Sinto cheiro de queimado, então decido levantar imediatamente. Vou para a cozinha e vejo Peter no fogão, muito fumo e panquecas queimadas. Ele continua fazendo e parece que não se importa com a fumaça.
Ligo o exaustor e desligo o fogão. Peter olha para mim e vem me abraçar, deixando as panquecas na frigideira. Eu sabia que ele não sabia cozinhar, mas isso é um crime contra a culinária.
— O que você está fazendo? — Olho para ele.
— Eu estava tentando te impressionar. Fiz panquecas, ovos, bacon não sabia o que você gostava.
Quero rir, mas me contenho. Os ovos estão péssimos, o bacon completamente queimado e foi frito em óleo, já para não falar das panquecas que estão pedindo socorro.
— Parece que está tentando me envenenar. — Pego na farinha. — Você ao menos sabe como se faz uma panqueca?
— Eu acho que é farinha, açúcar e leite? — Pergunta.
Meu Deus!
— Não! Não! Não! — Deito fora tudo que ele fez porque nada pode ser aproveitado. — Numa receita os ingredientes exigem certas quantidades. Você não pode simplesmente colocar farinha e leite e achar que vai ficar bom.
— Eu arranjei uma namorada que sabe cozinhar pela primeira vez na minha vida! — Ele beija o meu rosto completamente feliz.
— Sim. Mas não esqueça que eu tenho que trabalhar. Preciso ir para casa para trocar de roupa.
— Porquê você não deixa as suas coisas aqui? Assim, quando for dia de trabalho não precisa voltar para casa.
— Ainda é muito cedo para isso. — Beijo ele e começo a cozinhar.
— Quando você achar melhor.
Frito o bacon e mostro para ele como se faz. — O bacon é muito gorduroso, você não pode usar nada quando fritar. Apenas uma frigideira anti-aderente limpa e seca.
— Entendido, meu amor!
— E Peter! — Olho para ele. — Acho melhor você ficar bem longe do fogão por muito tempo. — Ou para sempre.
— Estava assim tão horrível?
— Eu sou sua namorada, então preciso ser sincera com você. Infelizmente, não nasceu para isso.
Ele cruza os braços e parece não ter gostado do que ouviu. — Quando eu via Sofia fazer parecia tão fácil!
— É fácil para quem sabe. Você não precisa ser bom em tudo, Peter.
— Então, eu vou deixar a cozinha para você. — Ele me abraça por trás.
— Você é bom com ideias! — Rio.
— Eu sei que sou. Vou tomar um banho enquanto você cozinha para mim. — Me beija.
— Está bem. — Sorrio e volto a minha atenção no fogão para não ter mais nada queimado.
A noite de ontem foi maravilhosa. Infelizmente, não avisei para as minhas irmãs que não dormeria em casa. Elas também não sabem que eu voltei com Peter. Na verdade, eu acho que ninguém ainda sabe. Gostaria de saber se os Tales vão reagir bem com isso, porque eu sou filha da Sofia, que trabalha para eles.
Tenho que encontrar um jeito de contar para minhas irmãs e para a minha mãe. Acho que Rubí vai ficar feliz, já Safira e Jade podem não gostar disso. E minha mãe disse que apoia qualquer decisão que eu tomar, então não vai ser um problema. Problema vai ser ficar na frente do senhor Gibson e da senhora Bella.
Termino de me vestir e faço o meu cabelo, ao mesmo tempo que Rubí. É estranho que ela não pergunte nada sobre o que aconteceu ontem, mas talvez porque está esperando que eu diga alguma coisa. Passo o perfume, lembrando que ainda essa manhã Peter disse que adorava o cheiro do meu perfume e do meu cabelo.
Pego na minha bolsa nova e coloco tudo que é necessário. Rubí continua olhando para mim. Eu não aguento esconder nada das minhas irmãs. Eu quero partilhar a minha felicidade com elas.
— Eu voltei com o Peter! — Digo simplesmente.
Ela sorri e pula como uma adolescente. — Eu sabia! Eu sabia!
— Eu acho que esperava essa reação de você.
— Isso é tão bom! Você está namorando com o Peter Tales.
— Eu sei. Mas o Peter é uma pessoa normal.
— Não. Ele não é. Tudo bem que errou com você, mas não deixa de ser um milionário, lindo de olhos azuis e que será o futuro presidente da Tales Tec. Eu quero que vocês se casem.
Rio. — Ainda estou tentando confiar nele aos poucos. Não me faça me arrepender da decisão que eu tomei.
— Claro que não! Mas diga para ele que sempre estive do lado dele e que eu adoraria receber de presente uma bolsa Prada.
— Rubí!
— O que foi? Eu tenho que aproveitar o único cunhado milionário que eu tenho. — Ela me abraça apertado.
— Você também pode ficar com um. Nunca se sabe.
— Eu não quero mais ficar com Renner. Quer dizer, ele é mulherengo, não trabalha, não faz nada, ele é a decadência ambulante! É por isso que eu aceitei sair com o Marcus.
— Muito bem! Ele parece uma ótima pessoa.
Ouvimos uma buzina, fazendo Rubí correr até a janela. Eu cheguei a conclusão que tenho uma irmã um pouco louca, outra sensata e séria e uma sincera e malvada. E quanto a mim, sou a Madre Teresa. É uma triste realidade. Eu gostaria de ser apenas a Esmeralda.
Recebo uma mensagem do Peter dizendo que está me esperando e saio do quarto com Rubí. Safira não dormiu em casa também e Jade saiu mais cedo para trabalhar, então estamos apenas as duas.
Peter desce do carro para me abraçar e me beijar, sem se importar com a minha irmã ou com os vizinhos. Agora, não temos mais nada a esconder. Agora estamos namorando de verdade e queremos que o mundo inteiro saiba. É uma sensação maravilhosa. Eu sinto que tomei a melhor decisão da minha vida ter perdoado Peter.
— Peter! — Rubí abraça ele também assim que Peter se afasta de mim. — Estou muito feliz por vocês, cunhado. Quero que saiba que eu insisti bastante para que Esmeralda te perdoasse.
Peter olha para mim sorrindo. — Nossos irmãos foram uma grande ajuda. — Volta a olhar para a minha irmã. — Obrigado.
— De nada.
— Vamos!
Ele abre a porta para mim e depois para Rubí. Eu estou feliz e parece que Rubí também, mas ela não precisava encher o meu namorado de perguntas durante o caminho todo.
Quando eu contar para a minha mãe, espero que esteja feliz por mim também. Preciso de todo apoio que precisar, já que Safira e Jade não estarão do meu lado. Preciso também saber se os pais de Peter vão reagir bem. Pelo menos, eu acho que já tenho o apoio dos seus irmãos. De momento, temos mais pessoas do nosso lado, do que contra nós.
No trabalho, tentamos disfarçar. Não seria muito bom os outros empregados saberem ainda. Principalmente porque poderia chegar até o senhor Tales, antes mesmo de Peter contar. Nem Rebecca sabe de nada e é melhor assim. Prefiro fingir que não está acontecendo nada.
Atendo uma mulher loira, que eu tenho quase a certeza já ter conhecido. Ela é bonita, bem vestida e sorri para mim. Mas a sua voz, eu já ouvi em algum lugar, só não consigo lembrar onde. Onde será que eu já ouvi essa voz?
— Muito obrigada, Esmeralda! — Ela diz e caminha até o elevador. Como ela sabe o meu nome?
— É óbvio que está casada por dinheiro. — Rebecca comenta, me fazendo lembrar dela e de onde ouvi a sua voz.
— Ela é a mulher do senhor Savage?— Pergunto com os olhos arregalados porque eu me lembro de ter ouvido a voz dela naquele dia em que uma mulher ligou para mim. Tenho 96% de certeza. Mas o que ela ia querer comigo?
— Você está bem? — Rebecca pergunta.
— Eu estou. — Na verdade, estou confusa.
— Você viu as roupas que ela está usando? — Rebecca ri. — Desculpa, mas o senhor Savage não atrai ninguém. Mas eu não culpo ela porque não é fácil ser pobre.
— Meu Deus, Rebecca!
— É a verdade. O mundo é das pessoas que têm dinheiro.
— Prefiro não comentar. — Meu celular vibra.
Abro a mensagem discretamente, para que ninguém perceba.
Peter: Podemos almoçar juntos?
Esmeralda: Claro. Aonde?
Peter: No RED, pode ser? Ou pode ser naquele restaurante inglês.
Esmeralda: Prefiro que seja no seu restaurante inglês.
Peter: Você está bem?
Esmeralda: Ótima, porquê?
Peter: Por nada. Tenho saudades de você.
Esmeralda: Estou trabalhando.
Peter: Eu também. Estou numa reunião agora.
Esmeralda: Então, nos vemos depois.
Guardo o celular e sorrio para Rebecca, que me olha de um jeito estranho. Será que se todos soubessem que eu namoro com Peter, iriam achar que eu sou como a senhora Savage? Que sou apenas mais uma interesseira que conseguiu alcançar seus objetivos?
Será que os pais de Peter achariam isso de mim? Eu tenho muito medo da reação deles ou que a senhora Bella não goste de mim e me diga para deixar o Peter. Mas eu não posso ser pessimista. Eu preciso acreditar que vai dar tudo certo.
Não paro de pensar na mulher do senhor Savage e agora que penso nisso, Peter disse que sabia quem tinha ligado para mim. Se as minhas contas estiverem certas, ela conhece o Peter e já tiveram alguma coisa no passado.
Olho para ele que está comendo e sorrindo para mim o tempo todo. Peter está sendo muito adorável e irresistível, tenho até medo de estragar tudo com as minhas desconfianças. Mas seja o que for, tudo ficou no passado, eu não posso ficar brava. Do mesmo jeito que não posso ficar brava por ele ter uma história com Madeleine ou com aquela outra mulher.
— Peter, eu posso fazer uma pergunta?
Ele sorri. — Está bem. Pode fazer.
— Você teve alguma coisa com a senhora Savage?
Sua reação não me agrada. — Porquê você acha isso?
— Hoje ela apareceu na empresa e disse o meu nome. Acho que foi ela que ligou para mim no outro dia.
— Sim, foi ela.
— Porquê não me disse nada?
— Pensei que não conhecia ela.
— Então, porquê ela fez aquilo? Vocês já estiveram juntos?
— Ela fez porque o Luke disse para ela fazer.
— E vocês já estiveram juntos?
Peter desvia o olhar, desconfortável. Se não fosse verdade, ele já teria dito que não. Eu seguro a sua mão por cima da mesa. Quero que ele saiba que não precisa me esconder nada. Principalmente o seu passado.
— Você disse que temos que confiar um no outro. — Digo.
Ele olha para mim. — Eu fui amante dela por algum tempo. Depois que eu esqueci Madeleine, ela me ensinou a bloquear os meus sentimentos e fizemos um pacto. Apenas isso.
— Você tem a certeza que ela não me faria mal?
— Ela só quer o dinheiro do marido. Não faria nada para perder seus benefícios.
— E quando vocês terminaram? Você foi amante dela por muito tempo?
— Não foi por muito tempo. E terminamos... recentemente.
— Como assim recentemente? — Afasto a minha mão da sua.
— No dia em que eu deixei você no trabalho. Mas eu juro que depois que nós terminamos, eu não dormi com ela em nenhum momento, não via ela.
— Então, quando a gente estava namorado, você estava com ela?
— Aquilo foi antes de eu perceber o que sinto por você, Esmeralda!
Seguro as minhas lágrimas e tento não ficar com raiva dele. Como eu já tinha dito, aquilo está no passado, ele mudou. Ele mudou e me ama, eu não devia ficar assim. Ele confia em mim e por isso está me contando essas coisas. Eu devia ficar feliz por ele estar sendo sincero comigo.
— Eu não quero mais falar sobre isso. — Digo.
— Meu amor, eu sinto muito! Eu não queria dizer assim, eu lamento.
— Não faz mal. Você disse a verdade.
— Me perdoa!
— Não faz mal. Está tudo bem. — Pego nos talheres e continuo comendo. Olho apenas para o meu prato.
— Esmeralda! — Não olho para ele. — Por favor, olha para mim.
Eu não olho para ele porque está doendo. Dói saber que ele dormia com ela, possivelmente quando eu ligava para ele, estava com aquela mulher, talvez rindo da minha cara. Eu sei que isso já passou, mas está doendo. Ele me traiu uma vez, mesmo que para ele não era nada sério, para mim foi sério cada momento que eu passei com ele. Para mim, tudo aquilo foi especial, e já perdoei por ter me enganado, mas ele me traiu! Traiu.
— Meu amor, por favor, fala comigo. Não faça isso comigo, Esmeralda! Aquilo foi um erro que cometi no passado. Não teve nenhuma importância para mim.
Ainda não respondo. Eu levanto e saio correndo do restaurante. Não posso mais ficar aqui. Eu preciso sair daqui. Procuro o carro de Peter e fico chorando. Está doendo muito. Como se não bastasse ele brincar com os meus sentimentos, ele me traiu. Me traiu com uma mulher muito atraente e bonita.
Choro e fecho os meus olhos depois de olhar para o meu reflexo no vidro do carro. Eu não sei se quero continuar descobrindo os podres do Peter. Eu não sei se vou aguentar. Eu tenho medo de saber tudo que ele fez.
Abro os olhos, quando Peter vem me abraçar. Eu não tenho forças para afastá-lo, eu apenas deixo que me console. Só quero que essa dor passe. Eu quero esquecer tudo isso.
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