20 — Treat people with kidness
Draco Pov
Eu ainda estava muito sério, enquanto falava em resmungos raivosos e cheios de ameaça, porque sentia que era extremamente necessário.
— .... E eu juro, Weasley, que se você me irritar, eu vou te rebaixar, e você vai passar o resto da sua vida como fiscalizador!
— Eu sei, eu sei. Vou me comportar — Revirou os olhos, e mesmo desconfiado, me permiti bater na porta, aguardando.
É claro que eu sabia perfeitamente que iria me arrepender de ter escolhido Weasley para me acompanhar, mas não era como se houvesse outra escolha.
Quando informei para meus superiores que Harry iria ajudar com o reconhecimento de comensais da morte infiltrados, eles determinaram que eu poderia ser responsável, e que levaria comigo mais um auror para dar suporte.
Por se tratar de Harry, eu não queria levar qualquer auror para a casa do menino, afinal a localização ainda estava sendo mantida em segredo e não confiava em ninguém, então tive que chamar Ron.
Era a opção mais segura, embora a mais inconveniente também.
Eu sabia que ele não era uma pessoa ruim, é claro. Mas o fato dele estar regozijando pela maneira que Harry me tornava alguém ‘menos detestável’ me irritava muito.
Quem abriu a porta foi Harry, com seu costumeiro sorriso doce e gentil.
Assim que entramos, eu recebi o abraço saudoso de sempre, sentindo que Ronald estava nos encarando sem descrição alguma, com aquele olhar cheio de significados.
Merlin, ele iria me infernizar com aquilo depois.
— Oi Harry, como está?
— Bem. Vocês estão bem? — Ele falou, ao romper o abraço.
— Sim... Você lembra de Ronald? — Resolvi tentar tornar o ambiente neutro, ignorando o olhar de Weasley.
— Sim — Ele ergueu os olhos para o ruivo, com um sorriso gentil — Oi.
— Oi Harry! Espero que não se importe de me receber.
— Draco me avisou ontem que você viria — O garoto explicou, fazendo um gesto para que seguíssemos ele até a sala.
— E ele vem muito aqui? — Ele nem se conteve, questionando com curiosidade, como o bom intrometido que era.
— Menos do que eu gostaria — Ele rebateu com humor, enquanto nos acomodávamos no sofá confortável, e eu quis rir porque eu nunca passava mais de dois dias sem aparecer, e quando conseguia, tentava ao menos vir alguns minutos todos os dias para ver se ele estava bem.
Então, embora trabalhasse junto com Ronald, ainda assim Harry era a pessoa que eu mais via na minha rotina.
— Onde estão seus padrinhos? — Questionei, sentindo a falta de Sirius por perto, porque ele estava sempre de olho em Harry.
Ele ainda era muito desconfiado, e jamais deixava o menino sozinho.
— Dormindo — Respondeu com tranquilidade, e eu arqueei o cenho.
— Sirius está dormindo e te deixou sozinho? Onde está Remus?
— Moony está dormindo com ele — Admitiu, e a esquiva em sua frase me fez tocar seu ombro.
— Harry?
— Eu... posso ter colocado três gotinhas de poção relaxante no suco de Sirius — Confessou, e eu ri, sem conseguir me conter.
— Por quê?!
— Estamos perto da lua cheia, e ele está tão nervoso sobre eu ir para a escola, que não dorme nunca, e estava deixando todo mundo maluco com isso! Eu estou tentando relevar, porque sei que ele só está preocupado... Mas... daqui alguns dias ele vai precisar estar bem para ajudar a cuidar de Moony, então... — Deu de ombros, desatando a falar logo em seguida — Eu não fiz por mau. Sabia que você viria agora, então ficaria tudo bem, e eu não estaria sozinho. O padrinho confia em você, e estudei sobre a poção antes de fazer isso. Foi uma quantidade pequena, só para ele dormir e descansar por algumas horas e...
— Harry, calma — Toquei o ombro dele, que parou de falar, um tanto sem jeito, quase como se esperasse que eu o repreendesse — Foi uma ideia ótima. Sirius é um porre às vezes, eu sei disso. Já morei com ele algum tempo, e fiz isso várias vezes. Mas sem cautela, um dia em que ele me irritou muito, coloquei tanta poção do sono no chá dele, que passou três dias dormindo.
— E o que ele fez? — Questionou com um sorrisinho, e Ronald acompanhava nossa interação com grande curiosidade.
— Ele ficou irritado, é claro. Mas sempre podemos contar com Remus para acalmar a fera.
— Ele vai ficar furioso comigo — Choramingou, e eu sorri pela expressão adorável que ele fez, mas voltei a ficar sério quando ouvi Ronald soltar um riso disfarçado de tosse.
— Pode dizer que foi ideia minha — Ofereci, vendo ele rir.
— Não vou jogar a culpa em você!
— Se Sirius desconfiar que você é inteligente o suficiente para dopar ele, você nunca mais vai ver a luz do sol, Harry. Seu padrinho já está paranoico sobre a escola. É melhor não dar chances para ele surtar.
— Você tem razão — Ele ponderou, pensativo — Mas ele vai brigar com você!
— Não, ele não vai ter um desentendimento grande comigo. Eu criei uma força tarefa para cuidar de você quando for para a escola. Sirius vai pensar muito antes de me aborrecer. No máximo vai dar um show, mas nada grande — Garanti, seguro do que dizia.
— Então... tudo bem — Concordou — Você é sempre meu herói — Ele riu daquele jeitinho que eu amava, extremamente expansivo, se esticando para deixar um beijo singelo no meu rosto.
Merlin, era realmente difícil não ficar sorrindo para ele, por lembrar de Ronald nos encarando venenoso.
— Vou só ir ver se eles estão bem, e já podemos começar. Pode ser?
— É claro, doce — Garanti, só percebendo o erro que escorreu por meus lábios quando Ronald voltou a ‘tossir’.
Harry pareceu não entender nada, porque apenas sorriu gentilmente para nós, e seguiu na direção das escadas.
— Ronald, você esta por um fio — Avisei, assim que Harry já não pudesse nos ouvir, e o ruivo ergueu as mãos em rendição.
— Eu não disse absolutamente nada!
— Estou falando sério — Adverti, e ele revirou os olhos.
— É impossível você achar que eu não vou ficar chocado. Doce! É sério? Você colocou um apelido em Harry? Eu sou seu amigo há tanto tempo, e é extremamente difícil você me chamar de ‘Ron’! Eu demorei quase um ano para você deixar de me chamar de Weasley!
— E? — Inquiri, vendo ele voltar a revirar os olhos.
— E você até deixa ele te abraçar? E ele te beijar? Draco, a última pessoa que eu vi tocar em você, quase perdeu o braço!
Revirei os olhos quando ele trouxe a tona o acidente do escritório.
Quando ganhei uma secretária, ainda estava muito desabituado.
E no primeiro dia da garota que tinha um nome que eu não fazia questão de lembrar, ela foi falar comigo e tocou meu ombro para chamar minha atenção.
Eu não esperava que alguém fosse tocar em mim quando eu estava de costas!
Aquele foi o primeiro e último dia da garota, porque acabei deslocando o braço dela ao tentar me defender.
Eu não era bom com interações humanas.
— Aquilo foi um acidente! Eu não esperava que alguém fosse me tocar do nada!
— Ela estava te chamando, é sua assistente.
— Não se deve tocar nas pessoas só para falar!
— Mas Harry pode te abraçar só para dar oi?
— Não enche o saco — Rebatei, vendo ele revirar os olhos.
— Só estou dizendo que é engraçado ver que você não age como um robô perto dele — Deu de ombros, e eu revirei os olhos.
Maldito dia em que ele descobriu filmes trouxas sobre robôs!
Harry retornou, mas passou reto por nós, em direção à cozinha.
— Eu e o padrinho fizemos biscoitos! — Avisou, enquanto seguia apressado, e em um instante eu ouvi barulhos de alguns copos, armários abrindo e fechando.
Harry apareceu na porta sorridente, trazendo consigo uma travessa grande, com cheiro delicioso, colocando-a na mesa de centro.
Atrás dele, uma grande jarra de suco e alguns copos vinham flutuando.
Ele ficava cada vez melhor com sua própria magia, agora que se sentia confortável para usá-la. Eu nem conseguia imaginar no tipo de coisa que ele faria quando finalmente possuísse uma varinha.
Ron pareceu chocado com a mostra de magia, mas desistiu de dizer qualquer coisa quando Harry nos falou para comer os biscoitos de chocolate.
Realmente estavam ótimos, e mesmo que eu não fosse muito adepto a comer doces, a maneira como aquilo derretia na boca era fantástica.
Harry também estava se empenhando em aprender a cozinhar, porque achava inadmissível não saber, então aproveitava para ajudar seu padrinho e tentar aprender coisas diversas.
— Eu sei que você não come direito antes de vir — Harry comentou com um de seus sorrisos doces, e é claro que ele ter pensado em preparar biscoitos só porque sabia que eu tinha péssimos hábitos alimentares me fez sorrir espontâneo.
Como eu poderia resistir a demonstrar coisas, se ele ficava tendo aquele tipo de atitude?!
— Pane no sistema, alguém me desconfigurou — Ouvi Ronald resmungar quase cantarolado antes de enfiar um biscoito na boca, e me virei para ele com uma expressão feia.
— O que? — Harry questionou, confuso, e eu neguei com a cabeça.
— Não liga para ele. É um idiota — Avisei, e mesmo desconfiado, Harry deixou para lá.
— Estou curioso... O padrinho sempre diz que você é amargurado e odeia conhecer, conviver, conversar e ver pessoas — Explicou enquanto se sentava ao meu lado, também comendo biscoitos — Então como acabaram amigos?
— É uma boa história — Ronald falou com um sorriso, e eu revirei os olhos ao entender que ele queria contar — Quando tudo explodiu, e a guerra estava complicada, era comum existirem caçadores, que pegavam foragidos e os levavam para o ministério ou para... Você-sabe-quem, em troca de recompensas. Eu entrei nessa lista, porque todos os Weasleys são considerados de traidores de sangue. Nessa época, não ficávamos todos juntos, porque se algum de nós fosse pego, os outros iriam em suporte. Foi um tempo complicado.
Me mantive prestando atenção em Harry, receoso de como ele reagiria sobre falar abertamente da época da guerra, mas ele parecia tranquilo, atento ao que Ronald dizia.
— Então... Eu quase fui pego, e como me feri, fui buscar abrigo no Largo do Grimmauld. Era uma regra da Ordem. Quem precisasse de socorro médico, ia até a base secreta de lá, por causa de Remus. Ele sempre foi um ótimo curandeiro. E nessa mesma época, Draco estava refugiado lá.
— Mas... como ficaram amigos? Draco não confia facilmente nas pessoas. Sua presença provavelmente deixou ele desconfortável, não parece algo que geraria uma amizade com ele — Falou, e nós sorrimos ao perceber o quanto ele me conhecia a ponto de supor exatamente o que tinha acontecido.
— Então, na base do Grimmauld, nós não tínhamos como manter contato. Eu tinha um rádio velho, por onde tentava receber notícias, mas era um caos. Não poderíamos ser vistos, porque aquela era a base mais importante da Ordem. Nessa mesma época, Draco era irritadinho, e queria sair para ajudar ativamente. Mas Dumbledore tinha proibido ele de ser visto. Ele era o procurado Número um de Voldemort, por ser agente duplo e tudo mais — Explicou, e eu sorri ao me recordar de todos os cartazes com meu rosto, estampados por todo lugar, como principal fugitivo.
— Ficar trancado no meio da guerra não parece ser legal — Harry observou, e Ron assentiu.
— Sim, e ele ficou tão surtado sobre querer sair, mesmo não podendo, que em um dia eu perdi a paciência com ele, e o soquei no meio do rosto. Porque ele ficar o tempo todo preocupado não ajudava em nada, e estava tornando o clima terrível dentro da casa. A preocupação dele apenas fazia Sirius e Remus ficarem aflitos, e... como os nervos de todos não estavam em ordem, eu soquei a cara dele, e disse que seus surtos não iriam manter ninguém a salvo, e que se quisesse ajudar, que fizesse algo útil — Ronald falou orgulhoso, e eu arqueei o cenho para ele, vendo Harry olhando para mim em dúvida.
— Isso é sério?
— Sim — Ronald concordou, e quando eu fechei a expressão ele revirou os olhos — Ok, ok. Na verdade quem surtou fui eu — Se entregou, e Harry levou a mão até os lábios para conter um riso, se virando para mim.
— Você socou ele?!
— É, eu soquei. Bem no meio do rosto — Garanti, orgulhoso daquele feito — Ele ficava tão preocupado sobre a família, dizendo que todos deveriam estar mortos...
— Não pegue leve. Eu realmente fui um idiota naquele dia — Ronald me interrompeu, se virando para Harry — Eu disse que ele não estava tão preocupado quanto eu, já não tinha ninguém, porque a família dele estava do lado ruim, e a mãe dele estava morta. Fui um cretino, e mereci o soco. Sirius também quis me socar, mas Moony impediu. Mas a questão é que... não sei. Depois do meu surto, e de Draco jogar essas coisas na minha cara, eu quis fazer algo que ajudasse de verdade. Então começamos a bolar planos reais, enrascadas, e coisas do tipo — Explicou, dando de ombros — Em algum momento, acabamos nos tornando amigos.
— Convivência, então — Harry concluiu, e eu assenti.
— Eu tive que aturar ele. E depois que toda a bagunça acabou, nós fomos trabalhar no ministério, acabamos no mesmo setor — Comentei, vendo Harry sorrindo.
Ele sempre gostava de ouvir coisas sobre mim.
— É, o laço de amizade se formou depois da primeira vez que salvei a vida de Draco.
Harry franziu o cenho para ele, em dúvida.
— Foi ele que salvou, não foi?
Sorri ao ver que ele já conseguia identificar as mentiras deslavadas de Weasley.
— É, foi — Ronald deu de ombros, vencido — Mas eu poderia ter salvado ele se precisasse!
— Só você é estúpido o suficiente para perder a varinha no meio de um combate — Falei me recordando daquele dia, e do pânico de Ronald por não saber onde a varinha tinha caído, quando um feitiço o atingiu.
— E você não tem uma reserva? — Harry questionou inocentemente, mordendo um biscoito.
— Nenhuma pessoa tem varinha reserva – Ronald riu, e Harry franziu o cenho.
— Draco tem — Deu de ombros, e eu me virei chocado para ele, mal dando atenção quando Ron disse ‘ Mas Draco nem é uma pessoa’.
— Como você sabe? Da reserva? — Questionei, seguro que nunca tinha falado nada sobre isso com Harry, e ele ergueu os olhos verdes para mim, quase culpado como se houvesse sido pego fazendo algo ruim.
— Eu revistei você — Confessou, e eu arregalei os olhos, descrente de que ele me revistou sem que eu soubesse disso — No primeiro dia em Eroda, quando dormiu. Eu sabia que podia confiar, mas... quis conferir, porque sentia que você estava escondendo algo, sempre calmo demais para alguém que entregou a varinha com facilidade só porque eu pedi.
Eu realmente tinha o sono muito leve, e não imaginava que ele poderia me tocar sem que eu acordasse.
— E porque não disse nada?
— Porque você não queria me machucar, eu sabia disso porque vi que você era bom — Deu de ombros — Eu entendi que ia se manter com a varinha, para caso de emergência. Você sempre foi bonzinho comigo, eu sabia que podia confiar.
Sorri, ainda desacreditado com a astucia dele.
Quando eu achava que conseguia prever Harry, ele sempre vinha com algo que mostrava que ninguém poderia compreender sua inteligência e raciocínio impecável.
Eu não podia evitar me sentir orgulhoso de ver que aquele menino assustado e recluso que achei em Eroda, hoje era tão confiante e poderoso daquela forma.
— Então... Estamos com os arquivos. Podemos começar, ‘doce’? — Ronald falou, e sua ultima palavra vinha banhada de ironia, com um tom de deboche que me irritou em níveis absurdos.
Foi o que bastou.
— Segundo strike, Ronald — Avisei, com o cenho fechado, e ele parou o movimento de levar um biscoito até os lábios, chocado.
— Isso não pode ser um strike! — Bradou ofendido, me olhando de cenho franzido — Qual é, Draco! Foi só uma brincadeira!
— Strike? — Harry questionou, e o ruivo revirou os olhos.
— Os strikes de Draco — Justificou, mas o garoto continuou olhando para ele, sem entender — Você não sabe o que é um strike do Draco?
— Não...?
— É impossível você não saber. Todo mundo que conhece o Draco sabe o que é — Ronald insistiu, mas Harry me olhou com visível confusão — Você não faz a menor ideia?
— Não...? — Voltou a falar, em dúvida, e Ronald pareceu ainda mais chocado.
— Mas se você não sabe... Então significa que você não tem! Você não pode ser amigo de Draco se não tem!
— Porque... eu não tenho? — Harry se virou para mim, preocupado diante da frase de Ronald, e eu revirei os olhos.
— Um strike é uma coisa ruim, Harry — Expliquei, e ele se virou para Ronald, como se pedisse uma explicação.
É claro que a expressão confusa dele realmente era adorável, mas em algum momento deixava de ser novidade para mim, afinal eu ainda não havia descoberto se quer uma expressão que não fosse.
— Draco é alguém difícil de conviver. Irritar ele é muito fácil, embora na maioria das vezes ele ignore tudo que as pessoas falem ou façam. Mas se você o irritou a ponto de tirar totalmente sua paciência... Isso é chamado de Strike. Você tem direito a três strikes. A ultima pessoa que bateu os três, foi remanejada do setor.
— Longbottom nem tinha vocação para ser auror de campo— Me defendi, porque após o cara conseguir explodir uma sala inteira de evidências, não tinha como evitar me livrar dele. Neville era um perigo para si, e para o mundo. Estava bem melhor cuidando de papelada.
— Então... esse é seu segundo strike? — Questionou, e Ronald assentiu — O primeiro...?
— Foi no dia do soco — Ronald revirou os olhos — Estou surpreso. Ninguém consegue passar mais do que um mês com Draco sem ganhar um strike.
— Meus padrinhos têm?
— Um, cada um — Expliquei, dando de ombros — Um dia em que me levaram para o hospital, quando eu deveria estar no meio de uma luta para ajudar a ordem.
— Cara, você estava desmaiado, sangrando por toda parte. Ainda não entendo o que queria que eles fizessem! — Ronald resmungou.
— Que me acordassem e me deixassem lutar, não que me levassem para a droga de um hospital — Revirei os olhos com a lembrança frustrante daquele dia, mas suavizando ao ouvir Harry rir.
— Então... eu sou a única pessoa na sua vida a não ter um strike?
Assenti, sem saber ao certo o que dizer sobre.
Simplesmente não existia nada naquele garoto que não me agradasse, e qualquer uma de suas atitudes não conseguia ser nada além de adorável.
Não era surpresa alguma ele não ter strike comigo.
— Mas não é justo você me dar um strike só porque chamei ele de doce! — Ronald voltou para sua indignação, e eu arqueei o cenho.
— Ah, você mereceu esse strike! — Me surpreendi quando Harry defendeu, e olhei para ele, em questionamento — Você não pode me chamar de doce.
— Mas o Draco te chama assim!
— Mas só ele pode me chamar assim — Harry sorriu amável, fazendo aquela expressão que conseguia me deixar sem rumo.
Ronald não conseguiu fazer nada além de sorrir e aceitar sua punição, afinal era apenas um ser humano como qualquer outro, que não conseguia ir contra algo que Harry decidiu e eu sabia que de agora em diante ele iria se comportar, afinal tinha apenas mais uma chance de não ser banido da minha vida.
A política dos strikes costumava funcionar perfeitamente, e eu me orgulhava disso.
Depois de terminarmos de comer, finalmente conversamos com seriedade sobre como iríamos fazer o projeto de identificação, e Harry decidiu que era muito mais prático de mostrar, pelo seu toque, os rostos que se lembrava.
Assim, se eu reconhecesse algum, poderia achar mais fácil o arquivo da pessoa.
Ele ponderou por um instante, mas acabou resolvendo mostrar para Ronald também, e nós demos algumas risadas de como o ruivo ficou chocado com o poder de Harry.
É claro que com isso, ficou muito mais fácil.
Consegui reconhecer de primeira um antigo auror, que havia sido dado como desaparecido, e também o ex-chefe de departamentos de leis da magia.
Isso foi algo muito útil, e Ronald prontamente anotou os nomes, separando as fichas das pessoas que reconhecíamos.
Harry nos mostrou o total de nove pessoas, e dessas conseguimos reconhecer quatro.
Uma das lembranças era muito antiga, e o rosto não era muito nítido, mas conseguimos grande progresso com os nomes que já tínhamos.
Após uma conversa breve com Ronald, explicando que a história deveria ser que Harry olhou as fotos e reconheceu, porque eu não queria que pessoas soubessem de todo o poder dele, finalmente o ruivo voltou a organizar as pastas e as encolheu para guardar no bolso.
— Vamos voltar para o ministério e prender esses idiotas? — Ronald falou com um sorriso, e eu pigarreei.
— Oficialmente, meu expediente acabou há quinze minutos. Eu entrei mais cedo hoje — Expliquei, sem querer que ele fizesse um alarde sobre a minha visível intenção de ficar ali.
Mas como os padrinhos de Harry ainda dormiam, e posteriormente eu levaria a culpa pela poção do sono que Sirius bebeu, eu queria estar ali quando acordassem, para não deixar o garoto sozinho.
Mas é claro que Ronald abriu um sorriso muito bizarro, que fez Harry rir.
— O que foi? — Questionou diante daquela expressão, e o ruivo deu de ombros.
— Eu adoro a maneira como Draco fica orbitando ao seu redor — Falou sem nenhum pouco de descrição, ignorando minha expressão fechada de advertência.
— Isso... é bom? — Harry questionou duvidoso, me espiando com o canto dos olhos.
— Draco, por mais que frequentemente use essa máscara de insuportável, é uma pessoa sozinha. E nem sempre eu posso estar lá para animar os dias dele.
— Weasley...
— Mas desde que você chegou, ele parece diferente.
— De um jeito ruim?
— De um jeito ótimo — Sorriu, se aproximando para bagunçar o cabelo de Harry, que riu — Desde que você chegou, às vezes eu até acho que existe um coração... Ou ao menos um pedaço de um.
— Weasley, seu expediente não acabou. Vá emitir as ordens de prisão. Agora — Trouxe a minha voz de ordem, e ele sentiu a mudança de ar para a autoridade, porque assentiu.
— É claro, chefinho — Trinquei o maxilar, já cansado de passar tanto tempo na presença dele — Antes que me esqueça... Pensei que Sirius e Remus estariam aqui, mas posso deixar o recado. Teremos uma reunião da Ordem no próximo sábado.
— Aconteceu alguma coisa? — Harry questionou preocupado, e eu neguei.
— Não. No sábado faz aniversário do dia em que capturamos... você sabe — Expliquei, dando de ombros — É uma comemoração.
— Oh!
— Enfim... minha mãe pediu para avisar vocês. Disse que quem não aparecer, vai receber um berrador.
Sorri ao me recordar de todas as vezes que Weasley recebeu um berrador na escola.
— Enviar berradores é um talento da mãe dele. Te fazem querer morrer — Expliquei para Harry, que riu.
— Não sei se você... já se sente confortável para essas coisas... Mas estão todos convidados — Ronald se virou para o garoto ao falar, com um sorriso gentil.
— Vou avisar meus padrinhos — Harry garantiu simpático.
— Então... até a próxima, Harry. Já que você é imune aos strikes, por favor infernize a vida desse cara — Deu um tapinha nas minhas costas, e antes que eu pensasse em responder, saiu apressado pela porta.
No instante em que aporta e fechou, Harry se virou e me abraçou repentinamente, me deixando surpreso, e sem entender.
Ainda assim, cerquei ele com os braços, pousando o queixo nos cabelos cheirosos.
— O que foi isso?
— É que... estou sempre sendo inconveniente sobre te querer por perto o tempo inteiro... Mas ver o Ron falar essas coisas, sobre você gostar de mim... Me deixa feliz — Ele ergueu os olhos verdes para mim, extremamente sorridente.
Apenas pude retribuir o sorriso, sem saber se deveria responder algo, e ele me soltou em seguida, com aquele olhar bonito em seu rosto.
— Ronald é um idiota — Resmunguei enquanto seguimos novamente para a sala.
— Ele é engraçado — Deu de ombros — Sobre essa tal de comemoração da ordem... Você vai?
— Você quer ir? — Questionei surpreso, e ele mordeu o lábio inferior.
— Ás vezes fico com medo de estar em lugares com muitas pessoas, mas queria perder esse medo. Porque... eu vou para a escola, então...
— Mas não precisa se forçar a isso agora, Harry.
— Eu sei. Mas acho que estar em um lugar onde todos são da Ordem... Não vai me deixar assustado. E Ron vai estar lá, ele é engraçado. Meus padrinhos também. Acho que isso me faz sentir seguro. Sem falar que... seria legal conhecer mais pessoas. Você... vai?
— Sim — Concordei ao entender que ele queria que eu estivesse lá.
E não era como se eu fosse perder uma oportunidade de estar com Harry, de qualquer forma.
— Você vai adorar — Garanti — Agora... seus padrinhos ainda devem demorar para acordar. Quer tirar duvida sobre alguma coisa que estudou?
Era frequente Harry ter curiosidades quanto a sua leitura e estudos, e ele sempre questionava para mim e seus padrinhos quando não entendi algo.
Isso fez ele sorrir animado, e não demorou para que estivéssemos envoltos de uma longa conversa sobre algumas maldições, porque ele se sentiu curioso com elas e como funcionavam.
E era engraçado como as vezes eu simplesmente puxava Harry para a minha vida.
Eu nunca liguei de viver, apenas de passar um dia após o outro.
Mas arriscava dizer que nas poucas horas diárias que eu passava com ele, a única coisa que importava era aquele minuto, aquele momento, aquela vivência.
Deveria ter algo de muito errado comigo.
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