História Espelho da vida (Paulícia) - Partidas

Alícia Gusman 

- QUE PORRA É ESSA? - Acordei no susto com um grito. Assim que abri os olhos, vi Mário parado na porta do quarto de olhos arregalados e Marcelina atrás dele com a mão na boca. olhei pro lado pra ver o que deixava eles assim e Paulo estava dormindo abraçado a mim. suas pernas estavam por cima das minhas, logo eu o acordei.

- Paulo,acorda - Falei e ele abriu os olhos, levando um susto com as visitas. 

- RESPONDE PORRA, O QUE TÁ ACONTECENDO AQUI? - Mário gritou, estava soltando fumaça.

- A gente tava dormindo se você não percebeu. - Paulo reclamou, se sentando na cama e passando a mão pelo cabelo. eu não sabia o que fazer, tinha certeza que Mário ia pensar merda.

- Mário, a gente já conversou sobre isso. - comecei mas ele me interrompeu, balançando a cabeça negativamente.

- Não não, nós conversamos sobre o segredo de voces. - Ele suspirou - uma coisa bem diferente é eu chegar aqui e vocês estarem no escuro, dormindo grudados. O que que voces fizeram antes hein?

- Mário, pelo amor de Deus para de ser doente. - Paulo afirmou revirando os olhos e Mário ameaçou ir pra cima dele, mas Marce o segurou. Paulo deu risada. - Vai querer me bater agora?

- Paulo,fica quieto. - pedi o encarando e ele suspirou. - Amor, a gente só tava dormindo, o que que tem demais nisso?

- Não me chama de amor Alícia, tenha o mínimo senso. - Mário falou e eu bufei, que droga. - Não quero mais continuar isso.

- "isso" é o nosso relacionamento? - perguntei levantando da cama e ele assentiu, seco. - Você tá terminando comigo Mário?

- tô. - Ele disse. em alto e bom tom. - Você não gosta de dormir agarradinha com o meu melhor amigo? agora você pode fazer isso e muito mais, se é que não fez..- não o deixei terminar, dei um tapa estalado em sua bochecha e ele calou a boca na hora.

Paulo estava olhando pro chão e Marce ainda estava sem reação.

- Você é um idiota. - Agora eu fui áspera, ele estava falando muita merda já. - Achei que confiasse em mim.

- Eu confiava até chegar aqui e me deparar com aquela cena. - Ele não estava nem um pouco arrependido, e aquilo me deu vontade de dar mais uns 10 tapas na cara dele, mas eu me contive.

- PARA - explodi e Mário fechou os olhos - Eu nunca nem pensei em trair você, se é o que você quer saber. - Me descontrolei - E se você quer saber, eu e Paulo estamos próximos porque um espelho maluco apareceu e começou a contar coisas estranhas sobre nossa outra vida.

- Alícia.. - Paulo disse mas eu balancei a cabeça.

- Não, agora eu vou falar. Você pode até não acreditar, mas é isso. - Suspirei - Na outra vida eu tive um filho com ele, e talvez ele ainda esteja vivo.

- Você endoidou? - Mário gargalhou e eu ouvi o suspiro de Paulo. É óbvio que ele não acreditaria, o que eu podia esperar de um surtado que tira suas próprias conclusões? - Enfim, eu não quero nem saber. 

- Mário,não faz isso..- pedi, séria.

- Acabou Alícia. - Ele olhou nos fundos dos meus olhos. - Eu não quero mais nada com você.

Suspirei e assenti, voltando a deitar na cama. 

- tudo bem, agora se você puder me dar licença, eu quero voltar a dormir. - Avisei e virei pro outro lado, fechando os olhos com força. Pude ouvir um suspiro de surpresa mas resolvi não falar mais nada.

- Vaza. - Paulo falou e segundos depois eu ouvi a porta bater. Em seguida, abri os olhos e Paulo estava me olhando. - Você tá bem? - assenti e ele se aproximou de mim, puxando a minha cabeça pro colo dele. - pode chorar, eu sei que você quer.

e aquela foi a gota d'água. 

comecei a chorar descontroladamente no colo do Paulo, e ele apenas acariciou o meu cabelo e ficou em silêncio, esperando eu me acalmar.

- Eu fiz tanta coisa pra ficar com ele..- Falei baixinho e Paulo sussurou um "Vai ficar tudo bem".

- no fundo você sabia que uma hora ou outra isso ia acabar acontecendo..- Ele falou baixo e eu levantei a cabeça pra olhar pra ele.

- É, mas precisava ser desse jeito? - Perguntei e ele negou em um suspiro. 

- Não, não precisava. O Mário é muito cabeça dura, quando ele coloca alguma coisa na cabeça dele, ninguém consegue tirar.

- Eu amo ele Paulo. - Falei, sentindo minha voz falhar. Paulo me apertou ainda mais contra seus braços.

- Eu sei. - Paulo falou sério. - Eu também amo.

- Na outra vida, quando a Fernanda deu o fora no Gustavo, não demorou muito tempo pra acontecer a tragédia..- fiz as contas e meu coração apertou. Olhei pra Paulo e ele assentiu.

- Tá chegando a hora Alícia..

- e eu ainda não faço a menor ídeia de quem seja a porra desse assassino. - falei, afundando minha cara no travesseiro. - Eu não quero morrer Guerra, e eu também não quero que você seja preso nessa vida também.

- Alícia, levanta, olha pra mim. - Ele pediu e eu me sentei de frente pra ele, sentindo as mãos dele segurando o meu rosto e forçando a nossa troca de olhares. - Vamos conseguir, se acalma.

- E se a gente não conseguir? - sussurei. nossos rostos estavam muito próximos, mas não conseguíamos desgrudar nossos olhos um do outro.

- Você não vai morrer. - Acho que nunca vi o Paulo falando tão sério. - Eu te prometo. Se caso aconteça, eu me jogo na sua frente. Não vou te deixar morrer.

- Não.. - sussurrei. - caso aconteça, você tem que prometer pra mim que vai buscar justiça por nós e pela Fernanda e o Lucas. - Paulo desviou o olhar mas eu segurei seu rosto. - por favor, me promete.

mas ele não me disse nada. 

então eu peguei as minhas coisas e fui embora, mas antes, deixei claro.

- Eu não vou deixar você se sacrificar por mim Guerra. - Falei da porta e ele me olhou. - o Lucas não merecia e você também não merece.

- Já disse que você não vai morrer.