JÚLIO
Eu odiava administração. E essa era a arma que o meu pai usava. Ele sabia que eu detestava essa parte do trabalho e também sabia que eu não merecia estar fazendo isso. Submetia-me a essa tortura para me obrigar a casar com Clara. E estava funcionando. Merda.
Abri as portas da cozinha para lidar com o mais recente drama e encontrei o meu garçom-chefe, Santi, com as mãos na cintura, olhando furioso para a nova garçonete, Jackie ou Frankie ou alguma coisa que eu não conseguia lembrar. Ela, por sua vez, estava com os braços cruzados olhando furiosa para Santi.
– Que porra está acontecendo? Eu preciso de vocês lá fora atendendo clientes e não brigando por aqui. Alguém quer me explicar o que está havendo ou eu devo simplesmente demitir vocês dois? – perguntei em um tom que sabia que não poderia ser ouvido fora da cozinha.
– Eu posso dizer o que está acontecendo. É ela. Você contratou uma preguiçosa. Ela faz pausa para fumar a cada dez minutos! Eu juro que vou dar na cara dela se tiver que fazer o trabalho dessa garota de novo. Está me ouvindo? Ou ela sai, ou eu saio.
Eu não ia demitir Santi. Ele cuidava da cozinha e era o queridinho das mulheres que frequentavam o clube. Elas não faziam ideia de que ele preferia a ala masculina dos sócios. Era um segredo que guardávamos para que Santi recebesse boas gorjetas.
Voltei a atenção para a menina nova.
– Achei que tinha deixado bem claro quando contratei você que não havia pausa para fumar. O Santi decide quando alguém faz uma pausa. Ele é o chefe aqui.
A garota deu um suspiro, arrancou o avental e o atirou no chão.
– Eu não consigo trabalhar nessas condições de escravidão. Eu preciso descansar. E só porque não sou rápida como ele, ele fica bravo. Ora, que se dane. Estou fora. – Ela deu meia-volta e saiu da cozinha pisando firme.
Ótimo. Não precisei demiti-la nem lidar com lágrimas. O único problema era que eu precisava de outra pessoa para atender no salão. Naquele exato momento.
– Que bom que ela foi embora, mas precisamos chamar alguém para substituí-la – disse Santi, declarando o óbvio.
– Tente segurar as pontas até eu conseguir alguém para ajudar.
Saí pela porta e estava a caminho da minha sala quando o barulho de saltos no chão me indicou que eu estava sendo seguido. Por favor, a Clara não. Não agora. Eu não estava a fim. A menos que quisesse atender os clientes...
Eu me virei para dizer isso para ela quando as palavras congelaram na minha boca. Não era Clara. Era Isabela. Ela estava ainda mais irresistível do que eu me lembrava e eu me lembrava muito bem. Ela surgia na minha mente quase todos os dias. Normalmente quando estava no chuveiro.
Seus cabelos castanhos pareciam mais longos que da última vez e estavam para o lado, soltos sobre o ombro. Usava uma blusa branca justa que não deixava muito espaço para a imaginação. E uma saia e sapatos de salto alto que deixavam as suas pernas bronzeadas e magras ainda mais incríveis. O que ela estava fazendo aqui?
– Júlio? – perguntou ela e eu levantei o olhar do seu corpo para encontrar uma expressão surpresa e confusa.
– Isabela... – respondi. Ela não estava ali procurando por mim? Por que parecia tão surpresa?
– O que você está fazendo aqui? – perguntou, enquanto um sorriso contente começou a se formar nos seus lábios.
Eu não tinha informado o meu sobrenome. De propósito. Não queria que uma transa casual se transformasse em algo mais. Embora eu tenha passado os últimos quatro meses me repreendendo por não ter deixado meu telefone. Ficava imaginando por onde ela andava e se iria passar de novo pela região. Agora ali estava ela. No meu clube.
– Meu pai é o dono do clube – respondi, observando sua expressão.
Seus olhos se arregalaram e ela olhou ao redor, como se estivesse vendo tudo pela primeira vez.
– Você é o Sr. Peña? – perguntou ela.
– Depende. Meu pai também é o Sr. Peña. Eu normalmente atendo por Júlio.
Isabela deu uma risadinha.
– Não acredito nisso. Acho que tenho uma reunião marcada com você sobre um emprego. O André me mandou.
André. Ela era a garota que ele estava ajudando? Merda! O que foi que o Alan disse que havia acontecido com ela? Ela tinha se enrolado com o chefe ou coisa parecida. Caramba, eu não conseguia me lembrar...
– É, sou eu mesmo – respondi.
Havia muitos motivos pelos quais essa era uma péssima ideia. Eu não precisava desse tipo de distração. Precisava encontrar uma maneira de lidar com o meu pai e a Clara. Ver Isabela todos os dias ia foder com a minha cabeça.
– Espero que esteja tudo bem. Quero dizer, ele nunca disse “Júlio”. Sempre se referiu a você como Peña. – O tom nervoso em sua voz me arrancou da batalha interna.
– Lógico. Vamos até a minha sala para você preencher a papelada e podemos discutir a melhor colocação para você.
Longe de mim. Bem, bem longe. Precisava deixar aquela bunda sexy em outro continente. Mas estava prestes a dar um emprego a ela. No meu clube. Para que pudesse ser torturado com a lembrança da nossa noite de sexo incrível e enlouquecedor.
Ah, merda.
Não esperei que ela me alcançasse. Fiquei com medo de sentir o seu perfume e a empurrar contra uma parede, agarrando-a em minutos. Em vez disso, segui à frente dela e não olhei para trás. Sabia que estava me seguindo apenas pelo barulho dos saltos.
Quando finalmente cheguei à porta da minha sala, dei um passo para trás para que ela pudesse entrar. Prendi a respiração até ficar a uma distância segura.
– Júlio, você não parece muito satisfeito com isso. Sinto muito. Eu não sabia. André me deu o endereço e me mandou passar aqui. Como estava desesperada para sair de lá, eu vim. Posso conseguir um emprego em outro lugar se isso for muito estranho para você.
Aquela ruguinha de preocupação acima do nariz dela me fez desmoronar. Eu não conseguiria ser duro ou frio com Isabela. Ia dar o maldito emprego, qualquer emprego que ela quisesse, e me manteria longe. Talvez eu devesse pedir Clara em casamento. Isso evitaria que eu cometesse o erro de correr atrás de Isabela a cada oportunidade que tivesse.
– Eu sinto muito. Está tudo bem. Acabei de resolver um problema com funcionários. Um drama na cozinha. Você me surpreendeu. Mas tenho um emprego, se quiser. Basta me dizer o que sabe fazer bem.
Além de foder como louca.
Isabela se endireitou na cadeira e os meus olhos desceram até os seus peitos. O contorno dos mamilos duros fizeram o meu pau, que já estava endurecendo, ficar em alerta total. Porra, ela também estava se lembrando.
– Eu estava trabalhando em um bar em Dallas como garçonete. Normalmente é o tipo de emprego que eu pego. É um trabalho fácil com boas gorjetas, para que eu não precise ficar no mesmo lugar por muito tempo.
Era isso mesmo. Ela estava viajando pelo mundo. Não iria fincar raízes em Rosemary. Ela não queria um relacionamento. Queria uma aventura.
– Quer um emprego como atendente aqui? O público é mais tranquilo do que o de bar. Além disso, acabei de perder uma garçonete pouco antes de você chegar.
Eu não a estava afastando de mim. Não, eu a estava deixando bem aqui, debaixo do meu nariz. Eu era um idiota.
– Obrigada. Seria perfeito. Precisa que comece imediatamente? Eu aprendo rápido... – garantiu-me ela.
Não, eu precisava que ela voltasse para o apartamento de André e deixasse eu me acalmar.
Uma batida à porta me interrompeu, e, antes que eu pudesse perguntar, Santi enfiou a cabeça para dentro da sala.
– A coisa está saindo do controle. – Os olhos dele encontraram Isabela e ele abriu um sorriso. – Nossa, você é muito sexy. Por favor, me diga que está aqui atrás de um emprego.
Isabela retribuiu o sorriso e assentiu com a cabeça.
– Perfeito. Posso pegá-la? – perguntou Santi, abrindo mais a porta.
Queria responder que não, que eu ainda não havia terminado com ela. Ainda estava pensando em deitá-la sobre a minha mesa e levantar aquela saia para ver o que tinha embaixo.
– Claro. Vá em frente. Como ela tem experiência, não será difícil treiná-la.
Isabela se levantou e sorriu para mim mais uma vez.
– Obrigada. – Então foi até Santi, que fechou a porta atrás dele.
Recostei a cabeça no espaldar de couro e soltei um suspiro derrotado.
Eu precisava me lembrar de que Isabela iria embora logo. Ela não iria ficar. Eu não deveria perder tudo pelo que havia trabalhado só para me afundar naquela bocetinha apertada de novo. Estava na hora de me focar em Clara. Talvez ter esse escudo entre mim e Isabela evitasse que eu cometesse um erro. Porque Isabela Souza era capaz de me fazer perder tudo. E depois iria embora.
Por mais gostosa que ela fosse, eu não podia deixar o meu desejo mudar os meus planos. Clara faria o meu pai feliz. Eu seria vice-presidente e essa merda de administração ficaria para trás. Era a minha única escolha.
Precisava ser.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.