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História Estrelas - Wabi-Sabi (Epílogo especial de 1 ano!)


Escrita por: Miss_Giannini

Notas do Autor


Olha quem resolveu dar as caras~
Boa leitura!

Capítulo 51 - Wabi-Sabi (Epílogo especial de 1 ano!)


Fanfic / Fanfiction Estrelas - Wabi-Sabi (Epílogo especial de 1 ano!)

            Lembro bem do primeiro dia em que dormi na casa de Taehyung, logo após seu aniversário. Naquela noite, tornei-me sua namorada, e mais importante, parte de sua família. Na manhã seguinte, Suni o acordou pulando sobre seu corpo com seu pijama de dinossauro enquanto eu ria loucamente. Tae sempre disse que as coisas levam tempo para acontecer, acredita em Karma e na Lei do Retorno (ou Troca Equivalente, para os Alquimistas de plantão), e sempre enfatizou: "vingança é um prato que se come frio".

                 Resumindo: não foi nenhuma grande surpresa acordar com nossos dois filhotes pulando sobre nossa cama. 

            - Omma, acorde! - Podia ver o sorriso de Taekwon mesmo com a pouca luz que vinha das frestas da janela. - Não seja tão preguiçosa!

            - Estamos com fome, omma! - Cassiopéia sentou-se sobre minha barriga e batucou-a levemente, dei risada.

            - Yaah, então tudo isso é só pelo café da manhã?! Hoje é a vez do appa, lembram? - Os dois se entreolharam e ficaram quietos quando Tae abriu um sorriso. Tae como cozinheiro é um ótimo pai e eles sabiam bem disso. 

            - Crianças, venham aqui, tenho uma ideia... - Os dois me pisotearam e ficaram sorridentes sobre o pai, que me olhava de soslaio com seu quê de planos malignos, cochichou algo em seus ouvidos e recebeu sorrisos cúmplices. - 1...2...3... atacar!

            Senti dois pares de mãos pequeninas e dedos ágeis me cutucando, Tae também ajudou, ele sabia meus pontos fracos e não hesitou em ataca-los para conseguir o que queria. Só quando eu já estava vermelha como um morango e quase com somente 10% da minha capacidade pulmonar, os ataques cessaram e eu pude recuperar o fôlego aos poucos.

            - Certo! Vocês venceram! Vou preparar um café da manhã delicioso, mas vou comer tudo sozinha se todos não estiverem prontos em meia hora!

            As crianças levantaram num salto e fizeram continência do outro lado da cama, Tae sorriu e fez o mesmo, dando-me um rápido selar antes de também se levantar e procurar uma roupa. Enrolei-me nos cobertores uma vez mais e aproveitei o colchão grande e macio por mais alguns instantes. Tudo ali tinha o aroma de Taehyung, desde o travesseiro até mesmo meu pijama, por dormir sempre junto de seu corpo. Não sei se adormeci novamente ou foi simples devaneio, mas lembro de ter visto Taehyung na porta de nosso quarto, ele já estava adequadamente vestido e sorriu ao dizer que se eu me atrasasse, teria que me ver com ele à noite.

            Coloquei um vestido simples e um grande casaco com gola felpuda, escolhi um sapato baixo e confortável e prendi meu cabelo em um coque ligeiramente solto. Preferi não conferir se meus meninos estavam prontos, sabia que não estariam e sabia que se os visse, iria querer arruma-los, então apenas fui preparar o café da manhã do meu pequeno batalhão.

            Nossa cozinha é um cômodo perdido no espaço-tempo, desistimos de reforma-la depois do terceiro incidente causado por Taehyung. Hoje, o teto ainda possui marcas de panquecas, a parede ao lado do fogão está ligeiramente carbonizada e a porta da geladeira continua caída por mais que nós tentamos arruma-la. Ela carrega as histórias de uma pequena vida inteira, os desastres de Tae, os desenhos de Won e Cassie que enfeitam a geladeira e os bilhetes de bom dia e listas de supermercado que raramente são tirados e sempre nos confundem. De alguma forma, nossa cozinha é meu cômodo favorito, e eu não mudaria nada nela.

            Caprichei em nosso café da manhã já que este seria o último por aqui em algum tempo. Fiz salada de frutas e suco de morango, desenhei sorrisos nas panquecas e decorei-as com coberturas diferentes, cortei alguns pães e por fim preparei o café, logo o arome forte preencheu toda a casa e todos se juntaram na mesa. Cassie não precisava mais do cadeirão, dizia ser gente grande agora, mas às vezes ainda precisava de um babador que lhe cobrisse toda a roupa, como era o caso. Tae vestiu-a de um jeito totalmente casual: um casaco grande de panda, calça de bolinhas coloridas e seus sapatos com luzinha. Won também estava parecido, escolheu seu moletom do Mike Wazowski e os mesmos tênis brilhantes. E sim, geralmente é assim que as crianças se vestem, ou melhor, que Tae as veste, se tivesse sido eu, Won estaria de Clark Kent e Cassie com uma bandana e uma camiseta do Guns.

            Ainda tínhamos algum tempo até termos que seguir para o aeroporto, então não foi preciso apressa-los, Tae riu do meu bigode de cappuccino e eu sorri quando Won fez aviõezinhos de fruta até a boca de Cassie. Quando todos acabaram de comer, Tae ficou responsável por arrumar a cozinha enquanto eu colocava as últimas coisas dentro da mala, tive que pedir para Cassie e Won sentarem sobre nossa mala para que ela pudesse ser fechada, e quase os deixei órfãos quando Tae disse ter esquecido de colocar algo lá dentro.

        - Appa, estamos chegando? 

            - Won, você me perguntou isso há dez minutos - Tae riu e Won fez cruzou os braços com uma careta engraçada. Estávamos num táxi a caminho do aeroporto e Won parecia ter sido ligado na tomada. - Estamos mais perto do que estávamos dez minutos atrás.

            - Quero ver os aviões! Eles são tão grandes quanto parecem na televisão ou tão pequenos que eu poderia confundir com um pássaro? A gente pode ver o jato invisível da Mulher Maravilha? Será que ela me deixa pilotar também?

            - Calma aí, baixinho - Tae mexeu em seus cabelos devagar e ajeitou Cassie em seu colo. - Por que não dorme agora como sua irmã? Assim não perderá nada dos aviões quando chegarmos!

            - Faltam quantos "um pouquinhos" até chegarmos?

            - Acho que uns seis - respondi e entreguei a Won uma caixinha de achocolatado, ele sempre fica um pouco sonolento após tomar uma. Uma música mais suave preencheu o táxi e embalou Taekwon, dormir agora era mesmo uma boa ideia para se manter acordado mais tarde, exceto para Cassiopéia... - Tae, não acha melhor acordarmos Cassie? Quer dizer, melhor ela ficar elétrica aqui e agora do que dentro do avião...

            - Mas ela está dormindo tão bonitinha... Também deve estar cansada de ontem à noite!

            Um sorriso ladino correu em seu rosto e eu ri com a lembrança, por que será que nossa garotinha estava tão cansada, Kim Taehyung? Ontem, Tae e Jimin levaram os dois para o parquinho, também levaram as gêmeas do Park, que cresceram um palmo desde a última vez que as vi. As duas crianças grandes mantiveram o dia em total segredo. Não sei como fizeram Won correr uma maratona e me surpreendi quando ele veio com um "preciso voltar para a quadra, acho que esqueci meu pulmão por lá", esse é o tipo de influência que Chim é para o meu filho, filho esse que parece ter sido esquecido e trocado na quadra, porque meu Taekwon não é muito fã de esportes. Também não faço ideia de onde vieram o hematomas e batidas que encontrei em Tae, ele apenas riu e disse ser resultado de certas brincadeiras. Mas de uma coisa eu tenho plena certeza: alguém trocou o suco de laranja da minha bebê por energético e até agora as pilhas da menina não acabaram ainda.

            - Deixe-a dormir. Eu assumo a responsabilidade, okay? Cuidarei para que Cassie não perca nenhum parafusinho! 

            - Não perca mais nenhum, né! - Ri e recebi de Tae seu encantador sorriso quadrado, encostei minha cabeça em seu ombro e me aconcheguei em seu braço enquanto observava nossos bebês dormindo serenamente. 

            Uma estrela cadente devia ter caído em mim para eu ter tanta sorte em tê-los.

            Os "um pouquinhos" de Won passaram mais rápido do que o esperado. Adormeci em algum momento e acordei com uma conversa animada entre Tae e o motorista de nosso táxi. Coloquei Cassie em meu colo e ela chorou um pouco após ser acordada, disse entre murmúrios que ainda estava cansada, mas mudou de ideia assim que eu entreguei seu pequeno boneco do Batman a ela. Tae retirou Won da cadeirinha e segurou-o pelas mãos durante o caminho pelo aeroporto, o pequeno esfregava os olhos ligeiramente sonolento e o appa sorria feito bobo como se fosse a primeira vez que estava em um aeroporto.

            - Estou tão animado! Lembra da última vez que estivemos aqui? Parece que foi ontem! 

            E como eu poderia me esquecer da Lua de Mel dos sonhos que Taehyung e eu tivemos? Helena nos deu uma grande mãozinha, ensinou algumas palavras em português já que só o inglês não daria conta. Desde que Jimin e eu fugimos para o Brasil, Tae enche o saco de todos para conhecer as praias brasileiras, e só sossegou quando colocou os pés na areia branca e macia de Fernando de Noronha, em Pernambuco.

            Embora não termos conseguido visitar Maria e provar de sua culinária deliciosa ou mesmo jogar bola com Felipe, Tae e eu aproveitamos muito nossa viagem. Mergulhamos entre tartarugas e vimos corais maravilhosos. Assistimos o sol se pôr todos os dias enquanto deitávamos abraçados na areia branca e fofa das praias e acordávamos ouvindo as ondas quebrando nas rochas.

            Lembrar daquilo me trouxe certa saudade.

            - Não, As, assim não! Você está pronunciando errado! – Fiz bico, o que aquele coreano metido a brasileiro entende? Só porque casou com uma brasileira já acha que tem autoridade para bancar o dicionário para cima de mim! – É sa-u-da-de, não é tão difícil assim de entender!

            - Claro que é, Chim! – Lena deu um tapa leve na cabeça do Park e eu tombei a cabeça de lado, um pouco confusa, mas atenta a explicação dela. – Saudade não tem tradução nem explicação, não é algo que se sabe, se sente! – Jimin cobriu disfarçadamente o dicionário com uma almofada e Lena fechou os olhos em uma careta.

            Hoje eu entendo. “Saudade é uma lembrança grata de uma pessoa ausente ou de alguma coisa de que alguém se vê privado” – quem escreveu esta descrição no dicionário certamente nunca sentiu. Não teria dado um significado tão insignificante para algo tão complexo.

            - Quero voltar para lá, As! Vamos mudar o voo para lá, por favor! – Sorri e baguncei os cabelos de Tae.

            - Eu quero ir para o Brasil, omma! – Cassie se remexeu em meu colo e puxou meu cabelo devagar, tirei sua mão pequena e forte e brinquei que iria mordê-la.

            - Prometo que iremos voltar, mas hoje estamos indo para a terra da mama!

            Tae e eu nos dividimos meio a contragosto, Won quis ir ao banheiro enquanto eu agilizava os preparos do check in e entregava nossas malas, fiquei com Cassie em meu colo para que ela não fugisse do nada, e essa foi a melhor decisão que eu podia ter tomado. Cassiopéia tem uma relação com Taehyung que eu nunca soube explicar, é reconfortante vê-los juntos, eles têm a mesma relação que eu tinha com meu pai, falam o mesmo idioma confuso e se entendem como ninguém.

            Cassie fez um escândalo quando viu o pai comprando um bombom para o irmão mais velho, mesmo que a quilômetros de distância.

            - Deixa eu dar um para ela também! – Tae fez bico como se o doce fosse para ele mesmo, eu revirei os olhos. – Qual é, As! Vai deixar a menina chorando com vontade? É só um docinho, nem tem tanto açúcar assim!

            - Eu posso dar um pedaço, omma, não precisa comprar outro – Won puxou meu casaco devagar e sorriu com a boca suja de chocolate.

            - A próxima vez, Cass, você pede para o appa! A omma é muito chata. – Dei o chocolate e ela ficou calma e sorridente, Taehyung riu do meu bico emburrado e me deu um selinho com um pouco de chocolate. – É a omma chata mais legal que eu conheço!

            Won ficou tão admirado vendo os aviões que sequer se lembrou de questionar sobre o jato invisível de Diana Prince. Tae ainda conseguiu que Won conversasse com um piloto, e foi realmente fofo quando Won disse todo orgulhoso que queria ser como ele quando crescesse.

            Entramos no avião e sentamos em nossos lugares marcados. Tae queria sentar na janela e foi mais difícil do que eu esperava convencê-lo a dar o lugar para seu filho ver o céu pela primeira vez. Tae sentou entre ele e Cassie, então eu sentei na fileira ao lado, torcendo e pedindo a todos os anjos para que Cassie não desse tanto trabalho.

            E foi quando a aeromoça apareceu para nos instruir sobre cintos e normas de segurança que tudo começou a dar errado.

            Cassie começou a chorar como nunca antes.

            - Ei, ei, o que foi, bebê? – Tae colocou-a em seu colo e abraçou-a devagar. Todos ao redor olharam preocupados, até a aeromoça veio ver o que aconteceu. – Conta para o appa o que aconteceu.

            - Cassie, meu amor, você está com dor? – Me aproximei e tirei seu capuz gigante de panda para vê-la melhor, ela não estava com febre, mas o rosto estava tão vermelho quanto um tomate cereja. – Está com medo de voar?

            E depois de algum tempo, quando já estávamos loucos sem saber o que fazer e Tae já estava quase chorando junto, Taekwon falou como se fosse a coisa mais óbvia do mundo (na verdade era mesmo, nós é que somos pais muito desnaturados mesmo).

            - É o Batman.

            Tae se levantou num salto com Cassie no colo e não sei dizer o que me surpreendeu mais: o pedido maluco de Tae para a aeromoça, dizendo que aquele avião não poderia sair do chão enquanto sua filha não estivesse com o Morcego, ou a mulher, que aceitou sem pensar duas vezes como se aquilo acontecesse em 3 em cada 4 voos.

            - O appa é mesmo um super-herói, né, omma? – Sorri.

            - Sim, o nosso super-herói.

            Eu só comecei a ficar preocupada quando já havia passado pelo menos 15 minutos e muitos passageiros começaram a reclamar e atacar Tae, chamando-o de maluco e irresponsável, a aeromoça legal me deu o último aviso para me acalmar ou precisaria me retirar. Won aprendeu cerca de oito palavrões em pelo menos 3 idiomas diferentes hoje, na verdade, ele mesmo já estava de saco cheio, e fiquei muito surpresa quando nosso pequeno e quieto Won subiu em sua poltrona e falou para deixarem em paz seu appa e sua irmãzinha.

            Até que o avião simplesmente começou a decolar sem aviso prévio, e meu marido e filha ficaram presos no aeroporto.

            - Omma, você está com medo de voar? – Estava tensa na cadeira, meu olhar estava fixo na poltrona da frente e eu devia estar com algum tique na perna direita de tanto que eu a mexia. Tudo isso só foi quebrado quando Won segurou minha mão com cuidado e com um sorriso tímido. – Pode apertar minha mão se quiser.

            Sorri sem perceber e selei com carinho sua testa. Eu iria aproveitar a viagem com meu filho e faria ele se divertir bastante durante o caminho. Tae é adulto, posso confiar nele para cuidar de uma criança de quatro anos, mesmo se essa criança for Cassiopéia.

            As quase doze horas seguiram sem maiores problemas, Won fez amizade com as aeromoças e ganhou um chocolate quente de graça, fiquei boba em vê-lo todo contente conversando com outros passageiros sobre seus conhecimentos sobre o céu e os aviões. Levei um livro, mas acabei deixando-o de lado e brincando com Won e seus dinossauros, ficava entendiada quando ele adormecia, então tentava escrever poesia em meu caderninho, coisa que não fazia há muito tempo.

            Perguntava-me às vezes como Tae e Cassie estariam, não conseguia não me preocupar com isso. Só tinham um ao outro, o que Tae estivesse em seus bolsos (o que eu torcia para ser coisas como dinheiro e documentos, e não só bombons e papéis de bala) e o Batman. Sei que Tae faria de tudo para cuidar de Cassie para que ela viajasse bem, mas quem faria o mesmo por ele?

            Querendo ou não, Taehyung é uma criança grande, quando voamos para o Brasil, ficou completamente hiperativo por ter que permanecer tanto tempo parado, não conseguia dormir e não tinha paciência para ver filmes na pequena televisão da poltrona, tive que distrai-lo de todas as formas possíveis, conversávamos sobre tudo e qualquer coisa, jogávamos em nossos celulares e revíamos as fotos que havíamos tirado em passeios e viagens pela Coréia. Quando teve pesadelos e não conseguiu dormir, abracei-o e contei histórias para que se distraísse, e só relaxei quando vi seu sorriso completamente relaxado ao colocar os pés em terra firme outra vez.

            Ele sequer pensou nisso quando saiu do avião para deixar nossa filha feliz outra vez.

            - Won – toquei-o devagar e mexi em seus cabelos, seus olhos se abriram ainda sonolentos e ele limpou com o dorso da mão o cantinho de baba em sua boca. – Tenho algo para lhe mostrar.

            - Agora? Está tarde, mamma...

            - Sim – sorri e ele tombou um pouco a cabeça de lado, confuso -, agora! Você vai gostar. – Won assentiu e eu me aproximei de si e da janela, apontando para a mesma. Não sei dizer exatamente onde estamos sobrevoando, mas isso não importava no momento. – Olhe.

            - Uoou – Won sorriu de orelha a orelha e grudou as pequenas mãos na janela, colou o nariz na mesma como se tentasse absorver todos os detalhes. – Bello, mamma!

            - Sì, è belíssimo – sorri, adorava quando Won e eu trocávamos breves palavras em italiano. Para mim, é complicado “pensar em italiano” e “traduzir para o coreano” tudo o tempo todo, Tae sabe poucas coisas, diz não ter tanta afinidade assim, Cassie muito menos, mas Won... é um italiano nato! – Veja como as luzes e os brilhos da cidade se interligam formando...

            - ... uma grande constelação! – Completou admirado e eu sorri ainda mais. – Mamma, e as estrelas não se apagam?

            - Como tudo no Universo, um dia elas irão sim, mas seu brilho permanece por algum tempo ainda, deixam rastros de luz e memórias do que um dia foram. Tudo, depois que nasce, transforma e faz história, e quando se vai, isso permanece, o mesmo ocorre com as estrelas. Sabia que algumas das estrelas que vemos são apenas luz, porque elas já foram descansar?

            - Quando eu pilotar meu avião, acordarei todos os passageiros quando estivermos em cima da cidade para contar a eles histórias sobre estrelas e constelações, já que não podemos ver tudo tão fácil, assim ajuda nem que só um pouquinho! – Won desgrudou-se um pouco da janela e olhou para mim com o rosto confuso outra vez. – Por que está triste, mamma?

            - Não estou, bebê – sequei um pouco meus olhos lacrimosos e o abracei sem que o mesmo entendesse nada. – Estou orgulhosa.

            Meu pai também devia estar, onde quer que estivesse.

***

            - Mamma, você está me machucando...

            - Kim Taekwon, não solte minha mão por nada nesse mundo, ouviu bem? – Ele assentiu fortemente e eu afrouxei um pouco o aperto de mão. – Está vendo eles?

            - Vendo eles quem? – Dei um salto quando escutei a voz de Taehyung em meu ouvido bem atrás de mim. Puxei seu pescoço e seu corpo para perto do meu em um abraço, apoiei minha cabeça em seu ombro e sentia meu coração como uma locomotiva, meus olhos já emocionados. – As, você está me sufocando...

            - Oi, omma... – Cassie sorriu um pouco tímida com o Batman em mãos e eu a abracei logo em seguida, dando vários beijinhos pelo seu rosto e me divertindo com sua risada enquanto Tae matava a saudade de Won.

            - Agora que estamos reunidos, quem está pronto para visitar a nonna? – As crianças sorriram, já Tae fez uma careta, os dois nunca foram muito um com a cara do outro, entrelacei meu braço no seu e me diverti com suas caretas. – Vai ser divertido, amor, prometo.

            Tínhamos um longo caminho de táxi até lá, então trocamos nossas histórias sobre a viagem de avião. Tae disse que o Batman estava nas mãos de um garotinho, e que foi muito difícil convencê-lo a devolver o brinquedo a Cassie, por isso demoraram tanto, e que graças ao seu amigo piloto, conseguiu pegar outro avião com o mesmo destino que sairia algum tempo depois.

            Sentia-me energizada por estar outra vez em minha terra, a última vez que vim foi para fazer alguns cursos de astrofotografia e passei para dar um olá para minha mamma, que voltou a morar em nossa antiga casa depois que Yoongi jurou de pés juntos que não precisava mais viver debaixo das asas dela.

            Nosso destino, minha casa de infância, fica em um pequeno bairro em Verona, no norte da Itália, é distante do centro, dos castelos e das lojas chiques europeias, é um lugar calmo e tranquilo, tipicamente camponês, rodeado pelo verde e casas simples e floridas, sem a poluição das cidades e barulhos constantes, apenas a paz e simplicidade que eu tanto sentia falta depois de tanto tempo vivendo na agitada Seoul.

            - Buongiorno, mamma! – Pulei do carro e abracei-a mesmo sabendo que ela não é muito fã disso, desviei do tapa que ela pretendia me dar na cabeça e sorri descaradamente ao vê-la apertando os lábios. – Nossa viagem foi excelente, obrigada por perguntar!

            - Você trouxe ele também? – Mamma olhou desapontada ao ver Tae retirando as malas do carro, ele também trazia uma careta no rosto, queria ter se hospedado ao lado da Arena, mas eu insisti para trazer as crianças para a casa onde cresci. – Até seu primo Tonny era um melhor partido.

            - Quem é Tonny, Astrid? – Ri da expressão confusa de Tae que só entendeu o nome do garoto e minha mãe devolveu a careta.

            - Venham conhecer a nonna, crianças!

            Os três só se conheciam por fotos, mas vê-los pessoalmente foi o suficiente para amaciar um pouco o coração de ferro da velha senhora. Cassie, dada como é, jogou-se nos braços grandes da avó no mesmo instante, Won, por outro lado, escondeu-se um pouco atrás de minha perna.

            - E se ela não gostar de mim, omma?

            - Claro que irá! É só ser você mesmo e a nonna irá amar.

            - Ela não gostou da minha versão de mim mesmo... – dei uma cotovelada em Tae e ajoelhei para ficar na altura de Won.

            - Por que não treina seu italiano com a nonna? – Ele respirou fundo duas vezes e assentiu, um pouco mais confiante, dei um beijo em sua testa e ajudei Tae a levar as malas para dentro de casa.

            - Ciao, nonna – gaguejou um pouco e sorriu desajeitado -, va bene?

            A italianona dos olhos verdes e frios se emocionou e agarrou o pequeno no mesmo instante, toda orgulhosa. Tae foi o último a cumprimenta-la, e como seu coração estava mais quente, tratou-o até que muito bem, deixando-o sem saber o que fazer, já que veio pronto e de armadura para enfrenta-la.

            Cassie pediu para ir nos ombros da avó até a casa e Won correu ao encalço, a pequena, batucando levemente a cabeça da nonna e levantando os braços para o céu azulado (o que com certeza devia dar um Alasca na barriga da velha já que ela não está nem um pouco acostumada com crianças), e o maior, falou o estoque de palavras de uma vida inteira.

            - Acho que fazer essa viagem não foi uma má ideia – senti o braço de Tae envolver minha cintura e me puxar para perto, coloquei minha cabeça sobre seu peito e o abracei devagar e um pouco de lado, senti um beijo na cabeça em resposta.

            - É claro que não, você devia ouvir sua esposa mais vezes, ela sabe das coisas – cruzei os braços e me afastei um pouco para ver sua sobrancelha arqueada e seu sorriso de canto em desafio.

            - Sabe, é?

            - Com certeza.

            - Como é convencida!

            - O quê? Quem disse que sou eu a sua esposa? Eu sou só outra pessoa que sabe das coisas, o mundo está cheio delas, sabia? – Taehyung me abraçou rapidamente por trás enquanto ria e eu acabei rindo também. – Hey! O que está fazendo?

            - Abraçando você, que coincidentemente, também é a minha esposa! - Sorri e devolvi o abraço forte, enterrando meu rosto em seu corpo quente e cheiroso. – Já disse que te amo hoje?

            - Hoje ainda não – traduzido seria isso, foi murmurado demais para que até mesmo minha cabeça compreendesse, mas no final das contas não importava de fato. Ele segurou meu rosto com ambas as mãos e meus olhos se perderam na tempestade castanha dos seus, sorri sem nem perceber.

            - Eu te amo, Astrid!

            - Eu te amo, Tae! – Quando digo isso, Tae sempre sorri como se fosse a primeira vez, e eu sempre sinto as borboletas no estômago, como se fosse a primeira vez. Nossos rostos se aproximaram magneticamente, quase como se precisassem um da boca do outro para encontrar o próprio oxigênio.

            Nada disso mudou, mesmo depois de 5, 10, 15 anos...

            - Ei, vocês dois! As malas não vão sair do carro sozinhas!

            É, isso também não mudou.

            - Eu ainda vou bolar um plano maligno contra a sua mãe, tenha consciência disso – sorri e toquei seu nariz devagar com o meu, roubando um selinho.

            - Eu ajudo!

            Certa vez, li em algum lugar que nos melhores relacionamentos, os dois conversam como amigos, brincam como crianças, se protegem como irmãos e se pegam como tarados. Tudo isso e de brinde ainda ter duas criaturinhas como frutos desse amor?

            Uma estrela cadente realmente devia ter me atingido.

            É óbvio que nada é perfeito, nenhuma pessoa e nenhum relacionamento. Não se trata de sorte, a diferença é o modo como você escolhe encarar as coisas. Vivemos correndo tanto que muitas vezes não paramos para pensar ou mesmo procurar esses sinais. Há beleza escondida bem na frente dos nossos olhos, algo que passa despercebido e que não damos muito valor. Trata-se de aceitar a imperfeição, a assimetria, a irregularidade. É sobre encontrar algo de se admirar em tudo, mesmo nas coisas mais insignificantes e simples da vida, até mesmo aquelas que estejam repletas de falhas e rachaduras.

            A vida não é perfeita, e por isso ela é bela.


Notas Finais


Yeah, gente, dá pra acreditar que já faz 1 ano? Só de lembrar meu coração fica cheio de saudade >< então, atendendo aos pedidos de vocês, mais dois capítulos especiais!
É um presente, tanto para vocês que pediram, quanto para mim que estava morrendo de saudade de escrever, e sim, dois capítulos (porque eu gosto de números pares e porque se fosse tudo em um só ficaria muito grandão)! E ao mesmo tempo, uma comemoração, para mim, representa um novo ciclo literário, e ao mesmo tempo, gratidão pelos novos leitores que vêm surgindo e comentando mesmo após a história já ter terminado ><
*O plano era ter postado 16:50, mas eu tava dormindo :P mas o que vale é a intenção!
Adoraria saber se vocês gostaram (terei eu perdido a prática de escrever? ~fica o questionamento) <3
Até logo mais, estrelinhas!


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