Mais uma véspera de Natal havia chegado e estávamos, mais um ano, reunidos no sítio dos Mills. A noite havia acabado de chegar e depois que as crianças tomaram seus respectivos banhos, os adultos se revezaram entre tomar banho e ajudar nas últimas preparações para a ceia da grande noite.
Minha bailarina havia ido para o banheiro logo depois de mim, enquanto eu a esperava, cuidando da nossa mais nova integrante da família.
Olívia estava com cinco meses e apesar de ainda muito novinha, dava pra ver a semelhança com a mãe. Os cabelos negros e os olhos castanhos curiosos sempre me faziam sorrir quando brilhavam ao ouvir minha voz ou a de Regina. Era incrível como, mesmo depois de já ter passado pela experiência de três filhos, eu ainda não tinha me acostumado àquilo e sempre parecia ser a primeira vez.
Deitada sobre meu peito, ainda desnudo, a pequena Oli fazia barulhinhos com a boca e se distraía com as cenas do desenho animado enquanto brincava com as mãozinhas e eu apreciava a cena. Até que espirrei e ela se voltou para mim, como se quisesse entender o que tinha acontecido.
- Assustou, amor? - Brinquei tocando o narizinho fino e ela tendeu a abrir o sorrisinho banguelo. - Desculpa. - Franzi o cenho e ela levou a mãozinha até meu nariz, enquanto eu a virava para que não ficasse toda torta em meu colo. - Que foi, pequena? - Ela tinha parado por um instante e passou a me observar com os olhinhos caídos. - Será que você tá com sono, Oli? - Sentei-me direito na cama e deitei-a em meu braço após algumas tentativas dela de se manter ainda mais em pé, mas a luta contra o sono não podia ser vencida.
Enquanto via os olhinhos castanhos começarem a fechar, soltei as primeiras estrofes de Daddy's Little Girl, de Michael Blublé, cantando baixinho enquanto ela tentava se manter acordada para escutar mais da música, assim como vi um sorrisinho preguiçoso e involuntário surgir em meio a melodia.
You're the end of the rainbow
My pot of gold
You're daddy's little girl to have and hold
A precious gem is what you are
You're mommy's bright and shining star
Não demorou muito para que Oli estivesse dormindo tranquilamente em meus braços e logo a coloquei deitada de bruços como ela mais gostava de ficar. Aproveitei a deixa para me deitar ao seu lado, também de bruços, a fim de velar o sono da minha caçula.
O momento só fora interrompido quando ouvi o barulho do chuveiro cessar e alguns minutos depois, minha bailarina sair do banheiro. Levantei o olhar até o dela, passeando por seu corpo coberto pelo roupão vermelho, enquanto acompanhava seus passos se aproximarem e ela sentar-se na beirada da cama.
Senti seus lábios se comprimirem em meu ombro e quando ela se afastou, trocamos sorrisos genuínos.
- Trocou o sabonete? - Falei estreitando os olhos ao sentir o cheiro diferente.
- Mamãe me deu essa tarde, você gostou? - Perguntou enquanto se ajeitava a fim de que minha cabeça pousasse em suas coxas, quando eu já estava deitado de lado, e então recebi um carinho reconfortante em meus fios.
- Amei, tem cheiro de... - Tentei pensar em algo. - Não sei, é doce. - Um sorriso surgiu no rosto de minha esposa e ela levou a mão que tocava meu cabelo até minha barba.
- Amêndoas, com um toque de baunilha.
- Hm, tá bom mesmo. - Tomei a mão que estava em meu rosto e levei até o nariz, cheirando melhor e deixando um beijo no pulso. - Mas eu tenho que sentir direito. - Atrevi-me a desfazer o nó do roupão, vigiada pelos castanhos semicerrados.
- Ah, tem? - Afirmei quando me aproximei de sua barriga lisa e pude sentir o cheiro novamente, não resistindo em deixar alguns beijos no local e ouvir alguns risos baixos.
- Sua filha está bem ali, senhor Locksley. - Uma repreensão em tom baixo fora ouvida.
- Minha filha... - Dei mais um beijo no ventre. - Dorme como pedra. - Mais um beijo. - E você sabe disso porque ela é igualzinha a mãe. - Mais um beijo e risos foram escutados por mim. - Além disso... eu só estou beijando sua barriga, nada de mais. - Dei um último beijo e sorri de forma inocente, observando o semicerrar dos olhos castanhos novamente.
- Se eu não te conhecesse bem, Robin, até acreditaria. - Fiz uma cara de falso espanto e ela sorriu, segurando, por fim, meu rosto e levando seus lábios aos meus, deixando ali um beijo preciso e demorado. – Pena que estamos em cima da hora e não tem ninguém para olhar Oli agora. – O lábio carnudo inferior ficou preso sob os dentes dela. – Se não... – As mãos da minha bailarina foram da minha barba para meu peitoral, percorrendo um caminho tortuosamente lento. – Eu não ligaria de você sentir o cheiro do sabonete por todo o meu corpo. – Fechei os olhos quando ela pousou a mão no cós da bermuda que eu usaria naquela noite e respirei fundo.
- Você não tem jeito. – Voltei a olhá-la e percebi o sorrisinho vitorioso dela, quase inocente, mas eu sabia que aquilo era o menos inocente possível.
- Precisamos trocar de roupa. – Mudou de assunto, levantando-se e pousando minha cabeça de novo no colchão. – Vem. – Quando ela puxou-me pela mão, levantei e após cercar com travesseiros nossa pequena menina, roubei alguns beijos de minha esposa e deixei que ela trocasse de roupa, assim como eu acabava de me ajeitar.
➳➳➳❥
O dia tinha sido corrido para todo mundo. Com muitas crianças na família, não tínhamos folga. Eu ainda era muito ativa, mas depois de quatro crianças, não posso negar que a energia às vezes caía e eu me sentia cansada, ainda assim, aquele clima natalino era o que mais me fazia feliz. Por tudo que significava e por, principalmente, reunir todos que eu amava em um só lugar. Inclusive, Mari, o namorado e Alice, a bebezinha deles de um mês, a qual era afilhada minha e de Robin, além dos pais dela e o irmão, virem para o natal desse ano também. Seria uma grande festa e eu estava animada.
Depois das várias tentativas de sair dos braços de Robin, curtindo os muito beijos, abraços e cantorias baixinhas em meu ouvido, consegui me ajeitar, assim como ele e descemos ainda com Olívia dormindo.
Como tínhamos deixado para tomar banho por último, quando adentramos o cômodo grande da sala de estar, todos já se encontravam conversando animadamente pelo recinto e após colocar a caçula no carrinho, segui para cumprimentar cada um que ali estava, seguida de Robin.
As crianças já brincavam animadamente na parte externa da grande casa. Robin e eu sempre concordamos com a questão de ter uma família grande e ainda ter nossas respectivas famílias unidas e o fato de nossas irmãs também terem tido mais de um filho cada uma, fazia a alegria de todos nós e principalmente dos avós.
- Ah meu Deus, olha que coisinha mais linda. – Aproximei-me mais da mãe de Mari, cumprimentando-a com um beijo no rosto e depois me direcionando para a pequena Alice, adornada em um macacão de veludo na cor amarela, com flores coloridas por toda a extensão do pano e uma fitinha amarela no cabelo. – Ei amor da dinda. – Soltei com a voz fina e a avó me entregou-a, direcionando um sorriso pra mim enquanto a pegava no colo e os grandes olhos verdes se fixaram em mim. – Você está uma graça. – Sorri para a bebê e dei-a um cheirinho no pescoço, sentindo-a encolher-se um pouco.
- Olha só como ela está linda. – Robin se aproximou, tocando o rostinho da pequena e afirmei. – Como ela se parece com Mari. – Concordei novamente com um sorriso.
- Por falar nisso, onde ela está?
- Na cozinha com Zelena e Rose. – Meu músico me respondeu.
- Vou vê-las. – Entreguei Alice para Rob, que a pegou de prontidão e sentou-se no sofá ao lado dos pais de Mari e depois de sorrir para a cena e beijar os dois, segui para o cômodo que ele indicou.
Tudo corria bem no decorrer da noite e comíamos petiscos esperando o pernil assar completamente, o que ainda demoraria cerca de uma hora. Estávamos todos à direita da piscina, sentados na grande mesa de madeira. Alice já se entregara ao sono, assim como Oli, que acordou apenas para mamar e logo voltou a dormir. Ambas estavam deitadas em um bercinho na sala, em um lugar que dava para vê-las perfeitamente de onde estávamos. As crianças maiores não paravam de correr um minuto e mesmo que Poli entrasse na brincadeira com eles, minha primogênita mais vigiava os irmãos e os primos do que corria com eles. Já com 14 anos, se sentia responsável para fazer esse papel e não negava que amava aquilo.
Sorri para minha menina. Ela estava tão grande. Quer dizer, não que fosse difícil chegar à minha altura, mas vê-la tão dona de si, fazia ao mesmo tempo meu coração se orgulhar e se apertar. Sem maiores precedentes, lembrei-me de alguns momentos quando tínhamos apenas ela e meus olhos marejaram. Apenas me situei quando senti as mãos do meu músico em minha cintura e virei-me para ele.
- Está tudo bem? – Ele ajeitou alguns fios meus de cabelo atrás da orelha.
- Está sim. – Sorri. – Me distraí olhando as crianças.
- E Poli. – Ele completou e afirmei. – É difícil ver nossa menininha crescer, não ser mais criança, não é? – Concordei novamente, ouvindo-o suspirar. – Faltam poucos meses para ela completar 15 anos. Meu Deus, como o tempo passa.
- Exatamente isso que estava pensando. – Novamente meus olhos marejaram e ele limpou a lágrima solitária.
- Ainda bem que temos mais três para viver todos esses anos de criança ainda. – Sorri e afirmei, abraçando-o ao final e permanecendo ali por um longo tempo.
- Mãe. – A voz tão conhecida me chamou.
- Oi amor. – Virei-me para ela.
- Está tudo bem? – Preocupada como sempre.
- Está sim. – Virei-me completamente para fora da mesa e chamei-a para sentar-me em meu colo. – Eu e seu pai só estávamos relembrando algumas coisas. É a data sabe? – Toquei-a no nariz e ela sorriu.
- Eu sei mãe. – Abraçou-me de lado, enquanto Robin sorria para nós duas. – Ei, nós podemos brincar com aqueles jogos de tabuleiro do vovô? – Perguntou-me.
- Eu acho que sim, meu amor, mas pergunte a ele primeiro, está bem? – Ela afirmou e levantou-se, deixando um beijo na bochecha do pai, para logo sair correndo. – Devag... – Não adiantou falar e cortei a frase, vendo-a sumir para dentro da casa a procura do avô, que tinha ido à algum lugar. Risos de meu músico foram ouvidos e voltei-me para a conversa da mesa depois de receber um beijo no ombro.
Distraí-me naquela conversa animada. Até que alguns segundos depois um grito agudo seguido de um barulho e um choro forte fora ouvido e colocou todos nós em alerta.
Tinha vindo de dentro da casa e eu saberia distinguir, não era do meu pai o grito.
Era de Poli.
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