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História Essência da Verdade - Como se estivesse bem próximo


Escrita por: Laisve e MorganaLFay

Capítulo 37 - Como se estivesse bem próximo


Fanfic / Fanfiction Essência da Verdade - Como se estivesse bem próximo

 

Abriu a porta da casa acendendo as luzes de imediato, tirou os sapatos com um esforço maior que a tarefa pedia e se jogou no sofá da sala. 

Fechou os olhos e a lembrança do beijo veio à mente. Depois daquilo Camus lhe brindou com um belo sorriso e virando as costas foi embora. Conteve a vontade de ir atrás dele. Mas não sabia se estava mais conseguindo conter tudo que tinha guardado dentro de si. Não era de hoje que todos sabiam que nunca fora dado a arroubos românticos, e que prezava pela praticidade e equilíbrio. Contudo, já não tinha mais tanta certeza se suas atitudes estavam pautadas dentro dessa ótica. 

Abriu os olhos enxergando o reflexo embaçado na televisão que ficava em frente ao sofá. Dentro daquela visão desconexa conseguia enxergar ao seu lado a figura dos pais. Atenciosos, esforçados e práticos. 

Não podia dizer que faltou afeto, mas nunca foi o elemento aglutinador daquela família. Rompendo parte de uma tradição familiar de anos, que perpassava tanto o lado materno quanto o paterno, seus pais haviam casado por amor, ou algo semelhante a isso, mas mesmo assim, repetiam a todo instante que aquilo não bastava. 

Sempre foi cobrado em seus estudos, educação e comportamento de uma forma geral. Devia ser o exemplo, de certa forma, os pais o exibiam como um troféu, o filho que encarnava todas as noções de perfeição, corroborando que não era necessário um casamento arranjado para que a vida seguisse o rumo correto. A eterna busca idílica. Demorou alguns anos para entender o que era essa noção de “correto”. Mesmo que se empenhasse de todas as formas possíveis, não pôde deixar de notar o desgosto na face dos progenitores ao comunicar sua orientação sexual. 

Lógico que alguma coisa tinha que fugir do controle, lembrava da mãe falando com nítido desgosto. 

Ao que parece a modernidade e a “mente aberta” do casal Parsons estava focada apenas em romper com paradigmas familiares. Com o passar dos anos os pais passaram a aceitar a ideia. Jamais concordaram, mas já não precisava ouvir as indiretas e passar pelos vexatórios encontros combinados. 

Depois de tudo, apenas uma palavra sempre ecoava em sua mente: “Controle”. E assim seguia. Em todos os seus relacionamentos, sempre buscou reproduzir o que acreditava ser o essencial para manter a união, e o que Gaetan pedia dele naquele momento, estava muito longe do que estava acostumado a fazer. Sabia que tinham uma ligação especial, algo que sim, fugia a sua noção de racionalidade. Conheciam-se há anos e entendiam até certo ponto parte da essência um do outro, de tal modo que o ruivo havia percebido o momento em que tinha chegado em um impasse consigo mesmo. 

Era grato por aquilo, não gostava de desmoronar na frente de ninguém. 

Sentia-se completamente despido quando abria mão do tão famigerado controle. Questionava-se sobre o que tinha visto das mudanças de Camus até então. 

Há poucas semanas tomou ciência de que ele fazia terapia, não parecia tão distante do tempo em que ainda o tentava convencer a não empreender uma caçada no bar. E nesse mesmo espaço de tempo quase se beijaram, até chegar ao efetivo beijo. O que sua mãe pensaria sobre isso? Pensou levantando do sofá e indo para a cozinha a fim de preparar um chá. Provavelmente Shura demoraria para chegar. Suspirou. Admitiu a si mesmo, no calor do momento, que não dedicava tanta atenção ao marido quando ele a si. Sequer sabia que tinha aquela consciência. Agarrava-se a figura do espanhol com afinco, pois sabia que se o deixasse ir, não teria mais no que segurar. Shura era seu farol em meio a escuridão. 

Tudo seria mais fácil se conseguisse ser diferente, fazer diferente. Camus dizia que estava mudando, tornando-se alguém melhor, quem sabe também devesse tentar. 

Escorou-se na bancada da cozinha pensando sobre o que era mais complexo, expurgar as influências de um namorado tóxico, ou eliminar parte de toda sua criação, parte daquilo que de certa forma o tornava quem era, traços de sua personalidade e de caráter.

No fim, cada desafio tinha um grau de dificuldade diferente. E o ruivo havia dito que o queria exatamente por quem ele era.  

Não sabia o que fazer, e isso era muito raro em sua vida. A resposta óbvia seria terminar com Shura e correr atrás de Camus. Mas largar tudo para viver uma noite parecia tão irreal. E se não fosse apenas uma noite? E se houvesse como o francês disse, um futuro? Seria capaz de pagar para ver? Sim, seria. Precisava de confiança. Necessitava de confiança da mesma forma que de ar. Assim foi ensinado, assim aprendeu a viver. Pegou o bule colocando a água quente dentro de uma xícara na qual já havia deixado um infusor. 

Ficou olhando para o líquido por alguns instantes, sem ter a certeza se precisava confiar em Camus ou em si mesmo. 


 

***


 

Aiolia subiu as escadas e ao chegar no andar superior algumas pessoas já estavam por lá. Cumprimentou os funcionários educadamente e avistou Milo já instalado em uma das mesas, ao seu lado Dohko e o irmão mais novo de Seika. 

— Vem, vou te apresentar ao meu primo.

Ikki observou o entorno. Era realmente um lugar agradável, estava a meia luz, decoração sóbria e elegante. Uma palco e pole dance. Interessante pensou sorrindo. A frente algumas mesinhas ladeadas por cadeira confortáveis, para que os convidados pudessem aproveitar as atrações além de comer e beber. Ao centro uma cadeira mais adornada, semelhante a um trono. Definitivamente esses gregos eram surtados. Acompanhou Aiolia e sentiu um imenso frio na barriga assim que pararam de frente a mesa onde estava o tal primo acompanhado de um homem com traços orientais e um moleque ligeiramente familiar. 

O loiro alto e forte se ergueu para comprimentá-lo estentendo a mão firme e o olhando nos olhos com simpatia. Ikki pensou que vomitaria, o gosto amargo rasgando sua garganta. Reconheceria aquele homem até no inferno. Era o namorado de Hyoga. Trincou os dentes. Merda de mundo pequeno. Imagens do Russo nu passavam velozmente por sua memória.

— Este é Milo, meu primo, Milo este é Ikki, ele é meu amigo e assistente no escritório. 

Os olhos de Milo se estreitaram felinamente. Ikki! Seria possível que fosse o mesmo? Não era definitivamente um nome comum. Lembrou da voz agradável no telefone de Aiolia no outro dia e quis se chutar mentalmente. 

Ao mesmo tempo lhe ocorria que não havia mesmo como ele fazer essa matemática. Quem diria que o “gostoso do menage” era o assistente de voz sexy de Aiolia?

E ele mediu o outro rapaz de cima a baixo. Ação espelhada pelo outro. Por mais que um quisesse diminuir o outro, tinham que reconhecer que estavam diante de outro homem bonito e interessante. Hyoga afinal tinha muito bom gosto, admitiram cada um para si mesmo. 

Aiolia percebendo a tensão franziu o cenho confuso.

— Vocês por acaso já se conhecem?

— Acredito que tenhamos um amigo em comum — Ikki informou caprichando na malícia na palavra amigo. 

Milo lançou seu sorriso mais charmoso, os olhos fixos no outro rapaz. 

— Amigo? Hunmm. É uma maneira de ver. Por mais que aparentemente você não seja o tipo de pessoa para se considerar amigo. E a natureza da minha relação seja mais profunda, ainda que não lhe diga qualquer respeito. 

Aiolia ficou surpreso com a resposta ameaçadora de Milo e tratou de encaminhar Ikki para conhecer os outros, lançando ainda um olhar de questionamento para o primo que permanecia de pé altivo e olhando o outro de cima. Ikki não pareceu se intimidar nem por um segundo apesar de ser mais baixo, porém, seguiu com Aiolia carregando um sorrisinho indescritível nos lábios. 

Percebendo o clima Dohko, após as apresentações convidou Ikki e Aiolia para a varanda. Torcendo o nariz Seiya acompanhou. Ele estava um pouco incomodado por Ikki não se lembrar dele, afinal, apesar de ser um pouco mais novo, estudaram na mesma escola no Ensino Médio. E ele inclusive era colega de Shun na época. Já na varanda Aiolia puxou Ikki de canto.

— O que foi aquilo?

— Seu primo está namorando meu ex…

— Oi? Eu nem sabia que você era gay.

— Eu não sou! Devo ser Bi… E você não sabe tudo sobre mim Aiolia. Enfim, me desculpe, talvez seja melhor eu ir embora. 

— De jeito nenhum! Você veio comigo e se não tivesse me auxiliado tanto nos últimos tempos eu nem teria como ter organizado essa festa. Logo, eu vou conversar com Milo, mas te peço para baixar essa bola Ikki. Essa festa é muito importante para mim. Meu único irmão vai casar… E bem, que loucura de mundo pequeno… Depois você me explica melhor isso tudo. Achei que você namorava aquela morena do happy hour!

Ikki concordou com a cabeça, tinha levado Pandora em uns dois encontros com o pessoal do escritório. Aiolia era o seu maior exemplo profissional e pela proximidade e muitas afinidades acabaram se tornando amigos. A última coisa que desejava naquele momento era se indispor com ele. Mas o olhar de superioridade daquele loiro tinha arranhado seu orgulho. Droga, o cara estava com a razão, mais uma vez agiu como um cretino. Era por impulsividade e infantilidade que havia perdido Hyoga. E o primo de Aiolia, bem, não havia como negar que era um baita de um pedaço de mal caminho… Isso, por algum motivo, só fazia com que ele se sentisse ainda mais idiota. Passou as mãos pelos cabelos.

— Terminei com a Pandora tem alguns dias… Eu nem sei o que me deu na cabeça para agir assim. Não é culpa dele, eu que vacilei. Vou pedir desculpas ao seu primo…

— Não precisa. Vou falar com ele antes. Fica aqui com o Dohko e o Seiya. Eu já volto. 

Quando Aiolia retornou ao salão Milo estava no balcão do bar aguardando uma bebida, Aiolia seguiu até lá. Kanon entrava nesse momento no ambiente acompanhado por Julian. Esquecendo momentaneamente o tópico da conversa entre ambos Aiolia e Milo trocaram um olhar cúmplice e malicioso. 

— Será que tem algo acontecendo aí? — Milo sussurrou mal disfarçando a aprovação. — Por que meio que parece, não?

— Os Deuses te ouçam… Kanon merece arrumar alguém legal. Sempre achei que eles combinam tanto! Mas, e o garçom, será que já era?

— Parece que sim… Eu não sei detalhes, não conversei com Kanon nesta semana. Poxa, ele merecia mesmo alguém mais disposto… Você também merecia se arrumar Aiolia! 

— Nem começa, eu estou tranquilo, a hora que aparecer alguém legal não me oponho, mas não vou ficar procurando!

— Certo, não vou somar ao coro generalizado — Riu agradecendo e dando o primeiro gole no refil de bebida que Io, o rapaz com braço tatuado entregou prestativo sem que ele precisasse pedir. 

Aiolia mostrou a língua para ele por uma fração de segundo e riu também. 

Do outro lado do salão Julian acompanhado de Kanon estavam cumprimentando um rapaz alto de cabelos castanhos lisos que entrou na sequência dos dois. Aiolia aproveitou para retomar o assunto anterior.

— Milo, eu nem sabia que você já estava namorando! — Falou demonstrando algum desconforto.

— É recente. Eu não sabia que você trabalhava com esse… Ikki. — Disse o nome de forma pejorativa. Aiolia não conteve sua risada. Balançou a cabeça negativamente.

— Ele é um cara legal, ficou realmente abalado e queria até vir te pedir desculpas. 

— Não é para mim que ele tem que pedir desculpas. Mas, se você diz que ele é legal eu vou fazer vista grossa. Aiolia, só espero que ele não vá mais atrás do Hyoga. Se for, você vai precisar procurar outro assistente, além de ter que me visitar na cadeia todo domingo...

Aiolia abriu a boca em um perfeito O e deu um soquinho fraco no braço do primo.

— Não fala esse tipo de merda! Você já ganhou o namorado, o rapaz está só com dor de cotovelo, como eu disse ele é legal e ao que tudo indica está ainda se encontrando na vida, ele é mais novo que a gente e, não esquece que ele queria até te pedir desculpas. Eu achei melhor não. Teremos algum problema sobre isso Milo? Eu não quero nada estragando a noite de Aiolos!

— Não, não teremos. Você tem razão. Eu ganhei. — Deu uma piscadela sacana. — É só ele não tentar nada com meu homem de novo e estamos ótimos e civilizados. 

O irmão do noivo concordou com a cabeça já fazendo planos para manter os dois afastados por toda a noite. Em breve a sala estaria cheia de bêbados e o ideal era evitar essa fadiga. 

Milo ao seu lado abriu um enorme sorriso e se levantou para receber o irmão que entrava no salão.

— Kardia! Que saudade!

— Mas vejam só, o baixinho até cresceu! — Abraçou o irmão com força — Você que some Maçãzinha, eu estou em praticamente todos os encontros da família e sabe que pode me ligar, não é? Largo o que for se você precisar de mim.

Milo aproveitou o contato, não sabia o motivo de procurar tão pouco pelo irmão, talvez fosse uma necessidade de não depender dele, se provar auto suficiente, de qualquer forma era sempre uma alegria estar com o irmão mais velho. Kardia era mais alto apenas alguns centímetros, porém, insistia em tratar Milo por baixinho ou apelidos afetuosos que na adolescência já causaram ao mais novo muito constrangimento, mas que hoje em dia via apenas como carinhosos. 

— Eu sei Coração, não quero te atrapalhar apenas.

— Milo coloca isso na sua cabeça, você nunca me atrapalha. E aí se acertou com o Ruivo gelado? Estou vendo que está com aquele brilho de apaixonado no olhar.

Era impossível esconder qualquer coisa do irmão, mesmo que desejasse, e sua felicidade era algo que não pretendia esconder.

— Não, essa história já era mesmo. Eu conheci um rapaz… Bem, vamos combinar de conversar no domingo? Te conto tudo e você me atualiza também, que acha?

— Acho ótimo! Planejo dar perda total hoje em homenagem a queda de nosso primeiro guerreiro Aiolos - riu da própria piada - e amanhã eu me recupero. Assim domingão sou seu. Passo na sua casa na parte da tarde. Está combinado?

— Fechado! 

— Obrigado por ter chegado cedo Milo. Aiolos já chegou? 

— Não precisa agradecer! Não, não chegou, nem o Saga. Ainda está cedo. Mas, Julian e Kanon estão ali — Milo apontou e Kardia olhou na direção deles. 

— O Saga foi buscar uma pessoa, deve estar para chegar em breve… 

Seu olhar foi atraído pela terceira pessoa na conversa. Um homem que não conhecia. Cabelos castanhos claros, alto e esguio. De óculos, provavelmente alguém que trabalhava na escola com os noivos. Como Kanon também já havia trabalhado lá por um tempo deveria conhecer. Apertou o ombro de Milo e ambos foram naquela direção. Aiolia estava entretido conversando com um dos garçons. Confirmando que tudo estava conforme o combinado. 

Ficou positivamente satisfeito pelo comprometimento dos dois rapazes e planejou mentalmente deixar uma boa gorjeta para cada um deles. Voltou para a varanda para encontrar com Dohko com quem mal havia conversado e ficar de olho em Ikki. 

 

Kanon estava se esforçando para não azedar a noite, no entanto, sua vontade era voltar para casa. Depois do jantar no meio da semana com Julian, aquela pequena injeção de ânimo, ele tinha mais uma vez se afundado na auto comiseração. É claro que aproveitou a ligeira janela de energia para responder todas as mensagens, fazer algumas ligações e assim evitou que mais pessoas o procurassem. Ficando isso ao encargo apenas de Julian. Aliás, o amigo merecia um prêmio. Céus! Não imaginava que ele fosse tão paciente. Mas sua companhia estava sendo perfeita, todo apoio que precisava sem qualquer cobrança. Não queria se expor para nenhum dos primos, as notícias correm na sua família e logo teria uma intervenção organizada por alguma tia ou o irmão planejando alguma orgia para o distrair. Não era o que precisava nesse momento. Antes de sair de casa estava tão certo de só encher a cara de ficar de boas, mas ao chegar lá e ver Isaak mais uma vez aquela impressão de que não era bom o suficiente o atingiu. 

Apresentou Julian e Dégel, o antigo professor de química da escola, que soube agora ser o diretor. Fazia um tempo que não se encontrava com ele. Mas sempre se deram bem. Ele era uma pessoa discreta e bastante próximo de Aiolos e de Shura. 

Milo e Kardia se aproximaram deles. Sustentou por alguns segundos o olhar de Milo que tocou seu queixo com a ponta dos dedos. 

— Não é que ficou bonito de barba? — Sorriu quando o abraçou. 

Separaram o abraço e ele fez menção de bagunçar os cabelos do mais novo recebendo um bico e um olhar agudo de “Não ouse”. Sorriu de leve. Milo era muito querido. Kardia lhe estendeu a mão e concordou com o irmão.

— Muito bem, assim a gente sabe quem é quem. — Riu alto 

Milo abraçou Julian e Kanon apresentou Dégel aos recém chegados. 

O olhar de Milo passou pelos homens naquela pequena roda e por um instante lhe ocorreu que era bem possível que estivesse sobrando ali. A ideia rendeu enorme satisfação, ainda que certa surpresa, já que nunca tinha percebido qualquer inclinação de Kardia nesse sentido. Ao contrário o irmão sempre foi um mulherengo contumaz. Nesse momento, entretanto, estava era completamente inclinado na direção do Diretor da escola. Tocando o braço do rapaz a cada duas palavras e isso era bastante impressionante, se considerado que ele nem havia começado a beber. 

Julian pareceu captar seu olhar e ele ergueu o copo a título de cumprimento para o amigo antes de se afastar para receber Defteros que entrava nesse momento.

— Ei Milo, tudo bom? 

— Oi! Tudo sim, e com você? Veio sozinho?

— Sim, tudo certo! Eu sei que todo mundo acha que sou colado no meu irmão, mas não é o caso. A gente mal se fala. Aiolos já chegou?

— Não, ainda não, mas deve estar quase. 

— Vou pegar uma bebida que estou sedento e já volto para cumprimentar todo mundo.

O moreno se afastou. Ele e o irmão eram igualmente altos e fortes, os traços marcantemente gregos da família de Saga e Kanon, mas tinham os cabelos e olhos escuros, como sua Mãe. Aspros sempre pegou muito no pé de Kanon, por isso Milo não era muito simpático a ele. Defteros, no entanto, sempre foi mais quieto, aparecendo pouco. 

Parando para pensar se deu conta de que nem conhecia muito dele, talvez a diferença de idade realmente tenha pesado nisso, afinal esses gêmeos tinham 11 anos quando ele nasceu. 

Sendo os mais velhos acabavam não fazendo parte tão ativa da turma, antigamente. 

Viu que Defteros sentou em uma das banquetas do bar. Então Milo buscou uma mesinha mais afastada e se alojou lá com seu copo. 

 

Entrou no salão do bar acompanhando o movimento frenético que já despontava naquela sexta feira e logo avistou a escada que dava acesso ao segundo andar, sendo prontamente vigiada por algum tipo de guardião nórdico, o que fazia com que ele se sentisse um nanico. Sensação no mínimo ridícula levando em conta seus 1.90 de altura.  

Mostrou a identidade, tendo o gesto repetido pelo homem que o acompanhava. Percebeu que o segurança de olhar assassino esboçou o que poderia ser definido como um quase sorriso ao entregar a identidade de Afrodite. Ao que parece esse era um dos super poderes dele, Saga pensou sentido uma pontada de orgulho. O sueco correspondeu ao tal sorriso e apontou animado para o topo da escada em uma clara indicação de que deveriam subir. Apenas acatou, assim como vinha fazendo há algum tempo. 

Depois da prensa que tomou do irmão, que apareceu em sua casa desenterrando uma história da qual já não lembrava mais, aquela maldita vernissage não saia mais da sua cabeça. Mais especificamente, o artista responsável por ela. 

Acabou aquele noite com Camus, mas sua intenção original era se afundar nos braços e nas carnes de Afrodite. Não saberia dizer ao certo o que desviou os acontecimentos de tal forma, lógico que a presença de um ruivo sedutor, portador de um olhar caçador e extremamente gostoso poderia ser um dos indicativos. Além disso, o fato do artista ter ficado ocupado a noite inteira, de tal forma que sequer conseguiu se aproximar dele, para continuar a conversa que haviam começado a tarde, trouxe um nível de frustração que poucas vezes tinha experimentado. 

Sendo assim, a tal noite de diversão, e sim foi de pura diversão, além de acabar gerando uma certa dívida com o primo caçula, a qual sabia não ter verdadeiramente uma culpa, também acabou desviando o foco de suas intenções. 

A única coisa que tinha certeza era que depois que sua memória foi de certa forma refrescada, a vontade de reencontrar o artista sueco apenas cresceu. Mesmo que a sua empresa ainda prestasse serviço a ele, não tinham mais se visto pessoalmente, apenas algumas conversas ao telefone e esporádicas chamadas de vídeo. Na verdade, acabava em grande parte do tempo conversando mais com o empresário do que com o próprio Afrodite. 

E foi assim que dotado de toda a segurança que sempre possuiu, decidiu restabelecer o contato e ficou felizmente surpreso ao notar que o interesse parecia mútuo. Sempre se viam em meio a um clima de quase contemplação. Saga tinha real interesse no sujeito peculiar que era o sueco, e sabia que existia algo semelhante da parte do outro. Saíram algumas vezes para jantar, conciliando as agendas, sem contudo empreenderem nada mais que conversas animadas, flertes e uma mudança sutil na conhecida dança que desempenhavam antes mesmo da vernissage. 

No fim, acabou o convidado para a despedida. Teve que prometer uns favores a Aiolia e insistir durante alguns dias com Afrodite, mas não era denominado como um dos melhores advogados da cidade à toa. Sempre ganhava suas causas, e agora, estava subindo as escadas prestes a apresentar o sueco a uma parte significativa da sua família e amigos. 

Caso analisasse com atenção, essa poderia até mesmo ser definida como a versão Saga de apresentação de um futuro pretendente: Em meio a uma festa regada de bebida, strippers e toda a sorte de coisa que pudesse acontecer. Apaixonado ou não, ainda sim continuava sendo ele. 

O mais importante no entanto, era que Kanon conhecesse o novo “amigo”, afinal, apenas os dois sabiam o que isso significava. E acabou que o irmão mais novo foi a primeira pessoa que avistou assim que chegou ao andar da festa. Conteve a surpresa ao ver que Kanon mantinha uma barba por fazer, combinava com ele, pensou colocando uma das mãos no ombro de Afrodite e o encaminhando naquela direção. Todos os presentes se levantaram em um misto de curiosidade e admiração. 

— Gostei do novo visual irmãozinho. — Saga falou abraçando Kanon. Afrodite ao seu lado. — Kanon, esse é o Afrodite Nyman, o artista das rosas… Meu amigo.

Kanon esticou uma das mãos para cumprimentar o sueco, sabia muito bem quem aquele homem era e a lembrava do segredo voltou a sua mente. Ótima hora para recordar aquilo. Somava mais um elemento a sua miséria pessoal. 

Parabéns, Saga. 

Procurou discretamente com o olhar a figura de Milo e o viu entretido com alguma bebida colorida em outro canto do salão, buscou o olhar do irmão, mas antes que conseguisse sentiu a mão de Afrodite apertando a sua. 

— Muito prazer, Kanon. 

Kanon focou sua atenção no sueco que ficou alguns segundos o olhando em uma análise minuciosa, mas que estranhamente não causava desconforto. Conseguiu finalmente captar o olhar do irmão e ele transparecia uma tranquilidade que poucas vezes tinha visto. Saga sorriu minimamente e balançou a cabeça de forma afirmativa. Todos os presentes ficaram olhando a cena, mas ninguém falou nada. De certa forma, ficaram intrigados com o belo homem, e se aquele fosse um tipo de hábito dele, bom, não parecia tão ruim assim ser encarado por um tipo daqueles. 

— Aí está… — Afrodite sorriu olhando para os demais presentes na mesa e depois para Saga. — Dourado… As pintinhas do olho dele são douradas. As suas são azuis. — Alargou o sorriso. — O seu cabelo também é um tom mais escuro. 

Kardia deu uma risada alta, seguida por uma mais discreta de Dégel e Julian. 

— E eu achando que a barba era mais do que suficiente para sabermos quem é quem. — Kardia falou se aproximando de Afrodite. 

— Huummm… — Colocou um dedo no queixo — Pode ser. Mas em algum momento ele pode tirar a barba não é? Preciso de mais elementos para saber quem é quem. — Piscou um olho.

— Vejam só… E está planejando ficar por tanto tempo? 

— Claro. Porque não ficaria? — Sorriu sinceramente para Saga — Como vai Kardia? 

— Vocês já se conhecem? — Julian questionou apertando a mão de Saga e depois a de Afrodite, apresentando-se. 

— Sim. A nossa empresa presta serviço de curadoria das obras dele. Geralmente quem cuida é o Saga, mas já nos vimos algumas vezes. Esse é o Dégel, diretor da escola na qual Aiolos e Seika lecionam. 

Em meio aos cumprimentos Kanon se aproximou de Saga e o lançou um olhar significativo, o irmão apenas sorriu e mais uma vez balançou a cabeça. O biólogo não escondeu o assombro e muito menos a felicidade. Saga merecia ser feliz… Todos mereciam no final de contas. Será que só ele não poderia se dar a essa luxo?

Caminharam até a mesa na qual Milo estava e mais uma vez seguiram com a sessão de abraços e apresentações. Milo pareceu ter se agradado de pronto da companhia de Afrodite e em poucos segundos já estavam falando sobre livros, arte e o aparente gosto compartilhado por drinks coloridos. 

Io pareceu ter captado tal predileção e não deixava nenhum copo vazio por muito tempo. 

— Linda essa sua tatuagem! — Afrodite falou assim que o garçom colocou um drink enfeitado na sua frente. — O que significa? 

O rapaz se surpreendeu com o genuíno interesse que conseguiu captar da parte dos três homens sentados ali. 

Enquanto isso, Dohko, Seiya e Ikki voltavam para o salão sentando em outra mesa. Saga esperou Io terminar de falar e seguiu com Afrodite para cumprimentar os demais, incluindo Defteros que parecia estar confortável sentado sozinho no bar. Por último encontrou Aiolia que tinha se ausentado por alguns minutos. Ao que tudo indicava, estava ao telefone com Shura, dando as coordenadas de quando trazer Aiolos. Aparentemente o noivo só poderia chegar depois que todos os convidados estivessem presente e pelas suas contas, a hora já tinha chegado. 

Todas as apresentações feitas, Dohko demonstrou claro desconforto com o fato de Ikki não estar bebendo. Olhou em volta procurando o garçom e avistou caminhando em sua direção um rapaz diferente do que havia se apresentado antes. 

— Boa noite, meu nome é Sorento e juntamente com Io vou servi-los essa noite. 

— Olá, Soren… — Dohko não concluiu a frase. 

— Por acaso você é algum tipo de força sobrenatural? — Ikki questionou espantado. 

— Boa noite, Ikki. — Respondeu cordial. — Gostaria de alguma bebida? 

— Vocês se conhecem? — Seiya perguntou animado.

— Sim. — Ikki respondeu lacônico. — Pode me trazer um chopp, por favor? Vou acompanhar esses dois. 

— Claro. Desejam algum aperitivo para acompanhar? Aqui está o cardápio. 

Dohko e Seiya olharam o cardápio enquanto Ikki mantinha o olhar em Sorento que ergueu uma sobrancelha e sussurrou um: “Depois”. Escolheram os aperitivos, uma tábua de frios, e entregaram o cardápio ao garçom que depois de pronunciar um “Com licença”, se afastou para buscar os pedidos. 

Ikki respirou fundo pensando: “Com certeza essa não será a última surpresa desta noite…“


 

 

Continua... 


Notas Finais


Quatro meses de EdV... Passamos há um bom tempo da metade, chegamos na Despedida de Aiolos. Nossos meninos estão desenvolvendo relacionamentos, abrindo e fechando portas, se encontrando e se perdendo entre encontros e desencontros, pelos caminhos e bares da vida.
Então, em essência está acontecendo.

Obrigada a quem nos acompanha nessa jornada. De coração muito obrigada. Cada comentário é um incentivo.
Se cuidem, evitem aglomerações, não esqueçam da máscara e de beber bastante água.
Nos vemos em breve!

<3 <3



Edit.: Despedida de Solteira de Seika rolando em:
https://www.spiritfanfiction.com/historia/before-she-says-i-do-lets-have-a-drink-or-two-21217905

Gratidão @WaNanda <3


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