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História Estrela despistada - Emboscada


Escrita por: Efeito-K

Notas do Autor


Olá pessoal, tudo bem?

Queria pedir desculpas pelo atraso e aproveitar pra dizer que uma parte foi por questões técnicas e outra parte porque realmente estava atrasado mesmo. Esse capítulo deveria ser pequeno , mas isso não foi possível devido aos acontecimentos da fic que se mostraram mais complicados pra escrever do que eu inaginava.
Eu não vou falar muito porque ainda estou com problemas e se houver qualquer erro de layout ou escrita me perdoem, fora os erros humanos é possível ter algum erro na transferencia do texto.
Então vão lá ler.

Capítulo 16 - Emboscada


Fanfic / Fanfiction Estrela despistada - Emboscada


Capítulo dezesseis: Emboscada


 

“... A morte ronda por todos os lados,
 

E há uma coragem que provém do medo,
 

Que ousa o pior, os mais desesperados
 

Meios para saber, quando o rochedo 

 

Se põe diante dos pés despreparados.

 

Olha-se o precipício, do penedo,
 

O abismo se abre e não se olha um segundo
 

Sem o desejo de fundir-se ao fundo.

 

6
 

Você recua, é certo, com terror,
 

Mas não esquece essa impressão,

 

E há de encontrar no espelho furtacor
 

Da memória, em autoconfissão,
 

O impulso para o amor ou temor
 

Do ignoto, a inata predisposição
 

Para fundir-se ao medo. Onde? Qual
 

O motivo? Ninguém sabe, afinal...”
 

- Do canto XIV de Lord Byron

 

Diante de uma ameaça de guerra que permeava o mundo, Aron Estenrize não se aliou a nenhuma parte do conflito que rondava os países. Forneceu armas para Gorgeus, fez exercícios militares em Amaranto como demonstração de força, mas não apoiou oficialmente ninguém apesar de Clifford saber que ele fazia jogo triplo nas suas negociações. A verdade era que Estenrize não tinha interesse em nenhum tipo de conflito naquele momento, apenas iria tratar de forçar Clifford a lhe entregar Adrian de alguma maneira, além de proteger a Ilha de Minerva, onde tinha uma base militar e por um acordo da época de seu pai a ilha permanecia sob jurisdição de Maryon, mesmo assim Aron sitiou metade da área sendo um lado dominado por soldados de Clifford e outro lado por soldados seus e até o momento não houve nenhum conflito grave o suficiente para uma ação mais coercitiva dos exércitos. Apesar dessa conjuntura política o primeiro passo efetivo para a guerra começou de um ato inesperado, mas vindo de
quem se podia esperar qualquer tipo de coisa e ao invés da motivação do primeiro ataque militar ser algo político e econômico foi na realidade ciúme.

Enquanto o mundo inteiro acreditava que estavam no estágio de ameaças, Aron ordenou que uma frota de sete navios saíssem de Amaranto carregado de soldados da infantaria, armados, prontos para matar, tomar Ulianov e derrubar os Salvatore. Estenrize não levou o assunto a Richard Boyer, seu general e ministro de guerra. Apenas ordenou a ação com uma única ordem motivada apenas pelo seu desejo de destronar os Salvatore e humilhá-los com a queda do império e anexação do território a Amaranto, somente por eles terem cogitado mexer no que era dele: Adrian de Layeva.

Então a guerra começou e pegaria o mundo de surpresa. Ninguém saberia até que os navios de Amaranto estivessem na costa de Ulianov e quando isso acontecesse, em três dias, haveria um efeito dominó entre as nações envolvidas direta e indiretamente numa guerra que acreditavam estar ainda em um estágio de ameaças.

Uma guerra demanda um desgaste financeiro e humano muito grande que a maioria das nações não queria ter, mas chega um momento em que as ameaças chegam ao ponto de não ser mais possível voltar atrás e todos estavam nesse ponto, só não esperavam que Amaranto, que não tinha se envolvido e nem se alinhado a ninguém, desse o primeiro tiro levando consigo o sacrifício de muitas vidas. No fundo todos esperavam que ninguém de fato desse o primeiro passo efetivo para a guerra, mas quando todos soubessem que ela realmente começou não poderiam mais voltar atrás.

Não foi somente a guerra que o ego e despeito de um tirano provocaram, Aron enviou uma ordem para Skarr providenciar uma emboscada para os Layeva assim que chegassem a Maryon. Nessa ação seus homens deveriam sequestrar o pequeno Adrian, custasse o que custasse teriam que levar o príncipe ao seu senhor em Amaranto. Estenrize não estava disposto a esperar mais por esse momento.

Clifford chegaria a Maryon sem saber que a conjuntura das coisas tinham mudado. Ia às cegas para casa com o pequeno e inocente príncipe.

Y

Adrian ainda estava irritado, passou toda a viagem de biquinho, braços cruzados e resmungando. Ao invés de sentar-se ao lado do pai sentou-se de frente pra ele e ficou o encarando como se estivesse ressentido e com raiva, no fundo apenas esperando que o pai desvendasse tudo o que ele não entendia e organizasse tudo o que estava desordenado. De vez em quando mexia na gola que pinicava seu pescoço e estava muito quente, queria tirá-la e mexia nela toda hora deixando a pele da região muito vermelha. Suas bochechas estavam rosadas de calor e ele suava um pouco.

- Porque não vamos lá fora tomar um ar? – Clifford o chamou se levantando da poltrona onde estava.

- Não. – Resmungou manhoso se afundando na poltrona.

Adrian não o olhou, ainda se mostrava bastante incomodado e confuso com os próprios pensamentos que por mais que fossem remoídos parecia nem se encaixarem na sua ingênua e delicada mente. A razão de todos eles pareciam miragens no deserto e não chegavam a lugar nenhum. Adrian puxou um dos braços de Jacob que se sentava na poltrona do lado. Não se importou em saber se era o braço ferido ou não, apenas se sentia sozinho, por isso se abraçou a ele o fazendo de travesseiro. Clifford não gostou nem um pouco dessa atitude e lançou um olhar acusatório para o jovem e desconcertado soldado.

Clifford se abaixou na frente do filho o observando atentamente, deixando transparecer em seu tom de azul acidentado um pouco de raiva e ciúmes por aquele gesto do filho. Sentia-se louco por dentro, querendo tirar o menino dali rapidamente e não deixar mais ninguém se aproximar, mas se continha e sofria por simplesmente não poder fazer isso e sofria mais ainda porque Adrian não percebia, não entendia e muito menos retribuía ao amor que sentia.

Sim, Clifford duvidava que o sentimento do filho fosse como o seu. Adrian nunca deu certeza de nada apenas se mantinha alheio... Completamente longe e inalcançável ao mesmo tempo em que estava tão perto e perigosamente dependente que isso chegava a doer em seu peito e o assustava imensamente.

Os outros integrantes da comitiva tinham percebido a tensão, mas sequer podiam imaginar o motivo daquele ato. Julgavam que o rei apenas não confiava em Lamierr, não depois do episódio em que o soldado agrediu o príncipe. Mas Jacob que estava ali praticamente na linha de fogo daquele olhar sabia que havia algo mais, internamente se encolhia diante de seu soberano e mais uma vez imaginava dentro de si que as reações do rei quando se tratava do príncipe carregavam bem mais do que a preocupação de que
algo ruim pudesse acontecer a ele, já não era mais preocupação com a saúde do príncipe era quase como uma possessão perversa. E se fosse assim Adrian corria um sério perigo que as pessoas ao redor não podiam nem imaginar sem antes negarem os fatos incessantemente. O que tirou Jacob de seu pequeno devaneio foi Adrian apertar ainda mais seu braço enquanto nervoso encarava o pai.

Clifford mexeu no cinto de segurança dele pra soltá-lo e ali, tocando o quadril dele, o calor que o menino sentia por causa das roupas quentes demais para o dia sessou e deu lugar a um frio estranho que fazia o coraçãozinho palpitar no peito como se tivesse medo. Adrian tentou tirar as mãos dele dali, mas o pai ignorou aquele protesto mínimo e soltou definitivamente o cinto.

- Vamos tomar um ar. - Encarou o filho sério e o fez se levantar da poltrona.

Mesmo estando desgostoso com muita coisa, Adrian seguiu o pai até a pequena área externa que às vezes servia de convés em expedições marítimas. Não estavam muito alto e viajavam numa planície de campinas. Quando o principezinho sentiu o ar puro e o vento, não muito forte, bater em si sentiu um alívio no calor que estava sentindo. Mexeu mais uma vez naquela gola que o sufocava e resmungou baixinho. Clifford o levou até a borda de proteção para que ele pudesse ver a vista.

- Eu sei que você tem muitas perguntas pra fazer, mas tudo a seu tempo. - Explicou e se abaixou ao lado dele.

- Por enquanto vamos só abrir um pouquinho essa gola pra amenizar o calor. - Levou as mãos a roupinha dele e abriu três botões deixando enfim ele respirar um pouco.

- Por que eu tenho que usar essas roupas fechadas e quentes? - Perguntou com aqueles orbes azuis e densos bem abertos enquanto a voz continuava baixa e reprimida.

- Porque as pessoas não podem ver as marquinhas que você tem. Elas não entenderiam. - Explicou fazendo um leve carinho na bochecha rosadinha, mas no fundo Clifford tinha uma séria preocupação quanto a descobrirem o que houve. Não tinha como dizer como aquilo aconteceu sendo tão errado e o menino tão frágil pra se dar conta do peso das coisas. E depois se tentasse justificar qualquer coisa aquelas manchas não passariam como manchas quaisquer e sim como prova de um ato que era condenável por si tratar de seu próprio filho e dizer que elas foram feitas por outra pessoa era impossível porque ninguém acreditaria, não quando seu filho vive a vida que leva, e no seu ego ele não queria designar sua marca a outra pessoa. - Não entenderiam o amor que sinto por você.

- Você é o rei, pai. Ninguém o questionaria se disser que ama seu filho. - Adrian disse sério. Clifford sentiu medo dessa seriedade atípica do menino e se mexeu incomodado. Não conseguiu encarar mais o azul denso e agora fechado daqueles olhos e desviou sua atenção para os campos embaixo deles. - Não me parece certo ter essas manchas... Parece tão errado.

- Eu não quis que fosse daquele jeito... Não era pra ter ficado marcas. – Clifford disse com a voz tensa sem o encarar. – Eu nunca quis te machucar... Te amo muito mais do que as pessoas conseguem entender e você também não entende... – Disse com pesar encarando novamente o menino.

Sem jeito e sem entender Adrian encarou a paisagem deixando a conversa morrer no silêncio. Ainda havia muito o que se entender em sua cabecinha que não conseguia formular as perguntas certas. Estava se sentindo perdido e desolado numa enorme confusão. Confusão em sua forma de compreender as coisas... Tudo pra ele vinha em conta gotas retardando ainda mais sua compreensão e ainda tinha a confusão de sentimentos. Não sabia como definir o que estava sentindo, às vezes achava que amava como o pai tentava dizer, mas tinha medo, mágoa e raiva. Tudo era grande e confuso demais pra sua pequena e alheia cabecinha entender. E o que foi aquilo que fizeram? Por um acaso gostou, mas também sentiu medo e dor, agora isso parecia errado na sua mente.

- E a mamãe? – Perguntou baixinho. – Você gosta de mim como gosta da mamãe?

- Te amo mais do que já amei sua mãe e por isso as pessoas não entenderiam. – Confessou Clifford desconfortável, mas por outro lado sentindo um pequeno alívio por colocar esse sentimento pra fora, mesmo sabendo das limitações do Adrian. 

Então o silêncio deixou uma sensação de constrangimento. Clifford tentou entender o silêncio dele, mas Adrian apenas se envolveu nos próprios pensamentos se deixando afundar neles sozinho sem nunca chegar a algum lugar.

Mas sabe quando de repente a paisagem não traz tanto entusiasmo quando deveria trazer? Adrian via coisas que nunca tinha visto e eram verdadeiramente lindas, ver a paisagem natural das montanhas e campinas, mas não o estavam deixando fascinado como certamente ele ficaria se não fosse seus fantasmas desordenados ecoando em sua mente. Tudo parecia complicado demais quando essa sensação de que as coisas não eram mais como eram antes insistia sempre em ficar presente.

Instintivamente Adrian se aproximou do pai e abraçou-se a um dos braços dele, como antes fazia com Jacob. Encostou a cabeça ali sentindo o vento bater em seu rosto. As coisas podiam não ser simples, mas naquele momento ele podia imaginar que sim. Clifford o virou para si e o abraçou por inteiro. Deixou um carinho e um beijo nos cabelinhos de anjos ouriçados pelo vento. Não trocaram palavras porque não tinham necessidade delas.

- Com licença Majestade. – Lysandre interrompeu a cena da porta da cabine. – Vamos subir a altitude do voo, precisam entrar.

- Nós já estamos indo, obrigado. – Clifford respondeu e Lysandre os deixou sozinhos de novo. Respirando fundo como se tivesse que aguentar algo que não queria. Clifford fechou os botões da roupa dele que reclamou um pouco. – Logo isso vai sumir e não será necessário esconder mais. Você é muito sensível por isso as marquinhas ficaram tão nítidas.

- Não gosto delas. – Disse Adrian emburrado.

- Eu sei, prometo ter mais cuidado da próxima vez. – Sussurrou pra ele, levemente inclinado. Deixou um selar rápido nos lábios dele e se endireitou. Adrian ficou um pouco tenso em saber que haveria uma próxima vez, mas não disse nada apenas o encarou confuso. – Quando a gente entrar quero que se sente do meu lado, não quero você do lado daquele soldado.

- Porque não posso ficar ao lado dele? Ele é meu amigo. – Questionou Adrian. – Não entendo porque você não gosta dele.

- Não é que eu não gosto, é que você é um príncipe e deve conviver com pessoas que estão na mesma linha hierárquica. – Clifford explicou.

- Mas com quem eu vou conviver se eu passo todo o tempo no quarto sozinho ou dormindo? – Adrian perguntou despontando sua tristeza que deixou o pai constrangido.

- Você é um menino doente, não pode se esforçar tanto. – Clifford tentou remediar a situação. – Nós já conversamos uma vez sobre essa amizade com o soldado, isso não vai fazer bem a você porque são de mundos diferentes.

- Então eu posso visitar o Aron? – Perguntou emburrado sem se convencer do que o pai tinha falado. – Ele é um soberano, assim como você. E eu quero ir a Amaranto.

Por essa Clifford não esperava e nem tinha gostado. Foi como se de repente estivesse em uma saia justa porque as coisas eram do jeito que Adrian falou, mas a personalidade de Aron Estenrize era algo duvidoso que não queria ter que explicar naquele momento pra ele, na verdade queria nunca ter que explicar ou aproximar os dois, por isso praguejou internamente aquele encontro em Ulianov.

- Estenrize não é como aparenta, ele é mesquinho e traiçoeiro não pode confiar nele. – Explicou incomodado.

- Eu não entendo papai, às vezes parece que você quer me manter afastado de todo mundo. – Adrian disse sério, triste e resignado. – Eu já estou isolado demais, pra você isso não é o bastante?

- Isso não é verdade, Adrian. Se eu pudesse te deixaria mais livre, se eu não faço isso é porque eu tenho medo de que algo aconteça com você. – Explicou, mas olhar aqueles olhos sendo envolvidos por uma melancolia sombria o deixava sem chão. Aos poucos aquele azul se tornava algo molhado e borrado. Adrian não ia falar dessa dor porque ela já estava estampada ali, sem ser necessário que a primeira lágrima caísse. Às vezes Clifford se sentia culpado por não deixar o menino viver livre como queria, mas tinha medo da doença se agravar e mais ainda de que a liberdade os afastasse. Era uma questão muito delicada que a cabecinha de Adrian não entendia e isso pesava no coração. – Quando estávamos no palácio você não agia assim, mas depois que fomos para Wilparr você começou a tumultuar querendo sair da sua rotina, mesmo sabendo que vai se cansar e não fará bem a você. Você não era assim, hoje parece que quer sempre fugir... – Clifford disse com pesar.

- Não estou tentando fugir, só quero ser normal... – Murmurou Adrian entre dentes e entrou de cabeça baixa.

Então Clifford suspirou derrotado e o seguiu. Talvez devesse dar um pouco de liberdade em outro ambiente. Adrian devia estar exausto de apenas um ambiente e tantos remédios. Se não houver nenhuma febre ou nenhum outro agravamento da doença talvez pudesse sair com ele pelos jardins de Mont Serrat, apenas os dois em algum momento do dia, pode ser que isso faça bem a ele.

Adrian fez o que o pai pediu, sentou-se na poltrona oposta a que estava sentado antes. Clifford aproximou-se o encarando e sentou-se a seu lado, satisfeito de ser obedecido. Encarou Beatrice indicando que era pra ela se aproximar, assim que ela se abaixou para ouvir o que ele tinha para dizer é que ele sussurrou para que ela trouxesse o ursinho do Adrian, achava que isso ia ajudar a melhorar o humor dele.

- Desculpa, mas eu só quero te proteger. – Clifford sussurrou para o filho e prendeu o cinto de segurança dele, em seguida fez um pequeno carinho nas bochechas levemente rosadas pelo calor e deixou um breve selar nelas. Adrian não o impediu de nada tampouco o encarou, queria deixar evidente seu desgosto sabendo que assim era como cravar um espinho no coração de seu pai.

Clifford se retraiu um pouco diante daquela manifestação carente. Não disse nada porque não tinha muito que dizer. Na verdade sabia que Adrian queria e precisava ouvir poucas coisas pra se sentir feliz, ou mais livre, mas essas pequenas coisas de que esse menino precisava eram coisas que Clifford e sua proteção não podiam e não estavam dispostas a dar. O que Clifford não conseguia entender era que se ele não estivesse disposto a permitir pequenas coisas a esse menino outra pessoa estava disposta, essa pessoa era Aron. Estenrize tem seu lado frio e pouco se importa com quem está em volta dele, mas sabe mais do que ninguém nessa história que Adrian de Layeva apenas precisa de poucas concessões para se sentir melhor e apesar de ser um soberano conhecido como sádico e cruel ele era um bom estrategista e quando queria tinha uma paciência incrível. Esse é o melhor método para conseguir se aproximar do menino perigosamente carente de razão.
Clifford não conseguia ver que sua proteção exagerada e egoísta é o que levaria Adrian direto ao cerco do temível caçador.

Os dias monótonos e sufocantes de Adrian acabavam transpassando as barreiras da monotonia para se transformar em um ciclo vicioso e exaustivo de horrores em que os pensamentos mais sombrios se tornam ecos desafiantes e inquisidores que a pequena razão de Adrian não consegue controlar. Qualquer coisa que rompa com esse ciclo já causa uma grande estima no jovem príncipe disposto a se agarrar e arriscar no que rompe com seus temores mais escondidos. Ele só espera que alguém consiga acalmar esses temores e tem uma pessoa nesse mundo disposta a isso pra tê-lo definitivamente: Aron Estenrize e ele não faz pra ser bonzinho e sim apenas para conseguir seu propósito de tê-lo... Pena que Clifford não entendeu as necessidades do Adrian.

Beatrice chegou com o ursinho, mas não era disso que o menino precisava... Ele queria aquilo que era proibido pra si, coisa simples para os outros e para ele era apenas uma de suas pequenas coisas tão preciosas. Senhor Wolstencroft não fazia nada que o ajudasse a passar por esse rompante depressivo que apertava o pequeno coraçãozinho, apenas o olhava com os olhos frios e artificiais, como se soubesse que não poderia fazer nada do que simplesmente observar o desenrolar daquela vida tão parada e solitária... Não era disso que o pequeno príncipe precisava. Adrian estava infeliz e aquele ursinho, feito para uma criança feliz não o ajudava em nada, apenas fazia aumentar aqueles batimentos sofridos do pequeno coraçãozinho minguante. Não era aquela expressão de ursinho feliz que ele queria ver, se sentiu agoniado e jogou o ursinho pra longe.

- Adrian! – Clifford chamou atenção dele. Estava surpreso com a reação mal criada do filho.

Adrian não o olhou e nem respondeu nada, apenas choramingou mostrando que estava estressado naquela viagem tão diferente do que suas expectativas o fizeram acreditar. A viagem seguiu assim, Clifford teve que aceitar essa pequena realidade, estava ficando nervoso também com a manha dele, mas se esforçava a entender os motivos de seu pequeno e delicado filho. Imaginou que fosse sono e tentou fazê-lo dormir, mas Adrian não quis saber de nada, no fim o rei optou por dar apenas um remédio e esperar que fizesse efeito.

Realmente Adrian estava cansado, apesar de não ter feito muita coisa nessa viagem. O que acontecia era que tudo estava muito além de sua rotina de menino doente, não era algo do costume dele. As perninhas estavam inchadas, ele se sentia desconfortável naquela poltrona e longe de suas pequenas coisas. Clifford tentava deixá-lo o mais confortável possível, mas nada ia ser igual ao tipo de conforto que ele estava acostumado. E o mais importante e talvez o que fizesse o maior efeito naquele desconforto todo era que esse menino não dormiu. Ele vivia a base de remédios e dormindo e naquela viagem isso não aconteceu. Não que ele achasse isso ruim, mas não fazia parte de seu costume.

Adrian acabou dormindo depois de alguns minutos, deixando o pai mais tranquilo durante a viagem. Mesmo depois do estresse do filho o absorver um pouco ele entendia que talvez o menino estivesse apenas incomodado com os pensamentos que não sabia lidar. Também entendia que por mais que Adrian quisesse viajar ele não aguentava e isso por um lado ajudava Clifford a prendê-lo longe de todo mundo, mas também lhe mostrava uma realidade que não tinha imaginado quando soube que ia ser pai.

Quando chegaram a Maryon, Clifford carregou o filho no colo. Adrian parecia entender perfeitamente bem quem o pegava no colo e por isso prendeu a cintura do pai com suas perninhas curtas e deixou um beijinho fraco no pescoço dele em seu pequeno momento entre o sono e a realidade, depois voltou a dormir como uma pedra nos braços do pai e seguiram viagem de carro, o famoso carro com cortinas azul Royal de veludo.

Tudo parecia correr bem na viagem até uns ruídos estranhos e longínquos preencherem o ambiente. A princípio parecia algo sem importância, mas o alarde foi tomando proporções perigosas e seus militantes se atreviam a se aproximar do trajeto do rei. Olhando pela janela do veículo, com o cuidado de não abrir muito a cortina para não revelar a posição dos integrantes do carro, Lysandre concluiu que estavam furiosos e dispostos a por em risco a segurança do rei e do príncipe. Pelo o que pôde perceber era um grupo de dez homens divididos entre cavalos e carros.

- Isso é uma emboscada. – Anunciou Lysandre com ar de perito sem se abalar. Olhou para o rei que paralisou e apertou o filho nos braços. – Aumente a velocidade, precisamos sair daqui antes que eles nos alcance. – Ordenou ao motorista.

Adrian se mexeu assustado com a voz grave de Lysandre e com o pai o apertando sem se dar conta de que a força que aplicava começava a incomodar o menino. Ele resmungou irritado chamando a atenção dos outros.

- Vai ficar tudo bem. – Clifford sussurrou pra ele antes mesmo do filho dizer alguma coisa e o fez repousar novamente em seu peito.

O motorista acelerou o carro, mas não surtiu muito efeito porque os malfeitores não estavam dispostos a perder aquela chance e também aceleraram. Alguns vinham a cavalos e outros em carros com armas nas mãos posicionados para atirar quando recebessem apenas uma ordem.

- Eles vão atirar. – Avisou Lysandre. Se virou para Jacob. – Pegue sua arma soldado e se prepare pra revidar e quanto a vocês mantenham-se atentos e se abaixem. – Terminou encarando o rei.

Adrian encarou Jacob com uma expressão de surpresa e medo. Se afastou um pouco do abraço protetor de seu pai e se inclinou involuntariamente para Jacob querendo ver a resposta do soldado.

- Você vai atirar? – Perguntou o jovenzinho chocado.

- Se preciso. – Jacob informou rígido. Estava nervoso, não se tratava de nenhum exercício de simulação, era sua primeira situação real, menos pior que a guerra, mas igualmente tensa. Em seu interior sentia uma necessidade feroz de não usar a arma e sair pacificamente da zona de perigo. Mas a julgar pelos homens ferozes e iracundos se mantivessem a ânsia de os alcançar, mesmo que o carro tenha acelerado, eles os alcançariam e a única língua compreensível em meio a um confronto seria revidar e proteger acima de tudo o sangue real com igual ferocidade de que eram atacados.

Clifford puxou o filho para se deitar no banco. Estava mais preocupado com ele do que consigo mesmo. Adrian resistiu um pouco sem querer deitar no banco, mas o rei o reprimiu com um gesto grosseiro e uma expressão fechada e raivosa. Clifford mexeu na cintura e tirou do cinto uma arma pequena como um laser, quase imperceptível entre suas vestes e seu cinto, mas tinha o mesmo poder de uma arma pequena. Adrian o encarou surpreso e ao mesmo tempo ofendido de não ter percebido a presença dela e também porque não tinha nada em mãos que o igualasse aos outros. Também queria uma arma.

- Papai tem uma arma... – Foi sua surpresa fraca, rouca e retórica que ninguém deu atenção, somente Clifford que pareceu nem se importar quando pediu para que ele ficasse quieto.

Adrian sentiu-se ignorado e tratado como um saco de batatas quando tentou retrucar alguma coisa que não teve importância nenhuma a eles e quando tentou se soltar dos braços do pai para observar o conflito que não estava tão longe, o pai apenas o empurrou contra o banco para que ficasse deitado e protegido pela lataria em casos de mísseis disparados, Clifford fez isso com tanta facilidade que frustrou o jovenzinho impotente que bufou com os olhinhos úmidos de criança mimada que não consegue o que quer.

Havia uma tensão imensa dentro do carro e Lysandre observava sempre atento os homens. Percorreu cada perfil dos homens e constatou que pareciam piratas com corpos brutos e racionalidade selvagem. Vinham a cavalo e tinham algo como escudos e armas mais potentes que as que tinham naquela pequena comitiva. Outros vinham de carro
deixando as armas posicionadas na janela prontos para atirar. Precisava de um plano às pressas. A selvageria dos corpos e a força monstruosa com que gritavam e gesticulavam pareciam bem superiores as forças de Lysandre e Jacob e provavelmente se não liderasse os guardas da comitiva de maneira assertiva os piratas selvagens e mercenários passaria por eles com tranquilidade.

- Se preciso sairemos do carro em movimento e nos juntaremos ao restante da segurança para garantir que vossa majestade e vossa alteza cheguem a Wilparr em segurança. – Disse Lysandre retórico e firme como um soldado experiente.

Mal Lysandre fechou a boca o carro escorregou em uma curva perigosa da estrada, abaixo tinha uma inclinação do solo que os levaria ao desfiladeiro. Se seguraram como puderam durante o chacoalhar do carro. E o primeiro tiro foi dado. Não os acertou e o projétil nem se encontrou com a lataria do carro, provavelmente os piratas tentavam danificar os pneus e pelo solavanco conseguiram algum efeito, porque quando o carro retomou seu equilíbrio na pista algo parecia impedir o carro de avançar com velocidade adequada para a fuga. Não ouviram o barulho do pneu estourando porque suas mentes já estavam ocupadas com o derrapar do carro e o tiro.

Jacob olhou pelo vidro de traz com cautela ao abrir levemente a cortina de veludo azul Royal para que não revelasse a posição dos que estavam dentro do carro. Viu aquela trupe selvagem e furiosa aumentar a velocidade e se podia ouvir de forma longínqua, abafada pela vedação do veículo, gritarem coisas como mantê-los vivos e algo sobre o menino.

Um dos carros daquela comitiva fez um retorno brusco e parou diante dos homens para garantir tempo ao carro principal e segurança do rei e do príncipe. Alguns homens armados saíram do carro e atiraram contra os selvagens, os que vinham a cavalo tinham os escudos e destrezas de se manterem montados e se protegerem ao mesmo tempo em que empenhavam armas. Alguns se descuidavam do escudo para atirar e rapidamente se punham na presença de suas proteções. Mesmo estando às cegas era preciso um conhecimento muito sólido da posição de seu inimigo, pois estando com os escudos empunhados eles tinham que seguir curvados e de visão comprometida pelos escudos para que não fossem atingidos em áreas vitais. 

Esse primeiro ataque não causou muito efeito, pois os brutos piratas pareciam mais empenhados no seu intento. Atiraram procurando pontos vitais de seus rivais, ao mesmo tempo que alguns dos seus também se viam machucados nas pernas e alguns cavalos atingidos relinchavam com a dor selvagem e se desviavam do caminho a frente. Mesmo assim aqueles brutos pareciam transpor as barreiras dos guardas com tanta facilidade que não foi surpresa quando dois carros alcançaram o carro real e mesmo às cegas por aquela cortina, que Clifford insistia em manter nas janelas para que Adrian não conhecessem o mundo além de suas asas, um deles atirou contra o vidro que se estilhaçou e a bala atingiu o motorista na nuca. Ele morreu instantaneamente e o carro perdeu o controle e desgovernado e acuado pelos outros carros foi em direção aquela garganta mortífera que circundava a via por onde passavam.

Adrian viu seu corpo sendo pressionado pelo do pai e com o sacolejar do carro tentava como podia não causar tanta pressão no corpo do filho pra não sufocá-lo. Mas as coisas não davam tanto efeito como gostariam que tivessem. Eles não estavam usando cinto de segurança e com o deslizar do carro o sacolejar dos corpos era inevitável. Clifford se segurou numa alça próxima a porta, mas não foi o suficiente pra reduzir os impactos do que estava acontecendo. O carro capotou e Adrian se prendeu fortemente aos braços dele sem se importar em permanecer abaixado. O jovem príncipe mantinha os olhos fortemente fechados, a mandíbula contraída e mordia os lábios com força se machucando. Não havia possibilidade de ninguém fazer nada para protegê-lo por mais que tentassem, eles estavam capotando e temiam cair direto naquela garganta que ansiava por engoli-los.

Adrian bateu a cabeça na lataria do carro. Um dos lados do carro chocou-se com uma pedra pontuda e ela perdeu a vedação e foi arrancada. Poderia ser algo pavoroso, mas se não fosse por esse fato tortuoso que os expeliu pra fora da carcaça amaçada sobre o chão de terra e pedras causando luxações no rei e uma queda brusca do príncipe que bateu a cabeça e rolou um pouco para longe do pai com um corte na testa, antes de fechar os olhos Adrian viu uma velha de olhos vítreos os encarar de longe como se estivesse escondida, mas logo virou a cabeça ouvindo passos fortes e desmaiou.

Lysandre ganhou um corte horrendo na perna ao ser jogado pra fora do carro, viu alguns homens descerem aquela parte inclinada. Atirou sem pensar, queria apenas pará-los, mas recebeu tiros, um deles o atingiu no peito próximo ao ombro e o fez cair enquanto Clifford se recuperando do susto e das dores jogou aquela arma pequena contra os homens que vinha atrás, queria ter jogado no que se aproximava do filho, mas não queria machucá-lo com uma arma como aquela. Assim que aquele projétil pequeno foi lançado lançou um bipe quase inaudível e liberou cinco projéteis de fina espessura feitos pra transpassar como lanças e romper vias venosas do inimigo. Os homens caíram no chão soltando um urro selvagem de dor que chamou atenção dos outros dois homens que se aproximavam de Adrian, nesse instante um Jacob ferido e ainda caído atirou acertando a perna de um deles.

- SE AFASTEM DO ADRIAN. – Vociferou o rei se arrastando como um bêbado para perto do menino desmaiado.

Se apavorou ao ver o corpo do príncipe caído ao chão, completamente inerte com um terrível corte na testa que maculava aquela pele pálida e delicada. Clifford virou um monstro naquele momento. Não deixaria que ninguém machucasse seu filho assim. Não pensou em nada apenas avançou naquele selvagem travando uma luta corporal como podia. Arranjou uma força cega e tão primitiva quanto aqueles soldados, mas não contava com o fato deles terem armas brancas consigo também. Clifford o fez cair batendo as costas em uma pedra, isso o fez largar a arma que caiu não muito longe, mas o suficiente pra não alcançar, só não contava que aquele mercenário conseguiria sacar uma faca de caça e o apunhalasse no abdômen e no peito próximo ao ombro o desestruturando.

- QUEM OS MANDOU AQUI? – Lysandre exigiu saber atirando novamente pra fazê-los parar e se aproximando do rei para socorrê-lo, olhou para Jacob e o viu pegar o menino em seus braços, em seguida verificando os pulsos.

- Nos dê o príncipe em troca de suas vidas. – Disse um mercenário se levantando do chão mostrando uma postura impenetrável apesar de sua perna derramar um espesso sangue misturado a terra.

- VOCÊS NUNCA LEVARÃO O ADRIAN. – Clifford disse com fúria. Tentava se manter firme, mas já tinha levado facadas em lugares críticos que fazia seu sangue escapar apressado de suas entranhas, seu corpo estava exausto e ansiando por se apagar ali mesmo.

Lysandre decidiu atirar mais uma vez, agora no homem que machucou seu rei e lhe deu um tiro certeiro nas costas devido a situação vulnerável dele. Clifford se arrastou na direção do Adrian sem pensar em mais nada. Foi cambaleante com a visão turva, seu
filho parecia estar tão longe de si e nos braços do infeliz soldado que tentava estancar o sangue da testa do garoto. Chegou a estender os braços na direção dele, mas Lysandre teve que puxá-lo bruscamente e fazê-lo parar por um momento, tinha percebido que aquele homem estava intencionado a prender o rei o fazendo de refém. Tendo seus planos frustrados o mercenário se apressou em chegar ao Adrian.

Lysandre tendo que segurar o rei que caia não teve tempo ágil o suficiente de atirar suas ultimas balas contra as costas daquele pirata. O homem pegou o Adrian dando um chute em Jacob para afastá-lo. Fez o príncipe desmaiado de escudo para proteger sua vida. Adrian era leve e para um corpo ogro como o dele seria mais fácil manipular aquele ser pálido do que um escudo.

- Atira no seu príncipe. – Desafiou o homem. O sangue escorreu da cabeça inclinada e desmaiada do príncipe em direção a terra. – Seria uma pena matá-lo, mas não hesitarei em fazê-lo para me salvar.

- Quem o mandou aqui? – Lysandre perguntou apontando a arma sem coragem de atirar.

Alguns gritos ferozes chamou a atenção de Lysandre, ele olhou pra cima e viu mais dois homens descendo aquela encosta. Estavam contente pelo companheiro estar com o príncipe. Lysandre teve certeza de que sua arma não ia conseguir muita coisa, não podia atirar contra ele por causa do Adrian e não tinha balas para acabar com todos eles. Aos seus pés tinha um rei convalescendo vomitando e sufocando com o sangue espesso. Tudo parecia gritar para um fracasso.

- Tem que salvar o Adrian. – Clifford disse expelindo sangue.

Lysandre ficou sem muita ação porque não tinha ideia do que fazer naquele impasse. Olhou novamente para Jacob querendo algum apoio e apesar de vê-lo machucado com a boca cheia de sangue sentiu-se mais corajoso ao ver o soldado empunhar a arma novamente na direção daquele homem. Talvez tivesse uma brecha para distraí-lo e fazê-lo se virar de costas ou de lado para Jacob, assim o príncipe não estaria na linha do tiro.

- Pra onde vão levá-lo? O que pretendem fazer com ele? – Lysandre perguntou chamando a atenção do homem.

Ouviu-se um tiro vindo da estrada e lá havia um guarda do rei que atirou em um dos homens que desciam em direção a eles. O mercenário caiu contra o solo que parecia querer levá-lo diretamente a garganta sedenta abaixo deles, mas o atrito com o chão não foi o suficiente para lançá-lo no precipício. Outro tiro foi dado no outro que também caiu escorregando alguns centímetros abaixo. Esse feito chamou atenção do homem que segurava Adrian. Jacob se esgueirou pra não chamar atenção e ficar um pouco mais perto, mirou mantendo os dois olhos abertos e o coração explodindo no peito colidindo fortemente na caixa torácica. Sabia que tinha apenas uma chance de não acertar o príncipe. Mirou mais uma vez e respirou fundo tentando contar com a sorte e atirou. O mundo pareceu parar nos segundos entre a bala saindo se sua arma e atingir o pescoço do homem o fazendo cair. Do pescoço o sangue jorrava borbulhante, tinha atingido um ponto fatal que o levou a morte em poucos segundos sujando o pequeno príncipe desacordado. Jacob baixou os punhos se sentindo tão nervoso, cansado e machucado que mal segurava as pernas.

Clifford se deslocou sem jeito, cambaleante amparado por Lysandre, se aproximou do filho amparado por Jacob. Não quis saber de muita coisa, seu corpo tremia e ele chorava enquanto segurava o filho nos braços esperando o pior. Adrian estava pálido e sujo causando um sentimento de desolação no pai, em Jacob e muita preocupação em Lysandre.

- Melhor vocês saírem daqui. – Avisou uma velha enrugada que parecia carregar o tempo nas costas. Andava inclinada e com um manto de farrapos cobrindo a corcunda e se apoiava em um pedaço de madeira. Seus olhos eram parados e sem vida. Trazia nas mãos enrugadas e escuras um punhado de plantas desidratadas.

- Quem é você? - Lysandre perguntou cansado estranhando a presença daquela mulher logo ali. Levou as mãos ao ombro ferido e sentiu o sangue molhá-la.

- Não importa quem eu seja, você tem que tirar sua majestade daqui antes que esses ferimentos não tenham mais jeito. – Disse séria com a voz carregada de algo gutural. Estendeu aquele punhado de plantas desidratadas. – Faça uma compressa com isso.

Lysandre pegou o montinho ainda sem entender o motivo daquela senhora está ali, numa área tão perigosa. Olhou aquele punhado de ervas secas achando inacreditável o que acabara de acontecer e quando voltou a atenção àquela mulher para lhe perguntar algo mais ela já não estava mais lá. Ficou atordoado com o caso e se virou para Jacob e o rei que continuava a chorar com o filho nos braços sem nem perceber aquela presença estranha de há pouco. Jacob também encarava o rei tentando ajudar e confortar de alguma maneira, parecia alheio ao que acabara de acontecer, mas Lysandre tinha certeza de que o soldado tinha visto a velha. Olhou mais incrédulo aquelas plantas em sua mão e logo um guarda lhe chamou atenção juntando-se ao grupo, era o mesmo que tinha atirado lá do alto.

O guarda observou se aproximou e analisou a situação. Pôs-se a ajudar o rei com o príncipe e Lysandre se juntou a ele junto com Jacob que tomou Adrian no colo enquanto o rei era amparado por Lysandre e o guarda. Iam subir aquela depressão. Mesmo que fossem treinados e no caso de Ashburhan ser experiente em carregar feridos de guerras em terrenos nada amistosos, ainda era uma tarefa difícil e escorregadia, mas conseguiram chegar lá. Viram alguns corpos caídos indicando que depois que eles caíram ainda houve um conflito e deste resultou a morte de mais alguns homens da guarda do reino e também daqueles bárbaros que os atacaram. Uma cena lamentável e mais lamentável ainda foi constatar que Beatrice que ia em outro carro estava morta com uma expressão de terror imortalizada em sua orbes já sem vida.

Era uma cena suficientemente horrorosa para deixá-los estarrecidos ao ponto de paralisarem tentando engolir o que houve, mas a situação era delicada e eles precisavam de atendimento médico urgente. Também era uma questão de soberania nacional. Atentaram contra um rei e seu herdeiro, precisava saber quem teria interesse nisso e por que. Eram várias perguntas que pairavam no ar de forma vigorosa trazendo ansiedades e culpas por não terem previsto o imprevisto e pela grande e quase fatal falha na segurança de seu soberano e do herdeiro legítimo do rei.

As coisas não iam parar ali, Lysandre tinha certeza, mas o pior era não saber a mando de quem tudo isso aconteceu e mais ainda era saber que não tinham por onde começar se aparentemente todos estavam mortos.

- Você chamou ajuda? – Perguntou ao guarda.

- Devem chegar a qualquer momento. – Respondeu o guarda.

- Não deixe ninguém se aproximar deles, me ajude a tirar Beatrice do carro, usarei ele para levar o rei e o príncipe para um lugar seguro onde terão atendimento médico. – Explicou Lysandre ignorando o próprio estado físico e mental para seguir sua lealdade e seu trabalho. – Não deixe de proteger os nossos cadáveres, eles precisam ser protegidos até serem resgatados.

- Não acho prudente prosseguir sem reforços. – Aconselhou o guarda.

- Não temos tempo para esperar, se demorarmos algo mais sério pode acontecer com um
deles. – Explicou Lysandre e olhou para uma de suas mãos percebendo que as ervas ainda estavam lá. Nem sabia o motivo pelo qual não as deixou pra trás e nem porque não se livrou delas ali. Acabou guardando no bolso de qualquer jeito. – Levarei eles para o Fort de Wilparr.

Lysandre seguiu até o carro disponível, tinha dois corpos mortos ali, deixou o rei no banco de trás junto com Adrian e retirou os corpos mortos com ajuda de Jacob. E depois de todos já ajeitados no veículo, seguiu pela estrada o mais rápido que conseguia. Wilparr ainda estava a uma distância considerável dali, mas não tão longe. Com a alta velocidade chegou ao forte gritando ordens desde o portão. Henri veio atender os feridos e os levou para a ala hospitalar mobilizando outros médicos.

Quando soube, a rainha pareceu não dar muita importância, pois demorou a descer para a ala hospitalar a procura do marido e do filho. Quando desceu procurou primeiro notícias sobre o marido, mas não demonstrou a preocupação que esperavam que ela tivesse. Clifford recebeu sangue e teve seus ferimentos tratados. Passou por exames para saber se haviam perfurado algum órgão e foi detectado irritações no estômago, por sorte a faca não chegou a perfurar, mas chegou bem perto e o caso do rei era crítico. Ele estava sedado, com o peitoral enfaixado a mostra e nas veias recebia sangue e soro. Ela ficou em pé pensativa por longos minutos, mas não fez nenhum gesto para tocá-lo.

Nem mesmo quando Henri entrou no quarto para conversar com ela sobre o estado do rei e do filho ela mostrou alguma reação diferente. Talvez tenha pensado que teria ali alguma chance de fazer seu romance proibido vingar e não teria tantas dificuldades caso o marido morresse. Adrian não poderia fazer nada afinal não era certo que ele herdaria a coroa. A doença do filho nunca foi tão proveitosa em uma situação assim e com certeza o filho que ela esperava nasceria saudável e poderia ocupar a coroa no lugar do primogênito a beira da morte.

- Vossa majestade está bem? – Perguntou Henri ao notar que ela estava distante.

- Sim. – Ela disse apressada se forçando a prestar atenção no que Henri falava. – Eu só fiquei impressionada.

- Entendo. – Henri disse pensativo. – Gostaria de ver o Adrian agora?

- Ele está acordado? – Perguntou. No fundo não queria que ele estivesse porque tinha certeza que ele ia ter uma crise de infantilidade e lhe tomaria seu tempo, mas também era bom saber o estado dele.

- Ele está dormindo. Fora o corte na cabeça não teve nenhum outro machucado mais grave. – Explicou Henri. – Venha comigo, por favor. – Indicou que o seguisse. – Fizemos alguns exames e não encontramos nada grave, mas como ele desmaiou após bater a cabeça é possível que demore um pouco mais pra acordar e ainda há riscos dele apresentar algum sintoma quando acordar.

- Ele ficará bem? – Perguntou.

- Sim. Manteremos sempre alguém perto dele pra monitorá-lo nas primeiras doze horas. – Henri respondeu. – Ele também está recebendo sangue e soro. Mas tem algo que a senhora precisa ver.

A rainha não comentou mais, ficou pensativa até chegar em uma ala não longe dali, ele dormia tão mais pálido do que o costume. Isso deixou ela surpresa e comovida, nos olhos dele tinham algumas poças roxas como se ele tivesse sofrido muito. Era tão frágil que apertou seu coração. Não o tocou por medo de fazer algo errado e piorar a situação dele. E também porque não tinha paciência de escutar seus surtos infantis, suas birras e seu choro, mesmo sabendo que ele era só um menino imensamente solitário. Notou umas manchas rochas no pescoço dele e pensou que algo mais sério tivesse acontecido na emboscada, voltou-se a Henri a procura de respostas.

-E essas manchas rochas? Ele foi agredido? – Perguntou alarmada.

- Ele tem essas marcas rochas no pescoço e no corpo, algumas mais intensas que outras. – Respondeu o médico. A verdade é que sabia que além dele ter marcas de agressões algumas se tratavam de alguns chupões, mas não conseguia solucionar as dúvidas sobre quem fez aquilo. Não queria ser invasivo com a rainha, por isso preferiu apenas esperar para conversar com os outros sobre os detalhes da emboscada, ou esperar Adrian acordar e revelar alguma coisa sobre elas.

- Parecem chupões... – Pensou a rainha incrédula. Ficou uma dúvida enorme sobre o que poderia ter acontecido naquele acontecimento, mas uma pessoa poderia lhe explicar muito mais do que o médico e essa pessoa era o marido. Foi uma desconfiança imediata sobre o marido, por mais que quisesse evitar quando via aquelas marcas era Clifford que lhe vinha a mente. Empalideceu um pouco e levou as mãos a boca para abafar algum som de surpresa. Henri percebeu e a encarou.

- Majestade? – Perguntou preocupado.

- Estou bem, só um pouco impressionada. – A rainha respondeu disfarçando. – Tem certeza de que fora o corte na testa não houve nada mais grave nele?

- Sim majestade. Ele só sofreu escoriações e o corte na testa, mas logo vai se recuperar. Quando ele acordar irei fazer novos exames e se tudo estiver bem ele poderá ser liberado da enfermaria.

- Faça isso. – Disse ela e olhou mais uma vez para o filho. – Vou descansar um pouco... Me sinto abalada. Qualquer coisa mande avisar, estarei nos meus aposentos.

Henri consentiu com a cabeça, mas não entendeu porque ela não lhe pareceu tão comovida como deveria ficar. Parecia distante e nem ao menos tocou no filho e nem quis ficar ao lado dele. Com o marido também se manteve distante. Olhou para o príncipe adormecido e tão pequeno que se comoveu, deu um beijinho singelo na bochechinha pálida e decidiu não pensar mais nas atitudes da rainha. Seguiu seus afazeres.

Não era costume dividir a ala da enfermaria, apesar de lá ter três salões enormes, mas por uma questão de hierarquia Henri permitiu a divisão de sua enfermaria, uma parte só para o rei, outra só para o príncipe e outras duas para Lysandre e Jacob. Não estavam tão distantes, mas apesar de não invalidar a funcionalidade do local, causava uma certa dificuldade de atendê-los em áreas diferentes. Nessa divisão, ou foi obra do destino ou simples coincidência, mas Lysandre estava próximo ao rei e era a parte mais próxima a cozinha da enfermaria. Estava bastante pensativo e se sentindo angustiado. Havia uma avalanche de sensações e sentimentos em seu peito... Só em pensar que algo fatal pudesse ter acontecido com seu rei e amigo, e com o filho dele... Sua preocupação maior era o rei mesmo porque há muito se sentia preocupado e havia bem mais que isso dentro de seu coração e há muitos anos, só não se atrevia a enxergar o que estava latente naquele peito, naquele coração.

Doía muito pensar que uma tragédia podia ter acontecido, estavam tão perto de um desfecho horrível. Poderia tê-lo perdido para sempre... Na verdade insistir em um sentimento antigo e fadado ao fracasso poderia ser seu pior erro, por isso sempre se auto silenciava para disfarçar e forçar a vida a seguir a diante. Alguns sentimentos são feitos para morrer e as circunstâncias provam isso e não seria diferente com Lysandre e seus sentimentos para com Clifford. Uma possibilidade mais que remota, era mórbida e por isso só lhe restava a resignação de seguir a diante sendo apenas um fiel amigo e um grande general e ministro de guerra. Viver assim era o mesmo que viver em uma tensão, raiva e angústia eterna. É um estado de lidar sempre com a aflição de gritar internamente e amar em vão. Mas mesmo assim quando se está frente a frente com a morte espreitando a quem se ama e a si mesmo se torna impossível frear os sentimentos, até mesmo os mais escondidos.

Os sentimentos do coração ocupavam um vasto espaço na mente de Lysandre e dividia uma parcela dele com a estranha senhora que encontraram na boca do precipício. Ainda não conseguia entender o que uma senhora que parecia tão debilitada estaria fazendo ali e nem pra quê lhe entregou aquelas ervas... E onde as ervas estavam mesmo? Em sua roupa na cadeira próximo a ele. Será que deveria fazer a compressa com elas?

Lysandre passou um tempo precioso lidando com os próprios conflitos e angustia que aquela situação desencadeou em seu coração, na sua mente e na sua vida. Como se chegasse um momento em que tudo fosse jogado em sua face com uma brutalidade difícil de acreditar. O medo de perder e toda a situação o fez acreditar que aquela velha tinha um propósito ali e não lhe daria aquelas ervas para nada. Então com dor e arrastando aquela perna machucada ele marchou rumo a cozinha e preparou a tal da compressa. Não estava preocupado com seu corte ou seu estado de saúde e sim com a de Clifford e por isso levou a compressa pronta para onde o rei estava.

Clifford parecia dormir em sono profundo. Lysandre se aproximou com a pequena bacia, a deixou na mesa ao lado e observou o rei dormir. Parecia tão calmo e longe. Com cuidado e carinho, sabendo que não haveria mais nenhuma oportunidade como aquela, contornou a face dele com suas mãos, deixando um carinho suave que Clifford nunca iria saber. O peito do rei estava descoberto e protegido somente com as faixas em cima dos cortes, Lysandre sentiu o peitoral definido sem excesso, foi um gesto leve que não se demorou. Chegou a pensar que ele acordaria, mas isso não aconteceu e pra não perder tempo, com muito cuidado retirou aquela faixa, sentia-se dolorido, mas ainda apto a erguer o corpo do Layeva e retirar as faixas. Ele devia estar sedado pra não ter acordado e nem ter feito qualquer movimento que indicasse que sentia que estavam mexendo nele. Lysandre deixou as ervas em compressa em cada corte, ainda hesitou um pouco com o que fazia, mas completou a ação e procurou outra faixa pra refazer o
curativo. Finalizou atendendo um de seus maiores desejos, deixou um beijo demorado nos lábios de seu rei e amor impossível, confidenciou em média voz que o amava e mesmo com dor e sentindo a perna latejar de forma insuportável permaneceu ali até a alvorada.


Notas Finais


O Lysandre beijou o cliff?🙊🙊🙊
Gente do céu...
A rainha esta desconfiada? Ela ta estranha.
Será que essa emboscada veio do Aron? Falando nele, não coloquei a cena dos próximos capítulos, mas ele vem com certas mudanças ou o princípio delas.
Espero que tenham gostado estou com muita saudade de vocês.


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Você vai se apaixonar por esse colégio cheio de segredos escondidos nos encontros do tempo e são só de quem guardar.

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Obrigada pela atenção, beijos e até mais!


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