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História Eros Complex - Coração obscuro


Escrita por: jmaseul

Notas do Autor


Olá pessoas! Voltei, como prometido kkkk
Acabei tendo uns imprevistos durante a semana, e só pude betar o capítulo hj, me desculpem pelos possíveis erros

Tenham uma boa leitura/.

[capítulo editado: 20.12.21]

Capítulo 26 - Coração obscuro


— Im Jaebeom? 

O demônio citado estreitou os olhos, um sorriso amargo em seus lábios. O corpo rastejou pelo chão escuro até que estivesse do lado de Hwang, apoiando suas costas na parede. Hyunjin encarou o demônio com total choque, tentando compreender o que aquilo significava. Im Jaebeom estava preso, mas por quê? 

— E você deve ser Hwang Hyunjin. — afirmou o Im, deixando que um riso irônico deixasse sua boca. — Você não deveria ter brincado com o meu irmão, garoto. Ele sabe ser um pé no saco quando quer. 

Hyunjin piscou confuso, tentando assimilar o que se passava. Sua mente estava uma bagunça, o suficiente para que pudesse sentir uma pequena dor de cabeça. Tentando controlar a respiração compassada, Hwang virou-se para o outro com uma expressão severa. 

— Jackson Wang me disse que você era o Senhor D! 

— E você acreditou? — Jaebeom riu de novo, acenando negativamente com a cabeça. — Não deveria ter sido tão ingênuo, garoto. Jackson é o cachorrinho do meu irmão, faz qualquer coisa que ele quiser. 

Hyunjin cerrou os próprios punhos, sentindo a raiva dominar o seu corpo demoníaco. Não deveria ter apostado suas fichas tão cegamente no Wang. Havia desconfiado do demônio de alma desde a primeira vez que o vira, mas depois de seu discurso dramático no apartamento do Kim, deixou-se ser ludibriado pelas palavras do outro. Kim. Hyunjin lembrou-se do outro demônio, e sentiu sua mente encher-se de preocupação. Precisava saber sobre o paradeiro do outro. Esperava que o demônio estivesse bem. 

— Se você não é o Senhor D, o que você é? — Hyunjin retornou, tentando sustentar o olhar fixo que Jaebeom lhe dava. A expressão do demônio mais velho era no mínimo indecifrável. 

— Sou só um demônio castigado pelo destino, criança. — Jaebeom garantiu, deixando que as longas mechas negras de seu cabelo bagunçado caíssem pelos olhos. Castigado pelo destino. O que significava? 

— Vocês são mesmo irmãos? — Hyunjin questionou, tentando ligar os pontos em sua mente. O Im coçou a garganta de modo desconfortável, respondendo em seguida: 

— Adotivos, mas sim. 

— Se são irmãos, por que ele te mantém trancado como…— o Hwang deixou que as palavras morressem em sua boca, sem coragem para ditá-las em voz alta. Entretanto, Im Jaebeom não pareceu preocupado ao ouvi-las, e de modo natural, completou: 

— Um rato? Bem, talvez eu tenha irritado Christopher. — Seus olhos caíram para o chão abaixo de seus corpos, e os dedos tocaram a coleira em seu pescoço. — Mas isso é uma longa história. 

— Eu preciso saber a verdade! — implorou Hyunjin, sentindo os próprios olhos marejarem pelo medo. — Por favor, me conte a verdade! Eu preciso entender o que tudo isso é! 

O ar denso foi cortado pelo suspiro audível e cansado dos lábios de Jaebeom. O demônio voltou a atenção para o rosto do Hwang ao seu lado, e Hyunjin pôde ver a tristeza dentro de suas orbes negras, por mais que o rosto permanecesse impassível. 

— Certo, eu conto. — concordou o Im, sem nenhuma emoção na voz. — Mas lembre-se: foi você quem pediu. 

 

IM JAEBEOM

7 de maio de 1955, Seul. 

— Pai? Está tudo bem? — questionei assim que pude ver a figura do mais velho soltar o gancho de nosso telefone com violência. Sua expressão era apavorada, o que me fez levantar do sofá num pulo, totalmente nervoso. 

— Filho, aconteceu uma tragédia terrível! — ele garantiu, aproximando-se dos meus braços que o seguraram. Sua voz era embargada e desesperada. — Lembra-se do meu antigo amigo que mora na Austrália? 

— O senhor Bang? — sugeri, vendo o Im mais velho assentir várias vezes com a cabeça. — Claro que me lembro! O que houve?! 

O mais velho respirou fundo, e com dificuldade pelo próprio choque, explicou: 

— O homem surtou, meu filho! Matou a própria esposa e depois se matou. Eu não posso acreditar! 

Senhor Bang? Não podia estar certo. O homem sempre me pareceu tão gentil, com uma família perfeita. Meus olhos se arregalaram assim que me recordei da notícia que meu pai me dera ainda muito novo: seu grande amigo teria um filho. 

— E o garoto?! Eles tinham um filho, não?! 

— Felizmente, o garoto está bem. — meu pai garantiu, tremendo o corpo em seguida. Seus dedos agarraram o tecido de meu suéter com urgência. — Nós precisamos ajudá-lo, filho! Temos que ajudá-lo! 

 

— O que não sabíamos naquela época era que Christopher havia assassinado os próprios pais. — Jaebeom explicou, ainda sem emoção. — Ele culpou o pai pela tragédia e ninguém sequer o questionou. Quem desconfiaria de um garoto de treze anos? 

— Ele assassinou os pais?! — Hyunjin arregalou os olhos, incrédulo. — Por quê?! 

— Foi legítima defesa. 

— Legítima defesa? 

— Os pais de Christopher sempre menosprezaram o filho, e por isso, eram abusivos.

Desde muito novo, o garoto era maltratado. Sofria violência doméstica quase todos os dias. Quando irritados, seus pais o acorrentavam no porão da casa, assim como estamos agora, e o deixavam faminto por dias. Ninguém desconfiava de nada. Para todos, a família Bang era apenas mais uma família feliz e perfeita. Ninguém sabia o que acontecia de verdade por trás de suas cortinas. 

Christopher tentou denunciar os pais inúmeras vezes, mas nunca dava certo. Ou eles o pegavam no ato, e a punição era mais do que severa, ou os policiais acreditavam ser apenas um trote de um garoto desocupado. Em algum momento, Chris se convenceu de que a única maneira de se livrar do inferno que vivia seria se desse um fim em seus pais, e foi o que fez. Com seus responsáveis mortos, meu pai conseguiu a guarda dele, e então ele se mudou para a casa que tínhamos em Seul. 

— Desde a primeira vez em que o vi, eu sabia que havia algo de errado com aquele garoto. Ele pode ser um psicopata louco agora, mas quando humano, era apenas um garoto perturbado e traumatizado. Ele se arrependia de ter matado os pais, era possível ver o sofrimento em seu rosto. 

Eu não era um garoto exemplar, Hwang, não é à toa que me tornei um demônio também. Eu me envolvia com coisas erradas: roubos, drogas, bebidas, e mais algumas idiotices de um adolescente problemático. Entretanto, quando Christopher chegou, as coisas mudaram. Ele se tornou obcecado por mim. Ele nunca havia sido amado, e isso o tornava obsessivo por um apoio, por alguém. De alguma forma louca, ele viu em mim a figura de um irmão que nunca teve, e isso passou a se tornar doentio. Ele me queria para ele e só para ele. Christopher passou a me usar, manipular e chantagear para que fôssemos uma família de verdade, a família que ele queria. Mas eu não podia fazer isso. Eu não podia amá-lo como um irmão de verdade. Ele percebia, e isso o irritava muito. 

— Então ele começou a se machucar de propósito para ter a minha atenção. — Jaebeom explicou, assumindo uma expressão facial dolorosa em seguida. — E quando eu não dava, ele dizia para o meu pai que eu havia feito. 

— E o que o seu pai fazia? — Hwang quis saber, cada vez mais curioso por respostas. 

— Meu pai ficava louco. Ele acreditava em todas as palavras de Christopher, e me batia para que eu aprendesse a ser um homem de verdade e não um covarde que machucava o próprio irmão. 

— Isso é horrível. — Hyunjin conseguiu dizer, sentindo a garganta se fechar. 

— Eu sei. — Jaebeom riu, mas não havia diversão em sua voz. — Os anos passaram dessa maneira. Eu passei a fazer tudo o que Christopher queria, passei a viver por ele, com medo do que ele seria capaz de fazer se eu o desobedecesse. Mas um dia, eu perdi a cabeça, e ele também. 

 

3 de outubro de 1962, Seul. 

— Já chega! O que você quer de mim, afinal?! — gritei em pura raiva, soltando as mãos daquele idiota que insistiam em me segurar com força. Como sempre, Christopher havia me seguido pelas ruas de Seul. Ele não gostava que eu saísse, mas nem sempre suas manipulações eram o suficiente para me manterem trancado dentro de casa. 

— Irmão, eu estou tentando te ajudar! — ele insistiu, puxando-me para um dos becos entre as ruas. — Você não vê o que eu faço por você? Você deve ficar conosco, com a sua família, e não no meio da rua! 

Eu realmente acreditei que Bang mudaria o seu jeito com o passar do tempo, mas o mesmo garoto de treze anos estava ali, bem diante dos meus olhos: obsessivo, manipulativo e controlador. 

— Você não é a minha família! — gritei, já sentindo a raiva dominar o meu corpo. O Bang tentou segurar os meus braços outra vez, mas apenas me desfiz de seus toques.

— Im Jaebeom, não diga bobagens! — ele retrucou, e eu já podia ver a irritação visível em seu rosto. Por que ele não consegue compreender que isso é errado? Nossa situação não é saudável. 

— Não são bobagens, é a mais crua verdade que você não quer ouvir! Eu não te amo como um irmão, Christopher. Você não passa de um estorvo! Um garoto perturbado que acha que pode manipular quem quiser! 

— Jaebeom, eu estou te avisando…— ele grunhiu, e sua expressão se tornou severa o suficiente para que eu mesmo me tornasse apreensivo. Mas eu não podia mais parar. A raiva dentro de mim já havia nublado a minha mente. 

— O que vai fazer? — provoquei, empurrando o seu corpo para longe de mim. — Se cortar de novo e colocar a culpa em mim? Você gosta de me ver apanhando, não gosta?! 

Eu já tinha vinte e três, Christopher vinte, mas nossas idades realmente não importavam. Se o garoto se machucasse e colocasse a culpa em minha pessoa, eu apanharia do meu pai do mesmo jeito. Apesar de eu já ser bem mais forte do que o velho Im, eu nunca revidaria de volta, e o Bang sabia muito bem desse pequeno detalhe. 

— Você me obriga a fazer isso, é você quem não entende! — ele gritou em resposta, me empurrando com a mesma intensidade de volta. Senti minhas costas baterem com força contra a parede de tijolos do beco, o que fez um gemido de dor deixar os meus lábios. 

— É você quem não entende! — corrigi, raivoso. — Procure ajuda , Bang. Procure um médico, você está perturbado da cabeça! 

— Jaebeom… — O nome saiu de forma lenta e severa de suas lábios, mas eu não poderia me importar menos. 

— Você é maluco, eu não duvido nada que você mesmo tenha matado os seus pais! — Assim que as palavras saíram de minha boca, sua expressão ficou pálida de surpresa, como o de alguém pego no flagra em um crime. Espera aí… — Foi isso?! Meu Deus, eu não acredito! 

— Foi pela minha defesa, Jaebeom! Eles me machucavam, me tratavam como um animal! 

— Talvez eles não estivessem tão errados em fazer isso. Quem amaria um garoto doente como você?! 

Tudo foi rápido demais. Christopher, com uma expressão de completo ódio, simplesmente perdeu a cabeça. Fui empurrado novamente na parede, mas sequer tive tempo de anotar os detalhes do canivete que era retirado com rapidez dos bolsos de Bang. Fui atingido uma, duas, três vezes no estômago. Meus olhos se arregalaram, e tudo o que pude fazer foi gemer audível com a dor do canivete cortando a minha pele repetidas vezes. Quatro, cinco, seis. Quando Christopher enfim me soltou, desabei ao chão. A dor era insuportável, imensurável, e o sangue já jorrava de forma abundante pelo chão. Minha visão foi escurecendo aos poucos, a cabeça tombando para o lado, mas tive tempo de reconhecer a voz de Bang, desesperada e arrependida.  

— Não! Não! Deus! Me desculpe, irmão, me desculpe! Eu não queria! 

Christopher se jogou ao meu lado, seus braços me envolveram contra si, e suas lágrimas banharam o meu rosto. Mas nada disso importava mais. A dor e os gritos arrependidos de Bang passaram a ser só um detalhe distante, e então fui consumido pela total escuridão. 

 

— Quando acordei, já era um demônio de pecado. Sem memória, divaguei pelas ruas de Seul por um tempo, até que me recordasse do passado. E quando o fiz, eu sabia que precisava voltar. Christopher merecia ser punido pelo o que havia feito comigo. 

— Você o confrontou, como um demônio. — Hyunjin constatou, recordando-se da história que Bang Chan havia contado. — Você… o matou? 

Jaebeom negou com a cabeça, balançando as cordas de sua corrente até que estivesse sentado bem na frente do campo de visão do Hwang, ajeitando-se no novo local. Os olhos se conectaram com mais precisão, e Hyunjin pôde ver a dor através do olhar do Im. 

— Não, a minha intenção era ajudá-lo! Eu estava com raiva, sim, mas eu queria que ele me ouvisse, dessa vez de verdade. Que procurasse ajuda, antes que se corrompesse por completo. Mas eu fui ingênuo em acreditar nisso…

— O que houve? — o demônio Hwang conseguiu questionar, sentindo algo dentro de seu estômago se remexer de forma ruim. 

— Assim que ele me viu, como um demônio, ele acreditou que era uma mensagem do destino, uma segunda chance para nós dois como irmãos. E então, em um surto de loucura, ele mesmo se matou para que pudéssemos ficar juntos, desta vez como demônios. 

— Um corte no pescoço… — relembrou Hyunjin, lembrando-se da linha fina como tatuagem marcada no pescoço de Bang, vista com clareza assim que sua verdadeira essência veio à toda. Jaebeom assentiu com a cabeça, completando: 

— Com o mesmo canivete que havia me matado. Depois disso, eu tentei fugir. Sabia que Christopher não se lembraria de nada por um tempo, então tentei proteger o nosso pai e a mim mesmo. Mas ele voltou, mais cedo do que eu esperava…

— Como um demônio de alma. — completou o Hwang, e Jaebeom assentiu outra vez. 

— Eu tentei lutar contra ele, mas era impossível. Ele nos prendeu: a mim e ao meu pai, e nos garantiu que seríamos a sua família para sempre. Com os anos, meu pai não resistiu, mas eu, como um demônio, passei a ser o seu prisioneiro, e aqui estou desde então. 

— Ele distorceu os fatos. — relembrou o mais novo, cerrando o maxilar em irritação. — Jackson nos contou sobre você, mas o enredo era diferente! 

Jaebeom riu, não muito surpreso com as palavras do outro garoto. 

— Meu irmão é especialista nisso. — garantiu, dando de ombros. — Ele sabia que cairiam nessa. 

Hyunjin suspirou audivelmente, sentindo as peças enfim se encaixarem por completo. Christopher Bang, como o verdadeiro Senhor D, mandara Jackson Wang para enganá-los. Jackson, por sua vez, usara os nomes, personagens e datas verdadeiras, mas os fatos foram distorcidos e revirados o suficiente para que Im Jaebeom fosse considerado o verdadeiro vilão, tirando qualquer mínima desconfiança sobre o Bang. Hyunjin sentiu o coração acelerar novamente, o medo voltando com toda a intensidade. Se Bang Chan era o vilão, como derrotá-lo? 

— Você disse que quando era humano, Bang Chan não era um psicopata. — Hyunjin relembrou, sentindo a ansiedade dentro de suas entranhas. — Você tem certeza disso? 

— Absoluta. — Jaebeom garantiu, sem nenhuma hesitação em sua voz. — Ele se arrependeu pela morte dos pais, e depois pelo que fez comigo. Mas depois de se tornar um demônio, a humanidade que existia dentro dele se foi por completo.

— Ou talvez não. E se existir algo? Algum resquício de humanidade? — Hyunjin insistiu, ignorando a expressão desacreditada do Im. — Isso pode nos tirar daqui! 

Tudo o que Jaebeom pôde fazer foi rir, dessa vez alto e verdadeiro, como se as palavras de Hyunjin fossem a piada mais cômica do mundo. 

— Não seja estúpido, garoto. — Jaebeom debochou, balançando a cabeça em negativa. — Nada poderá mudar a cabeça de Bang. 

Nada? 

Hyunjin ignorou o olhar cômico de Jaebeom sobre si, deixando sua mente trabalhar com agilidade. Todo o demônio, por mais cruel que fosse, ainda possuía algum resquício de sua vida humana dentro de si. Se Bang Chan nunca foi um psicopata, e realmente se arrependia pelas vidas que uma vez tirara, isso tinha que significar alguma coisa. Sua humanidade ainda estava ali, talvez soterrada por baixo de todos os seus desejos demoníacos. 

A pergunta que Hyunjin não podia deixar de se fazer era: como trazer esse lado à tona outra vez? 

[...] 

Minho abriu seus olhos lentamente, e as poucas lembranças lhe vieram. Por mais que quisesse, nada havia sido um sonho: tinha sido pego por Bang Chan e preso em algum lugar do hotel subterrâneo com Seungmin. O Lee, aos poucos, foi reconhecendo a maciez do colchão contra as suas costas e do tecido do lençol contra seus dedos. Com dificuldade, ergueu-se e sentou-se na cama, anotando os detalhes familiares ao seu redor. 

E ali estava, no mesmo quarto sinistro de sua visão com Im Jaebeom: as paredes tingidas pela mesma cor de vermelho vívido, com exceção do chão, num tom forte e escuro de preto. A luminária, pendurada sobre o teto, pendia em uma luz forte e brilhante, diferente do que se recordava. E então a voz soou, assustando o Lee em seu próprio lugar. 

— Você finalmente acordou, achei que já estava morto. 

Minho arregalou os olhos, focando sua atenção na figura ao lado de sua cama. Só então seus sentidos ampliados retornaram, e o Lee pôde sentir a essência demoníaca do rapaz de mechas negras e chifres pontudos. O rosto também era familiar: Minho se recordava de ver suas feições quando foi empurrado pelos corredores de quartos do hotel subterrâneo, antes que um pano cobrisse o seu rosto e sua visão escurecesse. 

— Quem é você?! — Minho perguntou num tom raivoso, escondendo-se mais entre os lençóis da cama. O demônio pareceu achar graça, e despreocupado, respondeu: 

— Choi Youngjae, e você deve ser Lee Minho. — Após a afirmação, o demônio de pecado caminhou em passos lentos ao grande armário escuro do quarto. De lá, retirou um smoking preto luxuoso, que fora jogado para Minho. O sensitivo pegou o tecido da roupa no ar, franzindo o cenho pela confusão. Sua mente estava uma bagunça, e várias emoções tomavam o seu corpo: raiva, medo e curiosidade. 

— O que é isso? — Minho questionou, apontando para as vestes em sua mão. Youngjae arqueou as sobrancelhas de modo provocativo, respondendo como se fosse mais do que óbvio: 

— A inauguração do hotel vai começar em breve, e você é o convidado de honra do Senhor D, portanto, se arrume logo antes que eu perca a minha paciência. 

Convidado de honra? A frase se repetia em loop na mente de Minho. Bang Chan era um traidor, um demônio horrível e manipulador, e aquilo se assemelhava muito a mais uma de suas manipulações. Engolindo em seco, Minho ignorou o olhar severo do demônio Choi sobre si  e deixou a cama para que as roupas fossem trocadas. 

— Poderia se virar, por favor? — o Lee pediu ao demônio, que lhe enviou um breve sorriso provocativo antes de virar-se em direção a porta, o pé batendo impacientemente no chão. 

— Vamos logo, humano. Eu não tenho todo o tempo do mundo. 

Minho tentou controlar o tremor de seu corpo, retirando as roupas que trajava com rapidez e as substituindo pelo smoking luxuoso. Algo lhe dizia, no fundo de sua mente, que as coisas se complicariam a partir daquele momento. Só não sabia se era apenas uma preocupação mundana ou o pressentimento de um sensitivo. 

— Por quanto tempo eu fiquei desacordado? — o Lee quis saber, assim que terminou de colocar todas as peças de sua nova vestimenta. 

Youngjae girou seus calcanhares, voltando sua atenção para o humano. Com uma expressão despreocupada, caminhou em passos lentos até ele, ignorando o visível medo no corpo do Lee. Suas mãos demoníacas subiram até o colarinho do garoto, e seus dedos passaram a fazer o nó de sua gravata borboleta. 

— Uma hora? Talvez menos. — respondeu o demônio, finalizando a gravata. Seus olhos subiram, agora as mechas bagunçadas do Lee, e uma careta surgiu em seu rosto. — Tenho que arrumar esse seu cabelo. Fique parado. 

Nem se o Lee quisesse moveria o seu corpo. Estava apavorado com a aproximação do demônio, mas não se sentia em perigo. Podia ler as sensações no corpo do demônio, e por mais que uma clara ansiedade de impaciência fosse visível, não havia nenhuma aura de raiva. Os dedos do Choi ajeitaram as mechas escuras de Minho, e em questão de segundos, o Lee já estava supostamente apresentável. O demônio Choi o guiou para fora do quarto, e seus passos se seguiram no corredor amplo e avermelhado do hotel. Minho pensou em apressar os passos e fugir, mas a ideia deixou sua mente assim que o corredor deu espaço a um amplo salão de festas de arquitetura francesa. 

O salão estava repleto de pessoas, mas não eram simples pessoas. 

Eram demônios. 

Com chifres pontiagudos e olhos avermelhados, a agitação de pessoas se fazia pelo amplo salão, olhos curiosos lançados até Minho. O humano engoliu em seco, o pânico retornando com toda a intensidade. A essência que emanava dos demais demônios já deixavam Minho atordoado e enjoado. Minho sentiu a destra de Youngjae sobre suas costas, forçando seu corpo com uma força não humana para dentro do salão. Minho tentou revidar, mas foi inútil. Já era arrastado pelo piso polido, os passos apressados e atrapalhados. Choi o guiou por entre a multidão, o empurrando até que atravessassem o grande salão. Os olhos do Lee captaram os detalhes das portas duplas do lado oposto, e compreendeu que Choi o levava para o outro lado. 

Mas o que existia além daquelas portas? 

A resposta veio segundo depois. As portas se abriram num barulho audível, e a visão que teve foi o suficiente para que Minho arregalasse os olhos pelo choque. Outro salão, tão grande quanto o primeiro, mas sem a agitação de demônios aleatórios. No meio dele, uma mesa gigantesca de madeira maciça, onde um banquete dos deuses podia ser visualizado. Entretanto, o que realmente surpreendeu Minho foram os convidados. Os garotos, espalhados pela mesa, o devolveram um olhar estranho, um misto de preocupação com alívio. 

Eram seus amigos. 

— Sente-se, garoto. — Outro demônio, de mechas loiras e chifres curvados, ordenou de forma severa, empurrando o humano para que tomasse alguma atitude. 

Minho cambaleou, mas se segurou em uma das cadeiras vazias para conter o desequilíbrio.  Ainda tremendo, o Lee ajeitou-se na mesa ao lado de Han Jisung. Os olhares dos humanos se conectaram, e Minho sentiu o coração apertar dolorosamente. Seus amigos haviam sido pegos também, e agora estavam todos presos nas mãos de Bang Chan. 

— O que está acontecendo? — Minho sussurrou em pavor, envolvendo seus dedos com o do Han por debaixo da mesa. O toque enviou uma onda prazerosa por ser corpo por alguns segundos, mas logo a sensação ruim o dominou outra vez. 

— Eu não faço ideia. — Jisung respondeu, contendo os próprios olhos marejados. 

— Silêncio! — o demônio de chifres curvados gritou, sua voz severa vibrando nos corpos dos demais garotos. 

Minho cerrou os lábios com apenas raiva, levando sua atenção para seus outros amigos. Assim como ele, todos os garotos vestiam roupas em um tom forte de preto, com exceção de Juyeon. O cupido, sentado ao lado de Kim Seungmin, trajava vestes unicamente brancas, e sua expressão era marcada por dor e apenas isso. Minho sentiu uma breve queimação em suas costas, e logo entendeu: Juyeon havia machucado suas asas. Ou, quem sabe, o haviam machucado de propósito para que não fugisse mais. O pensamento não acalmou sua mente perturbada, mas o toque intensificado do Han em sua mão, sim. 

Minho deixou sua atenção de Juyeon e focou no fim da grande mesa. O lugar se encontrava vazio, mas algo dentro do Lee já lhe dizia quem seria o grande anfitrião deste banquete. A resposta veio segundos depois de seu próprio pensamento. Os poucos demônios no cômodo se agitaram, o medo em seus corpos podia ser sentido. Em meio a sussurros de urgência, as portas duplas foram abertas para que o seu grande senhor enfim chegasse. Minho focou a atenção na nova presença com nada além de raiva em sua expressão. Bang Chan se aproximou, passos lentos e despreocupados. Assim como si, trajava um smoking preto, porém, uma gravata vermelha em seu colarinho. Os cabelos loiros penteados formalmente para trás, os chifres avermelhados curvados para baixo. Seu olhos também possuíam uma cor vívida e escarlate, e as veias abaixo deles pareciam mais destacadas que o comum. 

O cômodo pareceu mudar de densidade, e todos os garotos encolheram instintivamente em suas próprias cadeiras. Felix lançou um olhar hesitante para Changbin, que ao seu lado, parecia em um próprio surto interno. O Seo respirou fundo e com força, desviando o olhar do Bang para focar fixamente na comida à sua frente. Christopher continuou sua caminhada despreocupada ao lado da mesa, até que finalmente alcançasse o fim do banquete. Lentamente, afastou a grande cadeira de madeira maciça, e enfim se sentou. Seus olhos avaliaram todos os garotos de forma quase fixa, e depois o grande demônio de alma cortou o silêncio mórbido e incômodo: 

— Amigos, é uma honra tê-los aqui. — disse, a voz tão tranquila quanto a de um humano, o que fez os garotos escancarem seus lábios. Como ele podia agir daquela maneira? 

— Amigos? — Seungmin quase rosnou a palavra, contendo sua vontade de se levantar de sua cadeira e pular no outro. Seria nada além de suicídio. Chan focou os olhos no rapaz, os lábios formaram um sorriso gentil, e ele logo ditou: 

— Seungmin, por favor. Não podemos deixar nossas desavenças profissionais interferirem em nossa relação pessoal, podemos? 

— Onde está Jeongin e Hyunjin? — Juyeon disparou, cerrando os punhos para conter sua raiva. Christopher sequer o olhou nos olhos, sua expressão facial assumiu algo entre irritação e deboche.

— Juyeon, como sempre me dando nos nervos. — riu em escárnio, balançando sua destra de forma teatral em seguida. — Os garotos estão bem, não se preocupem. 

— E temos que confiar na sua palavra? — Juyeon arriscou outra vez. Ainda estava em choque pela traição de Bang. Christopher riu baixo, bebericando um gole da taça de vinho diante de si. Depois, explicou: 

— Hyunjin está com o meu irmão, garanto que está mais do que seguro. E Jeongin é o meu bem mais precioso agora, e eu os garanto, machucá-lo está fora de questão. 

— Mas você já o machucou. — Minho pensou em voz alta, lembrando-se de sua pequena visão. A atenção de Chan foi para ele, e o Lee engoliu em seco. — As asas. 

Chan riu outra vez. Sua atitude não demonstrava nenhuma alteração. Ele realmente não parecia nenhum pouco preocupado com a cena que havia criado.

— Não foi pessoal, foi apenas necessário. Eu não queria que ele fugisse de mim. — Os olhos de Bang se focaram em algum ponto diante de si, dedos serpenteando a taça de vidro. — Você entende o que é isso, não é, Juyeon? 

Assim que a voz provocativa soou, o Lee pôde sentir as próprias costas doerem. Havia sido machucado, mas abaixo da terra, dificilmente seria salvo por alguém do Conselho. Estava preso, assim como Jeongin, e isso o deixava atordoado. 

— Pare de nos enrolar e nos diga o que esse circo todo significava. — Seungmin retrucou, assim que percebeu a expressão abatida do Lee mais velho. Chan riu alto, erguendo sua taça na altura do rosto. 

— Eu não posso ter um banquete com os meus amigos? — provocou, mas ao ver a expressão estranha no rosto dos garotos, negou com a cabeça. — Certo, confesso que existe uma segunda intenção. 

— Que seria? — Felix tomou coragem para questionar, sentindo o medo correr o seu estômago. Chan coçou a garganta antes de explicar: 

— Houve uma mudança de planos, e muitos de vocês foram inseridos acidentalmente na minha vingança. Por conta disso, estou disposto a negociar. Farei propostas para alguns de vocês, garotos. Se aceitarem, todos saem ganhando. 

— E se recusarmos? — Minho quis saber, intensificando o aperto de seus dedos na mão de Jisung. 

— Serão punidos assim como Hyunjin será em seu julgamento final. — Chan respondeu, sorrindo para os garotos em seguida. — Uma semana. Terão uma semana para pensar em suas respectivas propostas. Até lá, estarão livres, desde que não deixem os limites do meu hotel. 

— Livres? — Jisung praticamente sussurrou as palavras, piscando confuso algumas vezes. Chan ouviu perfeitamente, e logo justificou: 

— Fiquem juntos, façam sexo, armem planos contra mim, eu não ligo. Em uma semana, quero suas respostas no julgamento de Hwang Hyunjin, e então resolveremos isso de uma vez por todas. 

— Isso é loucura. — Changbin conseguiu dizer, hesitantemente trocando um olhar com Felix. O outro Lee sorriu forçadamente, tentando tranquilizar o Seo à qualquer custo. 

Ignorando a surpresa dos garotos, Bang Chan colocou sua taça sobre a mesa, levantou-se de sua cadeira, e caminhou em direção às portas duplas do salão. Antes fossem abertas por completo, girou os calcanhares, voltando sua atenção para os garotos outra vez, e as seguintes palavras deixaram os seus lábios: 

— Assim que a inauguração acabar, serão guiados ao meu escritório particular, de onde ouvirão o que eu tenho para lhes propor. Agora, se me dão licença, eu tenho uma inauguração para promover. Sintam-se em casa.

E tão rápido quanto veio, o grande Senhor D desapareceu. 

[...] 

Jeongin puxou as correntes outra vez, usando toda a força que podia, mas novamente, nada aconteceu. As hastes de aço, presas em ambos os punhos, apenas avermelharam sua pele e a machucaram mais ainda. Em um suspiro cansado, o Yang se jogou sobre a cama de seu quarto, encarando o teto avermelhado com nada além de ódio. Bang Chan havia os enganado. O loiro, como o verdadeiro Senhor D, aparecera no apartamento para sequestrá-lo, ferindo suas asas e se machucando no processo. Ninguém do Conselho apareceu para salvá-lo, já que suas asas já estavam prejudicadas para início de conversa. Se antes não estavam totalmente perfeitas, agora estavam completamente destroçadas. 

Jeongin se sentou na cama com rapidez, tentando pela milésima vez se teletransportar para longe. Não conseguiu, a dor era aguda demais para ser suportada sem que desmaiasse no meio do caminho. Um resmungo irritado saiu de seus lábios. Precisava fugir, precisava derrotar Bang Chan. Por ironia, quando a porta de seu quarto foi aberta com violência, foi a figura do loiro que apareceu. Trajava roupas formais e uma aparência impecável, os olhos em cor escarlate lhe fitaram com ansiedade. Jeongin se encolheu em sua própria cama, com medo de mais uma aproximação do suposto vilão. 

— Não se preocupe, garoto, eu não vou machucá-lo… —  Christopher garantiu, mais assim que recebeu um olhar de ódio de Yang, completou: — ... mais. 

— O que você quer comigo, seu desgraçado?! — Jeongin gritou com pura raiva, sem conseguir conter o seu lado corrompido. Bang pareceu achar graça, e rindo baixo, caminhou tranquilamente pelo piso escuro do quarto. 

— Você não precisa ser agressivo comigo. Não tenho nada contra você, na verdade, eu estou do seu lado. 

Jeongin riu em escárnio, sem acreditar nas palavras absurdas do velho demônio. 

— Se está do meu lado, por que me prendeu?! — disparou o cupido, puxando as próprias correntes que o prendiam de modo raivoso. Bang Chan apenas ignorou, sentando-se de modo despreocupado ao pé de sua cama. 

— Acaso do destino. — explicou, sorrindo mínimo. — Acabei perdendo a cabeça, mas isso foi bom. Sabe o porquê? Porque isso me levou até você, e agora sei o que preciso fazer.

Jeongin sabia que a resposta não seria agradável, mas a curiosidade dentro de sua cabeça falou mais alto, e a pergunta já saía de forma involuntária de seus lábios: 

— E o que é? 

Bang Chan sorriu largamente, contente pelo incentivo. Coçou a garganta, e com olhos focados, iniciou: 

— Preciso elevar o seu potencial. Esse tal equilíbrio pode ser interessante na teoria, mas na prática, nem tanto. Você está suprimindo o seu verdadeiro poder, e só eu posso trazê-lo à tona. 

Jeongin piscou confuso, sem compreender as palavras do grande Senhor D. O seu poder, a sua habilidade, já havia sido devidamente controlada. Ele estava blefando, não estava? 

— Do que está falando? — Yang disparou, cerrando os lábios com raiva. 

— Eu vou te ajudar, Jeongin. — Bang afirmou, mas sua voz soava maldosa. — Vou te corromper por completo, e quando perder a sua humanidade, será o cupido corrompido mais poderoso da história. Você será a minha arma especial. 

Jeongin tentou esconder seu próprio pânico, mas as sensações ruins já o dominavam. Seu coração acelerou de forma quase dolorosa, e o ar de seus pulmões simplesmente sumiram. Tudo o que pode fazer fora arregalar os olhos, protestando com a última voz em sua garganta: 

— Isso nunca vai acontecer! 

Chan só riu de novo, ajeitando a gravata borboleta avermelhada de seu colarinho. Bang levantou-se da cama em direção a porta, mas antes que pudesse deixar o cômodo, sua sentença final deixou os seus lábios demoníacos: 

— Nunca é uma palavra muito forte, não acha? Você quer isso, mais do que qualquer coisa, só não sabe ainda. E eu vou ajudá-lo, vou deixar a escuridão dominar as suas entranhas, e quando isso acontecer, o seu coração será especialmente e unicamente obscuro. 


Notas Finais


Julgamento?? Algo me diz que isso vai dar ruim

Oq vocês acharam do passado do Chan? Acham que existe salvação para ele ou ele será mesmo o vilaozao até o final? Fica aqui o questionamento rs

Jeongin full corrompido 👀 humm...Chan vamos com calma pô skksks

ps: eu ainda não acredito que já escrevi mais de 100 mil palavras dessa história KKKKKK estou em shock
ps²: me sigam no twitter, sou legal e juro que respondo a dm: @jmaseul


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