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História Escapar - Sólo en mí


Escrita por: bellaciaobitch

Notas do Autor


oi migas, voltei! to atrasada, eu sei, sorry! por isso nem vou falar muito aqui, vou deixar vcs com o capitulo logo.
Ah! Só um obs aos curiosos: a musica que ele escuta no fone se chama O Mio Babbino Caro do Giacomo Puccini.
Quero flood de comentários hein!? Obrigada por tudo, vocês são uns anjos!
Espero que gostem e boa leitura <3

Capítulo 20 - Sólo en mí


Yakutsk era uma das cidades mais geladas da Rússia e durante todos os dois meses que passou estudando o plano junto com os assaltantes, Raquel sentiu saudades do sol quente beijando sua pele. Sentia falta do azul do mar de Santorini, o aroma de flores de Veneza e do barulho da cidade de Dubai. Não que tudo fosse melhor ou mais fácil durante sua estadia nesses lugares, mas a ansiedade de sentir os dias passando embaixo da silenciosa neve que caia era no mínimo angustiante.

Rio conseguiu uma rede clandestina com Madri — a mesma que usava para conversar com seus pais — e Angel prometeu que iria controlar os ânimos na Espanha para que Raquel pudesse conversar com Paula e Marivi por videochamadas diárias. Era um alívio sempre que as três conversavam — ela sempre terminava com os olhos cheios de água enquanto ouvia sua filha tagarelar sobre o dia na escola — mas Laura nunca manifestou o desejo de ver a irmã e sempre que Raquel tocava no assunto, um constrangimento surgia no ar. Era mais uma das coisas que a ex-inspetora teria que lidar, quando toda essa confusão terminasse e eles finalmente voltassem pra casa.

No mais, a rotina era quase sempre a mesma. O grande casarão subterrâneo, que servia de esconderijo para eles, não era tão elegante quanto o apartamento de Nairobi mas também não caía aos pedaços como o Hangar do professor. Haviam lampadas e aquecedores por toda a casa, compensando a falta de luz solar. Os cômodos eram inúmeros e espaçosos mas a pouca mobília que havia era antiga e manchada pelo tempo. Só havia uma janela para o lado de fora, uma clarabóia no teto da cozinha, que Sérgio gostava de observar com Raquel nos braços depois da janta, contando as constelações enquanto pensavam juntos sobre o plano.

No começo a ex-inspetora observava as aulas de Sérgio em silêncio, sentada no canto da sala de aula improvisada. Com o tempo, passou a interromper os discursos dele mais vezes do que o aceitável para uma simples aluna e não demorou muito para passar de queridinha do professor para instrutora de luta corpo-a-corpo e tiro ao alvo. No entanto, em todas as aulas que ministrou — alinhando os cotovelos da gangue e explicando sobre o tipo de pólvora alterada que usariam para o assalto — Sérgio nunca quis atirar. Ela insistira que ele precisava aprender pelo menos o básico, já que artes marciais não era um problema para o professor. Mas só de ouvir o barulho do gatilho, ele parecia se assustar.

Por isso, quando acordou sozinha naquela manhã, se enrolou no cobertor e desceu as escadas procurando por ele, determinada a convencê-lo a praticar a mira. Quando finalmente o encontrou, deitado no chão revestido com espuma, fazendo abdominais, Raquel se inclinou sobre o batente da porta da sala de luta, tomando seu leite com café lentamente enquanto o observava. Ele estava sem camisa e com fones de ouvido; o suor escorria lentamente pelas costas e cada músculo de seu corpo tensionava toda vez que ele se inclinava para trás e para frente.

Os olhos de Raquel brilharam com a visão, sentindo algo quente crescendo na boca do estômago enquanto ela se aproximava. O professor estava muito distraído contando as repetições e não percebeu sua presença até que ela passou uma das pernas pelo corpo dele e se sentou em seus joelhos com um sorriso nos lábios.

"Você está fazendo errado", disse ela, cruzando os braços quando ele se sentou novamente.
"Bom dia para você também, inspetora" Sérgio riu “Você deveria ter esperado até eu tomar banho. Estou completamente suado”

"Eu não tenho nojo de um pouco de suor", ela respondeu e ajeitou o cabelo úmido dele. Sergio sorriu e levantou mais o corpo para capturar seus lábios, mas ela evitou o beijo.

"Você está fazendo errado", ela repetiu e levantou uma sobrancelha brincalhona. "Você pulou 17"
"Pulei?" Ele riu "bem, então deixe-me corrigir o meu erro"

Sérgio colocou as mãos de volta em sua cabeça e deitou no chão novamente, com raquel ainda sentada em seus joelhos. Contou as abdominais e depositava pequenos beijinhos na coxa dela seus toda vez que se sentava. Quando ele chegou perto de vinte dois, Raquel deixou seu impulso a guiar e encontrou os lábios dele com os dela. O beijo era salgado e ofegante mas a inspetora não deixou que se aprofundar muito: tinha algo mais importante para resolver.

“Vamos treinar tiro ao alvo hoje” ela disse nos lábios dele “Você vem?”

“Hmmm” ele murmurou sentindo a inspetora se afastar “Não pode ser amanhã?”

“Sérgio…”

“Eu sei, é que…” Sérgio suspirou enquanto Raquel se levantava. “Você sabe que não sou à favor de violência.”

“Bem, alguém me disse uma vez que não dá para assaltar a fábrica nacional da moeda usando pistolas de água, não é?” ela repetiu a fala dele, logo no início, quando se conheceram no Hanói. E Raquel sabia que ele se lembrava por que Sérgio se sentou sorrindo, meio encabulado.

“Vamos, professor” ela estendeu a mão para que ele se levantasse “é importante, você sabe”

Sérgio a encarou por alguns segundos, o rosto dela iluminado pela luz quente da sala. Seu semblante calmo lhe dizia que ia ficar tudo bem mas ele sabia que Raquel estava tão apavorada com a ideia do plano quanto ele. Ele concluiu que a insistência para armá-lo era mais uma maneira que Raquel encontrou de protegê-lo, da melhor forma que podia. Ela não estaria lá fisicamente, mas queria poder ser a pistola. Um tipo de máquina mortífera que disparava balas de metal cortando a garganta de quem ameaçasse a segurança de quem ela mais ama.

Ela enrugou as sobrancelhas brevemente e fez um pequeno beicinho. Por favor? Sérgio ouviu o não dito e abriu mais o sorriso. Os seis meses que passaram juntos foram bem úteis pra isso: entendê-la sem precisar de palavras. E ele gostava mais ainda de saber que ela o compreendia também.

“Ok” ele cedeu, pegando a mão dela. “Mas vou querer aulas particulares”

***

“Não é tão difícil quanto parece. Pelo menos não na teoria” Raquel comentou enquanto deslizava as balas pelo compartimento de munição da pistola. Sérgio sentiu um arrepio correr pela espinha e deu um passo involuntário para trás quando ela se virou para ele. Ainda faltava meia hora para o inicio do treinamento com o resto da gangue e Sérgio se sentiu aliviado em saber que seus alunos não testemunhariam a vergonha que ele provavelmente passaria com uma pistola na mão. Mas não a que ela segurava, claro. Raquel morria de ciumes da pistola preta que carregava, ligeiramente maior do que as que os outros costumavam a praticar. Nove milímetros ele se lembrou quando ela contou sobre Alberto pela primeira vez, no restaurante. Raquel parecia frágil e triste naquela época mas agora, limpando o cano preto com uma flanela, parecia no mínimo perigosa. Ou talvez fosse só coisa da cabeça dele.

“Eu atiro primeiro, você observa” ela disse parando ao lado dele. Apertou um botão num pequeno controle remoto que guardava no bolso da calça e, no final da sala, o alvo com a silhueta de um corpo humano desceu do teto.

Sergio observou, levemente inseguro, enquanto Raquel posicionava a arma entre as mãos à frente do corpo, com a postura perfeita. “Aqui você destrava, aqui você mira e aqui é o gatilho”

“Certo” ele disse.

“Depois é só…” a inspetora interrompeu a frase com os barulhos de tiro que ecoaram pela sala. Ela acertou três balas no alvo mas Sérgio nem chegou a ver porque recuou imediatamente com o coração acelerado. Raquel franziu as sobrancelhas mas estendeu outra pistola pra ele mesmo assim, a prateada que os alunos usavam “Vem, não vai te morder”

Ele pigarreou, nervoso. “O barulho é… bem alto”

“Posso dar um jeito nisso” ela sorriu “mas segure a arma pelo menos”

Ele fez o que ela pediu, meio sem jeito, e Raquel partiu de volta à mesa que guardava as munições. Achou em uma das gavetas o pequenino ipod branco que ele costumava usar para treinar exercícios e caminhou de volta até ele, observando a lista de músicas.

“Só clássico?” ela questionou “como consegue?”

“É meu favorito” ele riu

“Bom, então terá que atirar ao som de Mozart, ou sei lá” ela ofereceu os fones e Sérgio os colocou, as melodias agudas e leves da sinfonia lhe enchendo os ouvidos. Não era Mozart mas ainda assim, a suavidade da sinfonia saindo dos fones o deixou levemente mais calmo e confiante. Ele mal conseguia ouvir a voz de Raquel por cima do volume alto e, quando ela fez um gesto para que ele se posicionasse, Sérgio estendeu a arma sem tirar os olhos dela.

Raquel rodeou seu corpo, posicionando as pernas dele em paralelo e endireitando a postura. Depois voltou para frente e retirou um dos fones. “Não atire em regiões letais, não queremos matar ninguém. Estão sinalizadas com a fita vermelha”

Sérgio concordou com a cabeça e ela sorriu de leve antes de colocar o fone de volta no ouvido dele e autorizar que começasse. O professor não contou a Raquel mas sabia muito bem atirar. Treinou várias vezes antes de iniciar o plano e até mesmo arriscou praticar tiro ao alvo como esporte quando era mais novo e a ideia do assalto era um mero sonho. Andrés o ensinou a atirar, no quintal da casa de Nona. E talvez por isso, quando olhava para o manequim de madeira que servia de alvo, só conseguia ver o rosto do irmão.

Ele errou os dois primeiros tiros, o coice do disparo voltando com força nas mãos trêmulas. Raquel ficou inquieta ao seu lado e não demorou para voltar a depositar as mãos nele. Apoiou o ombro tenso e elevou um pouco o cotovelo dele. Mas Sérgio abaixou a pistola.

“A pontaria não é um dos meus fortes, Raquel” ele mentiu, retirando os fones sem querer admitir sua aflição. Ela o olhou nos olhos, estalou a língua e simples assim, Sergio soube que ela viu através da mentira.

“Não seja tonto” ela disse, entrando por entre os braços dele e apoiando as mãos dele de volta em posição.

“Relaxe” ela disse e inclinou o corpo dela mais pra perto do dele. O efeito do calor foi imediato e eficiente para amolecer os músculos do professor. “Respire fundo.” Raquel ordenou e quando obedeceu ele sentiu o cheiro familiar do perfume dela invadindo as narinas e regulando sua respiração ofegante. Nos ombros, os fones pendurados já tocavam outra música — agora a ópera de Giacomo Puccini ressoava tão alta que era interrompida somente pelo tilintar da trava da arma. A inspetora posicionou as mãos ao redor dos dedos dele e Sérgio não soube dizer se o som martelante que ouvia era do seu coração ou do dela.

“Mire um pouco acima, assim, calculando o coice da pistola” a voz dela era tão suave que quase entrava em harmonia com o som dos violinos nos fones “Firme os pés no chão e esvazie a mente. Não pense em mais nada só… só em mim.”

E quando Sérgio disparou, sem aviso prévio, a bala atravessou o peito do alvo em cheio, bem no meio do x vermelho que indicava o coração.



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