[Jiyong]
Por mais de 700 dias, eu procurei por Mo YunJi. Minha busca não deu qualquer resultado, a polícia não podia me ajudar, DooJoon já não tinha mais com o que trabalhar para achar o rastro dela. Foi como se ela tivesse desaparecido e como o policial categoricamente me informava “não havia nada que pudesse ser feito se um adulto queria sumir”. Argumentei que ela não tinha mais ninguém e ainda lembro do sorriso dele e de seu olhar, como se eu fosse um completo imbecil que não entendia o óbvio “ela pode encontrar outra pessoa e daí não estará mais sozinha”.
Tentei seguir com a vida. Tentei voltar àquele estado que me encontrava antes de pôr os olhos em Mo YunJi. Sempre que eu pensava nisso, sabia que não teria aquele ponto no tempo novamente. Nada do que eu fizesse me levaria para o passado. Todas as noites, eu rezava para que ela estivesse bem. Me tornei mais religioso, queria uma resposta sobre ela, não importava a fonte.
Os rapazes notaram que eu perdi meu brilho, falavam que tudo ficaria bem, me apresentavam outras garotas. Todas eram bonitas e igualmente desinteressantes. Desesperadamente, eu tentava não compará-las a Mo YunJi e falhava miseravelmente. Me perguntava se eu não a estava adorando novamente e minha única resposta a mim mesmo era que eu a amava. A verdade era que eu não podia seguir em frente sem resolver o fim do meu relacionamento com Mo YunJi.
Minhas músicas eram sobre minha dor, minhas escolhas, minha culpa. Eu me concentrei nisso, quem sabe se ela ouvisse as músicas e entendesse que eu cantava aquelas mensagens somente para ela? Mo YunJi voltaria se ouvisse? O que ela diria? Parte das rendas estava sendo destinada ao projeto humanitário que participei, eles precisavam de dinheiro para manter aquele trabalho extraordinário.
Um dia, estava olhando o lugar vazio na minha cama, onde ela costumava a ficar quando estávamos juntos e pensei que havia me tornado um tipo ordinário. Deus, eu amava aquela garota, mas talvez nosso tempo foi somente aquele e eu não soube aproveitá-lo. Diziam que a gente só sabe o quanto amou alguém depois que ele vai embora. Vivia na pele esse vazio imensurável.
Me levantei e encarei o calendário na parede. Suspirando, assinalei um X no dia anterior, mais um dia sem nenhum contato dela. Arrastei-me para fora do quarto e fui pegar o cereal para comer com leite. É, eu sei que não deveria comer isso pela manhã, mas era o que eu conseguia engolir.
Sentei na sala, já sem vontade de comer e procurei algo para ver na TV. Tantos canais e não tinha nada de interessante. Deixei num canal que transmitia um filme estadunidense e não dei tanta atenção. Batia a colher no cereal, como se isso fosse me apetecer. Não deu qualquer resultado, a comida não melhoraria. Acabaria doente se não conseguisse voltar a ser quem era.
A campainha tocou. A contragosto, fui abrir a porta. Devia ser YoungBae, ele não me deixava em paz e ficava preocupado comigo. O visitante esmurrou a porta e franzi o cenho, não esperando aquela atitude. Abri a porta e viu Zion. T esbaforido, como se tivesse subido até meu andar pela escada. O cabelo dele estava loiro, usava óculos redondos com lentes roxas, um blazer em cima da camisa escura e calças que combinavam com o conjunto. Por um momento, eu me perguntei porque ele estaria ali, então, meu coração acelerou e a ansiedade tomou conta.
“Você não atende mais o telefone, hyung?” ele perguntou, recuperando o fôlego. “Aqui…” ele me entregou uma passagem de avião. “Eu… Apenas vá”.
Peguei o bilhete e li o destino. Los Angeles, Estados Unidos. Voltei a encará-lo, sem saber o que dizer.
“Ela tem falado comigo” Zion. T confessou “mas pediu sigilo e eu respeitei…”. A ansiedade me levou ao limite. Eu quis socá-lo, mas não tive forças. Sentia a sinceridade na voz dele. “Hyung... Eu não aguento mais ver como vocês estão por não conversarem. Julie vai me matar, mas você tem que ir… Seu voo sai em algumas horas, então vai”. Ele me entregou uma reserva de hotel e um outro papel com um endereço e um horário. “Ela vai estar aqui te esperando, apenas diga que é o substituto… E por favor, não estrague essa chance, está bem?”.
Não houve tempo de fazer as malas. Apenas troquei de roupa, apanhei um casaco e parti para o aeroporto para não perder o voo. De lá, eu informei a DooJoon - que ficou furioso - e ele passaria o recado aos demais. Meu telefone tinha quase vinte ligações de Zion. T. É, eu não poderia dizer que ele não tentou entrar em contato.
Dentro do avião, a ansiedade me consumia. Seriam longas horas de voo e mais a mudança do fuso horário.
Sabia que só tinha uma chance e não a desperdiçaria por nada.
Olhei para o celular mais uma vez e tive a certeza que estava no lugar certo. Pessoas passavam de um lado para o outro, a movimentação era intensa, todos pareciam bem ocupados. Nunca estive numa produtora de filmes antes, muito menos numa nos Estados Unidos. Guardei o telefone no bolso da calça preta e fui até um dos galpões, perguntei se era lá o concurso de maquiagens artísticas. O homem negro e muito forte que guardava a porta me olhou e sorriu, apontando para onde eu deveria seguir.
Ali dentro estava tão confuso quanto o lado de fora. Cenários eram deslocados, pessoas estavam ansiosas, seres eram criados. Foi fácil localizar a voz feminina que falava em coreano onde todas as demais vozes falavam no idioma local. Então, eu a vi. Mo YunJi estava muito diferente e, ainda assim, era capaz de fazer meu coração acelerar. O cabelo escuro chegava quase a sua cintura, ela tinha uma franja que terminava um pouco acima de suas sobrancelhas. A maquiagem era pesada e ostensiva, ela pintou uma faixa preta nos olhos, o batom era de um vermelho vivo. Usava uma camiseta do Aerosmith, calças rasgadas e aquelas botas medonhas cheias de spikes. Ela estava no telefone, alterada, andando de um lado para o outro.
Perto dela havia uma fantasia, um conjunto de maquiagem e outros itens que eu não sabia o que eram. Me aproximei devagar. Ela parecia um sonho e sorri, fascinado com sua presença. Depois de tanto tempo, eu finalmente a encontrei. Aquela seria uma oportunidade única. Mo YunJi fez de tudo para desaparecer e podia entendê-la perfeitamente, se estivesse em seu lugar, provavelmente teria feito o mesmo. Sumido do mapa, sem deixar rastros, esquecendo o passado.
“Substituto? Como assim substituto? Big Bro…. Você prometeu que estaria aqui” ela dizia ao telefone, sem me notar. “Não… Não tem ninguém aqui e eu…” Mo YunJi girou e parou de falar quando me viu próximo dela. “Eu ligo depois” disse e encerrou a ligação. Ao contrário de como eu me sentia, Mo YunJi não parecia feliz em me ver. Não houve qualquer alteração em sua postura ou em seu rosto. “O que você está fazendo aqui?” perguntou e cruzou os braços, de maneira defensiva.
“Eu vim te ajudar… Meu dongsaeng soube que eu estava na America e pediu que eu viesse porque ele tem compromissos com shows marcados de última hora” expliquei, calmamente. Era o que eu e Zion T. havíamos combinado enquanto eu viajava. Eu não sei se ela acreditaria, eu estava com a pior aparência possível e que podia facilmente concluir que passei as últimas horas dentro de um avião.
Mo YunJi estava desconfiada, desviou o olhar e fitou o chão. Ela realmente estava diferente. Havia muito a conversar, mas estava claro que ela não iria querer isso. Tudo o que houve entre nós era tão imaturo e tão significativo, eu também mudei, aprendi que não podia manter a relação com conceitos fantasiosos. A única coisa que estava inalterada era que eu continuava louco por aquela mulher.
“É melhor você ir embora antes que alguém te reconheça” disse, dando as costas.
“Eu vim te ajudar, Mo YunJi, ou devo chamá-la de Julie Walker?” perguntei com voz suave e ela tornou a me olhar, furiosa. Ela até mesmo mudou seu nome, realmente não queria ser encontrada. “Estou aqui para te ajudar” reforcei “Zion. T não virá e ele me disse que esse concurso é muito importante para você. Então, por isso estou aqui”.
“O que você acha que vai acontecer se descobrirem quem é você?”.
“Então é melhor que você me esconda” respondi e apontei para a fantasia.
“Eu prefiro sair do concurso”.
“Mo YunJi… Por favor, me deixe te ajudar. Eu quero fazer parte desse seu mundo”.
“Você fazia parte dele até sumir, 2 anos atrás” respondeu de forma dura, sem esconder seu rancor.
“Por que acha que estou aqui? Nós precisamos conversar, mas pode ser depois, agora, eu estou aqui para te ajudar” disse e parei de falar quando vi um homem loiro e muito alto se aproximar dela. Usava uma camisa de seda e calças perfeitamente ajustadas. O cabelo espesso se revoltava em cachos na cabeça dele, os olhos azuis eram bem expressivos. A forma como ele tocou os ombros dela e seu tom baixo indicavam a intimidade.
“Esse é seu amigo?” o homem perguntou em inglês. O tom grave lembrava a voz de SeungHyun-hyung. “Ele não se parece com a foto”. A mão dele continuava esquecida no ombro dela. No passado, aquele simples toque me enfureceria, agora apenas me desolava. Queria ser eu a tocar nela, mas estava tudo tão errado entre nós que era de se esperar que a nossa antiga proximidade não existisse mais.
“É outra pessoa” Mo YunJi respondeu num inglês admirável. Eu nunca soube que ela falava outras línguas. O que quanto dela eu conhecia? Meu desejo era descobrir quem ela era conforme o tempo fosse passando, o que em si era uma boa ideia, mas eu estraguei tudo quando deixei de ouvi-la para somente tê-la comigo.
O homem afastou-se dela e estendeu a mão em minha direção. “Eu sou Daniel Jones” me informou. Eu aceitei a mão estendida e pronunciei meu nome devagar somente para não ter que repetir. Notei que ele achou engraçado, mas parecia educado demais para rir na minha frente. “Você parece cansado… Chegou hoje de viagem?” Daniel perguntou, com um sorriso no rosto.
“Daniel...” a voz de Mo YunJi soou como um aviso e o homem a olhou e tocou os cabelos dela. Será que ele sabia quem eu era e o que tinha representado na vida dela? Será que Mo YunJi contou nossa história para mais alguém?
“O que foi? Seu amigo parece que acabou de chegar de viagem…” ele disse, se defendendo, então, tornou a me olhar. “Bem, você veio ajudar a minha Jules? Então, sente-se aqui” ele indicou uma cadeira e eu me movi para lá porque achei que cairia. Minha Jules? Procurei o olhar de YunJi e ela olhava para o chão, contrariada. “Jules, tem que começar… Não vai terminar a tempo”.
“Daniel!” ela o chamou em voz alta. O homem sorriu, não se importando com o estado dela.
“Querida, você está muito nervosa… Aproveite que seu amigo está aqui e faça seu trabalho” Daniel disse, segurando o rosto de Mo YunJi com as mãos grandes. O homem se inclinou e murmurou algo enquanto ela fechava os olhos com força. Não sei quanto tempo demorou, mas me pareceu uma eternidade aquele gesto. Senti meu estômago se contrair. Depois, eles se encararam e Daniel estava sorrindo ainda mais. “Você entendeu, querida?” perguntou e YunJi assentiu. Ele lhe deu um beijo demorado na têmpora e ela pareceu se acalmar. “Hey, você chegou até aqui… Não se esqueça dos seus esforços… Agora vai lá e transforme esse cara”.
A clara demonstração de carinho me fez entender como eu a havia magoado. Mo YunJi seguiu em frente, pelo o que parecia. Eu fiquei parado, preso a um sentimento que era bem maior do que eu. Quando ela se aproximou, havia uma determinação em seus olhos e eu sustentei seu olhar. Como ela mudou. O que será que Daniel disse a ela? Seriam namorados? Oh deus, meu peito doía com essa ideia.
Suspirei, já derrotado. Ao menos, que houvesse uma chance de conversarmos sobre o passado. Não ousaria pedir mais nada.
Tudo bem, Mo YunJi, você venceu e devo reparar meu erro.
“Jules vai começar” Daniel gritou para alguém e se afastou, voltando pelo menos caminho que viera antes, sumindo atrás de um cenários.
“HaeSol explicou o que vai acontecer aqui?” Mo YunJi perguntou, voltando a falar em coreano, apanhando um elástico para prender o cabelo comprido. O cheiro de baunilha invadiu meus sentidos e por segundos, apenas a encarei, sem conseguir pensar em mais nada. Eu a desejava da mesma maneira maluca.
Me repreendi pelo pensamento de abraçá-la e arrancar a roupa do corpo. Seria difícil não ter a mente repleta de imagens sensuais dela com aquela proximidade e com aquele perfume. Respirei devagar. “Disse que é um concurso de maquiagem” murmurei, sem conseguir esconder a rouquidão de desejo na minha voz.
Ela ergueu as sobrancelhas e um leve rubor tomou conta das bochechas. “É um pouco mais do que isso” ela respondeu. “Bem, estamos atrasados, posso começar ou vai ter algum problema por eu trabalhar em você?”.
“Pode começar” murmurei.
“Isso é irônico… Você nunca deixou que eu o maquiasse…” ela comentou e pegou uma touca de plástico na mesa “está bem fazer isso agora? Vai levar cerca de três horas para terminar”.
Novamente um outro comentário cheio de mágoa. Me sentia cada vez pior. Talvez eu devesse explicar que poderia ficar extremamente excitado e por isso, eu nunca a deixei me maquiar na época que ela trabalhava na YGE. Não queria que descobrissem que eu estava apaixonado e todos saberiam se ela trabalhasse comigo. No presente momento, isso não era mais uma preocupação. Era necessário reparar o que fiz de errado. Respirei fundo.
“Mo YunJi, eu estou aqui para te ajudar… Meu corpo pode entender de outra forma e espero que possa me desculpar” declarei e ela me encarou, bastante descrente. Daí eu apontei para minha região genital e ela continuava me olhando, incrédula.
“Você não pode estar falando sério” ela disse, sem acreditar.
Suspirei. “Mo YunJi, você me excita sempre” falei baixinho. Não sabia se devia falar essas coisas, mas a naturalidade com que a confissão saiu dos meus lábios não poderia ser contida. Eu não queria esconder mais nada e nem imaginar mais nada. Queria apenas a verdade nua e crua entre nós.
Então, ela gargalhou. Como senti falta da alegria dela. Quando conseguiu se recuperar do ataque de riso, ela enfiou a toca apertada na minha cabeça. “Você já é grandinho, pense em outras coisas…” pediu, sorrindo da maneira que costumava a sorrir no passado. Meu coração acelerou e uma fagulha de esperança renasceu dentro de mim. “Você ainda continua engraçado, Kwon JiYong”.
Mo YunJi não comentou mais nada. Enquanto ela preparava meu rosto para receber a máscara, não perguntava mais nada que não fosse técnico “está apertado? está justo? está coçando?”. Na verdade, a maquiagem me incomodava, mas não falei nada. Apenas negava tudo, querendo que ela continuasse. Seus olhos castanhos possuíam um brilho diferente e ela se encontrava tão concentrada que permitiu que eu voltasse a marcar na minha mente cada centímetro do rosto lindo dela.
Meu momento acabou quando Daniel voltou. Usando um avental de plastico sob a roupa, ele se aproximou, dobrando as mangas da camisa e olhando com atenção para o trabalho de YunJi. Eles discutiram sobre a cor e pude entender que ele era uma espécie de auxiliar dela. Novamente, ele parecia disposto a marcar território e brincava com YunJi a todo instante que ela não estava focada em colar as peças em mim ou que não estava utilizando o compressor de tinta para cobrir as emendas da fantasia. Ele trombava nela de propósito, a chamada de querida e amor. Pensei que esse tipo de distração pudesse enfurecer YunJi, mas me enganei, ela sorria para ele daquela maneira divina.
Conforme YunJi me transformava em algum tipo de alienígena e me permitia fazer parte de seu mundo de fantasia, também deixava claro como nós sempre fomos distantes um do outro. Eu imaginava que ela era excelente em seu trabalho, mas nunca pensei que ela pudesse ser tão boa assim. A cada parte montada e pintada, quem eu era estava desaparecendo, dando lugar a uma criatura espacial. Sentia que estava sumindo e não era uma sensação ruim, apenas deixava de ser eu mesmo para ser o que ela criava. Mo YunJi costumava falar que destruía coisas, ela sempre esteve enganada sobre isso e poderia provar.
Meu corpo protestou de cansaço e Daniel pareceu notar porque perguntou se eu tomava café. Vi Mo YunJi rolar os olhos e o homem se afastou para buscar o expresso duplo. “Daniel acha que coreanos somente tomam chá” ela comentou, se desculpando por ele. Tive a impressão que ele apenas estava exibindo sua intimidade com ela. Talvez fosse só uma sensação, Daniel não me tratava de maneira rude e parecia tão preocupado quanto YunJi sobre como eu estava me sentindo.
Enquanto tomava o café, eu a encarei com mais atenção. Não havia mais tensão, ela não me via mais como eu era e sim como o que ela criou. Podia sentir o orgulho vibrando do corpo sexy e seus pequenos sorrisos de satisfação. Isso compensou um pouco a minha tristeza e agradeci mentalmente a Zion. T por ter confessado saber onde ela estava.
Ao final de longas horas, eu estava pronto. Me olhei no espelho e não havia mais nada de mim. Sorri, encantado com o talento dela. Mo YunJi criava vida, mesmo que fosse nesse método excêntrico. Olhei para o casal atrás de mim e notei que ambos estavam felizes. Voltei a me olhar no espelho. Embora toda a estrutura da cabeça pessasse, não era tão incômodo. Sumi embaixo de látex, tinta e outros produtos que não sabia o que eram. Agora era um ser verde, levemente viscoso, com cabeça alongada, longos dentes, que usava um pano para cobrir suas partes íntimas. O aspecto molhado me intrigava, parecia grudento e meio nojento. Tinha marcas de guerra e cicatrizes em meus membros, olhava fascinado, sabendo que tudo aquilo já contava a história de quem aquele personagem era. Daniel se aproximou e me entregou uma lança, depois, se afastou e colocou a mão no queixo, me examinando como se fosse uma obra de arte.
“Meu amor, você se superou” ele comentou, falando com Mo YunJi. Ela não respondeu, olhava de maneira apaixonada para sua criação e me senti vivo por ser alvo daquele olhar provocante.
Seguimos para a apresentação. Havia muitos outros seres ali, múmias, monstros peludos, zumbis e fantasmas. Os criadores eram igualmente coloridos, com piercings, tatuagens, maquiagem pesada. Mesmo que tivessem a aparência hostil, ele sorriam e se cumprimentavam, totalmente cordiais. Admirei o trabalho dos demais, era incrível ver toda aquela imaginação viva. Mo YunJi vivia num mundo fantasioso de seres intergaláticos e monstros apavorantes. Ela estava radiante, em seu próprio domínio, segura e feliz. Acho que nunca a vi tão feliz antes. Eu mesmo sorria por sentir a emoção dela.
O concurso começou. Os cenários eram trazidos e os fantasiados tinham que encenar algo rápido, para que os jurados notassem a consistência das fantasias e se elas tinham graça e movimento, se pareciam reais.
“Sobe lá e pareça o mais assustador possível” ela pediu.
Nunca tive talento para atuação. Minha apresentação causou gargalhadas em um dos jurados, um homem barbudo e cheio de tatuagens. Me esforcei para parecer o alienígena horroroso que era, fazendo gestos e movimentos de ataque. Um dos jurados, uma mulher com olhar severo, disse que era o suficiente. Fiquei parado, em meio ao cenários de selva, segurando a lança, bastante nervoso. O homem ainda estava rindo quando escreveu a nota que daria ao trabalho de Mo YunJi.
Desci do palco e Daniel me olhava com descrença enquanto YunJi me olhava maravilhada. Preferi ficar com o olhar dela, sabia que aquele homem loiro estava me julgando pela péssima apresentação.
“Eu não sei onde arrumou esse ator, mas confesso que achei a apresentação divertida” falou o jurado que riu. “Os habitantes de Rigel 7 não parecem tão assustadores assim, ouso dizer que são amigáveis”. Ele foi o único a comentar minha interpretação, os demais deram pontos baixos para o quesito e pontos altos para o aspecto e mobilidade.
Houve as demais apresentações e depois todos os participantes se reuniram. Os jurados se aproximaram para examinar de perto a qualidade das fantasias. O homem que riu, piscou um olho e sorriu, quando se aproximou para falar da minha fantasia. Não entendia quase nada do que estavam dizendo, sobre materiais e essas coisas, apenas entendi que eles adoraram a aparência gosmenta da fantasia.
Já estava tão cansado no final do dia que quando Mo YunJi ficou com o quarto lugar, não consegui fazer mais nada a não ser sentar. Olhei para ela, ao lado de Daniel, parecia um foco de luz em meio aos cenários fantásticos. Ela olhava a medalha recebida e lançou-se nos braços do outro homem, comemorando. Me senti responsável por ter atrapalhado a pontuação dela, mas a alegria que ela emanava era suficiente para me fazer sorrir, apesar de tudo.
Eles me desmontaram e voltei a ser Kwon JiYong. Muitos maquiadores falavam com YunJi perguntando sobre as técnicas de pintura. Como ela estava diferente, em seu ambiente, segura e poderosa. A vergonha pesava em meus ombros, percebi que deveria ter apoiado ela. Da mesma maneira que Daniel fazia agora, comemorando e a elogiando, tornando-a a criatura mais amada do universo. Quantos erros os meus.
Saímos juntos do estúdio. Eles andavam na minha frente, unidos e animados. Daniel curvou-se e falou algo baixinho para ela, então girou e me olhou, andando de costas. “Você está hospedado onde?” perguntou e respondi. “E quando você vai embora?”.
“Sexta-feira” falei, sem pensar. Estava tão cansado que só queria dormir.
“Uau, uma semana. Ouviu isso, Jules?”.
“Daniel…” mais uma vez aquele tom de aviso.
“Você não estará ocupada amanhã, pode fazer companhia a seu amigo” Daniel sugeriu. Ele realmente não tinha qualquer preocupação ou medo da reação de YunJi. No entanto, o agradeci mentalmente pelo seu gesto, o que tornava claro que ele sabia quem eu era.
“Por favor, Mo YunJi” pedi e ela parou de andar. “Eu não conheço a cidade… E se não for incomodo…”. Será que se ficasse de joelhos, ela aceitaria?
“Claro que não” Daniel respondeu por ela, mostrando que entendia perfeitamente coreano. Demorou muito tempo até que a garota balançasse a cabeça, concordando.
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