História Estrelas - Sobre estrelas e constelações

             Belo dia para ficar doente, Astrid, está de parabéns. Meu corpo pedia para eu continuar na cama macia, relaxar e parar de me preocupar com as coisas ao meu redor. Namjoon me ligou para avisar que o senhor Pyon me deu o dia de folga. Levantei preguiçosa e enrolei o edredom em volta de mim, formando uma capa. Tentei ver o lado positivo da situação, fingir que sou uma heroína ou algo do tipo, a voz de Edna Moda surgiu em minha mente, “nada de capas!” e deixei minha fantasia de lado.

            Tive que fazer outro café, o que Yuri fez pela manhã já estava frio. Ela havia saído para trabalhar, afinal, era quarta-feira, eu era a única que estava à toa em casa. Jimin e Taehyung estavam treinando para o próximo jogo do time, Yoongi estava fazendo um curso de inglês, não havia abandonado a ideia de ir aos Estados Unidos estudar música e formar uma carreira.

            Tomei um banho quente na tentativa de acordar minhas células adormecidas à força. Enrolei a toalha em meu cabelo e em meu corpo e voltei para meu quarto procurando uma roupa quente. Como havia esquecido de colocar as roupas para lavar na noite anterior, tinha poucas opções, encontrei o moletom vermelho de Taehyung e o abracei, coloquei-o no mesmo instante.

            A culpa de eu estar doente hoje é inteiramente sua, Kim Taehyung.

            Hoje completamos um mês de namoro, pois é, nem eu consigo acreditar. Posso dizer que esse foi o mês mais feliz que tive, como estávamos de férias, podíamos juntar nossos amigos sempre e fazer diversos passeios. Linna havia voltado para Daegu com Suni, sentia muita falta dela, passamos tanto tempo juntas que ela se tornou parte de minha família também, foi difícil dizer adeus.

            Há dois dias, Taehyung foi me buscar depois do trabalho, disse que havia ganhado uma aposta e com isso ganhou um par de ingressos para o teatro. Fui poucas vezes ao teatro depois que meu pai faleceu, ele adorava e sempre nos levava, seu sonho original era ser ator, não professor de ciências. Foi tão divertido quanto eu me lembrava, e de alguma forma, sentia que meu pai estava ali comigo, tornando tudo ainda mais completo. Quando saímos do teatro, chovia incessantemente.

            - Diz para mim que você trouxe um guarda-chuva! – Taehyung sorriu constrangido e colocou as mãos no bolso enquanto olhava para os próprios pés. – Não acredito nisso!

            - Mas é aquele ditado, né? Está na chuva é para se molhar... – Ele sorriu e pegou uma de minhas mãos, correndo comigo em direção a chuva mesmo sobre meus protestos. – Vem, vai ser legal!

            Em pouco tempo, me vi encharcada da cabeça aos pés, a roupa colada em meu corpo pinicava e a sapatilha ameaçava sair de meu pé. Taehyung sorria como uma criança, os cabelos molhados cobriam seus olhos e ele sequer se preocupava em tira-los dali. Ele segurou minhas mãos e aproximou o rosto do meu.

            - Deixa de ser chata, Astrid, aproveite as pequenas coisas.

            Revirei os olhos e ele riu, envolvendo minha cintura e puxando meu corpo para próximo do dele. Não importa quantas vezes Taehyung me beijava, sempre parecia ser a primeira vez, jamais me cansava disso. As borboletas no estômago apenas se multiplicavam, os pés pareciam criar asas e o coração não havia se acostumado, batia desregular e acelerado.

            Sua boca na minha fazia com que meu corpo permanecesse quente, sequer a chuva conseguiria diminuir esse calor, por outro lado, ela parecia servir como combustível para que ele não me deixasse, uma vez que sentia cada vez mais frio por conta das roupas molhadas. Taehyung afastou meus cabelos devagar e colou nossos narizes com um sorriso.

            - O que seria de você sem mim, não é mesmo?

            - A gente devia ir, sério, seu jogo está próximo e você definitivamente não deve ficar gripado agora...

            - Prometo que não vou ficar gripado! – Ele sorriu confiante e passou um dos braços ao meu redor, eu ri e me permiti aproveitar os pingos de chuva em meu rosto.

            Você não ficou gripado, mas eu fiquei.

            Suspirei cansada e deixei de lado as lembranças daquela noite. Namorar com Taehyung era uma aventura, ele sempre encontrava coisas divertidas para fazermos e a cada dia eu sentia que meu amor por ele só aumentava. A campainha tocou duas vezes e eu levantei preguiçosa para atender a porta, torcendo para que não fosse Jungkook com seus papos intimidadores.

            - Por que não me disse que estava doente? – Abri a porta e Taehyung entrou antes que eu o convidasse. Trazia em mãos uma porção de sacolas e as colocou sobre a mesa com um sorriso. – Fala sério, As, você contou para seu melhor amigo mas não contou para seu namorado?

            - Você nem teria ido para o treino se soubesse disso, por isso não contei.

            Ele riu baixo e retirou a capa de chuva, caminhou até mim e selou minha testa com carinho.

            - Tem razão, mas ainda assim, quero que me conte da próxima vez, sim? Aliás, perguntei a Yuri o que colocar em uma sopa, ela citou essas coisas, como não sabia se você tinha em casa, passei no mercado para comprar.

            - Estou vendo segundas intenções, desembucha...

            - Linna me ensinou a cozinhar quando estava em casa, prometo que não vou explodir seu fogão.

            - Não, não, de jeito nenhum. Você e a cozinha são a combinação perfeita para o caos. Deixa que eu faço. – Comecei a colocar os ingredientes na bancada e ele me direcionou a uma cadeira, ameaçando me prender ali.

            - Nada disso, hoje eu vou cozinhar. Você pode ficar de olho para ver se não estou fazendo algo errado, mas confie em minhas habilidades, fiz macarrão com a Suni e ela não morreu, você também não vai.

            - Pior do que está não dá para ficar, né...

            Ele sorriu e içou as mangas, permaneci ao seu lado durante todo o processo, conversando e tentando não o distrair, o que era muito difícil, visto que ele perdia o foco a cada cinco minutos. Cortar os ingredientes foi a parte fácil, e por um milagre, não cortou nenhum dos dedos. Quando se trata de cozinhar, Taehyung é um completo desastre, mesmo supervisionado, quebrou um copo e derrubou centenas de coisas no chão, conseguia ser mais desastrado do que eu e nem achei que isso fosse possível. Ele quase colocou pimenta em vez de sal na sopa, ainda bem que eu o avisei antes.

            - Ah, o cheiro está bom pelo menos, né? – Ele colocou a panela no centro da mesa e eu olhei para aquela mistura de letrinhas e legumes com medo. – Espera aí, por que colocou dois pratos?

            - Se eu morrer, você morre junto comigo.

            - Mas eu já almocei...

            - Então vai almoçar de novo, não serei sua cobaia, não...

            Ele resmungou e eu sorri satisfeita. Apesar de eu estar com minhas capacidades olfativas reduzidas, não podia negar que o cheiro estava bom. Ele se sentou a minha frente e fingiu rezar, fazendo com que eu risse, direcionou a colher a sua boca com os olhos fechados e provou a sopa que havia feito.

            - Olha, sendo bem sincero, não está ruim não! Estou orgulhoso!

            Fechei os olhos e provei, para quem não sentia muito bem o gosto das coisas, a sopa estava realmente boa, ele ficou muito feliz por ter conseguido essa proeza e disse que cozinharia para mim outras vezes, apesar de todos os meus protestos. Deitei-me no sofá e o abracei assim que ele se deitou ao meu lado.

            - Passe aquela coberta ali – indiquei o cobertor roxo felpudo que estava ao seu lado e ele olhou desconfiado para mim.

            - Está com frio? – Perguntou enquanto colocava a mão em minha bochecha, indiquei que sim e me aproximei mais dele, reclamando quando ele se levantou. – Acho que você está com febre, nada de cobertor para você.

            Taehyung pegou o termômetro que Yuri havia separado e eu o coloquei sob meu braço, quando eu o tirei, indicava que eu estava com um início de febre, então tomei um remédio para que ela baixasse rapidamente. Ele voltou a deitar ao meu lado e eu o abracei rapidamente, estava com muito frio.

            - Desgruda de mim, menina, desse jeito sua febre não vai baixar – ele riu baixo e me empurrou com cuidado, fazendo com que eu fizesse uma careta para ele. – Quer ficar boa logo ou não?

            - É o mínimo que você devia fazer já que estou doente por sua causa... – abracei meus joelhos e senti seu braço envolvendo meus ombros, encostei minha cabeça em seu ombro, vitoriosa.

            - Não fiquei doente porque prometi que não ficaria, você devia ter feito o mesmo.

            - Essas coisas só funcionam com você, o resto do mundo fica doente, oras.

            - De qualquer forma, se você não se esqueceu, hoje completamos um mês de namoro...

            - Não esqueci.

            - Não me interrompa – ele colocou o indicador sobre meus lábios e eu revirei os olhos devagar, ele continuou com um sorriso. – Como eu dizia, o primeiro mês de vários aguentando suas chatices e tornando seu mundo colorido. Mesmo que você tenha escolhido justo hoje para ficar doente, vamos aproveitar nosso dia, okay?

            Ri e indiquei que sim com a cabeça, ele sorriu e me deu um beijo na testa, trazendo-me um pouco mais para perto dele. Resolvemos fazer uma maratona com os filmes de Jogos Vorazes, livro que eu o fiz ler sobre o pretexto de ser o melhor do mundo, fiquei feliz quando ele gostou tanto quanto eu.

            Minha febre acabou baixando e a dor de cabeça também. Durante o segundo filme, o meu favorito da franquia, Taehyung se levantou e voltou com chocolate quente e pipoca, segundo ele, as únicas coisas que conseguia fazer sem medo de explodir algo ou causar a morte de alguém. Assistimos a todos os filmes enquanto conversávamos baixinho, ele mexia em meus cabelos devagar e eu desenhava círculos em sua mão com o indicador.

            O remédio que tomei acabou me deixando sonolenta, adormeci sem que percebesse e acordei assustada em meu quarto. Pela janela, pude ver que já havia anoitecido. Levantei-me devagar para não sentir tontura e caminhei até a sala em passos lentos, encontrei Yuri tomando a sopa e contive a risada.

            - Lembre-me de parabenizar Taehyung, está muito bom mesmo, até o Yoongi que é cheio de frescura gostou da sopa – eu ri e me senti orgulhosa de meu namorado mais uma vez. – Como está se sentindo?

            - Um pouco de dor de garganta apenas. Tae já foi embora?

            - Quando eu cheguei, ele já havia lhe levado para a cama e estava ao seu lado, foi embora um pouco antes de você acordar. Aliás, ele tem muito bom gosto, Namjoon devia aprender com ele – comentou rindo, Namjoon era péssimo com presentes, lembrei-me dos presentes furados que ela já havia recebido e ri junto dela com a lembrança.

            - Tae me deixou algo? Não havia reparado...

            - Está em seu quarto – respondeu com um sorriso.

            Voltei para lá e encontrei um buquê colorido em um vaso de vidro com um pouco de água, sob o vaso, havia um pequeno bilhete, que eu li com um sorriso, quase ouvindo sua voz através das palavras.

            “Feliz um mês de namoro, e que a sorte esteja sempre ao nosso favor! Sei o quanto gosta das estrelas, você fica linda com elas. Ainda estou aguardando a resposta para a pergunta que te fiz (sem pressão, claro, e não, isso não é chantagem!)... Obrigado por me fazer o cara mais feliz do planeta, amo você!

- Kim Taehyung,

30.01.

            P.S.: Juro que tentei melhorar a letra.”

            Caminhei em direção ao espelho e notei o colar que ele havia me dado, brilhante e repleto de estrelas. Senti o perfume das flores e olhei o céu estrelado pela janela enquanto tocava meu coração acelerado. Às vezes as estrelas têm um plano maior para nós, e com isso trazem mudanças inesperadas em nossas vidas. Minha mudança inesperada se chama Kim Taehyung, alguém que virou meu mundo de ponta cabeça e que a cada dia o torna mais colorido e estrelado.

            - O que está fazendo, Astrid? – Papai sentou-se ao meu lado na varanda de nossa casa e eu apoiei a cabeça em seu ombro. Eu tinha 10 anos, essa era uma de minhas últimas memórias que tinha junto de meu pai antes do câncer o levar. – Ah, espera, não me diga. Está observando o céu novamente, certo?

            - Com certeza – sorri e ele me abraçou de lado, dessa vez, não estava com o telescópio, às vezes preferia observar as estrelas apenas com meus olhos.

            - Quer saber algo interessante sobre elas, querida? – Indiquei que sim com a cabeça e me atentei a sua explicação, meu pai tem sempre as melhores histórias. – Você é uma estrela.

            - Como assim?

            - Você é uma estrela e eu também sou, assim como todas as outras 7 bilhões de pessoas do mundo inteiro. Algumas brilham tão forte que precisamos fechar os olhos. Outras são completamente escuras, mas não quer dizer que já não brilharam um dia. E outras já brilharam tanto que algum dia a luz vai lentamente se esvaindo até se esgotar... Somos como estrelas, querida, vivemos nos arrumando em constelações e formando galáxias maravilhosas. Sua vida é uma imensa constelação que é formada pelas estrelas que um dia passaram por sua vida. Cuide bem de suas estrelas, Astrid, não permita que elas se apaguem nunca.

            Os astrônomos estimam a existência de aproximadamente 100 bilhões de estrelas em nossa galáxia, isso é fato. Dessas 100 bilhões de estrelas que os cientistas têm conhecimento, apenas uma delas me importava, minha estrela cadente não pode apagar nunca. Lutarei com todas as forças para que Kim Taehyung não se apague para sempre.