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História Estações - Uma História NaruSaku - Liberação


Escrita por: Flordeneve04

Notas do Autor


Boa noite, pessoas queridas.
Eu sei, eu sei, assumo. Demorei demais dessa vez. Me desculpem!
Contrariando as expectativas, essa temporada de quarentena vem me proporcionando muito trabalho. Estive sem tempo de me coçar direito, e quando sobrava uma vaguinha, eu só conseguia morgar, zero energia.
Entre uma escapada e outra da rotina, finalizei essa parte. Era pra ter ficado maior, mas decidi dividir pra não deixá-los sem atualização.
Pra quem gosta de ouvir a voz de Naruto, esse capítulo é para você. Vem emoções por ai =)

Recapitulando rapidinho... no último cap, tivemos conflitos pipocando na cerimônia de passagem de liderança do clã Hyuuga. O casamento de Sakura e Sasuke desmorona em suas bases frágeis e o segredo de um amor vem à tona. Antes que as feridas abertas encontrem cura, Sakura descobre que o inimigo sempre esteve por perto, atuando diretamente no coração da vila. Talvez tarde demais!

Espero que apreciem.

Capítulo 19 - Liberação


Fanfic / Fanfiction Estações - Uma História NaruSaku - Liberação

Uma dança. Da janela de cortinas entreabertas, filetes de sol cortavam a escuridão do quarto e minúsculos flocos de poeira rodopiavam através dos raios de luz, como se dançassem uma balada lenta. Repousavam no corpo deitado de Naruto, que os acompanhava com o semblante melancólico.

Respirou fundo. O despertador ainda indicava a chance de dormir por mais meia hora, mas a insônia estivera ao seu lado a madrugada inteira, e não seria agora que isso mudaria. Estendeu o braço protético para o lado direito da cama e só encontrou o frio do lençol. Não compartilharia uma cama mais com ela. Nunca mais.

Ignorando o vazio dolorido no peito, decidiu levantar-se mais cedo. Levou um tempo até se situar na nova casa. A residência do Hokage sempre estivera disponível para ele, mas um apartamento minimalista não era exatamente o lar mais acolhedor para um casal de crianças. Sua nova família precisava de espaço, jardim, calor, algo que ele mesmo nunca tivera na infância, então rejeitou a oferta quando assumiu o cargo. Não poderia se sentir mais agradecido por o local estar desocupado em um momento tão crucial.

Enquanto a panqueca pré-pronta cozinhava na frigideira, foi até o hall da entrada e abriu a mala com um click. Ao ver as roupas cuidadosamente dobradas, sentiu vontade de socá-las em um acesso de frustração amargo.

A simples imagem da mala organizada o fez reviver memórias recentes, de poucas horas atrás, quando decidiu abandonar o lar de forma definitiva.

- Naruto-kun, nos dê uma última chance. – Hinata dissera.

Eles tinham acabado de voltar da festa do clã, Naruto estava exausto e a tontura na cabeça não negava o fato de ter se excedido na bebida. Cada um seguiu para seu quarto, como ficara estabelecido desde que o relacionamento íntimo acabara. Mas então, no meio da madrugada, do arco da porta de seu escritório/quarto surgiu a bela mulher Hyuuga, vestida em um lingerie longo da cor opala de seus olhos. E ela pedia para recomeçar.

Naruto piscou os olhos, confuso. Seus reflexos estavam lentos, então não teve tempo suficiente para impedir a investida de Hinata. Quando percebeu, ela já se enrolara entre seus lençóis no sofá-cama apertado, o corpo quente e macio convidando-o a se entregar. Uniu as mãos frias às dele, em um pedido silencioso.

- Nós combinamos que não seria mais assim. – murmurou, afastando-a com delicadeza. Apesar do cuidado, viu o efeito de suas palavras no tremor dos lábios dela.

- Você combinou isso e eu aceitei. – mágoa resvalava da voz aguda. – Eu ainda sou sua esposa. Sei que você está confuso com tudo o que aconteceu, mas nós ainda podemos consertar nosso casamento. Acredito que conseguimos, se nos esforçarmos um pouco mais. – desvencilhou-se do bloqueio e passeou dedos incertos pelo antebraço do marido. - Mesmo aquele incidente estou disposta a perdoar.

- Não é certo isso. Há coisas que não se perdoa. Você não deveria...

- Meu amor por você é grande suficiente para curar essas feridas abertas. – olhar firme corroborava as palavras.

- Até mesmo um coração já ocupado?

No mesmo segundo, arrependeu-se de ter dito aquilo. Passou a mão pelos cabelos despenteados com força, o gesto de desespero. Não queria ter que rejeitá-la e machucá-la de novo. Pela milésima vez, constatou que ela não merecia o marido medíocre que tinha.

Seria tão mais fácil se entregar ao convite de reconciliação. Apesar de não viverem mais como um casal, Hinata era uma companheira de vida. Mas dividirem a cama como amantes mais uma vez seria um erro imperdoável. Mais um para adicionar a sua coleção.

- Está na hora. – disse cansado e levantou-se.

- O que quer dizer? – ela encolheu-se.

- Precisamos nos libertar, Hinata. Você também sente isso, não é? Do jeito que vamos, só haverá mais sofrimento.

A morena balançou a cabeça em negativa, efusivamente.

- Eu só quero estar ao seu lado. Não precisamos voltar a ter um casamento como antes. Podemos ser só amigos que convivem em uma mesma casa! E cuidar dos nossos filhos juntos.

- Por favor, não precisamos ocupar esses papeis. Você merece mais do que isso.

- Mas é o suficiente para mim! – suplicou, o rosto vermelho prestes a desabar.

Naruto inspirou lento e pesado. Ele sabia que Hinata se contentaria de verdade com a situação sugerida. “Você pode ter tão mais do que isso... você pode ter um marido de verdade, pra começar”.

Ele sabia que seria odiado por sua decisão. Que haveria um escândalo na vila quando as notícias circulassem. Mas se houvesse algum bem que pudesse trazer a ela com a separação, mesmo que à principio só causasse dor, apostaria nisso. Futuramente, Hinata poderia ter a chance de ser amada de uma maneira que ele nunca pudera oferecer. Era essa esperança que o movia.

Então apenas seguiu até o quarto que outrora compartilharam e desceu a mala do guarda-roupa. Separou de qualquer jeito as roupas que poderia precisar por alguns dias.

Silenciosamente, Hinata se juntou a ele. Engoliu o orgulho ferido e começou a dobrar as peças que ele jogava na cama, uma a uma, antes de guarda-las na mala aberta. Até quando estava prestes a partir para sempre do convívio conjugal, a ex-esposa ainda permanecia fiel. Naruto não poderia se sentir mais derrotado. Preferia que ela o atacasse, o acusasse de ser um monstro egoísta, do que receber tal postura de devoção.

Ao terminarem, dirigiu-se a ela, formal.

- Mais tarde, quando as coisas se acalmarem, eu venho para conversar com as crianças, se não tiver problema para você.

Ela apenas assentiu, o olhar baixo.

- Você quer falar algo mais? – perguntou da soleira da porta.

A Hyuuga saiu do torpor e o encarou por poucos segundos.

- Você conseguiu estragar um dos dias mais felizes da minha vida. – foi o máximo de agressividade que saiu dela antes de desaparecer na escuridão do corredor

Remoeu-se com desânimo. “Eu aceito carregar essa culpa”.

O cheiro de panqueca queimada preencheu o apartamento. Naruto praguejou alto e correu até a cozinha, tarde demais para recuperar o café da manhã improvisado. Jogou fora a massa queimada e se contentou com um suco de caixinha empoeirado no fundo do armário.

- Onde está a fé inabalável de que no final tudo dará certo? – disse alto para a cozinha vazia, em busca de um consolo inexistente.

Estranhamente, sentiu que tinha voltado no tempo, para quando tinha apenas paredes silenciosas como companhia e os ecos da própria voz.

Então é isso. Sou só eu, de novo”.

Tomou uma ducha rápida e se preparou para ir ao trabalho. Como sempre, o escritório cumpriria bem a tarefa de amortecer seus medos e ativá-lo no modo automático. Não pensaria na família, nas consequências dos seus atos recentes e na provável perda da aliança com um dos clãs mais fortes. Esqueceria até mesmo Sakura.

Na noite anterior, surpreendeu-se ao ver o casal Uchiha na cerimônia, já que Sasuke recusara o convite. Pego desprevenido, evitou a todo custo interagir com os amigos, ainda mais depois de alimentar o desejo insano de vê-los separados. Sentia-se particularmente sujo por ter se alegrado quando Sasuke aceitou a missão de averiguar as câmaras subterrâneas, ficando assim longe de Sakura por um tempo.

Para amenizar o peso da culpa, procurou-o antes que partissem da festa.

- Eu sei que você está bem empenhado com a missão, mas poderia flexibilizar as buscas e ficar mais em casa. – esforçou-se em parecer descontraído. – Eu enviarei uma equipe para continuar de onde você parou.

- Hmm.

- Você sabe, ficar mais tempo com Sakura-chan e Sarada. – Naruto insistiu.

- Não precisa se preocupar com isso. – o Uchiha respondeu, indiferente. – As coisas estão bem em casa, elas compreendem a minha ausência.

Apesar da fachada pacífica, a menção do nome delas provocou tensão no ar.  “Ele parece na defensiva”, o loiro refletiu. Mas, antes de confirmar qualquer suposição, Sakura aproximou-se e Naruto tratou de se afastar para não dar mais bandeira. 

Quem imaginaria que as interações do time 7 se tornariam insustentáveis. Eles mal podiam ficar juntos sem que um clima desagradável sobressaísse. Era um esforço assombroso segurar um segredo como aquele, e ele o fazia em respeito a Sakura, mesmo que a custo da sua paz.

Esse pensamento o perturbou todo o trajeto até a torre administrativa.  Ao chegar lá, mais cedo que o costume, deparou-se com uma presença familiar. Meio segundo depois, foi obrigado a se esquivar de um ataque frontal que por pouco não o deixou fora de consciência. Um vulto negro o encurralou com força na parede de fora do escritório, provocando uma chuva de areia e pedacinhos de reboco na cabeça deles.

- A que devo esse cumprimento matinal? – a voz de Naruto saiu com dificuldade da garganta esganada sob a mão de aço.

- Não se faça de idiota. – rosnou o Uchiha. – Mais ainda.

- Oe, você não precisa exibir esse olho vermelho pra mim, seu bastardo. Sou seu amigo, dattebayo.

- Um amigo que te trai pelas costas? – devolveu colérico.

Naruto abriu a boca, mas não soube o que responder.

- Interessante. Sakura fez a mesma cara que você está fazendo agora. Vocês compartilham a mesma máscara de culpa. – Sasuke intensificou o aperto no pescoço. - O que mais compartilharam enquanto eu estava fora? – sussurrou em tom de ameaça.

Como recebeu de volta apenas um olhar dolorido, soltou uma risada totalmente desprovida de calor.

- Vocês são patéticos. Merecem um ao outro. – soltou-o e deu-lhe as costas.

- Espere, aonde vai?

- Não te interessa.

- Na verdade, me interessa sim. – teve que apelar. – Você deve explicações ao seu Hokage.

- Foda-se o Hokage. – ele se afastava pelo corredor.

A situação não poderia ser pior. Naruto conhecia Sasuke melhor que a palma da própria mão. Apesar de fortemente emocional, possuía o mau hábito de internalizar suas dores até não aguentar mais. E o mundo não suportaria outra crise vinda de um Uchiha que ultrapassou o limite da sanidade.

- Então é assim que vai agir? – o interceptou. - Vai fugir de novo? Reaja, droga! Prefiro que brigue comigo, me dê uma surra a receber esse tratamento frio.

- Não me peça duas vezes. - Não havia tom de brincadeira na voz dele. Agora Naruto tinha consciência que corria risco de danos. Ou melhor, que toda a vila estava em perigo. Precisava tentar trazer um pouco de razão ao amigo.

- Escute, Sasuke. – tentou apaziguar. - Podemos resolver isso aqui e afetar pessoas inocentes, ou podemos nos acertar lá fora, em um lugar seg... – antes que terminasse a frase, sentiu o corpo ser sugado com velocidade por um aspirador tridimensional.

Quando deu por si, estava tossindo violentamente e tremendo no chão pedregoso. Reconheceu a paisagem ao redor. Não estavam tão longe de Konoha, mas distante suficiente para preservar a integridade da população. Suspirou de alívio. A cabeça dele girava, tentando acompanhar a velocidade da viagem pelo espaço. Sasuke o observava de cima, frio como o inverno.

- Não sei por que me dei ao trabalho de te trazer aqui. Não há o que justificar. As únicas pessoas em quem eu confiava comprovaram que não há o que esperar da humanidade, e isso é tudo.

- Você tem razão. – Naruto tentou se levantar sem tropeçar. - Não tem justificativa para o que fizemos. Nós erramos.

A expressão no rosto de Sasuke transbordava asco.

- E você ainda admite...

- Mas você também errou.

Como não houve novas acusações, Naruto continuou.

- Deixando uma esposa e filha sozinhas ao longo desses anos sem nunca estabelecer contato. Você não presenciou o sofrimento delas como eu. Não viu Sakura-chan perder o brilho dia após dia, à sua espera. – sem perceber, ele já estava gritando - Eu sempre quis a felicidade dela, mesmo que não fosse comigo, mas era óbvio que aquilo não estava acontecendo.

- E como bom amigo, você ofereceu conforto pra ela. – ironizou. – Eu te confiei os cuidados da minha família, e em troca você a toma de mim.

- Você a afastou sozinho, não precisou de mim para isso. – o Hokage cuspiu de volta. - Nunca realmente valorizou os esforços dela, e agora tenta recuperar um tempo que não existe mais.

O canto dos lábios de Sasuke se levantou minimamente em um sorriso. Por experiência própria, Naruto sabia que, diferente de um sinal de paz, aquele gesto só intensificava o alerta de perigo. Mas não podia se calar mais diante dos abusos do amigo.

- Essa é a verdade. Você gostava do jeito como Sakura-chan sempre esteve presente para você, não importa o quê. Mas a enxergou alguma vez, de fato?

- Pelo visto, você fez isso por mim, e muito bem. Não é tão surpreendente saber que ainda alimenta sentimentos por Sakura, depois de tanto tempo. Mas seu histórico te condena, Naruto. Poupe-me de lições moralistas. – disse entredentes – Não se considere um homem melhor do que eu.

- Argh, isso não é uma competição! Eu não sou melhor do que você. Mas um homem melhor para ela, isso sim. É o que serei, se ela permitir. – respondeu com selvageria.

Naruto antecipou o momento que viria. O punho de Sasuke se chocou contra sua mandíbula, que rangeu dolorosamente. Ele voou vários metros para trás com o impacto. Embora doesse como o inferno, permitiu que acontecesse. Ao menos aquele soco ele merecia.

Limpou o sangue escorrendo do canto da boca, um brilho incomum nos olhos.

- Você se lembra? É assim que nos conectamos. Dois shinobis de alto nível só entendem os sentimentos em seus corações em uma luta. Venha, Sasuke! Mas antes, eu quero que saiba que eu vou lutar apenas pela minha vida. Não levantarei um dedo para atacar meu amigo nunca mais.

O Uchiha hesitou por um breve momento, a aura azulada de chakra tomando conta do corpo enrijecido.

Foi quando Naruto ouviu pingos de água ecoando na mente.

Cuidado”, a kyuubi acordou e se manifestou. “Há poucos inimigos no mundo que podem nos dar trabalho, e você está provocando sem necessidade um deles nesse exato momento”.

Não se preocupe, Kurama, Sasuke não é nosso inimigo”, Naruto tranquilizou. “Não há como eu perdê-lo mais uma vez. Não deixarei que aconteça, isso é uma promessa, dattebayo.”

A raposa emitiu um grunhido insatisfeito no fundo da garganta.

Você tem uma confiança cega em Uchihas. Que seja. Estou pronto para o que vier”.

Os ninjas se prepararam para o embate, olhares ferozes concentrados um no outro. Ambos conheciam os pontos fortes do estilo de luta do outro. Devido ao nível superior em que se encontravam, seria uma batalha em que perderia o primeiro que cometesse o mais mísero deslize.

- PAREM COM ISSO, SEUS IDIOTAS!! – o vento carregou até eles um berro agudo e desesperado.

Do horizonte, surgiu uma leoa enfurecida, a imagem da própria calamidade que eles estavam prestes a sofrer se continuassem com a luta. Naruto se sentiu como uma criança pega na malcriação.

Ino se colocou entre eles, os cabelos bagunçados e a testa suada pelo esforço de correr até ali.

- Eh? O que faz aqui, Ino? – Naruto se espantou com a aparição repentina. – Como nos achou?

- Como se não fosse possível sentir a tensão no ar a quilômetros de distância. – bramiu a loira, sem paciência. No céu, nuvens negras ameaçavam despencar em trovões exatamente acima deles. – Pois bem, enquanto vocês estão aqui competindo sobre que tem o maior brinquedo, o pior aconteceu.

- Do que você está falando? – Sasuke questionou-a com ríspidez.

- É Sakura. Ela desapareceu – seus olhos azuis marejaram. – O Clã do Sol a pegou.

 

***

A cada vez que tentava forçar a corda em seus punhos, as fibras aprofundavam os cortes na pele já magoada. Sakura remexeu-se no chão, inquieta. Com uma venda nos olhos e mordaça na boca, só conseguia identificar que se encontrava em um ambiente úmido e escuro. Cheirava a calabouço antigo, o ar vicioso como se não recebesse ventilação por muitos anos.

Passos chegaram até ela e uma voz odiosa preencheu o ambiente.

- Seu poder de recuperação é admirável. – Saiury ecoou de algum ponto à sua direita. – Só esperava te ver acordada amanhã. Mas já que acordou, vamos para a segunda dose? – cantarolou.

Sakura sentiu a picada da seringa no braço. Imediatamente seu corpo entorpeceu.

- Esses panos estão te incomodando? Não quero ser aquele tipo de anfitrião mal-educado. – com um puxão violento os removeu e Sakura aspirou o ar com avidez.

De fato, encontravam-se em um prédio abandonado. Não dava para saber se era dia ou noite, pois havia black-out em todas as janelas sujas. Móveis quebrados que não viam limpeza há muito tempo compunham o ambiente cujo único ponto iluminado era a mesa de equipamentos químicos ao centro.

- Não adianta tentar reconhecer. Estamos bem longe “de casa”. Ninguém irá nos importunar aqui. – Saiury voltou para sua estação de trabalho precária. Havia tubos de ensaio na mesa, com conteúdos líquidos de cores variadas e finalidades desconhecidas.

- O que... você pretende...

- Ainda é cedo para saber. Apenas colabore comigo e o processo será menos doloroso.

- Poderia ter me matado... – cada frase lhe custava um esforço descomunal - ... com aquele chá...

Saiury bufou de descrença.

- E perder o imenso potencial nas minhas mãos? Agora seja uma boa menina e descanse até eu terminar de preparar seu... – sorriu minimamente. – remédio.

Sakura não conseguia acreditar em como todos haviam sido ludibriados. Konoha havia acolhido o inimigo nos braços enquanto recebia uma punhalada pelas costas. O tempo todo Saiury estivera no coração do departamento investigativo com acesso a dados confidenciais e participando da tomada de decisões. Não era à toa que as informações vazavam para os mercenários.

Ao mesmo tempo, a mulher à sua frente agia como outra pessoa. A auxiliar tímida de óculos grandes que conhecera meses atrás na reunião do conselho guardara a oportunidade para expor sua verdadeira face.

Em algum momento, caiu novamente em sono profundo. Não soube por quanto tempo estivera fora de ar. Horas, dias talvez? O conceito de tempo lhe escorria através da consciência oscilante. Quando por fim acordou, viu-se deitada em uma maca de hospital improvisada, uma lâmpada cirúrgica bem em cima do rosto. Sentia-se em uma clínica clandestina, na expectativa de ser fatiada por um médico açougueiro. Havia ao lado um aparelho zunindo de leve, medindo sua pressão e batimentos cardíacos. Tentou mover-se, em vão. Seus braços encontravam-se presos por papeis de selo, imobilizando-a.

Pela primeira vez desde o rapto, sentiu medo.

- Bem, bem, aqui está. Vamos começar o procedimento. - Saiury surgiu em cima dela e injetou na sua veia o líquido perolado da seringa. Seus olhos luziam com um brilho enlouquecido e cheio de expectativa.

Em poucos minutos, Sakura explodiu em dor e rugiu. Fogo consumiu seu corpo deixando um rastro incandescente por onde o líquido passava pela corrente sanguínea. O coração bateu descontrolado. Ela teria um ataque cardíaco se continuasse daquele jeito. “Que merda de veneno é esse...?”, a mente teve um lapso de razão enquanto gritava a plenos pulmões.

- Que barulho desnecessário. Ninguém vai te ouvir, criança. Ninguém virá em seu socorro. – a mulher zombou com frieza e tapou-lhe a boca com um esparadrapo. Lagrimas escorriam do rosto de Sakura, que arquejava e tensionava o corpo no limite.

Perdeu a consciência mais uma vez. E novamente. No momento em que as chamas acalmaram e ela conseguiu abrir os olhos, percebeu com horror o que estava acontecendo. Tiras rubras tomavam conta de toda a extensão do seu corpo. Saiury vinha forçando a ativação do Byakugou contra sua vontade.

- Anos atuando na surdina, roubando aqui e ali chakra pequeno, quando poderia me beneficiar dessa imensidão de energia concentrada – tocou no losango em brasa na testa de Sakura. – Uma perita na técnica de controle de chakra ao meu alcance. Graças a você, a glória do meu clã será restaurada. Eu poderei ter o amuleto supremo que as escrituras apontam. Você é a pessoa que eu sempre estive procurando.

O olhar ensandecido no rosto da mulher lhe provocou calafrios.

- É claro, sempre houve a possibilidade de usar receptáculos de bestas de cauda. Mas esse é um poder destrutivo demais. Não se compara ao refinamento que você gentilmente irá me ceder. A bateria necessária para despertá-lo e transformá-lo. – Saiury acariciou o amuleto quebrado preso ao peito. – Ah, que distração! Deve ser monótono só ouvir meu monólogo. Está mais calma agora? Vou tirar esse esparadrapo.

- Como se você estivesse à altura de Jinchuuriki. – Sakura vociferou assim que teve a boca livre. – Apenas ratos agem pelas sombras, e é isso o que você tem feito esse tempo todo.

- Tem razão. – respondeu, o olhar encapuzado. – É preciso reconhecer algumas limitações. É por isso, também, que escolhi alguém mais maleável como você, caso queira entender assim. – deu de ombros. - O Hokage me daria trabalho, assim como o amigo inconveniente dele.

Gosto de sangue na boca ao ouvir aquelas palavras. Uma ira assassina ameaçou roubar o raciocínio de Sakura. Respirou fundo. Precisava agir de maneira lógica.

- Tenho que reconhecer, fez um bom trabalho nos enganando esse tempo todo. Foi você quem passou as informações internas para os mercenários e instruiu Daisuke a como sequestrar Sarada, não foi?

Saiury sentou-se calmamente ao lado da maca, esperando a reação do veneno atingir o ápice do selo. 

- O clã do Sol tem tentáculos espalhados pelos países. Após o expurgo, procuramos não chamar atenção. Estamos espalhados por várias camadas sociais, praticando nossas crenças em segredo. Somos carpinteiros, artesãos, chefes de vila. Todos à espera do momento em que seremos chamados para reunir o clã de novo, que finalmente chegou. – deixou-se levar pelo devaneio. - Oh, mas, respondendo a sua pergunta, sim, podemos considerar que fui eu quem os informei sobre os movimentos de Konoha. Ou melhor, ela.

Ela?”. Agora Sakura tinha certeza que o último fiapo de juízo abandonara sua raptora. – O que pretende fazer com esse amuleto supremo?

- Não há necessidade de se preocupar. O mundo estará em boas mãos.

Sakura tentou libertar-se na maca, sem sucesso. Gemeu de frustração.

- Esse veneno, ao mesmo tempo em que libera seu selo, também a mantém imobilizada. Venho desenvolvendo-o há meses, com toda facilidade que Konoha me proporcionou. Então, é inútil lutar.

- Lutarei até meu último suspiro de vida – Sakura proferiu determinada.

- Não vamos desperdiçar uma vida tão preciosa. – a ninja auxiliar levantou-se e lhe deu as costas em direção à escuridão do prédio.

- O que vai fazer quando o selo chegar ao máximo?

- Hum-hum, perguntas demais. – balançou o dedo indicador em sinal negativo. – Mas, como já deve saber... Existem perdas por um bem maior.

Virou as horas agitadas refletindo quais eram as chances de conseguir escapar. O veneno operava mudanças desconhecidas em seu corpo. As listras de liberação do byakugou estavam quase completamente negras e no auge. Se continuasse assim, ela iria... “Por um bem maior”. Prometeu a si mesma que não permitiria que Saiury completasse seus objetivos.

Mais tarde, ouviu passos se aproximando. De olhos fechados, sentiu sua captora se aproximar para averiguar a evolução do quadro. Era sua chance. Talvez a única.

Saiury trocou a bolsa de soro por outra cheia e no processo se distraiu.

- Aqui está, não quero que fique desidratada. Preciso de você em boa forma. – sorriu falsamente. – Com esse bom comportamento, acredito até que poderemos remover  suas amarras e... oh! – um suspiro surpreso escapou dos lábios ao perceber que sua vítima se libertara sozinha. No próximo instante, o rosto pequeno de Saiury foi esmagado no chão sujo, sob a pressão feroz do punho de Sakura.

- Você... é mesmo surpreendente! – balbuciou atônita.

Sakura se preparou para desferir o golpe para nocauteá-la de vez quando um pulso de dor a fez arquejar e cair no chão. Cada partícula do seu corpo reclamou de agonia e ela se encolheu em posição fetal, trêmula. Livre, a outra ninja se levantou, sacudindo o pó das vestes, e a olhou de cima com altivez.

- Preciso elucidar sua real situação, para que possamos trabalhar em harmonia. É impossível escapar daqui, mesmo que me mate. Esse prédio está trancado com técnicas antigos do meu clã, e apenas eu sei como destravá-las. Além do mais, ninguém poderá nos rastrear. Depois da ultima experiência com aquele maldito que veste capa de Hokage, eu aprimorei o bloqueio a jutsus sensores. – Saiury se abaixou para acariciar o rosto oculto da ninja médica. – O veneno em seu corpo está te incapacitando, e mesmo que tente acessar sua força para lutar, isso só irá alimentar mais ainda meu amuleto. Vê como ele está mais brilhante? O poder do Selo Yin começou a ser drenado na hora em que me atacou, e agora teve início o processo da transformação. Com um novo amuleto, criado a partir da vida de uma rara e exímia usuária do Byakugou ... eu terei poder ilimitado. Nem mesmo um jinchuuriki será páreo para mim... – o semblante dela beirava o delírio. – Não vai demorar muito para tudo acabar. Mas, para não dizer que não te dei nenhuma escolha, eu pergunto: prefere enfrentar seu destino com dignidade e ter a honra de ceder sua vida para um fim nobre, ou passar por tudo com dor e sofrimento?

Sakura convulsionou em soluços no chão, os cabelos rosados espalhados pelo rosto escondendo propositalmente sua emoção, o que fez seu algoz sorrir de êxito. Aproximou os lábios do ouvido dela e usou sua voz mais doce ao sussurrar:

- Esqueça Naruto, Sasuke, ANBU. Ninguém virá te salvar e você não tem saída. Mas não sinta medo. Confie em mim.

Viu o rosto de Sakura se virar lentamente para encará-la, os rostos próximos suficientes para quase se tocarem. Mas, no lugar de lágrimas, ela escondia um sorriso triunfante.

Os soluços não eram de choro. Ela estava rindo.

- O que te faz pensar que eu preciso de um salvador? – verdes cintilantes desafiaram-na.

Saiury recuou alguns passos, os primeiros indícios de insegurança na expressão confusa.

- Você não é a única que se preparou para esse momento. Não achou estranho que seus entorpecentes não surtem efeito como deveriam? Eu não vou colaborar com seu plano insano, essa é minha escolha. E se você quer poder de mim... – levantou-se do chão e se pôs em postura de combate, adrenalina latejando nas veias. - Sugiro que venha pegar com as próprias mãos.

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Notas Finais


* As pontas soltas serão devidamente explicadas no próximo.
** Pra quem não se lembra, Daisuke é o mercenário que atraiu Sarada para a emboscada. Comeu um tapado na mão de Sakura durante a luta no templo do clã.
*** Que acharam desse cap? Ansiosa para ouvir vocês.
**** Pra quem curte song fic, a dica é ler os trechos finais ao som de "Awaken", de Lol.

Estou atrasada nos comentários também, vou responder um por um ao longo da semana. Tenham paciência com essa escritora assoberbada. E não desistam da fic. Prometo publicar a próxima mais rápido, to certa!


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