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História Escarlate - Enclausurada


Escrita por: mrs_hoshino

Notas do Autor


Desculpem o pequeno atraso TuT
Espero que gostem do cap~ BOA LEITURA!

Capítulo 7 - Enclausurada


Fanfic / Fanfiction Escarlate - Enclausurada

A água estava tão fria que parecia congelá-la de dentro pra fora, Luna batia o queixo e cerrava os punhos com força enquanto ia se habituando à temperatura. O céu, tão cinza quanto a água, não era nenhum consolo com seu ar frio matinal. Ela conteve um gemido quando subitamente afundou, emergindo segundos depois completamente ensopada, estava começando a se arrepender de ter saído tão cedo só para um banho… Mas precisava daquilo, um bom banho para relaxar e limpar o corpo, ao menos era a ideia.

As vestes finas que usava sob a roupa casual, colavam em seu corpo, contornando com perfeição seus seios e nádegas, o que fez com que ela afundasse novamente e olhasse em volta. Observou com atenção as árvores ao redor e o pequeno morro onde o acampamento ficava, tudo parecia morto, apenas alguns poucos animais se aventuravam para fora de suas tocas. Virou-se e olhou para o horizonte, mal conseguindo enxergá-lo sob a neblina. Sabia que do outro lado ficavam alguns dos montes mais bonitos de Pan Gu, mas se foi duas vezes até lá foi muito.

Escutou alguns pássaros cantando, indicando que agora sim era hora de acordar. Sair tão cedo fazia parte de outro plano: não ser molestada, isso se aplicava principalmente a Nabucodo. Ela não tinha o que chamariam de corpo ideal, mas mesmo assim não gostava que ficassem admirando o pouco que tinha. Se não pudera se dar ao luxo de esperar por alguém que a merecesse, ao menos reservaria o direito de escolher quem via o que e quando. Os homens tinham o péssimo hábito de achar que estava tudo bem olhar desde que não tocassem, isso não era bem uma verdade.

Ela suspirou, o olhar fixo em uma embarcação precária que já sumia no horizonte — provavelmente carregando pescadores voltando de seus trabalhos noturnos do outro lado do lago — e passou a mão pelo corpo como que tentando se livrar completamente da sujeira que sentia, ou da sua pele em si. Desde que fugira não tinha se dado esse luxo e uma camada de poeira havia se alojado em sua pele a ponto de incomodá-la. Passou a mão nos cabelos uma última vez e saiu, levando um murro do ar gelado tão logo se ergueu.

Havia deixado suas roupas, parte de sua armadura e sua espada ali perto, sob uma árvore de copa larga, então caminhou para fora do lago para se vestir. A roupa pesava em seu corpo mesmo sendo leve, aquela sensação molhada em sua pele a incomodava um pouco, mas não tinha como deixar aquelas peças secando, não vivendo em um lugar assim. Pegou a calça de couro e se preparou para o sofrimento de entrar molhada nela.

Ela já estava abotoando sua calça quando ouviu um galho se partir ali perto. Perto demais, pensou, já se agachando para agarrar a espada ainda no chão. Com a audição atenta no campo à sua frente, ela cometeu o erro de ignorar o espaço atrás de si, um erro que o homem aproveitou para ficar a apenas um passo de distância. Tão logo notou seu erro, ela se virou e posicionou a espada na garganta do estranho em um único movimento.

— Achei você. — Ele manteve os braços cruzados, assustadoramente tranquilo para quem estava tão próximo de uma lâmina tão afiada.

— Não é muito inteligente se aproximar por trás de mim assim, mestre. — ela bufou, se acalmando e baixando a lâmina conforme Nabucodo a empurrava pra baixo.

— Eu estava... distraído. — Ele sorriu, descendo o olhar para o corpo ainda molhado dela precariamente coberto por um tecido fino. Embora a parte de baixo estivesse coberta com a calça, os seios dela ainda estavam ali, tentando-o. Só aquele pedaço de pano o separava do êxtase total. Isso e a falta de interesse dela, é claro. — Queria me desculpar pela noite passada. Sei como Fataliz é e só queria protegê-la...

Luna vestia sua blusa por cima do tecido molhado, sentindo os olhos famintos do loiro queimarem cada centímetro exposto de sua pele. O que ele estava querendo com aquela conversa? Talvez quisesse desviar a atenção para Fataliz para que tivesse um caminho livre como alguém de confiança para ela... E aí uma coisa levaria a outra e ele acabaria conseguindo o que tanto quer. Ela riu de si mesma por estar se submetendo a um mestre tão infantil, seu nível caíra bastante. Não sabia se isso era bom ou ruim, mas ao menos ali ela se sentia um pouco mais livre e segura, mesmo com o ataque recente.

— Como vocês conseguiram fugir?

— Hum? — Ela desviou a atenção dos botões da blusa para ele, só então notando que estivera em silêncio até agora.

— Ninguém consegue sair ileso de um ataque dos mercenários. — Ele piscou para ela com um sorriso estranho no rosto

— Não diria que saímos ilesos. — Ela ergueu a mão ferida; o ferimento, totalmente à mostra por ela ter tirado as bandagens, estava com as bordas da pele semi cicatrizada úmidas, dando a ele um ar repugnante.

— Os deuses não gostam mesmo de você minha cara... — Ele se aproximou, envolvendo a mão que ela erguia entre as próprias. Ele puxou-a num movimento rápido, envolvendo-a num abraço forçado, e sentiu seu cheiro suave antes de apertá-la mais contra seu corpo. Sempre quisera saber como era ter uma feiticeira só pra si... — Mas eu vou protegê-la a partir de agor...

Ela o fuzilou com os olhos e o empurrou, forte o bastante para se soltar daqueles braços distraídos. Um silêncio se seguiu e ambos apenas se encararam por um longo segundo, até que o mais velho deu de ombros e sorriu para ela. Ele parecia indiferente... Que tipo de mestre não se importava com um ataque à sua tropa? Pior, ainda tratava tão casualmente do assunto? E ainda tinha o fato de ele tê-la assediado. É, ainda tinha isso.

Uma grande interrogação surgiu na cabeça de Luna. Nabucodo sempre foi meio intrigante, mas estava passando do seu limite naquele momento, o que enlouquecia o instinto dela e fazia com que seu corpo inteiro lutasse para manter uma boa distância dele.

Ele deu meia volta e começou a caminhar em direção à trilha do acampamento, deixando o lugar tão repentinamente quanto tinha chegado.

— Não esqueça suas coisas, alguém pode aparecer e roubá-las de você. — Ele a olhou de lado por sobre o ombro, indicando a pequena pilha de metal e ferro que pertencia a ela.

Luna não esperou que ele se afastasse, virando-se e controlando a vontade de vomitar que aquele toque lhe causara. Odiava ser tocada repentinamente, ainda mais por homens, desde... bem, desde sempre. Uma memória repulsiva saltou em sua memória e ela fechou os olhos com força. Não ouse se lembrar disso, ela disse a si mesma, enterrando-a com toda a força no fundo de um abismo em sua mente.

Com a mente ocupada em seus devaneios, ela ignorou os pequenos sons dos quais sua audição alertava insistentemente. Um erro imprudente, um erro que um mercenário soube bem como aproveitar, esmurrando-lhe na cabeça com um escudo. Instantaneamente Luna desmoronou, a cabeça sofrendo um impacto estrondoso contra a própria armadura.

***

— Merda... — ela rosnou quando finalmente acordou algumas horas depois, a julgar pela claridade que entrava pelo buraco formado pela ausência de pedras que servia de janela. Bastou olhar em volta para se dar conta do que tinha acontecido e tentar se levantar, o que só adiantou para apertar ainda mais as cordas interligadas desde o seu pescoço, passando pelos pulsos até finalmente chegar aos pés. — MERDA! — Ela se engasgou com a corda lhe enforcando, logo parando e encostando-se na parede de pedra enquanto recuperava o fôlego e olhava em volta. O lugar era escuro e úmido, com um cheiro de podre entranhado nas pedras que recobriam desde o chão até o teto, deixando o lugar abafado.

— Senti saudade desse seu linguajar podre... — o homem falou, sua voz baixa ecoou nos ouvidos da garota, que manteve o olhar fixo no chão. — Assim que não recebi uma mensagem daquela área, soube que tinha algo errado... Só uma coisa ainda me intriga... Como você foi capaz de lidar com dois homens armados rápido o suficiente para ainda conter um mensageiro? — Ele fez uma pausa, rindo após o silêncio dela — Porque, ambos sabemos que você não é capaz disso. Não sem nosso mestre. Quem te ajudou?

Ela recusava-se a responder, mantendo seu olhar inexpressivo fixo numa pedra qualquer, mantendo sua mente o mais longe dali... Mas isso só irritou o homem, que entrou na cela, empurrando a porta de ferro e provocando um barulho alto, e se agachou para que seus olhares ficassem no mesmo nível, puxando seu queixo com força e fazendo com que ela finalmente o encarasse.

— Eu realmente não estou pra brincadeira, Luna — ele praticamente rosnou o nome dela, depositando seu ódio em cada sílaba. Seus olhos eram negros e furiosos e a encaravam num olhar lascivo enquanto os lábios se apertavam com raiva. — Quem mais sabe da pedra?

Ela sorriu para ele, fitando-o com um olhar irônico antes de finalmente cuspir em seu rosto, a única forma que encontrara de expressar sua repulsa estando naquela condição. Ele limpou o líquido com a mão esquerda, rindo. Uma risada seca e cheia de fingimento, que foi complementada por um tapa que acertou uma das bochehas de Luna em cheio, fazendo com que ela batesse a cabeça na pedra e as cordas as sufocassem um pouco mais com o movimento brusco.

— Resposta errada.

O homem se levantou e saiu pisando forte, descontando sua raiva e impaciência no chão. A garota não lhe importava tanto quanto a pedra que carregava, não chegava nem perto. E só de pensar que ele tinha feito toda essa caçada por nada ele sentia cada músculo de seu corpo vibrar com o ódio que lhe dominava.

Luna ouviu a porta bater, suspirando um pouco aliviada. Estivera usando magia para camuflar a pedra pendurada em seu pescoço e quase tinha estragado tudo quando se desconcentrou e cuspiu no rosto de seu antigo colega de trabalho, por assim dizer. Ela sentiu algo quente escorrer em sua nuca, lembrava-se de sentir um grande impacto antes de desmaiar, provavelmente estivera sangrando desde então... Olhou em volta, percebendo que era a única forma de vida por ali, devia ser uma base recente o que significava que não teriam tantos mercenários protegendo o lugar.

— Ainda tenho mais uma chance... — Ela sorriu, nutrindo uma falsa esperança em seu peito enquanto calculava suas chances de sucesso. Praticamente nulas.

Seus dedos moviam-se rapidamente sob as cordas, os movimentos eram limitados mas precisos. Algumas fagulhas eram lançadas e em pouco tempo um fogo azulado libertara suas mãos, apagando tão logo os movimentos pararam. Apenas com as mãos livres, ela encarou as barras de ferro que a cercavam, partir uma corda era uma coisa mas partir barras de ferro era outra totalmente diferente...

Ela amaldiçoou a si mesma por ser tão incapaz quanto uma feiticeira de seis anos em treinamento, olhou para as próprias mãos e tentou se lembrar, em vão, das histórias que ouviu sobre sua mãe, uma feiticeira autodidata que era um exemplo para seu clã...

Talvez eu mereça isso, o preço que tenho que pagar pelo sofrimento que causei... Os olhos perderam o fulgor da confiança que tinham até segundos atrás, sendo tomados por uma fúria flamejante no segundo seguinte. Mas eles vão cair comigo.

A porta se abriu novamente, revelando um mercenário que mais parecia um goblin de pedra de armadura do que qualquer outra coisa. Ele caminhou tranquilamente pelo conjunto de celas germinadas até parar na cela ao lado da dela e só então Luna notou que debaixo de uma pilha de trapos tinha um alado, ou o que restara dele. As asas tinham sido brutalmente arrancadas e formavam cicatrizes disformes em suas costas magras cobertas de hematomas, seu abdômen coberto de cicatrizes movia-se lentamente indicando o quão doloroso era respirar.

— Pode levar — o goblin-mercenário ordenou a um guerreiro, consideravelmente mais baixo e musculoso, que o acompanhara e em seguida olhou na direção dela.

Seus olhos eram alaranjados — sendo que um deles era bem opaco e não parecia acompanhar o movimento do outro — e violentaram furiosamente aquele par azul pacífico, fazendo com que a garota engolisse em seco enquanto se concentrava em esconder a pedra com sua magia. Ele sorriu e entrou na cela onde ela estava, aproximando-se o bastante para escondê-la com sua sombra. Ela não se lembrava dele, procurou em todos os cantos de sua mente e não reconheceu aquele rosto, o que fez com que tremesse um pouco ao perceber que não sabia do que ele era capaz.

Ele se abaixou e ficou com o rosto a centímetros do dela olhando bem fundo em seus olhos como se procurasse algo que só podia ser encontrado ali, mas após alguns segundos ele bufou e fechou os olhos. Parecia... desapontado?

— Senhor?

O guerreiro que o acompanhara chamou da entrada da cela, mas apenas atraiu a atenção de Luna, que notou, com horror, que ele arrastava o alado pela perna. Ao perceber que a atenção da prisioneira tinha sido desviada para além dele o maior se virou, levantando-se ao ver que seu subordinado já estava pronto pra sair. Ele caminhou e parou na frente do menor, sorrindo satisfeito ao ver o estado do alado e dando tapinhas no ombro do guerreiro parabenizando-o por alguma espécie de conquista sádica e sociopata.

— Não vamos levá-la? — o guerreiro falou baixo, indicando Luna com a cabeça enquanto seu chefe passava por ele.

— Ela é um pedido especial do mestre. — Ele olhou para ela por sobre o ombro. — Já tem um destino bem miserável sem a gente interferir.

Luna podia jurar tê-lo visto sorrir enquanto dizia aquilo alto o bastante para ela ouvir, não se lembrava da crueldade dos mercenários alcançar niveis tão altos... Ela parou pra pensar, no fim seu trabalho ali se resumiu a apenas ajudar a tomar o controle das cidades. Ela nunca sequer soubera da existência de prisões ou sobre os métodos que eram aplicados aos inimigos... Quantas coisas mais escaparam de seus olhos iludidos?

Engoliu em seco. Por mais que não quisesse acreditar em algo assim, algo dentro dela sabia que Luna iria ter a resposta para a tal pergunta muito em breve.


Notas Finais


Não se esqueça de deixar nos comentários o que você achou do capitulo, além de criticas ou sugestões sobre a fic e seus personagens :3
Uma pergunta aleatória: O que acham do Nabucodo?


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