Andei...Andei...Andei, mais guiada por meus instintos do que pela consciência que a essa hora não passava por nenhum fio de pensamento em minha cabeça, para falar a verdade eu não pensava em nada, apenas imagens perturbavam minha mente...
Eu podia ver os olhos castanhos de Brian me implorando desesperadamente, lembrava-me do dia na praia... Lembrava de tudo, mas era como um borrão em minha mente, imagens vagas e emudecidas... Eram como flashbacks que se passam na cabeça de alguém que está prestes a morrer.
Por outro lado, eu também podia enxergar o sorriso com covinhas de Matt, e ter uma breve aversão ao sangue que envolvia o corpo de Sam... Sam será que ele havia se recuperado? Será que havia me ligado?
Meus olhos apenas se preocupavam em vigiar os dois lados das ruas, pois ainda que a sanidade parecesse me faltar, eu não era uma suicida louca... De repente parei. Olhei em volta e reconheci o lugar... Era engraçado que mesmo instintivamente eu parava em frente ao matagal que levava a caverna...
Parecia que por mais que eu tentasse apagar tudo de minha memória, algo me fazia lembra, pois eu sabia que meu subconsciente nunca seria livre das melhores lembranças...
Passei as mãos pelos braços, e voltei a caminhar em sentido contrário ao da caverna, voltando para casa... Meus passos eram ora lentos, ora rápidos, dependia da lembrança que me atingia... Era como se meu corpo fosse influenciado apenas por um pensamento inconveniente.
Cheguei em frente a casa e pude ver sombras agitadas por trás da janela da sala, só esperava que mamãe não estivesse recebendo mais uma de suas amigas chatas... Adentrei pela porta e ouvi a risada sonora e forte de Mad, acompanhada por Matt... O sangue me subiu a cabeça.
Parei em frente à sala tendo visão privilegiada dos três juntos em volta da mesa de centro da sala, Matt tinha os cantos sujos pelo molho do que comia, Mad ria para ele e mamãe balançava a cabeça negativamente rindo também... Eles se viraram para quem os observava e por um momento se silenciaram.
– Oi Belle! – exclamou Matt quebrando a tensão e eu revirei os olhos dando as costas sem responder e virando para a escada.
“ANABELLE VOLTE AQUI NÃO SEJA MAL EDUCADA COM AS PESSOAS” – escutei mamãe gritar enquanto eu subia pesadamente os degraus.
Ao chegar ao topo corri para o quarto e bati a porta com fora, trancando-a, joguei os tênis com areia em algum canto e rodei três vezes no lugar de braços abertos, tentando assimilar tudo que estava acontecendo... Cai sentada na cama e meus olhos seguiram para a porta do armário semiaberta, eu sabia que ali tinha uma garrafa de vodka, eu sabia que deveria consumi-la o mais rápido possível.
Levantei, escancarei as portas e arranquei todas as roupas do lugar para achar a garrafa... Meus olhos brilharam ao ver o líquido transparente e um sorriso abriu-se em meu rosto, pouco me importava se eu já tinha os indícios de uma alcoólatra.
Achei enterrado em meio às roupas um CD do Slayer, South Of Heaven, fazia tempo que eu não escutava o som dos caras, na verdade, mamãe não gostava que eu e Mad os ouvisse ela dizia que eles eram uma banda satânica...
Abri a capinha do CD e peguei o disco de lá de dentro coloquei no rádio e aumentei o volume para máximo... A introdução da música combinou com o estalo que o lacre da garrafa fez ao ser aberto por minhas mãos.
Uma vez com a garrafa aberta senti o cheiro do líquido por minhas narinas e depois virei um grande gole goela abaixo, eu devia me acostumar com aquela ardência em minha garganta quando o líquido descia.
Bastou que a segunda faixa do álbum começasse, Silent Scream e eu comecei a pular com a garrafa na mão, não que já estivesse afetada pelo álcool embora isso tenha acontecido alguns minutos depois...
A sétima canção tocava, alguém esmurrava a porta e eu já estava no final da garrafa, não me importei com quem gritava por trás da madeira eu só queria pular, pular, pular e pular mais até que meus joelhos parassem de funcionar!
Ao término do CD restava apenas a garrafa vazia em minha mão e eu tentava fazer com que gotas da bebida caíssem em minha língua, eu passava do estado “bêbada “, estava quase que alucinando, tirando pelo fato de que eu não via duendes a minha volta.
Levei a garrafa gélida de vidro até meus lábios beijando-a inúmeras vezes, a deixei sobre minha cama, e cambaleei até a porta do quarto... Não conseguia destrancá-la, sempre que pensava encontrar as chaves em minha mão, eu errava o local. Com muito custo destranquei e girei a maçaneta caindo de joelhos quando a porta abriu.
Apoiei-me no chão e levantei acabei dando uns passos a mais para frente e bati com a cabeça na parede, escorei-me na mesma e com as pernas cruzando atingi a escada. Jurava que poderia ver degraus infinitos ali se distorcendo, sentei sobre o corrimão e dei um impulso, sempre quis fazer isso...Deslizei pelo mesmo e ao término cai no chão.
Ria tanto que minha barriga doía, com a mesma dificuldade levantei e segui para sala, lá estava Matt, Mad e mamãe. O casal estava sentado no tapete da sala, Mad com a cabeça deitada nas coxas do namorado e mamãe tentava manter-se acordada na poltrona.
– Eai cam-camba-a-ada! – as palavras demoravam a sair, mas eles levaram o olhar para mim.
– Precisamos levar ela pro A.A.A - resmungou Mad se apoiando nos cotovelos dei uma risada sonora.
– E você precisa ir pro A.S.A ! – exclamei e todos me olharam sem entender nada, rodei os olhos.
– O que é isso Anabelle?- perguntou Matt engolindo a risada.
– ASSOCIAÇÃO DOS SEXÓLATRAS ANÔNIMOS! – gritei apoiada no batente e quase escorregando.
– Vou ignorar apenas por que você está bêbada... – disse Mad um tanto incomodada.
– Vai ignorar por que tá com medo que eu conte pra mamãe o que você e o Matt estavam fazendo lá em cima... – lancei uma piscada para ela e a mesma se levantou ruborizada enquanto mamãe dividia sua atenção entre nós duas.
– Pare de inventar coisas Ana! – exclamou faltando dez passos para que me alcançasse.
– Só estou querendo dizer... – parei por um momento por conta do ataque de riso que me atingiu. – É que se eu quisesse assistir pornô eu compraria fitas de vídeo... – mais uma vez ri e ela se aproximou mais agarrando meu braço.
– Ok, você é a bêbada aqui! Chega de gracinhas por hoje dona Anabelle! – ela começou a me arrastar pelas escadas enquanto eu cantarolava qualquer canção com a voz embolada.
Matthew no seguia pelas escadas e um sorriso brincava em seus lábios, um sorriso que deixava suas covinhas aprofundadas, como eu amava aquelas covinhas... Lancei um beijo no ar para ele, antes de ser lançada contra a cama, ele riu.
– O que eu faço com você hein? – exclamava Mad enquanto ia até a porta fechá-la.
– Que tal um ménage? Olha que seria uma boa ideia, não é Matt? – olhei para ele que ria feito condenado e lancei um sorriso malicioso.
– MÉNAGE? ONDE VOCÊ APRENDEU ESSAS COISAS? – gritou exaltada enquanto puxava os cabelos da cabeça.
– Da mesma forma que você aprendeu a deixar seu namorado com a mão dentro das suas calças... – rolei pela cama ficando de bruços.
– Isso não pode estar acontecendo... –murmurou devastada.
– O que está acontecendo irmãzinha? – perguntei inocente rolando na cama de novo e me sentando rapidamente, ainda que com reflexos devagar.
– Senhor... O que eu fiz? O que eu fiz para sofrer assim? – ela suplicava olhando para o teto e eu ri.
– Sofrer do que Mad? Você tem um namorado gostoso, tira notas boas no colégio, e não sofre mais nenhum drama traumático... – Matt ria escandalosamente. – Ressaltando a parte do namorado gostoso! – exclamei olhando para Matt e umedecendo os lábios.
– AGORA VOCÊ PASSOU DOS LIMITES! O QUE VOCÊ ACHA? ACHA QUE EU SOU IDIOTA? – ela juntou-me pelos braços e começou me arrastar para o banheiro. – AQUELE NAMORADO GOSTOSO É MEU! – ri debochando de sua face entorpecida pela raiva.
– Uh é mesmo mana? – indaguei com a sobrancelha arqueada – Eu já disse que poderíamos fazer um ménage... – disse de forma despreocupada enquanto ela me soltava e se apoiava na pia atrás de si.
– O que eu faço com você Ana? – perguntou sem me encarar.
– Arranja mais vodka pra mim! – respondi sorridente enquanto sentia uma náusea me atingir e um breve formigamento nas pontas dos dedos da mão começar.
– Vou te arranjar uma babá isso sim!
– Eu já sei que babá quero! – respondi radiante trombando em seu corpo enquanto a náusea se intensificava. - ELE!
Tomei o último impulso que restava e sai correndo em direção a Matt que assistia a tudo sentado na cama de Mad, pulei sobre seu corpo e ele me segurou com os braços fortes, apenas tive tempo suficiente para dar-lhe um sorriso e então pus tudo que restava em meu estômago para fora... Sujando Matthew e a cama.
Ainda com as pernas moles me apoiei em seu peito e dei alguns passos para trás antes que minhas pernas falhassem de vez e eu caísse no duro, gemendo de dor. Podia ouvir uma risada sonora de Matt ainda.
– PARE DE RIR! ISSO NÃO TEM GRAÇA MATTHEW! VOCÊ FICA DANDO TRELA PARA AS CRIANCISSES DESSA IDIOTA! – Mad gritava longe e ainda com a vista embaçada pude vê-la se aproximando e arregalando os olhos. – ESTÁ VENDO! ESTÁ VENDO O QUE ESSA PIRRALHA FEZ? E VOCÊ AINDA FICA RINDO DE UMA MERDA DESSAS! – as risadas de Matthew pararam.
De repente a voz gritante de minha irmã foi se tornando mais fraca, até se tornar um ruído... Até se tornar nada... Até eu apagar de vez.
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