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História Estrela Solitária - Confessar


Escrita por: gingerbaek

Notas do Autor


Acho que ainda não aprendi a dizer adeus para Estrela Solitária porque protelei até o último segundo de postar esse capítulo, mas assim como eu tive um desfecho, vocês leitores também merecem (ainda mais depois do penúltimo capítulo que eu sei, acabou com o coração de muita gente. ME DESCULPEM!)

Esse capítulo tem um gostinho muito especial porque, acho que todo mundo queria a visão do Baekhyun sobre tudo isso, não é? Pois bem, ele será o narrador e espero que ninguém mais queira me matar... Mas espero muito que gostem, porque foi incrível escrever esses personagens que ganharam vida e decidiram contar a história do jeitinho deles. Deixarei os agradecimentos para o final, mas de qualquer maneira, obrigada a quem chegou até esse último capítulo.

Pela última vez, boa leitura! Preparem seus lencinhos para chorar!!!

Capítulo 5 - Confessar


O ano de Byun Baekhyun tinha sido uma loucura. 

Entre boatos sensacionalistas, amigos que lhe viravam a cara e o fato de estar prestes a lançar um álbum novo, ainda tinha que enfrentar o recebimento de sua marca, a Privé Collection

Desde que a empresa percebeu o potencial do cantor quando ele começou a ser chamado de Golden Idol pelos veículos midiáticos, começaram a analisá-lo com outros olhos. Tudo que Baekhyun tocava parecia virar ouro, os estoques zeravam… E não importava que fosse alguma peça de roupa extremamente cara ou um talher, os fãs simplesmente compravam como se assim pudessem tê-lo um pouco mais perto.

A oportunidade de ter sua própria marca surgiu pouco após um desses atos, e ele notou que estava sendo a nova “galinha dos ovos de ouro”, mas não tinha sido ruim. Sua única condição, no entanto, foi que pudesse trazer a diversidade para dentro de sua marca. 

A Coreia do Sul ainda era um país extremamente conservador, apesar dos mais jovens estarem buscando seu espaço. Era um movimento bonito de se ver, e se ele agora não fosse uma figura pública, provavelmente estaria envolvido em causas mais ativamente.

Apesar de durante a adolescência ter tido seus muitos questionamentos, ter brigado com os pais e namorado com outro rapaz sem o consentimento de ambos, ainda sim se via como uma pessoa ativa na comunidade. Ou o mais ativo que poderia ser como um artista novo e buscando seu lugar ao sol. 

Fazia doações para projetos de maneira anônima religiosamente, e o intuito da Privé também era ajudar nessas causas, onde metade do valor de todas as peças iriam para instituições de apoio. O que ele viu como uma oportunidade para se mostrar um pouco mais para os fãs, a empresa viu como uma forma de colocá-los como liberais com seus artistas. 

E sendo sincero, Baekhyun realmente queria se sentir confortável em ser ele mesmo. Era um homem bissexual, e contanto que naquele princípio ninguém ficasse sabendo de seus relacionamentos, ficaria bem. A empresa tinha exposto de maneira clara – e contratual – que ele só poderia assumir qualquer relacionamento público após dois anos. 

Então naquela noite, um ano atrás, ele não fazia ideia do porquê aquele boato tinha surgido. Baekhyun não fazia nem ideia de como, qual era a fonte e porque a empresa o mandou ir direto para lá. 

Ele e Taeyeon não namoravam, mas a imprensa daquele jeito incrivelmente sagaz conseguiu um compilado de imagens onde eles estavam no mesmo carro, dividindo um lanche ou saindo tarde da noite das salas de treinamento. 

Se fossem um pouco mais espertos, provavelmente notariam que ela era sua noona e sunbae, sendo assim, desde que havia entrado na empresa, Taeyeon tinha sido uma espécie de guia. Primeiro eles se encontravam entre os treinos vocais, depois ela começou a ajudá-lo na afinação, e quando viram, já eram amigos… Amigos do tipo que dividiam segredos. 

Ele sabia de detalhes da vida pessoal dela que nenhum outro seria capaz de desvendar, mesmo que fuçasse; ela, em contrapartida, era quem o apoiava em cada doação feita para as instituições de apoio à comunidade LGBTQIA+. 

Eles funcionavam como uma equipe, e não fazia sentido colocá-los como um casal. Não daquela forma, não tão perto do lançamento da marca de Baekhyun… Até entenderem que talvez estivessem tentando cobrir a razão central da Privé, e muito provavelmente, o relacionamento real de Taeyeon, aquele que ela mantinha em segredo com um coreógrafo. 

Baekhyun sentiu raiva, apesar da empresa ter dito que talvez aquilo não fosse tão ruim. 

Ele queria dizer que era péssimo, queria gritar a cada mensagem de ódio que começou a receber no momento em que saiu daquela floresta e pensou no que Taeyeon já deveria estar enfrentando desde a noite anterior, quando a notícia tinha sido divulgada de forma despretensiosa num jornal pequeno e explodiu em cada província da Coreia.

Para piorar, houve também o desconforto entre os amigos. Quando voltou para a clareira junto de Junmyeon e todos eles o estavam olhando de braços cruzados e um olhar nada gentil, nem precisou perguntar para Joohyun o segurar pelo colarinho – e puxá-lo para baixo, porque ela conseguia ser menor que ele –, questionando entredentes que porra tinha feito ao seu melhor amigo.

Sentiu-se atordoado, buscando a explicação na face de Jongin ou Kyungsoo, mas nenhum deles o deu um sinal sequer. Mesmo quando ele disse que não sabia o que eles queriam que respondesse, Joohyun não o soltou. 

Enfrentou praticamente um tribunal naquele dia, entre muitos “não’s” e poucos “sim’s” – depois de perceber que Sehun tinha ido embora enquanto não estava por perto –, acabou confessando tudo o que tinha acontecido entre ele e Sehun. Não ocultou nem os beijos, e nenhum deles demonstrou qualquer sinal até que terminasse.

– E por que Sehun foi embora daquele jeito então? Quer dizer… Vocês tiveram o desentendimento essa manhã, certo? – Joohyun tentava juntar as peças, já tinha soltado a camisa de Baekhyun mas ainda o olhava de forma julgadora. Principalmente porque o cantor tinha sido burro o suficiente para deixar a oportunidade de confissão passar.

– Sim, foi isso… 

– Eu acho que posso ter uma ideia. – Junmyeon atraiu a atenção do grupo, a irmã se voltando para ele com os braços cruzados e uma expressão questionadora como se ele tivesse feito parte daquela confusão o tempo inteiro. – Nós estávamos falando sobre o Sehun quando fomos buscar mais galhos na floresta.

– E o que estavam falando? – Kyungsoo tomou a frente, as sobrancelhas grossas frisadas, curiosidade exalando no olhar. 

– Eu… Merda. – Baekhyun pareceu recordar naquele momento uma parte da conversa que poderia ser interpretada de maneira errada, as frases voltando para a mente como uma avalanche. Abaixou a cabeça, incapaz de encarar os amigos depois de perceber que tinha sido idiota. Muito idiota. – Eu disse que as coisas entre nós nunca dariam certo, mas completei que era porque eu tinha sido idiota de não ter dito que sabia sobre ele ter me salvado! Sehun provavelmente não ouviu o restante e… Bem, agora ele foi embora.

Os amigos se compadeceram, até mesmo Joohyun desfez os braços cruzados e o olhou com certa pena. 

Se fechasse os olhos, lembrava daquela noite como se tivesse sido no dia anterior. Como fora horrível dormir naquela barraca, dentro do saco de dormir que pertencia a Sehun, sem o calor dele para o embalar num sono tranquilo. A culpa o consumiu de tal forma que sufocava toda vez que o corpo pesava de sono, e acabou passando a noite em claro. 

No dia seguinte tinha decidido tentar falar com Sehun a qualquer custo. Ele precisava desengasgar aquelas palavras, precisava só de alguns minutos para poder confessar tudo, tirar aquele peso de ser covarde das costas e esperar que o Oh compreendesse.

Ele aceitaria que Sehun o desse um gelo se ao menos pudesse falar tudo que tinha escondido por anos, no entanto as notícias chegaram assim que o celular pegou área e se viu em reuniões com CEO’s, managers e Kim Taeyeon. 

Fora sufocado em meio à mensagens que destilavam ódio até aquelas que apoiavam um casal que, ele tinha vontade de gritar, não existia! Mesmo assim fora impedido de falar aquilo publicamente, e fora impedido de ir atrás de Sehun porque agora havia outra barreira o separando do que poderia ser o seu felizes para sempre.

O Oh era jornalista, e Baekhyun sabia que ele já sabia. Deveria ter sido informado também naquela mesma noite, e não queria ao menos imaginar o que havia passado por sua cabeça. 

Sua chance tinha escorrido pelo ralo, ido embora em um piscar de olhos, desaparecido como as estrelas viram pó numa galáxia tão perto e ao mesmo tempo, tão distante. 

Baekhyun percebeu, numa tristeza profunda, que nem tudo que tocava virava ouro.

Havia tocado Oh Sehun com a adoração de um fiel num desejo que vinha de anos guardado e, mesmo assim, o rapaz tinha desaparecido como se não passasse de uma miragem num deserto, deixando Baekhyun apático, sem rumo. 

 

 

– Acha que ele ainda te odeia? – Taeyeon perguntou, parando ao seu lado. Além dos amigos que estavam presentes no acampamento, ela era a única que sabia sobre Sehun. – Já faz um ano…

– Já comprovei que, assim como eu, o Sehun também sabe guardar rancor. – Baekhyun riu sem humor, ajeitando o colarinho da camisa que logo faria parte de sua coleção e entraria em estoque em menos de um mês. Naquele dia, no entanto, ela seria usada no casamento de Kyungsoo e Jongin com o arco-íris bordado em tons pastéis nos punhos que se encontravam dobrados. – Ele provavelmente lembra como se fosse ontem.

– Assim como você. – ela também partilhou daquela risada, os lábios finos sendo escondidos por trás de uma taça de vinho. – Seria tão mais fácil se vocês dois não fossem cabeças duras.

– Meus amigos dizem a mesma coisa. – confessou, um sorrisinho nostálgico tomando o cantinho dos lábios. Apesar dela conhecer Jongin e Kyungsoo, de também ter sido convidada para o casamento e ter cruzado com Joohyun e Junmyeon uma ou outra vez, não fazia parte da roda de amigos. Pelo menos ainda não. – Quando me interessei na adolescência pelo Sehun e confessei para Junmyeon, ele espalhou para nosso grupo em menos de um dia e eles ficaram chocados. Chegaram a tentar intervir mais de uma vez, mas eu nunca permiti que fossem muito longe.

– Por achar que Sehun o odiava. – Taeyeon concluiu sua linha de raciocínio, desistindo de apenas esperar Baekhyun terminar de se arrumar e decidindo ajudá-lo com as abotoaduras. – E ele achava que você o odiava… Percebe o quanto vocês complicaram algo tão simples quanto o amor?

– E quem disse que o amor é simples, Taeyeon? – questionou com a risada presa, praticamente engasgada na garganta. – É o sentimento mais complexo do mundo.

– É complexo porque você permitiu isso, caso contrário, poderiam ter resolvido anos atrás. – Taeyeon falava com a sabedoria de quem já havia vivenciado relacionamentos bons e ruins, tirando proveito de cada um deles com perspectivas diferentes. Ela tocou a testa de Baekhyun com um dedo, o fazendo olhá-lo, ficando meio vesgo no processo. – Pare de pensar demais, pare de omitir as coisas e se permita viver cada sentimento como ele é. O amor é simples porque ele se traduz por conta própria… Ter laços afetivos com uma pessoa, demonstrar carinho, compreensão, ter desejo. Esqueça os desentendimentos e brigas, esqueça as peças que sua cabeça pode pregar e viva o que tem que ser vivido. 

Sentiu como se tivesse levado um tapa sem mão, e quando ela tirou o dedo de sua testa, continuou olhando para cima por um tempo, perdido em pensamentos. 

Caso tivesse sido verdadeiro anos atrás como tinha acontecido durante aquela conversa enquanto olhavam as estrelas, será que ele e Sehun estariam juntos naquele momento? Teriam tido maturidade para um diálogo daquele? 

Suspeitava que não seria tão fácil como Taeyeon fazia parecer, no entanto também pensava que tudo tinha um tempo exato para acontecer. Aquela conversa não poderia ter acontecido em outro momento, talvez eles não tivessem a mesma reação… E se Sehun não tivesse beijado-o para calá-lo? E se Baekhyun não tivesse entrado naquela barraca pedindo um pouco mais? 

Quanto mais pensava, mais chegava à conclusão de que o único final era aquele para o qual se encaminhava. 

Preferia que não tivesse ocorrido nenhuma interferência da mídia, preferia não ter levado o boato de namoro com Taeyeon por tanto tempo enquanto esperavam que aquilo fosse esquecido… No entanto, ao mesmo tempo em que a vida pessoal estava uma ladeira completa, a profissional era uma roda-gigante, e Baekhyun estava bem no topo.

Não levou mais que seis meses para o boato de namoro começar a ser esquecido, e ele e Taeyeon já conseguiam ver mais comentários amorosos em suas redes sociais. Já lidavam com antis bem antes de todo o burburinho, então era fácil apenas ignorar e começar a seguir como se nada tivesse acontecido. Cada um focado em suas carreiras, aparecendo menos vezes juntos. 

Naquele dia, no entanto, dividiriam um carro. Iriam para o mesmo lugar, o casamento oficial-não-oficial de Kyungsoo e Jongin, e mesmo que o namorado de Taeyeon também fosse um convidado, parecia mais fácil verem ela com Baekhyun do que com ele. Não precisavam de outro burburinho, então não viram problemas em entrar no Audi de Baekhyun no estacionamento subterrâneo do prédio para o qual ele havia acabado de se mudar.

Mesmo sendo um artista novo, de alguma forma o rosto livre de imperfeições e lotado de pintinhas que pareciam estrategicamente formar uma pequena galáxia tinha sido o suficiente para Baekhyun começar a ter muitas fãs, algumas extremamente desagradáveis que descobriam seu número e o repassava em chats, ou apareciam à porta de seu antigo apartamento. 

Teve medo por um tempo, evitava sair quando não estava com o manager e tinha pesadelos constantemente, mas aquilo estava ficando no passado. Seus pesadelos eram outros, e nunca pensou que um coração partido poderia gerar tantos sonhos ruins, mesmo estando completamente a salvo em seu novo apartamento.

Sabia que metade deles eram por culpa própria. Ele teve chance de ficar frente a frente com Sehun uma vez, três meses atrás quando Joohyun organizou uma despedida de solteiro para os amigos noivos. 

– Você vai, não é? – ela arqueou uma sobrancelha para Baekhyun, seu rosto nunca mais tinha sido realmente gentil quando falava com ele. Joohyun tinha ouvido a versão de Sehun dos fatos e preferia ficar ao lado do melhor amigo, era óbvio.

Com o lançamento de sua marca, Baekhyun precisava de modelos que pudessem se envolver tanto quanto si. Pensou logo em Joohyun e sua namorada, Kang Seulgi, bastando a assinatura de um contrato para ingressarem na equipe. Era um projeto promissor, e eles estavam pensando em expandir para linhas internacionais.

No entanto, tê-la por perto era bom e ruim. Vez ou outra tinha notícias de Sehun que ela jogava como se não fosse nada, mas ao mesmo tempo sempre o olhava de forma julgadora, como se ele fosse um covarde. Se sentia mesmo um covarde

– É… Acho que sim. – Baekhyun fingiu não dar muito atenção, olhando algumas peças nas araras daquele estúdio como se aquilo fosse mais interessante. Não queria dizer que estava tremendo de medo por pensar em encontrar com o Oh mais uma vez, principalmente porque se ele quisesse socar sua cara, deixaria.

Joohyun revirou os olhos e balançou a cabeça, sabendo naquele segundo que ele não iria. Chegou a tentar convencer Junmyeon a arrastá-lo, mas no dia Baekhyun acabou apenas fazendo uma vídeo-chamada com os noivos, alegando estar muito atarefado na empresa e pedindo mil desculpas. 

Uma delas fora direcionada à Sehun, parado mais atrás do grupo mas não o encarando nenhuma vez. Queria saber o que se passava na mente dele, queria poder reverter cada acontecimento daquele dia como se rebobina uma fita, mas aquela era a vida real e tinha de enfrentar suas consequências. 

No fim, merecia todo aquele desprezo. 

Merecia porque havia alimentado toda aquela briga infantil por anos, não teve coragem alguma de dizer que estava sentindo coisas pelo Oh quando estavam na adolescência e também não confessou saber que ele tinha o salvo em Jeju. 

Baekhyun sabia desde que acordou no quarto que estava dividindo com Chanyeol, inclusive, o próprio Park havia dito que Sehun tinha deixado-o ali. Ele sempre tinha sido boca grande demais, era isso que mais gostava no antigo melhor amigo. 

– Ele falou alguma coisa? – lembrava de ter perguntado, apesar dos pulmões estarem queimando em protesto. Não sabia quanta água havia engolido, mas a julgar pela garganta áspera, diria que não tinha sido pouca. – Além de te mandar mentir.

– Só que eu ficasse de olho em você… Parecia nervoso, meio desesperado até. – os olhos de Chanyeol pareciam duas bolinhas de gude, encolhido na ponta da cama. Ele os piscou muitas vezes, como se assim clareasse as próprias idéias. – Mas vocês não… Se odeiam?

Baekhyun criou uma ponta de esperança quando ouviu aquilo. Se eles se odiavam, como Sehun poderia ter salvo a si, ter ficado realmente preocupado consigo como se fossem amigos? Talvez pudesse haver algo ali…

Ele quis confrontá-lo, quis perguntar que merda estava acontecendo, mas não teve forças. Quando voltaram de viagem, ele ainda o tratava da mesma maneira, então preferiu continuar mantendo as aparências. 

Se tivesse metade da maturidade que tinha atualmente, provavelmente teria evitado as brigas e falado tudo o que pensava. Que Sehun o tinha salvo, que tinha olhado para ele aliviado quando o viu acordando, que quis dizer naquele momento que gostava dele… No entanto desmaiou e quando acordou, estava com Chanyeol o mirando como se fosse fugir a qualquer segundo. 

A melhor decisão, em sua cabeça de 16 anos tinha sido experimentar para ver se estava gostando de Sehun ou de garotos num geral. Foi dali que começaram os beijos com Chanyeol, que já era bissexual assumido e disse que não teria problema algum em ficar com Baekhyun, mesmo que eles fossem melhores amigos.

Baekhyun simplesmente não podia fazer aquilo com Junmyeon, ele provavelmente o acharia estranho e não queria perder aquela amizade. Enquanto que Chanyeol… Bem, ele parecia entendê-lo melhor naquela questão. 

Eram beijos singelos no começo, não tinha nada de absurdo. Baekhyun até tinha gostado da sensação, não tinha nada de bruto apesar de ser outro homem o beijando e preferiu se enganar que o desejo por Sehun tinha sido apenas aquilo, desejo. 

Sehun era um adolescente bonito, tinha adquirido ombros largos por causa da equipe de natação e depois que tirou o aparelho sempre aparecia sorrindo tão bonito que era difícil desviar o olhar, no entanto o Byun escolheu ficar em sua zona de conforto. 

Beijar Chanyeol poderia ser o suficiente, se não viesse a imagem de Sehun em sua mente o tempo todo, como se testasse seu limite. Sentia uma ânsia enorme de provar dos lábios dele, como se já tivesse feito aquilo outras vezes. 

Antes se sentia um pecador, ou tentava buscar algum sinal de nojo dentro de si – afinal, era seu “inimigo” aquele que estava desejando –, mas cada vez que o olhava, a boca do estômago repuxava. A ânsia não era de refluxo, mas sim pela curiosidade. 

Como seria? Sehun também tinha lábios gentis? A boca de Chanyeol era mais cheia, o lábio inferior era bom de sugar, mas como seria os lábios mais fininhos daquele garoto? O Baekhyun do presente já tinha tinha provado o suficiente para saber que nenhuma boca se comparava àquela, e não sabia como tinha sobrevivido um ano sem o toque suave e aconchegante. 

Não se culpava por ter namorado com o Park no ensino médio, na verdade eles meio que se ajudavam. Nenhum tinha sentimentos grandes demais, e sabiam que aquilo teria fim quando as aulas terminassem… Tiveram mesmo, mas não da forma como esperavam. 

Baekhyun ainda recordava dos pais descobrindo, num dia de descuido em que estava aos beijos com o namorado. Nem ao menos sabia como se comportar, o que dizer, o que fazer para tentar mudar os pensamentos dos mais velhos… Percebeu que não queria aquilo, não queria desmentir, então jogou a bomba e esperou por alguma reação.

Mãe, pai… Eu também gosto de homens e pronto, a vida parecia ter virado de cabeça para baixo. 

 Nunca tinha parado para pensar que os pais fossem antiquados, mas deveria saber, dada a sociedade em que viviam. Ouviu os sermões calado, sem forças para tentar reverter a situação, e mesmo que nenhum deles tivesse ameaçado colocá-lo para fora, sentia que em algum momento aquilo aconteceria. Podia ver a decepção em seus rostos, ou a forma como era encarado como um bicho de sete cabeças quando na verdade era o mesmo Byun Baekhyun de sempre.

Tinha sido naquele momento que decidiu antecipar o alistamento. 

Os sonhos de fazer faculdade enquanto ainda estava na casa dos pais foi embora pelo ralo, e preferiu mil vezes vestir uma farda e se afastar daquela realidade do que confrontá-la. 

Dois anos e meio no serviço militar e tinha perdido coisas demais. Havia perdido até mesmo a essência, a vontade de continuar se relacionando com qualquer pessoa, tanto que se afastou dos amigos. Não compareceu na festa de 20 anos de Junmyeon e Joohyun, não respondia às mensagens, menos ainda as ligações que recebeu. 

A sexualidade ficou adormecida, e os beijos com o antigo namorado ou mesmo a atração por Sehun pareciam algo de outra vida. Tinha mesmo vivido tudo aquilo ou só imaginou? 

Foi bem nesse momento de letargia que surgiu o musical militar, fazendo acender uma chama antiga.

Baekhyun pretendia fazer faculdade de comunicação, mas sempre tinha apreciado cantar… Não era a toa que ganhou um show de talentos no colégio, mesmo tendo se inscrito de brincadeira.

Ninguém do pelotão zombou de si, pelo contrário, muitos se inscreveram também. 

Percebeu que aquela era a válvula de escape, era a forma de não pensar tão avidamente em todo o treinamento que recebiam dia após dia, a saudade que alguns tinham da família ou um meio de se conectarem com algo que gostavam. 

Diziam que a música unia as pessoas, e Baekhyun se sentiu, finalmente, acolhido. 

Nenhum deles tinha um papel principal, eram todos parte da obra, no entanto o Byun ainda se destacava. A voz era forte, parecia treinada e só precisava de uns toques aqui ou acolá, mas fora o suficiente para um dos sargentos se atentar. Sargento esse que tinha contato com uma empresa que estava sempre de olho em novos talentos. 

Uma conversa, um papelzinho trocado com algumas informações e, numa folga, Baekhyun pensou “por que não?”. Tinha vivido tempo demais não se sentindo protagonista da própria vida, com medo de ser esquecido, de não ter nada pelo qual pudesse ser lembrado além do palhaço da turma, então porque não arriscar-se ao menos uma vez? 

E tinha sido o maior risco que tinha corrido, aquele que podia dizer ser o melhor de sua vida… Isso dependendo completamente do ângulo ao qual era avaliado. 

Ele não seria mais esquecido, era um artista agora daquela empresa e tinha uma legião de fãs fervorosos que compravam seus álbuns e o acompanhava dia e noite… No entanto, por que ainda se sentia tão sozinho como se fosse incompreendido?

Longe de si não ser grato pela oportunidade, mas nenhuma daquelas pessoas o via como um semelhante. Na cabeça dos fãs, Baekhyun era um ser superior que não tinha imperfeições, zero falhas no currículo… Ele nunca havia desafinado uma única nota, mas estava se sentindo completamente fora do tom desde que o boato do namoro tinha surgido.

O boato tinha sido abafado e ele quase se sentia confortável para interagir com os fãs sem o receio de ter um dedo apontado em seu rosto o questionando sobre, no entanto sua sintonia estava arruinada… E o motivo tinha um nome e sobrenome. 

Tinha reunido coragem por um ano para poder despejar tudo que parecia entalado na garganta, só esperava que Sehun o compreendesse. Que ao menos o ouvisse. 

Precisava de cinco minutos, e era tudo que pretendia pedir quando visse Sehun. 

 

 

Os jardins ladeados de árvores estavam enfeitados com mesas e cadeiras, e podia apostar que tudo tinha sido milimetricamente organizado por Kyungsoo e Sooheon, a irmã mais velha de Jongin que era planejadora de eventos. 

Haviam crianças correndo e adultos conversando em pontos distintos, e por um segundo Baekhyun não se sentiu um artista e sim… Ele mesmo. Não houveram olhares, algazarra ou gritos, havia só a música ambiente e as vozes animadas se misturando de maneira a formar um único som. 

Ele e Taeyeon se separaram em algum momento entre ela encontrar Kasper, o namorado, e Baekhyun dizer que pegaria algo para beber. 

Era quase satisfatório poder cumprimentar algumas pessoas conhecidas, amigos de trabalho ou mesmo colegas da adolescência que não via há séculos, e recebia sempre um “Caramba, você está ótimo, Baekhyun”, que era respondido com um sorrisinho e um acenar que não concordava nem discordava. 

Não precisou de mais de um segundo para encontrar o grupo de amigos, uma mesa tinha sido separada para eles ficarem juntos. Junto de uma taça de champanhe, espreitou o grupo antes de se aproximar só para comprovar que Sehun não estava ali e um suspiro abandonou os lábios. Aliviado ou não, sabia que mais cedo ou mais tarde o encontraria.

A coragem parecia esvair aos poucos, dançando para longe a cada segundo. Um passo a mais para a mesa dos amigos e queria dar meia-volta, ao mesmo tempo em que algo dentro de si o fazia continuar. 

Pare de ser covarde, Baekhyun.

– Olha quem finalmente apareceu! – Junmyeon foi o primeiro a notar sua presença, falando acima das vozes e fazendo com que o pequeno grupo se virasse em sua direção. Foi o suficiente para terminar de se aproximar. – Achei que fosse fugir. 

– Não sou louco ainda. Se eu não viesse, Kyungsoo provavelmente me mataria na primeira oportunidade. – replicou com uma risada que contagiou os outros, Kyungsoo concordando com um aceno ao dizendo “Não que eu já não queira matar”, o que divergiu totalmente do abraço que Baekhyun recebeu. – A decoração está linda, vai ser uma festa incrível!

Não estava mentindo, sentia mesmo que seria uma comemoração espetacular. Fosse por ter percebido a família de Jongin se juntar aos irmãos mais velhos de Kyungsoo, ou porque os dois noivos tinham conseguido juntar um número considerável de pessoas que os apoiavam, aquele parecia um lugar lotado de amor e compreensão. 

Um dos sobrinhos de Jongin, Raeon, passou correndo pelas pernas de Baekhyun e ele acompanhou com o olhar enquanto o garotinho cruzava com Taeyeon e Kasper indo na direção da mesa e continuou correndo até alcançar pernas longas e enfiadas numa calça social. 

Não precisou subir o olhar, petrificando no momento em que Sehun se agachou para falar com o garotinho e apertar levemente a bochecha gordinha e rosada. 

Baekhyun quis desviar o olhar, mas Sehun estava bonito demais usando uma camisa branca de botões e já fazia um ano que não se viam… Seu coração errou uma batida, como se na verdade o corrigisse e falasse que tinha se passado muito mais. 

Os olhos miúdos encontraram os felinos do cantor, e ele congelou também. Os lábios entreabriram como se o ar quisesse escapar, e Baekhyun não se conteve em prender o seu, a troca de olhares ganhando uma intensidade maior pouco antes de Raeon entrar no campo de visão e fazer com que o contato fosse quebrado. 

A taça de champanhe foi virada contra os lábios, as mãos escorregadias quase deixando-a escapar. A música do ambiente tinha sido substituída pelas batidas do coração que martelavam nos ouvidos, e sentia como se tivesse acabado de correr 10km na esteira enquanto fazia treino vocal. 

– Está tudo bem? – Tayeon pôs a mão sobre seu ombro, aparentemente a única que tinha percebido algo de errado. Baekhyun voltou o olhar para a mesa, os amigos conversando sobre outra coisa que os fazia rir. 

– Ele… Ele…

– Sim, eu o vi. Ia te avisar mas acho que não precisei. – ela riu, mas logo se calou quando Baekhyun não a acompanhou. Sua mão encontrou novamente um dos ombros do amigo, apertando as unhas pintadas um pouco mais forte para atrair sua atenção. – Não vai fugir, não é?

Baekhyun tomou uma lufada de coragem, o peito inflado de leve ao responder:

– É tudo que eu mais quero. – Taeyeon o olhou feio, o que o fez rir e balançar a cabeça como se dissesse que ainda não tinha terminado. As mãos descansaram nos bolsos da calça social, soltando o ar pelos lábios entreabertos para prosseguir. – Mas me arrependeria se não tentasse pelo menos uma vez. É minha única chance e… Se não der certo, tudo bem.

Sabia que não ficaria verdadeiramente bem, tinha se martirizado o suficiente durante aquele ano para saber que caso tudo ruísse, ficaria no mínimo na merda. Mas aquilo também era amor, não? Arriscar todas as suas fichas e esperar que o universo sorrisse para si, ou esperar perder tudo para recolher os cacos e recomeçar.

O recomeço longe de Sehun, no entanto, parecia uma ideia distante. Não quando só ouvir a voz dele, quando chegou à mesa, fez com que as bochechas de Baekhyun ficassem instantaneamente vermelhas e as mãos mil vezes mais escorregadias.

Discretamente – ou nem tão discretamente assim –, os amigos lançaram olhares furtivos para Baekhyun. 

E aí, não vai falar com ele?

 Isso vai dar merda em algum momento.

Será que eles podem parar de ser idiotas e conversar?

Conseguia ler as expressões no rosto de cada um, até mesmo Taeyeon, Kasper e Seulgi, que não tinham verdadeiramente presenciado o fiasco no último dia de acampamento. 

– Me desculpem a demora, era meu dia de folga mas ainda tive que organizar algumas coisas. – o olhar de Sehun não se voltou nenhuma vez para Baekhyun, e não sabia se agradecia ou ficava mais tenso. 

Conseguia vê-lo de perfil, o cabelo escuro tinha ganhado uma camada de gel para fazer um topete quase desleixado que deixava as sobrancelhas bonitas a mostra, bem como os olhos miúdos. Aqueles que pareciam meia-luas quando estava sorrindo, como fazia exatamente naquele minuto para os amigos da mesa, mas seu olhar nunca chegava na ponta onde Baekhyun estava. 

Baekhyun não usava gravata, mas provavelmente afrouxaria ela diante do aperto que sentiu na garganta. 

O olhar encontrou a mesa, e os dedos estavam inquietos dentro do bolso, como se quisesse acabar com aquela ansiedade o mais rápido possível. Como se quisesse tomar o rosto bonito de Sehun e beijar a sequência de pintinhas que ele tinha num dos lados da bochecha antes de chegar aos lábios que ainda lembrava o gosto.

– O que importa é que está aqui. – Joohyun abriu um sorriso maior para o melhor amigo, o abraçando de lado pouco antes do olhar se voltar para Baekhyun. Ele estava distraído para notar, até a voz dela chegar em tom de acusação. – Diferente de certas pessoas que escapam de compromissos. 

Ergueu o olhar, meio perdido e apontando para o próprio peito. Agora Sehun também o encarava, o que o fez desviar o olhar para Junmyeon, pedindo ajuda silenciosamente. O amigo deu de ombros, o abandonando naquela batalha porque sabia que a gêmea não daria o braço a torcer tão fácil. 

– Não fale assim com o chefinho. – Seulgi quem interferiu, esbarrando o ombro no de Joohyun para que ela se calasse. – Baekhyun tem estado atarefado, tenho certeza que daquela vez não foi por mal. 

– Mesmo assim eu… – Baekhyun soltou o ar por entre os lábios, olhando diretamente para Kyungsoo e Jongin, os dois que pareciam estar em meio ao fogo cruzado sem saber a quem defender. – Peço desculpas por não ter ido na despedida de solteiro. Sei que era um momento importante mas…

– Larga disso, Baekhyun! A gente sabe como é! – Jongin o tranquilizou, um sorriso doce nos lábios cheios. Gostava de como ele era sempre muito calmo com relação a tudo, como se nada pudesse abalar sua bolha de felicidade. Ao menos não naquele dia. – O máximo que você perdeu foi o Junmyeon bêbado querendo dançar em cima da mesa do bar.

– Ei!

E todos estavam rindo sob os protestos do professor de Astronomia, que só suavizou a expressão quando percebeu que era impossível ficar bravo com aquelas pessoas. Eram seus amigos, os melhores amigos e tinha sorte por tê-los apesar do elefante que parecia habitar a mesa quando Sehun e Baekhyun respiravam de maneira diferente, mas que todos fingiam não perceber. 

Não demorou para que Jongin e Kyungsoo tivessem de sair da mesa para cumprimentar outros amigos e parentes que chegavam aos montes enquanto a tarde passava, todos se acomodando em mesas e fazendo a conversa começar a ser mais alta e mais animada. 

Era estranho se sentir confortável e ao mesmo tempo tão deslocado num único lugar?

Baekhyun sentia que poderia sentar e respirar tranquilamente ao mesmo tempo em que parecia haver uma faca em seu pescoço que fazia a respiração ficar entrecortada toda vez que sem querer o olhar dele cruzava com o de Sehun e a expressão dele fechava discretamente. Obviamente estava tentando agir naturalmente quando ainda deveria estar bravo e chateado.

Não o culpava, não depois de ter sido um babaca no acampamento ao fugir dos próprios sentimentos, além do rumor que não foi desmentido ou confirmado, entendendo que quem mais tinha culpa naquela história era ele. E esperava poder consertar aquilo rápido, como quem tira um band-aid num só puxão.

O problema é que a vida não era uma metáfora, e teria que tomar as rédeas mais cedo ou mais tarde ao invés de ficar bolando mil e uma formas de abrir a boca e despejar tudo o que tinha entalado na garganta. 

Sehun levantou da cadeira enquanto Baekhyun tomava mais um gole de champanhe, a gota de coragem que faltava para levantar também. O jornalista não percebeu o ato, mas os olhares da mesa dispararam de um para o outro, um encorajamento silencioso para que Baekhyun não amarelasse mais uma vez e fosse realmente atrás dele.

Ele o acompanhou de perto, não se importando se parecia que o estava seguindo, e só parando quando Sehun chegou à mesa de petiscos. Ficou próximo, a expressão endurecida ao olhar para os pratos com alguns frios, como se ponderasse se deveria falar algo. 

Deveria, não deveria? 

– Sehun, nós… – a voz não passou de um ruído, o barulho alto das vozes e a música fazendo com que tivesse de pigarrear para que o Oh realmente o olhasse e se sobressaltasse ao vê-lo ali, tão perto. Arriscou fitá-lo, o lábio sendo mordido em pura ansiedade para encontrar o rosto bonito a distância de um braço. – Será que nós podemos conversar?

– Nós não temos nada para falar, Baekhyun. – engoliu em seco, seu nome escapando pelos lábios de Sehun como uma praga. Era como levar um soco no estômago, mas não recuou. Não daquela vez.

– Por favor, eu só quero esclarecer as coisas! – o tom de súplica inundou a voz de Baekhyun, o desespero palpável ao ver Sehun dando um passo para trás. Avançou um pouco, o suficiente para ter de olhá-lo de baixo e sentir o perfume adocicado que parecia estar tão vívido em sua mente por causa dos dias de acampamento. – Sehun, é só isso…

– Tudo está bem às claras, Byun. Eu não sou tolo. – a expressão dele se fechou, as sobrancelhas frisadas e um vinco entre elas. Era altivo, como se estivesse lidando com uma pessoa indesejada. Talvez Baekhyun realmente tivesse se tornado uma mancha no caminho de Sehun. – Nada mudou entre nós, eu não gosto de você e você não gosta de mim. O que fizemos foi diversão, até porque você tem uma namorada e se não me falha a memória ela está nesta festa, então por favor, se dê ao respeito e respeite Taeyeon também. Ela não merece ser enganada como fui.

Aquilo sim tinha sido o suficiente para Baekhyun cambalear, os olhos brilhantes em lágrimas que não escaparam, os lábios entreabertos como se todo o ar tivesse sido sugado de seus pulmões. Chegou a sentir as pernas vacilarem, como se fosse cair diante das palavras carregadas de mágoa. 

Ainda conseguiu ofegar um “Não é isso…”, mas Sehun já tinha dado as costas para si e o deixado com um bolo enorme na garganta. 

Precisou fazer um esforço enorme para não chorar, o coração tão quebrado que sentia que seria difícil reconstruir. Se aquele era o mínimo que Sehun tinha sentido e demonstrado, imaginava o que ele tinha guardado em seu âmago e como vinha criando uma imagem diferente de Baekhyun ao longo do ano.

Se realmente era daquela forma, talvez não tivesse chance. Talvez…

– Ei, o que aconteceu? – Junmyeon apareceu ao seu lado, fazendo Baekhyun piscar e limpar uma lágrima fujona com os nós dos dedos. Nem sabia a quanto tempo estava parado ali, encarando a mesa como uma estátua. – Você está bem?

– Acho que seria melhor desistir do Sehun. Ele nunca vai… – respirou fundo, a visão turvando ao colocar aquilo em palavras e não somente guardar na mente. – Nunca vai me perdoar. É, eu deveria desistir, é o melhor.

Deu de ombros, como se fizesse pouco caso. A mente, no entanto, estava enevoada e gritando que ele não deveria fazer aquilo. O corpo inteiro estava tenso, como se a ideia tivesse sido rejeitada no mesmo segundo.

Não pode desistir sem lutar, era o que queria ter coragem de fazer, mas já tinha sido praticamente rejeitado. O que adiantava tentar seguir?

– Mas Taeyeon falou que você tinha um plano. 

– É, eu fiz…

– Sim, eu sei! E isso é perfeito, Baekhyun! Acredite, nós temos os dois lados da história e eu não te perdoaria se você não fosse ao menos sincero com Sehun uma vez. – Junmyeon o segurou pelos ombros, fazendo com que erguesse o olhar para si. O balançou de leve, um sorriso nascendo nos lábios que Baekhyun não entendeu propriamente. – Você confia nos seus amigos?

– Eu… Sim…? – não sabia o que deveria responder, ainda confuso sobre o que exatamente Junmyeon estava se referindo. Era óbvio que confiava nos amigos, mas não entendia no que aquilo poderia ajudá-lo no momento.

– Então confie no que vou dizer. – outro chacoalhão em Baekhyun, como se o mandasse acordar e ver as coisas por outro ângulo. – O Sehun está magoado, e disso você já sabe. Mas ele ainda gosta de você, só precisa provar que quer estar com ele. Que não foi uma brincadeira e que o seu namoro não foi mais do que uma sabotagem, como aconteceu com Joohyun. 

– Ele não vai…

– Sim, o Sehun vai. Porque ele está desesperado para ter alguma coisa sólida em que se agarrar. Uma esperança, uma ponta de afirmação de que a chama não apagou. – o olhar de Junmyeon era sério, intenso, como se tentasse hipnotizá-lo com um mantra para elevar a coragem. – E nós, seus amigos, não vamos deixar que você jogue tudo para baixo do tapete como fez 12 anos atrás. 

Baekhyun inspirou e expirou, como tinha aprendido a fazer quando estava tendo alguma crise. Elas se tornaram constantes quando se tornou famoso e tinha seu rosto estampado em cada outdoor de Seul, como se o idolatrassem como uma divindade. 

Longe de ser uma, ele tinha medos, anseios, desejos fortes e amores nunca curados. Ele tinha amor guardado no peito há 12 anos, e se pegou com um sorriso no rosto ao pensar que daquela vez tinha controle do próprio destino. 

Não dependia de uma aprovação da empresa, da aceitação dos fãs ou uma afirmativa dos pais, ele só precisava parar de fugir e falar com Sehun, e independente da resposta dele, ao menos não se sentiria tão fracassado se fosse rejeitado.

Ao menos teria tentado, e ao menos teria os amigos para choramingar no colo e passar por aquele momento… Isso se tudo desse errado, e torcia para que suas boas ações somassem na hora do destino permitir que fosse feliz com quem lhe arrancava suspiros bobos.

– Você está certo. – Baekhyun concordou com um aceno, sentindo-se um pouco mais leve. Ainda tinha uma parte sua morrendo de medo, mas sentia como se aquilo fosse esvair quando tivesse dito através da forma que planejava, que queria uma segunda chance. – Obrigado, Junmyeon.

– Tudo para não te ver mal, vê o quanto te amo? – a demonstração foi cortada com um soquinho de leve por parte de Baekhyun. 

No fundo, também amava Junmyeon e cada um dos amigos que tinham observado aquele desenrolar como uma trama de novela: sofrendo a cada plot twist da vida, vibrando com toda pequena vitória.

 

 

– Isso aqui tá ligado…? – Jongin e Kyungsoo tinham subido no palco que dava de frente aos convidados, o mais alto batendo o nó dos dedos no microfone para testar. Sorriu quando notou os olhares voltando para si, provando que tinham ouvido. – Não estamos nem perto de terminar nossa festa mas queríamos agradecer antes que fosse tarde demais.

– E um de vocês fique bêbado o suficiente para não conseguir formular uma frase! – Junmyeon gritou de volta, a festa inteira rindo em uníssono por aquele momento de descontração entre amigos. Principalmente com Kyungsoo cruzando os braços como se estivesse bravo, a feição se desmanchando numa careta risonha ao ter o amigo fazendo coração para si com os braços.

– Queríamos agradecer a cada um que tirou um tempo para vir aqui contemplar nosso amor, cada pessoa que se dispôs a estar junto de nós nessa caminhada e que queira o bem do nosso casamento. – foi Jongin que prosseguiu, seu olhar recaindo na mesa onde estavam sua família e a de Kyungsoo, todos prestando atenção em si com sorrisos enormes de encorajamento. Foi o marido quem limpou uma lágrima fujona que escorregou pela bochecha dele, fazendo com que desviasse o olhar e abrisse um sorriso. – Nunca pensei que fosse achar o amor da minha vida quando ainda estava tentando não fazer xixi na cama, mas foi o que aconteceu. E não só às pessoas que estão aqui, eu agradeço também por Kyungsoo ter insistido em ficar do meu lado em todos os momentos, assim como quero ficar nos dele. Soo, eu quero segurar sua mão em cada cantinho do mundo sem medo, quero te confidenciar todos os segredos que não conto à ninguém e quero também ser o carinha pelo qual você se apaixonou, que é meio bobo mas está sempre zelando por ti. Obrigado por aceitar ser o meu marido, mesmo eu sendo falho em vários aspectos, principalmente no quesito te amar demais. Me desculpa, mas eu ainda queria te amar o duplo, quem sabe o triplo! E seria muito pouco diante do que sinto aqui, dentro do peito.

Baekhyun observou o momento exato em que Sehun esfregou a ponta dos dedos sobre os olhos, numa forma de tentar conter as lágrimas. Era estranho como estava se segurando para não chorar também, mas pensando que caso o fizesse, queria que ele limpasse suas lágrimas.

Se assustou com o rumo dos pensamentos, como se tivesse notado só ali o quão avançada aquela relação estava em sua cabeça, como se quisesse viver tudo aquilo com o jornalista também. 

Queria fazê-lo sorrir, mas caso chorasse, limparia suas lágrimas. O abraçaria nos momentos de felicidade ou de dor, e se encarregaria de beijá-lo sempre… Se Sehun ainda o quisesse.

Voltou o olhar para o palco, admirando os amigos abraçados, os corpos tremulando em meio àquele choro de pura alegria em poderem, finalmente, se assumir um casal na frente de tantas pessoas, pessoas importantes para eles. 

Uma felicidade se instalou por todo o corpo de Baekhyun, como quando se vê o desfecho de um filme que tinha tudo para dar errado mas uma reviravolta faz com que os personagens principais encontrem o que tanto querem. E olhando para Sehun, sabia exatamente o que queria ao fim daquela noite.

Ele e Taeyeon trocaram um olhar ao se levantarem da mesa, como se tivessem esperando por aquele momento durante toda a noite enquanto seguiam para o palco. Ela parecia muito tranquila, mas Baekhyun sentiu a mão gelada quando segurou para ajudá-la a subir as escadas que levavam para o local que seguia sendo centro das atenções. 

Jongin e Kyungsoo foram para um canto do palco, ambos cientes do que aconteceria ali enquanto Baekhyun se sentava no piano e Taeyeon ia para a frente do palco, em busca do microfone. Os outros músicos tinham descido, de forma que eram os únicos ali em cima, e todos estavam de olho neles… Baekhyun esperava que Sehun permanecesse até o fim.

O objeto fora acomodado entre as mãos pequenas de Taeyeon ao que ela olhava ao redor da festa, com um sorrisinho brincando nos lábios brilhantes de gloss.

– Quero dedicar uma música para a primeira valsa dos noivos, uma em que eu e Baekhyun trabalhamos juntos e… Foi feita para as pessoas que amamos. – completou, olhando na direção do do namorado, sorrindo na direção dele e recebendo aquele mesmo sorriso pelo qual tinha se apaixonado anos antes. Desviou para Baekhyun, que arregaçava as mangas da camisa, voltado completamente para o piano. – Ela se chama U R e hoje será a música tema para Jongin e Kyungsoo, a quem eu desejo toda a felicidade do mundo e agradeço por terem me acolhido como se fosse da família. Muito obrigada!

Os acordes começaram enquanto Baekhyun movia os dedos sobre as teclas, dedilhando devagar ao que Taeyeon o acompanhou com a voz. 

A música era um reflexo do relacionamento dela e Kasper, mas Baekhyun tinha ajudado em certas partes da letra depois de ter se identificado enquanto vivia a desilusão amorosa pós Sehun. Cada palavra era como uma confissão saindo dos lábios de Taeyeon, fosse para Kasper, Sehun ou mesmo o casal de noivos que dançava aconchegado em meio à pista. 

 

Porque você é

A luz que caiu em mim

Você é

Como um lindo sonho

 

Seria clichê Baekhyun nomear Sehun como um lindo sonho? Porque sim, aquele trecho tinha sido escrito por si e parecia incrivelmente doce saindo dos lábios da cantora, como se ela confirmasse tudo. Talvez também pensasse em Kasper, em como ele a havia tirado daquela bolha de ser uma cantora solo incrivelmente famosa que não quebrava nenhuma das regras, não conseguindo driblar o coração ao trabalhar com o coreógrafo numa de suas coreografias. 

Baekhyun dedilhou as teclas com mais força, por um segundo o olhar desviando do piano para as pessoas que os assistiam. 

Sehun ainda estava lá, os olhos colados em si, sem sinal de desaprovação ou revolta, mas a expressão era indecifrável para Baekhyun continuar tentando analisar sem se perder. Seu coração acelerou no mesmo instante, retumbando contra as orelhas.

Voltou o olhar para o piano.

 

Quando a chuva que molha minha janela parar,

Debaixo do arco-íris,

Você provavelmente está me esperando

As histórias que não pude contar,

Todos os segredos que não pude mostrar

Eu quero entregá-los hoje

 

Taeyeon seguiu com uma nota alta perfeita, entregue à música como se ambas fossem uma.

Era por aqueles e outros motivos que Baekhyun admirava a cantora, era por conta de suas notas limpas que se viu encantado e querendo aprender um pouco mais para não ser apenas um cantor iniciante que ficaria para trás.

Não, tudo o que Taeyeon o ensinou tinha sido guardado em um lugar precioso, e não havia boato ou tabloide alegando que os dois estavam namorando que faria aquela relação mudar. Porque tinha sido ela quem o acolheu, ela que disse que tudo ficaria bem apesar de ter sido a mais afetada. 

As mensagens de ódio eram três vezes mais para ela, o que fez Baekhyun ficar tão bravo que por pouco não lançou uma nota de desculpas lotada de sarcasmo, mas se conteve porque aquilo confirmaria um namoro. E no fim, só queria evitar mais confusão.

Sua vida já estava bagunçada demais, não precisava de mais um pouco de drama… E se não tivesse Taeyeon ao seu lado, talvez tivesse desistido de tudo, inclusive do plano que tinham elaborado para aquela noite.

 

Você está sempre do meu lado, 

Você está dentro do meu coração delicado

Ainda mais brilhante e lindo, 

Você preenche o céu da noite

Você é minha estrela,

Sim, você é

 

Ainda recordava quando tinha se identificado como uma estrela solitária para Sehun, era como verdadeiramente se sentia desde a infância. 

No entanto, de maneira complexa, após aquela viagem era como se seu céu fosse lotado de estrelas. Havia sempre alguém por perto, perguntando se ele estava bem, se precisava conversar… Parecia que, mesmo diante de uma situação que parecia não ter fim, finalmente era parte de algum lugar.

O único problema era que faltava gravidade… Faltava Sehun.

A música chegou ao fim com os aplausos dos convidados, fazendo com que Taeyeon abrisse um enorme sorriso e se curvasse. Foi o momento em que Baekhyun se levantou, as mãos ligeiramente trêmulas e as pernas parecendo gelatina.

Taeyeon desceu do palco, e Baekhyun acompanhou enquanto ela, Jongin, Kyungsoo e Kasper andavam pelas mesas, sussurrando para os convidados o que eles tinham combinado: que ninguém gravasse aquela apresentação. E sabia que podia confiar em cada um que ali estava. 

Mesmo assim, sentia como se tivesse voltado a ser um trainee, com medo de errar alguma nota e ser colocado para treinar por mais horas a fio. 

O momento de sua confissão tinha finalmente chegado, e só precisava respirar fundo e usar de suas palavras em versos para que Sehun o ouvisse. 

– Boa noite… – a voz de Baekhyun soou incerta, fazendo com que os olhares voltassem para si. As pessoas já estavam atentas, querendo saber o que de tão importante aconteceria naquele palco a ponto de não poderem sequer gravar. Evitou olhar para o aglomerado, evitou olhar para Sehun. – Eu… Um ano atrás algo aconteceu, algo que mudou minha forma de pensar quanto a uma pessoa e que reacendeu algo que achei ter deixado no passado. Faz mais de 12 anos que tive um amor, talvez o primeiro deles. Eu era apenas um garoto amedrontado e fugi de todos esses sentimentos porque era algo novo, que eu sequer sonhava poder existir. Mas não quero mais fugir, porque anos atrás foi ele quem me salvou quando eu estava afundando e quando nos reencontramos, sinto que fui mais uma vez salvo... Salvo dos meus próprios medos, salvo da minha insegurança, salvo de um mundo que eu tinha criado em minha mente, onde ninguém me compreendia. Foi por isso que compus Underwater e espero que vocês gostem… Espero que você goste.

Daquela vez o olhar se fixou em Sehun, e sentia como se só houvessem os dois ali. 

Finalmente tinha contado sobre saber quem o salvou naquela praia em Jeju, a escolha de fazer isso na frente de tanta gente era porque queria que fosse real. Queria que todo mundo soubesse, queria gritar ao mundo que Sehun tinha salvado sua vida e que, consequentemente, também era aquele por quem seu coração clamava. 

Os acordes conhecidos ecoaram pelos jardins, as luzes tinham sido direcionadas para si. 

Aquela ainda era uma versão crua da música, que tinha sido produzida sob o olhar atento de Baekhyun. Ele queria que tudo fosse perfeito, precisava que fosse perfeito.

Tinha treinado por meses, e a voz mais firme retumbou nos alto-falantes como um grito de liberdade. Os sentimentos tinham voltado como uma avalanche e não conseguia parar de olhar para Sehun naquela mesa mais ao centro, com o corpo virado completamente em sua direção.

Ele queria ouvi-lo.

 

Depois que você se foi,

É como se eu tivesse perdido minha luz, preso nas sombras

Seus braços eram calorosos todos os dias

Com aquele calor, eu não sabia o que era sentir frio

Então eu podia lidar com ele

Mas agora estou sozinho novamente, desse jeito

 

Os dias no acampamento eram a lembrança mais vívida que tinha ao compor aqueles versos. Como se a história deles tivesse recomeçado ali, em meio às brigas bestas e as falas que vez ou outra pareciam ensaiadas.

Reencontrar Sehun tanto tempo depois tinha realmente reativado algo, trazendo um velho Baekhyun de volta. Aquele que era implicante, mandão e extremamente teimoso, mas também o adolescente apaixonado pelo inimigo, que queria flertar com o perigo e se embebedar pelas palavras irritadas de Sehun.

Sentia-se num limiar entre ser o homem de, agora, 28 anos ou a criança imatura de quando se conheceram. Como se de alguma forma estivesse preso entre passado e presente, o seu eu que odiava Sehun e o seu eu que queria se jogar nos braços dele naquele segundo, com aquele olhar límpido o fitando como se fosse derramar todas as lágrimas do corpo.

 

Seu amor era o que eu precisava para respirar,

Uma corda que eu segurava com as duas mãos e me puxava para fora d’água

Eu estava à deriva, no meio do oceano, 

E você foi o paraíso que me deixou viver.

Depois que terminamos, eu abri os olhos

E fui arrastado para uma profunda escuridão,

Meu coração está submerso…

Debaixo d’água

 

Aqueles versos faziam a paralelo do que tinha sido a queda de Baekhyun, fosse na água quando quase se afogou no mar de Jeju ou após o mundo desmoronar ao perder Sehun.

Perder por um erro, uma besteira que deslizou pelos seus lábios como uma corrente fria e calculada. 

Tal cálculo tinha sido tremendamente errado agora que Baekhyun parava para analisar, já que antes pensou estar fazendo o melhor para os dois, crendo que também tinha sido uma mera diversão para Sehun… No entanto, ficar sem ele era como ser realmente arrastado para uma profunda escuridão.

E estava na hora de abrir os olhos, de sair daquele buraco.

Esperava que Sehun aceitasse ir consigo.

 

Nós éramos tudo, 

E aquelas noites brilhantes ainda permanecem tão claras para mim,

Você só tinha olhos para mim

Com o seu amor,

Eu não entendia meus próprios sentimentos

Então eu tinha que suportá-los,

Mas agora a noite escura é perigosa para mim

 

A voz de Baekhyun vacilou naquele momento, onde desceu o tom para um quase falsete e subiu para uma nota mais alta, a maior até então. E não tinha nada a ver com despreparo, mas sim a confissão de não entender os próprios sentimentos.

Haviam lágrimas deslizando pelas bochechas de Sehun, e a festa inteira parecia segurar a respiração. Nenhum som era ouvido senão a voz do cantor ficando mais grave nos tons baixos e subindo para agudos não premeditados.

A música era para ser daquele jeito, tinha que ser. Com subidas e descidas, uma montanha-russa de emoções que Baekhyun havia despejado no papel. E agora, despejava em alívio para a pessoa que amava e que torcia, torcia muito para aceitá-lo de volta.

O próximo refrão viera embargado, os dedos inquietos de Baekhyun batiam contra o microfone para aliviar a tensão. Os versos finais se aproximavam tão rápido que por um momento achou ter pulado alguma parte, mas já estava no fim, em seus high notes finais onde finalmente se permitiu fechar os olhos e deixar cair as lágrimas repletas daquela dor que vinha culminando no peito.

Fossem 12 anos ou apenas 1, ainda queria Sehun com a mesma intensidade. 

Ainda queria as conversas sinceras sob a luz do luar, os ofegos baixos quando beijava seu pescoço ou o rosto amassado após dormir… Baekhyun o queria com todo o seu ser, mas quis despencar quando abriu os olhos e o viu correr por entre as mesas.

E se alguém tinha dúvidas de para quem ele estava cantando, foram sanadas no momento em que Baekhyun deixou o microfone pender por entre os dedos até cair no palco com um som oco, correndo pelas escadas e cruzando todas as mesas na mesma direção.

– Sehun! Sehun, por favor! – Baekhyun se viu gritando, tentando alcançar as passadas longas dele a todo custo. Numa curva que dava para uma cerca, conseguiu segurá-lo pelo pulso, o parando e virando para si. Pela primeira vez em um ano, estavam cara a cara de fato, tão perto que poderia sentir a respiração pesada batendo contra seu rosto. – Só me escuta, eu só… Só estou te pedindo isso!

– Você não pode fazer esse tipo de coisa, Baekhyun… – Sehun tinha tanta mágoa na voz que fora impossível não derrubar mais lágrimas, as bochechas ficando tão molhadas quanto as do jornalista. Ele se soltou do aperto no pulso, afastando algumas passadas e era como se estivesse segurando o coração de Baekhyun nas mãos trêmulas. – Não pode fazer uma música e cantar para mim achando que tudo está resolvido, simplesmente… Não dá!

– E é por isso que quero que me escute. A música é só um começo, um norte. – engoliu o bolo que se formava na garganta, a respiração entrecortada pela corrida e pelas lágrimas que ainda deslizavam. – Eu só queria que você soubesse, Sehun… Que entendesse que eu sempre soube que você me salvou naquele dia, em Jeju.

– E por que…

– Porque eu fui idiota, e tive medo. Tudo que eu queria naquele dia era falar o que estava sentindo, como estava atraído por você, mas aconteceu tudo aquilo e… Depois você me tratou tão friamente. Achei que não valeria a pena.

– Que eu não valia a pena?

– Não, não você. – Baekhyun coçou a nuca, o ar escapando pelos lábios entreabertos e avermelhados por conta das mordidas nervosas que dedicava. Seu momento tinha finalmente chegado e parecia que as palavras embolavam na mente e travavam na ponta da língua. – Não valeria a pena porque você tentaria me desmentir, diria que não foi você quem me salvou. E eu admito, fui covarde. Estava sendo covarde esse ano todo também porque podia falar contigo mas eu também sabia que seria rejeitado.

– Como eu não te rejeitaria? – Sehun soltou uma risada de escárnio, as mãos grandes tampando o rosto como se precisasse clarear as ideias. O topete bonito se foi com uma deslizava das palmas. – Você estava namorando, pelo amor de Deus. Eu fui só… Só uma diversão.

– Não, Sehun, não foi!

– E o que aconteceu então? Qual a porra da sua desculpa?

– Eu não estou namorando agora, e não estava namorando antes… – prosseguiria se não tivesse sido interrompido com um pigarro, e só então desviou o olhar de Sehun e as feições raivosas por breves segundos para perceber que todos os amigos estavam protagonizando aquele momento.

Queria dizer que sentia vergonha, mas naquele ponto a única coisa que queria era poder colocar tudo em panos limpos, e quando Taeyeon deu um passo a frente, deixou que ela se pronunciasse. A história também a envolvia, ela merecia esclarecer tanto quanto Baekhyun.

– O boato de namoro que surgiu naquela noite é completamente falso. Você pode escolher não acreditar no Baekhyun, mas acredite em mim, Sehun… Foi um inferno, e eu nunca optaria por passar por isso sem um respaldo. – Taeyoen mantinha a voz baixa, um tom tão calmo que por um segundo Baekhyun a invejou. O olhar se voltou para Sehun, que a encarava de maneira indecifrável, travando o maxilar. A mão dela procurou pela de Kasper, os dedos dele entrelaçados aos dela como se demonstrasse que estava ao seu lado. – Eu não deixaria que um tabloide liberasse algo assim do nada, a menos que tivesse algum significado por trás. A razão para nossa empresa ter permitido foi, em parte por descobrir meu real relacionamento e em parte porque Baekhyun pegou firme em decidir que sua marca de roupas seria voltada para a causa LGBTQIA+, e com isso é óbvio que questionariam sua sexualidade.

– O mundo asiático está pronto para um artista ativista, mas não um artista ativista e bissexual. – Baekhyun continuou, o olhar não mais abandonando o rosto de Sehun. A respiração continuava acelerada, adrenalina correndo nas veias. – E fomos instruídos a não falar absolutamente nada para a mídia. Então o boato continuou correndo, rodou a Coréia e agora está desaparecendo. Mas eu nunca menti para você, em nenhum momento.

– E quanto a… – Sehun mordeu o lábio, o olhar descendo para o chão como se aquilo pudesse salvá-lo de alguma maneira. Como se contar algumas formigas passando fosse amenizar os sentimentos. – Você dizer que nunca nos daríamos bem?

– Eu falei depois que era por minha própria culpa, e não porque não seríamos bons juntos. – Baekhyun estava louco para se aproximar ao notar as barreiras de Sehun cedendo, mas manteve-se firme onde estava. 

– Eu posso garantir que ele está falando a verdade. – Junmyeon se pronunciou, tomando a frente também no momento em que Joohyun o empurrou. Ele ajeitou os óculos no rosto, lançando um sorrisinho compreensivo para Sehun. – Posso dizer também que é verdade ele ter se apaixonado por você aos 16 anos.

– Eu também! – as duas palavras se tornaram um coro enquanto todos os amigos concordavam, e aquilo quase fez com que Baekhyun desmoronasse de novo. 

Como, em toda sua vida, tinha se sentido sozinho quando tinha aquele grupo de pessoas o apoiando? Era a família que ele tinha construído ao longo da vida, e aquilo o deixava tão feliz que fora impossível não lançar um sorriso aos amigos, realmente agradecido.

– Sehun, eu… Dividir um saco de dormir com você foi o pontapé inicial para saber que minha vida ficaria extremamente bagunçada e viraria de ponta-cabeça. Mas eu confiei que tudo ficaria bem, porque além de me proteger do frio, você também me protegeu dos meus próprios pensamentos autodestrutivos naquela noite em que mostrei meus pontos fracos. Você tinha tudo, absolutamente tudo para me arruinar, já que éramos inimigos completamente declarados desde a infância, mas no fim eu quem trouxe a ruína. – tomou um longo suspiro, daquela vez os pés se movendo por conta própria para perto de Sehun, piscando para se livrar das lágrimas enquanto finalmente tomava o rosto bonito entre as mãos. Limpou as lágrimas que escapavam e escorriam pelas bochechas vermelhas de Sehun com carinho, o medo parecendo se esvair de pouco em pouco ao ver a sinceridade no olhar dele. – E eu quero consertar tudo isso, quero de verdade. Mas não consigo sozinho, porque apesar de estar aqui me confessando abertamente para você, para nossos amigos, eu só posso concluir que tudo está bem quando ouvir isso da sua boca.

Sehun apertou os lábios numa linha fina, um vinco entre as sobrancelhas provava que ele estava tendo uma batalha interna. Fechou os olhos ao levar as mãos para cima das de Baekhyun, aquelas que continuavam acomodando seu rosto e por um segundo o Byun engasgou num choro que deveria ser contido, quase entendendo como uma recusa.

– Eu odeio você, Byun Baekhyun. – confessou, a voz rouca e trêmula enquanto as mãos apertavam as de Baekhyun. – E eu odeio como passei esse ano inteiro pensando que só queria estar perto de você, mesmo me sentindo traído. Como eu torcia internamente por cada vitória sua, cada prêmio que ganhou, cada vez que uma música emplacava em alguma parada, cada momento em que eu me pegava rindo e pensava “O Baekhyun também riria disso”... Porque o que eu mais odeio é que eu te deixei bagunçar minha vida inteira e eu prefiro as emoções reviradas e a flor da pele do que viver monotonamente. Eu prefiro o teu furacão, prefiro te ouvir brigando comigo do que não ter nada disso. 

– Então isso é um… – a voz de Baekhyun se tornou mais animada, mas se calou ao ser interrompido com um “Shh”, vindo de um dos amigos. Olhou feio para eles, mas esperou que Sehun prosseguisse. 

– Recomeço, talvez. – os olhos de Sehun voltaram a sorrir, assim como os lábios se partiram num sorriso. Era pequeno, mas ainda sim foi o suficiente para o coração de Baekhyun flutuar. A gravidade tinha voltado à sua vida, e era como se só naquele segundo pudesse voltar a respirar. – Eu diria para irmos com muita calma, eu não sei ainda se… Estou pronto. 

– Para deixar de me odiar?

– Para te amar. – as mãos deslizaram pelos braços de Baekhyun numa carícia que fez o corpo inteiro arrepiar, como se cada partícula lembrasse vividamente da sensação do maior o tocando e o quanto ansiava por aquilo. 

– Hmm, se vamos recomeçar, temos que fazer direito. – o sorriso de Baekhyun era mais amplo agora, algo que iluminava como se ele fosse feito de luz. Como se o sol perdesse o brilho diante da felicidade dele em poder estar perto de Sehun. Naquele segundo, no entanto, se afastou e ergueu uma mão convidativa: – Prazer, meu nome é Byun Baekhyun. Eu sou barulhento e algumas pessoas me acham insuportável, enquanto outras optam por me chamar de engraçado. Eu prefiro dizer que sou um solista que gosta demais de um certo cara há anos e está feliz dele ter lhe dado uma segunda chance. 

– Oh Sehun, o mais novo entre os amigos e aquele que sempre tem uma reclamação a tiracolo. Na infância conheci um garotinho que sempre quis impressionar mas ele nunca me deu muita bola…  Acho que estava errado. Dividimos um saco de dormir um ano atrás, e acredita que eu não me importei em deixá-lo babar no meu peito? – Sehun aceitou a mão estendida de Baekhyun, mas ao contrário de tê-la sendo apertada, recebeu uma puxada que o fez parar direto nos braços do cantor. Como se tudo já tivesse sido planejado na mente do mais baixo para fazê-lo perder o fôlego.

– Eu não babava. 

– Babava sim.

– Odeio você…

– Nem você acredita nisso.

– Não mesmo. – a palavra final fora de Baekhyun, não aguentando mais a saudade que estava sentindo de provar daqueles lábios mais uma vez.

As bocas se chocaram ao som das palmas e assobios dos amigos, o casal não conseguindo deixar de sorrir em meio aos selinhos que se transformaram num beijo mais longo. As mãos de Baekhyun se acomodaram na cintura de Sehun, enquanto este o acarinhava a nuca com carinho, mas também com o intuito de não deixá-lo escapar. Não queria nem sonhar em vê-lo partir mais uma vez.

Eles tinham complicado uma história que poderia ter sido resolvida muito antes, talvez quando ainda eram crianças. 

Baekhyun poderia ter pedido desculpas a Sehun por ter batido nele primeiro, sem saber o motivo para não o deixar subir na casa da árvore. Sehun podia ter sido um pouco mais gentil com Baekhyun ao invés de apenas alegar que não tinha espaço para si na brincadeira.

No entanto… A história deles poderia não ter o mesmo fim. 

Sehun poderia não ter beijado os lábios macios de Baekhyun para calá-lo, e eles nunca teriam conversado sobre o quanto o cantor se sentia deslocado no próprio grupo de amigos. E quem sabe, se o boato de namoro entre ele e Taeyeon não tivesse surgido, os amigos não teriam se reaproximado.

Agora, Byun Baekhyun poderia se considerar parte de uma constelação, tinha a gravidade a seu lado e pretendia não perdê-la nunca mais, apesar de saber que ainda brigariam.

Ainda seriam Oh Sehun e Byun Baekhyun, mas naquela versão eles tinham acabado de se conhecer e só queriam aproveitar os beijos ligeiramente salgados pelas lágrimas, as risadas que vinham acompanhadas de bochechas vermelhas e as palmas dos melhores amigos, que esperavam pelo desfecho da história há mais anos do dava para contar nos dedos. 

 

 


 


Notas Finais


E chegamos ao fim de Estrela Solitária!

Eu estou muito feliz em poder concluir essa fanfic porque foi um desafio para mim, que só escrevo oneshot, fazer uma fanfic capitulada. Meu maior medo era deixar algum furo, e espero que não tenha feito isso aqui. Também foi um desafio dar voz a um grupo de amigos, lidar com tanta gente num mesmo ambiente e tudo se passando em pouquíssimo tempo... Espero ter feito um bom trabalho.

Eu agradeço a cada pessoinha que dispôs um tempinho para ler essa história, para surtar comigo no twitter ou esperar por uma atualização, e agora essa é a última! Um obrigada à Juliana que além de fazer a capa, também foi aquela que me incentivou a postar e a continuar atualizando mesmo em meio a tanto caos. Tanta coisa aconteceu nesse meio tempo,e eu tive tantos dias de desânimo, que minha única alegria era voltar para essa história e rir um pouquinho, ou me afundar nos sentimentos conflituosos desses personagens.

Espero de coração que tenha cumprido meu propósito ao fazer essa fanfic, espero que ela seja aconchegante e gostosa. Que vocês possam levar consigo como eu vou levar esses personagens comigo.

Muito obrigada por tudo, e principalmente por vocês também me incentivarem a continuar escrevendo por conta dos comentários lindos que recebi. Vou guardar todos, todos mesmo! E quem sabe nos veremos em outras histórias, sim?

Estou no twitter como @/gingerbaeks
Link da playlist da fanfc: https://open.spotify.com/playlist/4QhTOSiHc5h8IgZDX304xE?si=8qePfmicR9-sR7Mi0T5qRQ
Tradução de U R: https://www.youtube.com/watch?v=Pkkryd5Fi78
Tradução de Underwater: https://www.youtube.com/watch?v=iuI0dLMbi_Y


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