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História Estações - (NaruSasu) - Mesmo assim enquanto as palavras continuavam vagas...


Escrita por: mustardosavory

Notas do Autor


olá tehee (essa sou eu tentando pedir desculpas pela absurda demora que levei para atualizar Estações~) eu não vou desperdiçar o tempo de vocês com desculpas esfarrapadas do porquê da minha demora e etc.

o capítulo de hoje tá enooorme então acho que vão gostar disso :))

ah, só queria avisar também (rapidamente) que eu estou retornando pouco a pouco pros meus projetos incompletos aqui do spirit, pra caso alguns de vocês acompanhem as minhas outras histórias ~

enfim, boa leitura meu povo!!

Capítulo 3 - Mesmo assim enquanto as palavras continuavam vagas...


Fanfic / Fanfiction Estações - (NaruSasu) - Mesmo assim enquanto as palavras continuavam vagas...

Após o desastre de hoje, acabei voltando para casa mais cedo. Depois que Uzumaki saiu pisoteando da sala, eu não o vi mais pelo colégio e ainda teimoso e agitado por causa da nossa discussão, dei de ombros, arrumei a minha mochila e saí do colégio sem nem olhar pra trás.

Lidar com ele é muito difícil, e se não tivesse sido tão grosseiro ao reclamar sobre o meu método de ensino, até teria entendido o seu ponto de vista. Porém, ele foi muito longe e eu simplesmente não conseguia ficar quieto.

Admito que estou em culpa, mas aquele loiro também não facilitava. Agora só de lembrar ou olhar pro rosto dele, eu fico irritado, lembrando das palavras que ele usou para me ofender. 

Não sei porque estou tão incomodado com o que ouvi, mas estou. É a primeira vez que aumento a minha voz com alguém. Antes nunca foi necessário, pois bem, eu raramente converso em casa quem dirá no colégio.

E quando faço, sempre ganho com meus argumentos. Vantagens de ser inteligente e bem articulado.

Pelo menos esses eram os traços fixos da minha personalidade até antes de o conhecer. É fácil demais perder a cabeça na presença dele.

Agora eu entendo o que a professora me disse há uma semana atrás. Que eu provavelmente sou o único nesse colégio que aguentaria lidar com ele.

Se bem que já não tenho tanta certeza de que isso será mesmo possível.

Supostamente, aquele loiro atrevido me demitiu. Eu, Uchiha Sasuke, fui demitido. Que graça…

Solto uma risada irônica e amarga, jogando a minha cabeça pra trás enquanto seguro a barra de apoio no metrô. Talvez eu deva realmente desistir dessa imbecilidade.

Eu nem estava mesmo interessado no trabalho e bem, posso conseguir dinheiro de outras formas muito mais fáceis e suportáveis. Apesar de que, desistir não é algo que realmente seja facilmente aceitável no estilo de vida dos Uchiha.

Dei de ombros, me preparando para descer na minha estação, que ficava há apenas alguns quarteirões de distância da minha casa. 

Não é como se eu fosse apegado às nossas tradições. Meu irmão ficaria decepcionado comigo se soubesse, mas como ele não conhece a peça rara que Uzumaki Naruto conseguia ser, não deixo esse fato me incomodar.

Tento afastar a catástrofe de mais cedo da minha cabeça durante a caminhada pra casa, porém não tenho sucesso. Aquelas palavras dele ressoavam feito o refrão de uma música genérica e chiclete na minha cabeça.

Minha garganta está seca e a amargura ainda não havia se dissipado do meu humor. Que vontade de esganar aquele energúmeno. Que arrependimento foi ter aceitado esse serviço.

— Pela sua fisionomia, hoje o dia foi difícil. Ficou nervoso na hora de se apresentar, filho? — Minha mãe perguntou assim que pus os pés na sala.

Ela e Fugaku assistiam televisão. Abraçados, enquanto seguravam xícaras de chá preto. Que visão encantadora.

Normalmente eu a responderia normalmente e até tentaria pedir por mais alguns conselhos, porém com ele presente eu não me sentia confortável. Então, fui o mais curto possível ao dizer que estava apenas cansado de falar e que queria tomar um banho.

Funcionou pois ela não me perguntou mais nada. Ao atravessar o corredor, suspirei aliviado.

Joguei minha mochila na cama, peguei um conjunto preto de moletom e segui pro banheiro. E quando eu enfim conseguir afundar aquele evento em um canto esquecido do meu cérebro, ele logo voltou para me assombrar.

Encarei meu reflexo contra o box de vidro e por um segundo, me perguntei se realmente parecia um robô. Balancei a cabeça, negando.

Minha aparência é normal. Talvez o problema esteja no meu jeito de falar.

Por mais surpreendente que possa parecer, estou levando as palavras dele em consideração.

Sei que ele só inventou de começar essa confusão para ter uma desculpa para fugir de suas responsabilidades. Bem, por partes, penso que esse foi pelo menos um dos motivos, porque depois que o ouvi dizer que ia procurar por outro tutor, fiquei confuso.

Eu devo ser um dos motivos então. Por mais que eu tente tirar a minha parcela de culpa dessa equação, infelizmente não consigo ignorar o óbvio.

É possível que ele tenha perdido as esperanças de aprender algo ao não conseguir entender nem mesmo uma palavra que eu dissesse. Ele pode ter sido um ignorante, grosseiro e idiota, mas não posso negar dizendo que eu facilitei o caminho dele.

Além de que, ignorando todos os meus costumes, devolvi suas ofensas e o tentei atingir de volta só porque não queria admitir que havia sim algumas verdades sob suas palavras.

Me jogo na cama, suspirando. Nem ao menos me dei o trabalho de secar o cabelo antes de me deitar. Estou exausto.

Nunca estive tão cansado psicologicamente antes. Pensar nisso está me deixando louco.

E ligeiramente culpado. Me arrependo de ter perdido a linha hoje mais cedo. Falei mais do que deveria, além de que o Uzumaki é um desconhecido, que direito eu tenho de o julgar quando nem mesmo convivo com ele?

— Merda! Isso é tão irritante. — Resmungo contra o travesseiro, ficando uns bons minutos nessa posição.

Só me levanto ao escutar o meu celular vibrar um toque maçante dentro da mochila. O pego na hora, pois como raramente recebia mensagens, sabia que devia ser algo importante.

Infelizmente, não gosto do que vejo ao desbloquear a minha tela com um plano de fundo preto e ir direto para a minha caixa de mensagens.

Era a professora. Pelo visto Naruto era mesmo um bocudo com todo mundo.

Sensei: Sasuke, Uzumaki veio conversar comigo hoje mais cedo. Precisamos mesmo trocar de tutor? Assim tão cedo? Não temos ninguém para o substituir… Ele provavelmente ficará sem auxílio durante o verão se você desistir.

Não é nenhum pouco surpreendente que eu consiga sentir o seu desespero exalar dessas palavras. 

Você: Não se preocupe. Não será necessário. Vou tentar solucionar nossas diferenças amanhã.

Sensei: Tem certeza, menino Uchiha? Ele chegou hoje na nossa sala praticamente berrando ameaças pra logo depois ir embora sem nos deixar argumentar nada.

Pode ser perigoso pra você. 

Traduzindo, não queremos irritar ele e você pode piorar as coisas pro nosso lado se cometer mais algum erro. Patéticos.

Você: Tenho. Não há motivos pra ter medo dele. Vou resolver isso. Só preciso que me faça um favor antes.

Sensei: Se insiste tanto, não vou retrucar. Mas depois não diga que não o avisei.

Em que posso te ajudar?

Sento na cama e cruzo as pernas, me perguntando se deveria mesmo pedir isso a ela. Talvez ela aceite se eu me argumentar bem.

Você: Fale para ele que vocês já trocaram de tutor. Ele não virá amanhã se não fizerem isso. 

Do jeito que é birrento, é claro que ele não iria vir ao saber que não tinha conseguido o que queria.

Você: Mande a mensagem em nome de todos os funcionários do colégio, assim caso ele queira reclamar com alguém, não achará um rosto em específico.

Acrescentei ao prever que ela provavelmente recusaria a proposta caso precisasse falar diretamente com o loiro. Eles são bem previsíveis. 

Sensei: Claro, vou pedir o número da instituição ao nosso diretor agora mesmo. Boa noite Sasuke-kun.

Você: Boa noite.

Suspirei aliviado, jogando o celular pro canto da cama. Felizmente ela não tentou fugir de mais essa responsabilidade.

Confesso que também sinto certa ansiedade ao pensar no encontro que teria com ele amanhã. E não é porque me sinto intimidado e sim porque, o que eu mesmo decidi conversar com o Uzumaki amanhã me assustava.

Soltei outro suspiro, jogando o cabelo pra trás. Um péssimo hábito, que só surgia quando estava nervoso, e que estou tentando largar.

Me deito na cama e ao fechar os olhos e perceber que não sinto sono algum, mesmo estando tão cansado, me levanto e de repente penso em uma solução. Para me preparar melhor para amanhã.

Se precaver nunca é demais. Então sento na minha escrivaninha e começo a trabalhar. 

⤸͓͐͑

Mesmo dormindo muito tarde ontem, eu ainda coloquei o alarme para tocar às seis horas da manhã. Queria chegar o mais cedo possível no colégio, não quis arriscar dar de cara com o Uzumaki na estação como já tinha acontecido algumas vezes.

Pensei até em me disfarçar, mas logo descartei a ideia pois não vou me submeter a algo tão ridículo. Já estou saindo o suficiente da minha zona de conforto. Ainda nem acredito que realmente estou levando isso pra frente.

Que na verdade, eu queira seguir ajudando alguém tão cabeça dura. Não sei porque, mas peguei um estranho interesse pela figura de Naruto e talvez, só talvez queira saber um pouco mais sobre o que se passava na mente de uma criança como ele.

Chego na escola agitado e assim que o porteiro está abrindo os portões da frente. Minha barriga reclama de fome, pois por ter levantado antes da minha mãe, não tive nada pra tomar um café da manhã decente.

Só um copo de leite sem graça. É bom que o que eu tenho em mente funcione, ou se não tudo terá sido em vão.

Esperar os minutos passarem sentado na sala de aula foi uma longa tortura. Ainda que eu seja conhecido pela minha paciência, não ter certeza sobre qual seria a reação do Uzumaki me deixou um tanto ansioso.

— Sasuke? É impressão minha ou você está suando? — Karin perguntou ao atravessar a sala e vir se sentar do meu lado, carregando um caderno nos braços.

Ela não estava usando o uniforme como deveria, mas ignorei essa violação ao uma certa cabeleira loira abrir a porta da sala. Seus olhos azuis não ficaram nem um pouco contentes ao se encontrarem com os meus. Fingindo que não me importava com a sua presença ali, desviei minha atenção para Karin que já tinha voltado a tagarelar. 

Senti aquele olhar me rondar por alguns segundos, e ainda que receoso com a sua reação segui o ignorando. Para o meu alívio, me livrei daqueles dois incômodos - que era a boca aberta da Karin e a atenção agonizante do Uzumaki - ao professor Yamato aparecer e dar início ao reforço do dia. Diferente da primeira vez, naquela manhã resolvi adotar os pontos mais importantes em um caderno pequeno e velho que tinha trago, pra ver se isso facilitava mais o aprendizado dele mais tarde.

Distraído com os assuntos explicados, passei o tempo inteiro focado em anotar tudo no caderno e ignorar os comentários sarcásticos e fora de hora que Karin vez ou outra fazia. Só quando a hora do almoço tinha chegado que eu reparei nele. Naruto foi o primeiro a deixar a sala de aula, e mesmo que possa parecer presunçoso da minha parte, eu tenho certeza que ele só tinha saído com tanta pressa porque não queria mais olhar na minha cara.

Sabia que além de birrento, ele também devia ser bem rancoroso. Abaixo a cabeça, frustrado, de repente me perguntando se não seria melhor pular o almoço e ir direto para o terceiro andar e esperar lá pela criança aparecer. No fim, é o que eu resolvo fazer, pois ainda que estivesse de estômago vazio, estava enjoado demais para sequer sentir fome.

Além de que não ir até o refeitório ia me dar uma folga de Karin. Sei que ela não fazia por mal, mas aquela garota drenava muito da minha pouca vontade de existir naquele colégio com suas conversas. Para minha sorte, ela sabia respeitar a minha distância e sabiamente não me seguiu quando me afastei dela após termos saído pro intervalo.

Subo as escadas vagarosamente e ao estar de frente ao meu destino, arrasto a porta com certa preguiça. Largo o caderno que ainda tinha em mãos em cima da mesa do professor, abandonando a minha mochila praticamente vazia na cadeira desocupada e um tanto empoeirada dele. Me sentei no chão e comecei a revisar o que eu pretendia falar para ele. Queria que o Uzumaki, pelo menos na minha presença, deixasse aquela sua barreira de hostilidade pra trás. Talvez estivesse atirando no meu próprio pé por seguir tentando quando ele não estava afim de nem olhar na minha cara, mas eu não podia deixar ele ganhar toda a razão quando também estava parcialmente errado.

Perdido em pensamentos, levo um susto ao ouvir a porta ser aberta de uma forma brusca. Atitude esta que vem se tornando cada vez mais familiar. Naruto pareceu muito confuso e perdido ao me encontrar ali, mas a surpresa logo se dissipou de seu rosto em um piscar de olhos. Maravilha. Coberto de fúria, ele me deu as costas sem nem pestanejar, mas antes que fosse tarde demais eu corro na sua direção e puxo seu ombro com firmeza.

— Espera! Eu tenho uma estratégia! — Fiz uma careta, irritado com o deslize que fiz com meu vocabulário. Balancei a cabeça, tentando afastar o constrangimento — Me escuta primeiro, e se você ainda não concordar comigo, eu te deixo trocar de tutor.

— E desde quando eu preciso que você me deixe fazer alguma coisa, mauricinho? — Seus olhos azuis se tornaram uma linha fina e quase invisível por ele ter enxugado a testa devido ao tamanho da irritação que estava sentindo. Uzumaki estava mesmo de péssimo humor.

Mas eu não podia voltar atrás agora, além de que nem queria isso em primeiro lugar. Irei mostrar a ele que o seu orgulho idiota não o levaria a lugar algum. Que ele também precisava reconhecer os próprios erros se realmente desejasse crescer um pouco nessa vida. Se eu tive a decência de tentar me redimir, ele também deveria se esforçar um pouco.

— Apenas cale a boca e me escute. Quero esclarecer algumas coisas, então largue essa atitude só por alguns minutos e fique quieto — Disse, mas não recebi o que queria como resposta.

O loiro apenas cruzou os braços, ainda irritado da cabeça aos pés. Até seus dedos estavam inquietos e impacientes. Eu ainda não tinha o convencido a ficar.

Teria que usar a única coisa que estava tentando evitar entregar de bandeja a ele.

— Por favor. — Rangi os dentes, pronunciando aquelas palavras com dificuldade. Apertei os punhos ao enxergar um sorriso ladino deslizar de seus lábios. Maldito. Eu devia saber que o loiro não abriria mão de sua resistência contra mim se eu não o entregasse algo em troca. Dessa vez, ele ganhou — Me deixe explicar o que tenho em mente pelo menos.

— Tá, tá. Só me diga logo o que você quer, Uchiha. 

Respirei fundo antes de voltar a falar. Se antes estava mesmo querendo me desculpar apropriadamente e resolver as coisas de uma maneira madura e correta com ele, agora tinha mudado de ideia. Seu jeito de agir e falar ao meu redor era irritante demais, o que inconscientemente me fazia deixar de lado o meu lado racional e agir quase tão infantilmente quanto ele.

Não pediria desculpas, mas ainda explicaria o que tinha em mente para que resolvêssemos nossas diferenças.

— Olha, eu não gosto de você. — Viro o meu rosto ao o pegar revirando os olhos — Isso é óbvio. Além de que você também não gosta de mim. O que eu não me importo nenhum pouco.

— E isso lá resolve essa merda? Por que acha que tentei trocar de tutor? Para um gênio, você não é lá muito inteligente — Respirei fundo, me segurando para não o xingar de todos os poucos palavrões de alto calão que conhecia. Não posso dar mais esse gostinho a ele.

Se controle, Sasuke.

— O que eu estou querendo te dizer é que para te ajudar a saber como somar dois mais quatro, Uzumaki… — Abro um sorriso ao minha provocação o fazer largar sua arrogância pro meu lado. Como se eu fosse aceitar calado os seus insultos. Que ele conheça seus limites.

— ...não precisamos ser amigos. Mas se continuarmos a discutir desse jeito, não vamos chegar a lugar nenhum, então pensando em resolver essa dinâmica achei um caminho que talvez servisse como uma boa solução.

— Dá pra parar com a enrolação? Tô enjoado de escutar essa sua voz robótica, se não me disser o que tu quer logo, te dou uma surra e me mando de vez daqui.

Sopro o ar preso em minha boca, não levando a sério suas ameaças. Sabia que essa energia gangster do loiro era pura fachada. 

O ignoro novamente, indo apoiar as minhas mãos na mesa, antes de me sentar na cadeira ao começar a sentir um incômodo crescer na região das costas. 

—  Vamos ser colegas de interesses — Ele franziu a testa, — Ao invés de nos odiarmos, achei que podíamos tentar nos entender melhor antes de começarmos a nos julgarmos sem sabermos de nada a respeito um do outro. É uma perda de tempo, não concorda?

Para minha surpresa, o Uzumaki riu. Ele despencou a cabeça pra trás e gargalhou por uns trinta segundos. Até vi algumas lágrimas rolarem de seu rosto.

Por algum motivo, meu rosto ferveu. Não sabia se era de vergonha ou ódio. Ele estava achando a minha sugestão engraçada? Esse garoto me tira do sério.

— Sasuke, você pesquisou isso em algum daqueles sites de autoajuda? “Como fazer mais amigos na escola” — Voltou a rir, o que me fez ficar ainda mais irritado e constrangido. Não foi exatamente em um site de autoajuda e sim no WikiHow. Duas coisas completamente diferentes.

Para que ele não percebesse que tinha quase acertado nas suas deduções, limpei a garganta e fingi que não fazia ideia do que ele estava falando.

— Como eu disse, não quero ser seu amigo. Só precisamos ter uma relação aturável para que isso funcione, além de que diferente de você, eu não preciso ficar com a cara na internet pra pensar em soluções inteligentes pros meus problemas — Minto, o que para o meu alívio desmancha a satisfação do rosto normalmente enrugado de raiva dele.

— Mas então o que você quer, hein? Ainda não entendi pra onde você quer ir — Voltou a cruzar os braços e estreitar os olhos, encostado no vão ainda aberto da porta da nossa sala.

— É pra onde você quer chegar, seu energúmeno ignorante — Sussurrei, entredentes. Antes que ele pudesse rebater minha correção, voltei a me explicar — E o que eu queria sugerir era para que todo os dias, antes de começarmos as aulas, fizéssemos uma troca de perguntas.

Ele se afastou da porta, começando a procurar um assento entre as inúmeras carteiras espalhadas na sala. Escondo um sorriso ao perceber que sim, passar por essa tortura psicológica estava surtindo algum efeito. Naruto já não parecia mais tão ranzinza quanto antes, além de que também parecia mais propenso a me escutar de verdade. Talvez ele só quisesse que eu realmente parecesse querer ajudar. Ou uma boa risada.

Mas realmente, agir como um tutor impaciente e que só sabia jorrar e o encher de informações todos os dias não combinava nenhum pouco com a natureza impaciente dele. É perceptível. Nada inteligente da minha parte não ter percebido isso antes. Não é a toa que o loiro tenha perdido a cabeça ontem. Não tinha como ele querer aprender algo comigo agindo daquele jeito, por isso acho que posso entender um pouco do seu ponto de vista. Percebo agora que é realmente mais prático conversar honestamente com ele e propor soluções para que pudéssemos lidar melhor com as nossas desavenças. Talvez eu já tenha quebrado um pouco da sua marra. É o que eu suponho após ele ter se rendido a me escutar.

Pelo menos por enquanto. Tenho que aproveitar essa brecha antes que ele mude de humor novamente.

— Acho que vamos largar as primeiras impressões que temos um do outro de lado se nos conhecermos um pouco melhor. Não precisa ser nada pessoal, mas acho que o que ia ajudar nisso seria fazer uma ou duas perguntas antes de cada aula começar, e as respondermos com sinceridade. Isso pode diminuir a distância que existe entre nós, além de apagar um pouco a tensão exagerada.

Espero ansioso por uma resposta. Naruto está me encarando, com uma certa surpresa brilhando dentro de suas orbes claras. Poucos segundos depois, se levanta repentinamente da carteira onde estava para me dar uma resposta. Me surpreendo ao ele sair do fundo da sala e passar a vir na minha direção enquanto carregava uma cadeira nos braços.

Arregalei levemente os olhos ao ele sentar na minha frente, apoiando as mãos relativamente grandes na mesa.

— Não é uma má ideia. Você é um cara esquisito, então realmente tenho algumas perguntas pra te fazer — Engulo em seco, de repente repensando no porque ter oferecido isso em primeiro lugar.

Estava receoso com os absurdos que ele podia querer tentar arrancar de mim por pura vingança e ganância sua. O Uzumaki é bem conhecido por sua crueldade, afinal. Apesar de eu não levar boa quantia de sua má reputação a sério, uma parte dela ainda me deixava levemente receoso, devo admitir.

— Já que é assim, então eu começo — Aperto os nós entre os meus dedos, ainda um pouco relutante sobre o que poderia estar por vir — Por que é um maníaco por estudos, Uchiha?

Sua pergunta me pega de surpresa. E maníaco? Que jeito mais esquisito de se expressar esse loiro idiota tem... Estou até ficando atordoado com tantas mudanças repentinas de personalidade que ele vinha tendo. Não esperava que fosse ser algo tão simples. Ele está aceitando essa minha sugestão rápido demais. Estou começando a suspeitar de suas intenções. E para ser sincero, não fazia ideia de como responder aquilo. Era sério que dentre tantas coisas, ele queria saber algo tão sem graça? Mas por que? Por que ele queria me fazer perguntas em primeiro lugar? 

Como se esse esquisito estivesse no direito de me chamar de esquisito. É cada história que eu tenho que aturar. Maldita professora, eu não estaria com tanta dor de cabeça se nunca tivesse me oferecido esse cargo.

— Como assim? — Pergunto, genuinamente confuso.

Ele bufou, impaciente.

— Para minha infelicidade, eu só conheço você por causa disso. Sabe quantos professores vivem lambendo o seu pau por aí? — Quase engasgo, nada acostumado com esse seu linguajar podre — Toda virada de semestre eu tenho que aturar ouvir o seu nome ser idolatrado pelos corredores. "Sasuke, o menino mais lindo e inteligente do colégio. Que nunca saí do primeiro lugar". — Usou uma voz infantil e irritante, demonstrando mais uma vez o seu alto nível de maturidade —  Sabe o quanto isso é irritante?

— Eles sempre usam você de exemplo. Sempre dizem, "vocês deviam aprender com o Sasuke, que além de notas impecáveis, também é um aluno respeitoso e exemplar da academia". Deve ser por isso que você ficou assim, insuportável — Cuspiu ele, mais descarregando ofensas do que sendo verdadeiramente curioso. Agora faz mais sentido — Como se isso fosse uma desculpa para se achar melhor do que todo mundo e ser um filho da puta arrogante.

Fico em silêncio, um pouco chocado. De repente, me sinto desconfortável com sua presença ali. Eu também não queria ser falado, ou alguém "lambido" pelos professores. Na verdade, procurava era distância desse tipo de atenção, não era para menos que vivia sozinho. Ele quem não fazia ideia do quão irritante era ser taxado como uma pessoa unicamente arrogante, fria e calculista o tempo inteiro só porque eu não queria manter contato emocional com o resto do corpo estudantil. Não posso negar que às vezes eu seja arrogante e um tanto calculista demais para a média nacional japonesa, mas esses traços não são os únicos que me definem como um ser humano.

É irritante.

Além de que ser usado como alvo de fofocas e admiração exagerada, tanto pelos alunos quanto pelos professores, era uma tortura pra mim. Nunca desejei nenhuma dessas coisas. Porém, confesso que se fosse comparado o tempo inteiro com alguém que tivesse qualidades completamente opostas às minhas, e ainda inferiorizado por isso, também não guardaria uma boa opinião sobre aquela pessoa. Tudo o que sentiria seria apenas ressentimento. 

Agora eu pelo menos entendo o porquê dele não ir com a minha cara desde o início.

Mas não ia deixar suas palavras me afetarem demais como na última vez. Irei seguir com o planejado.

— Não acho que vá gostar da minha resposta, — Ele fez uma careta, então achei mais sensato o responder mesmo assim — Mas eu só estudo tanto assim porque eu gosto.

— Hein!? — Exclamou ele, indignado.

Dei de ombros, sendo sincero.

— Sim, não tem muito segredo por trás disso. Não é nada extraordinário — Desvio o olhar de seu rosto, um pouco intimidado com a intensidade em que ele prestava atenção nas minhas palavras — Sinto decepcionar você, mas eu também detesto que falem de mim por aí pelo colégio. Gosto de ficar sozinho, não sei e não faço questão de socializar com outros alunos e por isso sempre me julgam antes de me conhecerem.

— Ainda sou um filho da puta arrogante às vezes, isso eu não posso negar — Para minha surpresa, ele soprou uma risada fraca e sincero, o que também me fez rir inconscientemente — Mas só estudo porque ocupa o meu tempo e eu gosto de deixar a minha mãe orgulhosa. Receber os seus elogios toda vez que ela checa o meu boletim, não tem párea. É uma sensação boa de dever cumprido. Faço tanto por mim, quanto por ela. Quero seguir os passos de meu irmão e assim, preencher o vazio que ele deixou nela ao ter saído do país.

Me empolguei nas palavras, sentindo um alívio estranho por as ter posto pra fora. Nunca tinha comentado sobre isso com ninguém, acho que em certo nível nem mesmo eu sabia 100% que me sentia assim. E ao contrário do que eu imaginava, não me arrependia de as ter tido. Apesar de estar receoso. Naruto estava quieto.

Ele ficou um minuto exato em silêncio, soube pois contei aqueles segundos agonizantes na minha cabeça sem nem perceber. Naruto tinha desviado os olhos azuis para a mesa que dividimos ali, mas não parecia irritado ou incomodado comigo pela minha resposta, então tentei manter a minha tranquilidade intacta.

— Que sem graça, Uchiha. Jurava que tudo o que cê queria era pisar nos caras mais burros e incompetentes que você com o seu cérebro gigante e malhado — Disse um monte de palavras sem sentido, o que me deixou confuso outra vez. Sua voz, que geralmente é alta e espalhafatosa, parecia um pouco dormente e sonolenta. Estranho.

— Malhado? Precisamos trabalhar um pouco nas suas analogias, Uzumaki. Elas são tristes de tão péssimas — Brinco um pouco, tentando aliviar o clima que tinha se instalado por causa daquele seu silêncio fora de hora. — Mas o que estava esperando ouvir, então? Achava que era algo mais profundo que isso?

Ele voltou a me encarar, mas duvidei que fosse me responder. Pelas suas feições, captei que nem mesmo ele sabia ao certo o que esperava ouvir. Isso aqui está ficando cada vez mais estranho. Me sinto um pouco perdido. 

— Não vai me fazer uma pergunta? — Questionou de repente, sua voz voltando ao normal do nada e me assustando pela segunda vez em menos de vinte minutos — Seja rápido, teme! Ainda tenho várias pra fazer, tsk — Rangeu os dentes, tentando soar ameaçador outra vez. Apenas revirei os olhos, nenhum pouco amedrontado.

Mas, aquilo queria dizer que estava dando certo? Ele não parece incomodado mais, acho que está funcionando. Pelo visto, ter sido direto com a minha resposta trouxe um efeito positivo. Naruto está levando minha sugestão a sério. Ele está cedendo. Ainda que tente afastar esse pensamento imbecil de minha mente, não consigo evitar; Mas quem estava ganhando agora, Uzumaki?

Igualmente a ele, eu também não precisei pensar duas vezes antes de surgir com uma pergunta que queria fazer pra ele. Desde a primeira vez que tinha escutado a respeito do "Chamas do Terror",  fiquei me questionando o motivo do porquê. Ainda que tivesse minhas suspeitas, nada melhor do que esclarecer essas dúvidas com o responsável por elas em primeiro lugar

— Por que vive comprando brigas por aí? Ser um delinquente é tão bom assim pra você se arriscar no colégio e viver machucado pelos cantos faz valer a pena?

De relance, o enxergo soprar os lábios, se esticando preguiçosamente na cadeira enquanto cruzava os braços atrás do pescoço, molhando rapidamente os lábios secos e avermelhados. Ele manteve as orbes azuis presas ás minhas, o que me deixou esquisitamente desconcertado mais uma vez. Toda essa sua atitude desleixada é mesmo muito irritante e desnecessária.

— Eu sempre tive o pavio curto — Falou, o que me faz inclinar involuntariamente o meu corpo na sua direção — E quando mais novo, peguei o costume de encarar as pessoas. Mais por curiosidade do que outra coisa, mas por sempre ter essa cara de "marginal" e ser diferente, eles achavam na hora que eu 'tava atrás de levar soco na cara e ser chutado no estômago — Fiz uma careta, pensando no quão ridícula era essa lógica — Claro que não fiquei quieto e dei aos desgraçados o que eles queriam. No começo, era desastrado mas por ter mais força eu sempre acabava com a raça deles.

Estufou o peito, orgulhoso. Balancei a cabeça, desacreditado na capacidade em que ele tinha de se gabar por idiotices feito essas. Isso não é motivo de orgulho, babaca.

— Naqueles tempos, foi mais pra me defender mesmo, mas depois foi virando meio que uma saída pra mim. — Se calou de repente, o que me deixou intrigado.

Ainda queria entender mais dessa história e aproveitando que ele não parecia relutante a se abrir a respeito disso, resolvi arriscar minha sorte. Essa está sendo, provavalemente, uma experiência nova de aprendizado para nós dois. Duvido que ele tenha o costume de comentar sobre a sua vida com outras pessoas, eu muito menos, então eu não posso evitar seguir curioso a respeito dele. Ainda mais agora que tenho um caminho para achar minhas respostas.

— Saída? Para o quê? — Pela primeira vez, ele desvia o olhar do meu rosto, um pouco hesitante. No mesmo segundo, me arrependo de ter perguntado.

Talvez tenha entrado em território proibido sem nem perceber.

— É relaxante. — Confessou no impulso, o que me fez rir, sarcástico — Brigar é relaxante desde quando?

Uzumaki revirou os olhos, cruzando os braços na altura do peito. Ele praticamente deitava na cadeira agora. Que folgado.

— Extravasar a raiva dando alguns socos é apenas libertador, mauricinho — Deslizou aquele sorriso que eu tanto queria arrancar de seu rosto toda vez que se atrevia em me provocar com ele — Por isso, te aconselho a me deixar na minha, caso ainda goste desse seu rosto de porcelana intacto — Piscou, tentando parecer um daqueles galãs arrogantes das novelas medíocres que minha mãe assistia de vez em quando.

Quase vomitei em cima da mesa. Ele nunca tinha soado tão falso e repudiante.

Mas após aquele seu desvio sutil de assunto, percebo a minha deixa. Não devia tocar mais naquele tópico, Naruto já deixou bem claro nessa sua passiva ameaça que não se sentia confortável falando sobre aquilo. Claramente reconheço que assim como eu, ele também tinha os seus limites. Ter me respondido, já foi o suficiente por hoje.

Apesar disso, me sinto extremamente satisfeito por minhas pesquisas na internet terem dado certo e nos levado a algum lugar. Tenho certeza que agora, ele vai pegar mais leve na sua resistência ás minhas habilidades como educador e vamos conseguir estudar apropriadamente dessa vez. Afinal, não custa eu tentar lhe dar um ajuda nessa questão agora que estou equipado para a exercer corretamente.

— É minha vez de novo, não é? — Questionou, parecendo levemente ansioso. Seguro uma risada, aflito de que poderia o fazer surtar de novo se começasse a rir da sua afobação. Não imaginava que ele fosse ter tantos questionamentos a meu respeito. No fim, essa criança só queria extravasar seu incomodo a meu respeito, tirando quaisquer informações de mim.

Já posso trabalhar como psicólogo, pois pelo visto sei ler muito bem o que se passa na mente de outras pessoas. Não que eu esteja querendo me gabar, mas sou mesmo muito inteligente (emocionalmente falando.

— Se esqueceu, dobe? — Ele entortou os olhos de novo ao ouvir a minha leve ofensa, mas para meu alívio preferiu a ignorar — Só teremos direito a uma pergunta, cada. Você ainda precisa recuperar suas notas, não é verdade? Precisamos começar logo, não queremos que todo esse esforço até agora seja jogado fora. Estamos quites, ambos revelamos algo. Aquela tensão passou, então devemos seguir com as aulas.

Ele bufou, claramente contrariado com a minha decisão.

— Tá certo, após ver esse seu desespero pra fazer essas lições acontecerem, os livros de autoajuda e ainda tentar se redimir pela mancada de ontem, vou te dar uma chance hoje, lata velha — Lata velha? — Sim, se esqueceu que tu parece com aqueles robôs defeituosos que aparecem naqueles filmes chatos que passam na TV aberta, que não sabem calar a boca?

Rangi os dentes, indignado com aquela comparação ridícula. Prendo a minha respiração e tentando não voar no seu pescoço e o assassiná-lo friamente no meio da tarde dentro dos limites do colégio, o ignoro impiedosamente. Pelo menos, ele tinha dito aquelas palavras em um tom mais leve, de troça. Como se quisesse me provocar, mas não me afetar de verdade. Bem diferente de como tinha falado comigo no dia anterior. Talvez seja um ponto positivo. Além de que não posso responder suas provocações a altura. Não agora. Me concentrar no que eu fui encarregado a fazer aqui, e no que estou ganhando pra isso, é o mais primordial nesse momento.

— Tá, delinquente de boca de esquina, será que podemos começar suas aulas agora ou ainda tá difícil? — Naruto sorriu insolente, dando de ombros. Infelizmente, os insultos escaparam antes que eu pudesse controlar minha língua.

— Se eu preciso melhorar minhas analogias, tá bom de você começar a aprender xingar feito gente, Sasuke — Revirei os olhos, o ignorando propositadamente. Ele ri outra vez, nenhum pouco afetado pelo o meu silêncio. Um dia, ainda iria quebrar seu nariz com uma cotovelada no rosto. Uzumaki Naruto que me aguarde.

Suspirei baixinho ao ele finalmente largar suas brincadeiras de lado e recolher a mochila que tinha largado em qualquer canto da sala antes. Ao voltar a se sentar na minha frente, encostando sem autorização as suas pernas nas barras inferiores da minha cadeira e consequentemente nos meus pés calçados, eu abro o caderno que tinha trago e passo o plano de estudos que tinha montado pra ele. Outro fator que pesquisei na internet, um plano que funcionava muito bem entre os estudantes iniciantes.

Usar palavras mais simples também surtiu efeito com ele, porque Naruto finalmente prestava atenção no que eu falava. Desde que tinha começado a explicar como e o quê iriamos trabalhar juntos naquelas férias de verão, ele só me interrompia quando tinha algumas dúvidas. As primeiras duas horas de estudos, correram tão bem que mal percebi o tempo passar. Entreguei o caderno menor a ele após ter terminado de explicar tudo corretamente, e após começarmos com o básico da matemática, não ouvi uma reclamação sequer vir dele.

O loiro claramente detestava estudar, mas por algum motivo, ainda estava se esforçando bastante para compreender o assunto. Ás vezes o pegava fazendo alguns muxoxos e sendo rabugento e preguiçoso, mas logo ele voltava a ter foco quando eu chamava sua atenção e copiava o que eu ensinava a ele no quadro em seu caderno de estudos. 

Para a minha felicidade, hoje o dia tinha sido completamente oposto ao dia anterior. Calmo e produtivo. Se continuarmos assim, ele não terá problema algum em gabaritar todas as provas. Não com a minha ajuda.

Porém, com a queda da minha ansiedade, logo outro fator se tornou preocupante. Eu fiquei extremamente faminto por não ter alimentado o meu estômago como deveria desde essa manhã. E parando pra pensar, é tudo culpa desse maldito Uzumaki.

O encaro de lado após nosso intervalo pro lanche ter iniciado. Ele tinha levado um bentô repleto de sanduíches simples e pequenos, claramente comprados em lojas de conveniência. Claro, como se ele soubesse cozinhar.

Eu, que não estava no espírito de descer as escadas e ir esperar uma eternidade na fila do refeitório para ter algo pra comer, desisto da minha fome repentina. Está tudo bem, posso comer o dobro quando chegar em casa sem problemas.

Aproveitando o silêncio, pego um dos livros de ficção científica que estava acompanhando os lançamentos de dentro da bolsa e ignoro a presença do loiro, que aproveitava com entusiasmo sua refeição. Pelo visto ele gostava bastante de comer. Entretido com o destino da organização androide que estava sendo violada pelos humanos na história, só percebo a aproximação de Naruto quando ele puxou indelicadamente o meu pulso na sua direção. Dou um sobressalto por ter sido pego desprevenido — O que pensa que está fazendo? — Pergunto, afobado.

Tento me desvencilhar do seu toque, mas por ele ser um pouco mais resistente que eu, não tenho sucesso.

— Que estranho, o seu braço é tão fino que parece que só um toque o quebraria em pedaços! Como que você é tão magro assim? — Observou o meu pulso, parecendo realmente surpreso. Me puxo de si com mais força, indignado com sua ousadia e ele finalmente sai do transe idiota em que estava ao perceber o meu desconforto.

Naruto ficou ligeiramente acuado ao ver minha reação. Parecia sem graça por ter invadido o meu espaço pessoal, o que rapidamente nublou o clima entre nós. Apertando levemente o meu pulso, que ficou um pouco vermelho por causa dele, solto uma risada fraca, tentando apagar a estranheza que aquela sua atitude tinha trago a mesa.

— Seus pais não te disseram que é rude perguntar a respeito do peso alheio, dobe? Está sendo insensível — Provoco, tentando aliviar seu desconforto. Respiro fundo ao perceber que tinha dado certo ao ouvir ele soltar uma lufada de ar, logo voltando agir com seu cinismo costumeiro.

Ele é tão descarado que nem sente. Mas no fim, não fico irritado muito tempo com isso. Ele não parecia ter feito por mal, apenas por curiosidade, então vou deixar passar dessa vez.

— Sou parcialmente magro.

— Isso não existe, Sasuke. Não tem como ser metade magro, metade gordo, metade musculoso ou metade esquelético.

Que cérebro de minhoca.

— Claro que tem, desatualizado. Eu nasci naturalmente magro, porque o meu metabolismo é alto. Mas meu corpo não é desprovido de alguns músculos.

Era verdade, apesar de eu me exercitar algumas vezes por semana e esconder alguns desses músculos. Ainda assim, meu corpo é um pouco mais magro que o dele em comparação. Mesmo que eu esconda boa parte do meu usando corretamente as inúmeras camadas de uniforme do colégio, enquanto Naruto só não aparecia aqui usando uma regata porque provavelmente não queria. Ele tinha os professores na palma da mão e por isso, nunca era barrado pelas roupas normais e inapropriadas pro ambiente escolar que ele usava. Sempre o deixavam fazer quase tudo que desejava pelo colégio, o era bem injusto na verdade.

E depois ele ainda vem insinuar que eu tinha 'privilégios' por ser bom nos estudos. Há, a hipocrisia da raça humana...

— Seu metabolismo o quê? O que é isso? — Balancei a cabeça, me sentindo um tanto alarmado por ele não saber algo tão simples quanto aquilo.

— Temos um longo caminho pela frente, cabeça quente... — Ele me encarou, confuso. 

Voltamos a ficar em silêncio, e tudo o que eu consigo escutar é a sua mastigação um tanto desajeitada, porque até comendo ele parecia uma criança.

Porém, de repente me vejo inquieto… Mesmo que saiba superficialmente de seus motivos, ainda não entendi o porquê dele ter insistido tanto em continuar as aulas com outro tutor. Afinal, não faz sentido que alguém como ele, que detesta estudar e provavelmente curta vadiar durante as férias, as substitua por horas e horas preso no colégio com um professor que tinha a mesma idade que ele. No ponto de vista dele, essa situação devia ser a encarnação perfeita do inferno. Por isso não fazia sentido ele ter feito quase de tudo para que aquilo desse certo.

— Uzumaki? — O chamei, enquanto ele dava sua última mordida no lanche — Por que você insistiu tanto em fazer essas aulas? 

— Eu não insisti. Foi essa maldita escola que não me deu outra escolha — Franzi a testa, não entendendo nada — Eles me disseram que se eu não melhorasse as minhas notas durante esse verão, iam me repetir de ano. Não quero passar nem mais uma semana perto desse lugar quando tudo acabar, quero me ver livre disso aqui logo, por isso resolvi ceder a manipulação deles.

Balancei a cabeça devagar, absorvendo sua resposta. Fazia sentido. Naruto provavelmente é forçado por alguém a vir pro colégio, já que se não fosse, não faria questão de o terminar junto com os outros alunos de sua classe. Mas sinceramente, não acredito que o colégio tenha usado um truque baixo desses só pra aumentar a classificação da escola nos rankings do país. Literalmente patético. Que sistema sujo.

Os alunos reprovados só precisavam fazer duas semanas suplementares para recuperarem o semestre e então, aproveitarem o resto das suas férias como eles bem desejassem, mas eles tinham que exagerar, não é mesmo? 

Por fim, encerramos a conversa paralela para ele terminar de lanchar e voltarmos aos estudos.

Nas últimas duas horas, Naruto ficou muito menos motivado e ainda mais rabugento a querer me acompanhar nas explicações só porque eu tinha passado umas cinco questões para ele fazer no começo daquele segundo período. Mas para minha paz e consciência, ele se acalmou após eu explicar que precisaria testar ele a fim de saber em quais partes ele estava sentindo mais dificuldade, e em onde ele costumava errar e entre outras coisas. Todos os detalhes aqui serão importantes e eu irei fazer questão de analisar um por um. Quando me esforço em alguma coisa, as levo muito a sério e por isso, tornarei as notas de Naruto as melhores dentre os delinquentes desse colégio.

Farei questão disso.

Quando saímos da sala, o céu já estava quase escurecendo, e mergulhando os corredores de Yurai Kotogakko com tons rosas e dourados devido ao por do sol. Alguns alunos tinham deixado o colégio mais cedo, mas ainda avistamos alguns circulando pelos corredores enquanto íamos em direção aos portões principais. Caminhamos lado a lado durante todo o percurso sem dirigirmos sequer uma palavra um ao outro. Estávamos tranquilos, apenas parecia estranho conversarmos fora daquela sala de aula. 

Como íamos para o mesmo destino, a estação de trem, apenas parecia natural que andássemos até lá juntos. E mesmo que estivéssemos em silêncio, eu pelo menos já não me sentia mais desconfortável na presença dele. Para quem estava tão desanimado mais cedo com qual poderia ser a resposta de seu aluno a respeito das suas aulas, eu certamente fiquei bastante surpreendido. Sem aquelas máscaras orgulhosas que usávamos antes, percebi que até éramos um pouco compatíveis.

Afinal, nós dois somos antissociais que são constantemente vítimas de boatos desnecessários. Talvez sejamos mais parecidos do que eu imaginava.

O que pode ser um pouco desconcertante se eu pensar demais a respeito. Afinal, não estou acostumado com nada disso. Sequer imagino que um dia serei capaz de realmente mostrar as minhas outras características a alguém. Me parece impossível.

— Ei, Sasuke. — Me viro na sua direção ao o ouvir me chamar, segurando a barra de apoio à esquerda em frente a plataforma do metrô, enquanto Naruto se apoiava no lado direito daquela porta. Ele geralmente ficava lotado naquele horário, pois era o horário em que alguns voltavam pra casa enquanto outros começavam os seus turnos. Por isso estávamos os dois em pé hoje — Tenho só mais uma pergunta.

Viro o meu rosto, escondendo uma inesperada satisfação ao sentir que Uzumaki tinha mesmo se rendido a aquela minha saída besta para nossa trégua das discussões. Ele se animou até demais fazendo essas perguntas. Ainda parece fantasioso e inacreditável demais que tenha funcionado. Ainda não éramos nenhum pouco próximos, além dele claramente seguir sentindo certo desgosto pelo fato de eu existir, mas tínhamos nos tornado colegas muito rápidos.

— Você sabe que essa já é a terceira pergunta que me faz hoje? — Naruto continuou sério, como se me dissesse apenas com o seu olhar um “E daí?”. Cansado da sua teimosia, eu dou deu ombros. Que seja. — O que mais você quer tirar de mim, dobe?

Por um segundo, vejo a hesitação brilhar rapidamente nos seus olhos, mas logo ele retorna suas feições para a mesma “má” atitude desleixada que saía usando para sair no soco com outros valentões como ele por aí.

— Você gosta de fazer outra coisa que não seja estudar? — Mais uma vez, me vejo perdido com a aleatoriedade de suas perguntas. Nunca imaginaria que ele ficaria curioso a respeito disso sobre mim,

Seguro uma risada ao perceber que mais uma vez o decepcionaria com minha resposta.

— Sim, eu gosto muito de ler também. Como me viu fazendo antes, lembra? No intervalo. — Naruto revirou os olhos com gosto, nenhum pouco satisfeito.

Eu não avisei? O loiro parecia incrédulo com a minha resposta.

— Você é a pessoa mais sem graça que eu conheço, Sasuke — Empurrou levemente a minha testa com o dedo indicador, me fazendo recuar dois passos pra trás e esbarrar sem querer em outro passageiro.

Arregalo os olhos, e o encaro por alguns segundos, completamente estático. Naruto tinha replicado exatamente o mesmo toque que meu irmão costumava usar em mim quando eu fazia alguma coisa errada na sua frente quando eu era criança.

Toco a minha testa, ligeiramente atordoado. Que coincidência mais sem sentido. Que dia mais anormal.

Queria devolver uma pergunta, questionar o porquê dele ter ficado tão curioso a meu respeito assim repentinamente, mas esse ardiloso maldito, havia feito aquilo de propósito. Naruto esperou nos aproximarmos da estação em que ele saía para dar tempo o suficiente de fazer a sua pergunta, ouvir minha resposta e assim, sair do metrô sem nem me ouvir em primeiro lugar. Ele tinha mesmo uma mente perversa;

— Seu trapaceiro desgraçado. — Cuspi, indignado.

Suas verdadeiras intenções se tornaram claras feito água ao um sorriso enorme e presunçoso pincelar seus lábios ao ele deixar a plataforma. Carregado de insolência, antes de seguir seu caminho, ele se despede de mim com um aceno fraco e aqueles dentes brancos enfileirados escancarados no rosto. A vontade de lhe desferir um soco se tornou ainda mais tentadora.

Finjo ficar irritado com a sua atitude besta e infantil, mas antes que eu consiga segurar por mais tempo, também deixei escapar um sorriso, contagiado por aquela sua aura esquisita de ardilagens e provocações infantis. No fim, é aquela imagem que levo comigo pro meu caminho de casa.

Devido as palavras que coloquei pra fora... Me sinto em paz.

 

 


Notas Finais


naruto aqui é muito precioso <33 particularmente, gosto de todas as fases dele no anime, mas a que acho mais divertida é a do início do clássico, onde ele era uma bola um pouco irritante de energia, orgulhoso e teimoso demais para se abrir para as outras pessoas devido os traumas que sofreu na infância. ele nunca foi um personagem ruim, apenas alguém que por ter se machucado demais, perdeu um pouco a linha. então não pensem que aqui será diferente ;)

já o sasuke, é inspirado no sasuke após os eventos de shippuden (em partes pq eu particularmente prefiro fingir que tais eventos nunca aconteceram). apesar de mais maduro, ainda é bastante quieto e solitário. menos agressivo, um pouco arrogante, mas que comete seus erros tentando se levar pro caminho certo.

xDD como é refrescante escrever sobre esses dois skldjkfj nunca vou me cansar dos sasunaru/narusasu nessa vida

P.S: eu não sei se vocês perceberam, mas os meninos aqui falam de um jeito mais antiquado que o nosso, tanto o sasuke quanto o naru ás vezes, e isso é porque a história se passa em meados dos anos 2000´s. onde a internet só tinha basicamente sites de pesquisa e etc etc o computador era enorme e os celulares flip-flip ksdjs pra mim, os melhores já criados até agr kkkkkkkk enfim, só quis dar uma pincelada nisso mesmo, já que não é um fato relevante demais pra fic :))
ah, o nome da música que inspirou essa fic é: [MV] Sacudida pela Primavera Pensando em Você Kopi / Kobasolo

bye bye ~ vejo vocês ano que vem KKKKKK (brincadeira, não tô ficando maluca)


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