e eu continuei o escutando, atentamente - É o seguinte, arrumei entrada pra você e sua irmã, são credenciais especiais, para vocês assistirem o show à frente da pista premium. - “puta merda” era a expressão que invadiu meus pensamentos, o coração estava a beira de sair pela boca do tanto que batia rápido - Anabelle se você não responder eu vou admitir que está tendo um ataque do coração, ou algo do tipo.. - acrescentou, preocupado com minha demora. 

- É quase isso… - respondi, engasgando com as palavras, sentando novamente na cama - Cara você é maluco né? Meu deus como eu vou arrastar a Mad junto comigo e outra, o que significa “à frente da pista premium”? - ele suspirou, aliviado, não identifiquei o motivo de primeira.

- Porra, isso foi muito mais fácil do que pensei… - admitiu relaxado. 

- Do que você está falando? 

- Cara eu pensei que ia perder uma meia hora te convencendo a ir no show… - respondeu dando risada. 

- Eu não disse que vou… - comentei, só para irritá-lo - Mas você ainda não respondeu minhas perguntas, estou esperando. 

- Então, em relação a Madson você não precisa contar que é nosso show, sei muito bem que você tem um monte de contatos que poderiam te enviar credenciais de uma outra banda qualquer. E em relação ao local que vocês vão ficar, é onde pessoas importantes ficam durante o show, normalmente nossos convidados ou algum veículo da imprensa. - escutar aquilo fazia meu coração continuar batendo rápido, não estava acreditando que Jimmy realmente estava propondo aquela ideia maluca. 

- Você quer dizer tipo onde os famosos ficam? - indaguei, ainda em choque. 

- Também. - seu tom de voz mantinha despreocupado - Olha, é o seguinte, antes que sua cabecinha comece a pensar em um monte de merda e você rejeite o meu convite, só vou te falar uma coisa: você vai nesse show, nem que eu precise te arrastar pelos cabelos, se você negar vou te buscar até no inferno ok? - ele se mantinha incisivo, e sinceramente eu nem pensava em protestar. 

- Tá bom, hipoteticamente que eu aceite ir nesse show, você precisa me arranjar mais ingressos desses... - é eu estava aceitando e começando a colaborar com o plano dele. 

- São quantos? - contei mentalmente as pessoas do nosso pequeno grupo inseparável. 

- Três. 

- Caralho, pra que tanta gente? 

- Tapado, se eu vou arrastar minha irmã pra um show de uma banda aleatória, no mínimo nossos amigos mais próximos tem que vir junto né.. 

- Hum, faz sentido mesmo… - assentiu, pensativo - Ok, mas não vou conseguir mandar mais credenciais, as suas já estão no correio, inclusive fica atenta pra quando esse pacote chegar ela não descobrir… Bom você me passa o nome deles, vou colocar como acompanhante de vocês, aviso toda a equipe sobre isso… - ele parecia divagar sobre algo, e eu podia enxergá-lo passando o dedo indicador no queixo, algo que fazia quando estava pensando - Ah, outra coisa, quando vocês chegarem no dia é só falar com algum dos seguranças e explicar que são convidadas especiais, eles te levam para outra entrada, mas isso te lembro mais pra frente de novo… Agora me passa os nomes. - o tempo em que ele ficou falando foi bom para que eu me recompusesse. 

    De qualquer forma era ainda difícil raciocinar e cair a ficha que em duas semana eu iria estar assistindo o show da minha banda favorita, que inclusive era composta pelos amigos que eu sentia tanta falta… incluindo um ex-namorado. 

- Charlotte Green, Jason Lewis e Ector Harris. 

- Porra Anabelle, dois machos? - resmungou mal-humorado - Qual deles é seu namorado? - fui surpreendida com a pergunta, aquele filho da mãe me conhecia muito bem. 

- Jimmy para com isso… - iniciei, tentando desviar da resposta. 

- Fala logo ou não coloco o nome deles na lista. - eu podia imaginar o sorriso cínico da vitória sobre seus lábios, soltei uma lufada de ar antes de responder. 

- O Ector. - afirmei, revirando os olhos. 

- Você gosta dele? - a conversa começava a tomar o rumo que eu odiaria. 

- Gosto, quer dizer… um pouco… - tapei a boca, me arrependendo de tanta sinceridade, mas ele já ria do outro lado da linha. 

- Anabelle você não muda mesmo, sempre trocando seis por meia dúzia. - arqueei uma das sobrancelhas, confusa. 

- Rev isso não faz sentido nenhum. - comentei rindo. 

- Pra mim faz. - inconscientemente mostrei a língua, num ato automático - E não me mostre a  língua garota! 

- Caralho, você tem uma câmera me vigiando? - perguntei assustada olhando em volta do quarto. 

- Eu te conheço pirralha, é simples! - respondeu rindo. 

- Porque insistem em me chamar de pirralha? Já tenho 22 anos, que saco! - resmunguei brava. 

- Você sempre vai ser a pirralha pra nós. - acrescentou, divertido - A pirralha que eu amo, beleza! - desmanchei com aquilo, um sorriso aparecendo de volta em meus lábios. 

- Mudando de assunto, os meninos sabem? - era uma questão que transitava em minha cabeça nos últimos minutos.

- Óbvio que não! Ninguém imagina, é nosso segredo. 

- Jimmy você é realmente louco hein! Já pensou qual vai ser a reação deles quando nos encontrarem na plateia? - perguntei, receosa. 

- Vai ser engraçado… - ele deu uma risada maléfica - Mas os meninos são profissionais, não vão surtar… Eu acho. - e riu novamente, aquele cara gostava de brincar com fogo mesmo. 

- Você é mau! - exclamei, entrando na brincadeira, rindo também - Mas também, eles são meio idiotas estão vindo para onde a gente mora e não pensam em nada sobre nós? - meu tom era meio triste, pois a ideia de ter sido esquecida incomodava. 

- Cabeça de minhoca, você esqueceu que eles não têm notícias suas há 7 anos, pode ser que até tenham uma pulga atrás da orelha sobre o paradeiro de vocês, mas não existe uma certeza, ainda mais com o sucesso mundial da empresa dos seus pais. O mundo financeiro todo ficou sabendo da abertura de uma filial grande na Alemanha, no mínimo eles acham que vocês estão lá. - minha boca tinha se aberto, chocada com o raciocínio do baterista. 

- Desde quando vocês se interessam pelo mundo financeiro? - perguntei divertida. 

- Belle, nós conhecemos pessoas de diversos ramos, e a empresa dos seus pais é realmente famosa. - dei de ombros, fazia sentido mesmo. 

- Só estou surpresa como você realmente pensou em tudo… Nem o Johnny ou Zaky suspeitam? 

- Gata, o Zacky quer provar a comida diferente de cada país e o Johnny está normalmente viajando nos peitos de uma groupie. Eles nem se ligaram que uma das paradas é em Londres, mas se houver alguma agitação em relação a isso eu os controlo. 

- Acho que estou me sentindo um pouco mal por bolar pelas costas de todo mundo. - admiti, soltando um muxoxo. 

- Ah, para com isso! Já vai começar a pensar merda, vou atravessar o celular e te chacoalhar garota! - sua expressão me fez rir. 

- Sei lá Jimmy, já tem muito tempo, nunca pensei em encontrar…. você sabe. - não consegui terminar, pensar na possibilidade de encontrar Brian me assombrava, o garoto do outro lado soltou um suspiro. 

- Belle, foda-se o Brian, ou o ogro do Matt… Entenda, isso não é uma operação cupido, não estou bolando tudo isso para brincar com os sentimentos de vocês, é só um reencontro entre amigos. - respirei fundo, repetindo as palavras de Jimmy em minha cabeça. 

- Ok, só um reencontro entre amigos. - afirmei novamente. 

- Isso, e não precisa ter drama algum em volta disso, vocês vão no show, nos encontramos no camarim e depois quem sabe no máximo, uma festa. - mais uma vez minha boca estava aberta, surpresa, e o coração disparava. 

- CAMARIM? JAMES OWEN SULLIVAN! - exclamei desesperada do outro lado da linha  ele murmurou algo como um “putz”.

- Belle, preciso ir minha deusa do egito, estão me chamando para checar algo no estádio do nosso próximo show. - ele falava rapidamente, era a técnica usada para se desvencilhar de uma conversa desconfortável . 

- Nada disso! Rev você vai me responder! - ralhei mais uma vez. 

- Tô indo amorzinho, se cuida e nem pense em dar para trás com nossa ideia, te amo viu? - antes que eu pudesse responder ele desligou. 

    Joguei o celular ao meu lado, socando o colchão em seguida, James estava querendo testar minha paciência, era a única resposta para aquilo. Camarim? Só podia ser uma piada, óbvio! 

    Respirei fundo e me joguei para trás, os travesseiros absorvendo o impacto, encarei o teto por longos minutos. Minha mente estava tão agitada que não conseguia pensar em nada com clareza. 

     Quatro semanas… eram o que restavam para o dia que eu imaginei nunca acontecer na minha vida. Não sabia se estava pronta para encarar aquilo, e melhor levar minha irmã junto para essa confusão comigo. Algo dentro de mim protestava, dizendo que estávamos finalmente bem, depois de anos, e seríamos arrastadas para o olho do furacão. 

    Por outro lado havia uma parte animada, feliz por reencontrar os amigos que eu adorava e sentia tanta falta. Essas duas partes antagônicas instalaram uma guerra em meu cérebro, não aguentando mais com os próprios pensamentos, tranquei as inseguranças e incertezas, repetindo a frase que me tranquilizava mentalmente. 

     “É só um reencontro entre amigos” 

    Eu repetiria aquilo até que se tornasse verdade para mim. 

    Despertei mentalmente quando lembrei das credenciais, pulei para fora da cama, Mad não podia descobrir aquilo de maneira alguma. Assim, corri para fora do quarto, precisava checar a caixa de correio. 

    Passei voando pelo andar de baixo, escutando ao fundo Charlotte murmurar algo, depois peguei o elevador e apertei o botão que levava até a garagem. A descida de 25 andares foi mais longa do que o usual. 

    Na garagem andei até o local das caixas postais, elas funcionavam como cofres retangulares, com passagem apenas para envelope e abriam com a senha que o morador digitava no pequeno painel. Fiz isso e a portinha abriu, de lá retirei um envelope pardo e algumas outras correspondências. 

    Abri o envelope rapidamente, e encontrei as credenciais, soltei um suspiro, aliviada por ter sido mais rápida que Madson. Observei o conteúdo, eram dois cartões plásticos com nossos nomes escritos em letras maiúsculas, embaixo continha um símbolo específico e escrito em pequeno algo como “autorizado”. Era bem simples para falar a verdade. Agradeci por não conter nada que remetesse a banda. 

    Joguei o envelope no lixo próximo ao elevador e enfiei os dois cartões no bolso da calça, antes de subir para a cobertura. Lá encontrei as duas garotas me encarando, curiosas. 

- Porque você saiu correndo? - era Charlotte que perguntava, ela estava encostada no balcão da cozinha, de braços cruzados, Mad tomava água ao seu lado. 

- Uma encomenda. - comecei dizendo, mas só então percebi que não segurava nada nas mãos - Quer dizer, o Ector disse que me mandou algo, fui conferir e não chegou… - respondi tentando contornar, pela expressão da loira ela não tinha acreditado muito na história - Já escolheram o que vamos comer? - perguntei, trocando de assunto. 

- Pedi duas pizzas, uma de mussarela e outra de pepperoni, para o caso do Ector vir pra cá mais tarde. - Char respondeu, se movimentando pela cozinha e sentando em um dos banquinhos em volta da ilha. 

- É,  vou ligar para ele e ver que horas chega. - comentei tomando a direção das escadas. 

- Você já não estava falando com ele? - Charlotte indagou novamente, o nervosismo só estava me fazendo contradizer na mentira, ela tinha assumido a postura de braços cruzados novamente, visivelmente intrigada. Madson agora prestava atenção em nós, também desconfiada. 

- Sim, mas eu esqueci de perguntar isso ué. - respondi tentando parecer calma, mas a expressão delas não tinha mudado. 

- E vocês ficaram esse tempo todo conversando o que? - revirei os olhos, Char tinha um ímpeto investigativo que chegava a irritar, às vezes. 

- Conversando ué… Sobre o que você conversa com seu namorado? - ela bufou, provavelmente irritada por eu respondê-la com outra pergunta. 

- Eles deviam estar falando sobre sexo. - concluiu Mad, sorrindo - Já aconteceu uma vez com outro namorado, peguei Belle gemendo no telefone! - exclamou me fazendo corar absurdamente lembrando do episódio. 

    Era um idiota que eu namorei durante a faculdade, ele gostava de encenar sexo por telefone, acabei cedendo e realizando a fantasia por umas duas vezes, numa delas Madson entrou no quarto. Foi no mínimo estranho e  por motivo óbvios terminamos. 

- Tá vendo! Ela é safada, transa até pelo telefone! - continuou minha irmã, o que obviamente levou Charlotte a uma risada. 

- Vocês são umas idiotas! - exclamei rindo, voltando a caminhar para as escadas, pelo menos aquilo tinha me livrado de ter que continuar mentindo. 

    Em geral era ótima com mentiras, mas não para Charlotte, aquela mulher tinha um olhar incisivo, era impossível mentir para ela sem se enrolar. Eu tinha dó dos seus namorados ou futuros filhos. 

    No meu quarto obviamente não liguei para Ector, seria impossível lidar com ele hoje, muitas coisas passavam pela minha cabeça. Optei por tomar um banho relaxante, enquanto ordenava as mentiras que teria que inventar na minha cabeça, não podia mais vacilar principalmente perto da Char, ou o plano estaria acabado.