- Natalie! – Diana foi desperta de seus devaneios, olhou assustada para Lúcia. Será que ela pensou alto e Lúcia respondeu sua pergunta? – Ela está do outro lado da rua, na carruagem. – Ainda atordoada com tudo Diana olhou na direção da carruagem e viu uma mão, coberta por uma luva delicada chamando para que ela se aproximasse. Talvez aquele fosse o momento perfeito para questionar a morena, Diana pensou ao se aproximar da carruagem.
A passos lentos Diana se aproximou da carruagem, o que era quase que uma tortura para Natalie. Ela queria ter alcançado as duas mulheres antes, mas precisou ir em casa, chamar Harold e pegar a carruagem para encontrar as duas. A rua que elas estavam não era movimentada e também não era uma rua frequentada pelos nobres ou burgueses de Londres.
- O que faz aqui? – Diana falou mais ríspida do que queria, mas entendia que se vissem Natalie na presença dela ou de Lúcia, a reputação da Lady seria completamente arruinada.
- Por um momento achei que ficaria feliz em me ver, já que nessas ultimas duas semanas mal pude passar tempo contigo.
- Me perdoe, só quero preservar sua reputação.
- Gostaria de leva-la a um passeio.
- Natalie, não é uma boa ideia.
- Sempre nos vemos durante a noite, quero apreciar sua beleza à luz do dia.
- Eu não posso chegar depois que o sol se pôr.
- Prometo que voltaremos antes. – Diana ficou hesitante, era perigoso para as duas ficarem passeando durante o dia, mas ainda assim queria ir.
- Vou pedir para Lúcia levar minhas coisas.
- Podemos dar uma carona a ela, depois tomaremos nosso caminho.
- Certo! Vou falar com ela, só um momento. – Diana se afastou, foi em direção a Lúcia. – Natalie... – Sussurrou o nome para Lúcia. – Me convidou para um passeio.
- Você recusou, certo?
- Como poderia? Ela é bem convincente.
- Aposto que bastou ela pedir e você aceitou.
- É difícil dizer não a ela e também precisamos ter uma conversa importante.
- Bom, vamos, minha cesta e está pesada.
Natalie deixou Lúcia na porta de trás do bordel, não tinha problemas, pois aquela carruagem era apenas para suas saídas noturnas, portanto ninguém conhecia ela ou a ligaria a família Bordeaux, pensariam ser uma carruagem alugada. O cocheiro, que na verdade era Harold, o Valete de Natalie, usava um chapéu e um lenço no rosto. Duas batidas no teto da carruagem fizeram o cocheiro colocar os cavalos em movimento.
- Para onde vamos? – Diana estava preocupada e não fazia questão de esconder.
- Segredo. – Natalie sorriu e se aproximou dela. – Eu estava com saudades. – Admitiu sem vergonha.
- Eu também. – Diana olhou para as mãos, estava se sentindo envergonhada e um pouco intimidada, afinal Natalie estava apropriadamente vestida como uma Lady, portanto toda a beleza da mulher estava sendo exposta.
- Por que está tão quieta? – Natalie pegou a mão de Diana e beijou. – Se não se sentir confortável em irmos passear, posso pedir para...
- Não, não é isso.
- Aconteceu alguma coisa? Está chateada por que eu me ausentei bastante essas ultimas duas semanas?
- Bom, eu senti sua falta, mas entendo que sua prioridade é sua família.
- É que minha mãe é uma mulher muito controladora e não quero lhe envolver em problemas, por isso optei por esperar ela partir para poder voltar a passar noites completas com você.
- Eu compreendo. – Diana sorriu calorosamente para Natalie.
- Então por que está tão quieta?
- É a primeira vez, depois de tudo que aconteceu entre nós, que vejo você vestida como uma Lady.
- Isso te incomoda?
- Pelo contrario. Você é tão linda que eu me sinto intimidada em olhá-la.
- Intimidada?
- Sua beleza, ela simplesmente ofusca tudo ao redor e não sei se vou consegui controlar meu instinto de querer beijá-la a cada minuto.
Natalie se aproximou de Diana, segurou seu rosto com as duas mãos e selou seus lábios no da mais nova. O beijo era saudoso, nenhuma das duas queria quebrar o contato dos lábios e das línguas se tocando. Quando foi realmente necessário tomar ar, as duas se afastaram um pouco ofegantes. Não abriram os olhos, apenas colaram suas testas, sentindo o calor uma da outra. Natalie levou Diana num lago, que ficava próximo a estrada que levava ao interior. Elas precisavam caminhar por alguns minutos a pé, mas a carruagem ficou esperando por elas, já que a Lady avisou que não iria demorar.
- Quer segurar minha mão? – Natalie havia tirado as luvas dentro da carruagem porque sentia necessidade de tocar a pele macia de Diana, sem empecilhos.
- Não há problemas?
- Não. – A morena entrelaçou seus dedos no da mais nova. – Vamos nos sentar ali. – Apontou para o local próximo ao lago.
- Mas e seu vestido? Ele parece bastante caro para sujar desta maneira.
- Não se preocupe, tem uma pedra ali. – As duas se aproximaram do local e sentaram lado a lado. – É uma linda paisagem. – Havia um enorme lago, sendo parte dele iluminado pelo sol e a outra coberta por árvores. Um pouco depois do fim do lago, era possível ver gramas verdes, um tanto altas, mas ainda assim deixando a paisagem bastante bonita.
- É sim, mas você é ainda mais.
- Ah, que clichê. – Natalie passou o braço ao redor da cintura de Diana e as duas riram.
- Eu digo a verdade.
- Diana, como pode dizer algo sobre minha beleza se você se vê todos os dias no espelho. – Natalie deu um beijo na bochecha da mulher.
- Vamos iniciar uma discussão de quem é mais bonita agora?
- Não, pois se não eu certamente te vencerei.
- E como vai fazer isso?
- Tenho infinitas provas de sua beleza, ouso até a afirmar que você é a personificação da Deusa Afrodite.
- Odeio o fato de você ser tão eloquente.
- Só se for para falar sobre você, minha bela dama. – Natalie beijou as costas da mão de Diana.
- Natalie não quero ser a única a receber elogios, quero te elogiar também, afinal você é linda.
- Pode me elogiar o quanto quiser, mas nunca que minha beleza será superior a sua. – Diana revirou os olhos, se deu por vencida, Natalie não a deixaria ganhar. – Não revire os olhos, mesmo eu achando algo bem fofo.
- Você às vezes me irrita.
- Eu sei que é uma irritação passageira. – Diana encostou a cabeça no ombro de Natalie. – Eu gostaria de conhecer um pouco de você e que você conhecesse um pouco mais sobre mim.
- Tudo bem, pode começar.
- Qual sua idade?
- Dezenove. – Diana era mais jovem que Natalie imaginava. – Creio que você não deva ter mais do que isso.
- Tenho vinte e dois.
- Ainda assim não lhe daria mais que dezenove também. – Natalie riu por Diana estar tentando consolá-la por sua idade. – Por que não visita seus pais?
- Minha mãe não consegue entender que tenho minhas próprias vontades, sendo assim meu pai me mandou morar sozinha em Londres, desde muito nova.
- Eu sinto muito.
- Está tudo bem, já estou acostumada. – Natalie deu um beijo na testa de Diana. – Já pensou em largar essa vida?
- Já, mas eu sempre fui covarde demais.
- Eu agradeço a Deus por você ter sido covarde. – A morena a abraçou apertado. Sabia que era egoísta pensar daquela forma, não sabia e nem se quer podia imaginar o que Diana passou, mas ainda assim sua felicidade era tê-la viva, ao seu lado. – Eu quero que você olhe para mim. – Natalie segurou os ombros da mais nova e olhou dentro de seus olhos castanhos. – Eu prometo que te darei uma vida decente, você nunca mais vai precisar vender seu corpo.
- Natalie... Eu não quero criar esperanças, se não acontecer será muito doloroso, meu corpo fica fraco quando fico muito triste. – Diana desviou o olhar.
- Mesmo que você não acredite em mim, eu vou fazer isso.
- É impossível ficarmos juntas.
- Claro que não! – Natalie falou convicta. – Você não deve conhecer, mas Lady Anne Lister, se casou com Lady Ann Walker. Ambas eram muito ricas, isso é um fato que não podemos ignorar, mas ainda assim elas lutaram pelo amor que sentiam uma pela outra.
- Mas é possível, duas mulheres se casarem?
- Apenas legalmente, mas o que seria casamento? Assinar contratos?
- Natalie, elas eram ricas, eu sou uma prostituta pobre, sem documentos, sem nada.
- Você tem a mim, meu amor e farei de tudo por você, tudo mesmo.
- Vo-você me ama? – Diana estava entorpecida.
- Eu não sou muito boa em me expressar, você sabe que prefiro escrever sobre... – Natalie tomou folego, era algo complexo e muito delicado, mas era o que estava sentindo, então por mais que não fosse reciproco na mesma intensidade, ela precisava falar, para assim se sentir liberta e mais livre. – Diana, não quero que se sinta na obrigação de me retribuir, só diga se realmente sentir, mas sim, eu amo você.
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