Eternamente.. Amor - Eternamente... Amor

Querida,

Escrevo esta carta sob a mesma árvore que tantas vezes nos abrigou. O sol se põe, pintando o céu com as mesmas cores vibrantes que costumavam iluminar nossos sorrisos. A cada crepúsculo, a saudade te traz de volta, mais viva do que nunca.

Lembro-me de nossas conversas intermináveis, do som de sua risada contagiante e do brilho intenso em seus olhos negros. A cada palavra, você me mostrava um novo mundo, um universo de possibilidades que eu nunca havia imaginado. E aqui estou, anos depois, ainda tentando decifrar a beleza de cada instante que passamos juntos.

Hoje, segurando este buquê de lírios laranjas (a mesma cor do seu vestido favorito), sinto como se você estivesse aqui, ao meu lado. Cada pétala macia me lembra da suavidade da sua pele e da fragrância delicada de seu perfume. O sol se despede, mas a lembrança do seu amor permanece acesa em meu coração.

Sinto falta das suas histórias, dos seus sonhos e da sua companhia. Sinto falta de poder te dizer o quanto te amo. Mas sei que, onde quer que você esteja, uma parte de mim sempre estará com você. Ainda agradeço todos os dias pela oportunidade de te amar e, principalmente por ter sido amado por você.

Com eterno amor,

Seu devoto.

 

Estive pensando naquela noite pelos últimos quarenta e sete anos, três meses e dezoito dias. Foram anos lembrando do teu toque, teu cheiro, teu gosto. E nada, nem ninguém nesse mundo, chegou perto do que senti com você. Você foi meu primeiro amor, primeiro desejo, primeira em tudo, primeira e única em meu coração. Sempre.

Minha querida, ainda lembro do calor de tuas mãos, o brilho em teu olhar, os sussurros doces de “eu te amo” cada vez que eu te amava loucamente, como um completo necessitado por teu toque; um homem faminto de amor, do teu doce amor minha querida. É, eu ainda lembro.

Aquele apartamento, o chão de madeira, o sofá da sala, o calor da cama que compartilhamos. O quão encantado eu ficava ao te ver cozinhar - algo cotidiano, eu sei - era tão grandioso. Quando passeamos juntos pela cidade, pelos jardins, vendo as pessoas passarem apressadamente, e nós apenas estávamos ali, caminhando, sorrindo. Vivendo… 

Se eu soubesse que aquela seria nossa última vez, teria te amado mais, teria me dedicado mais, te venerado mais. Teria traçado minha boca por cada curva de teu corpo lentamente, dedilhado tuas linhas como nas teclas de um piano para elevar-te aos céus, onde és digna, teria lido a poesia escondida no céu da tua boca com mais avidez e saboreado tua voz ofegante de amor pedindo por mais. Mais uma vez, mais um pouco, apenas mais…

Talvez você não saiba, mas tenho uma foto sua cozinhando - escondida, é claro - e guardo com carinho e saudade. Parece bobo, eu sei, mas é algo que mexe muito com minha mente, minhas lembranças, é um pedaço de você em mim, em minhas memórias… Comigo. Sempre comigo. Eu ainda sorrio sozinho lembrando de apostas divertidas inacabadas, propostas não finalizadas e noites de carinho sem medida, sem cobranças. Apenas nós dois sendo quem somos sem medo, sem inseguranças. Sem julgamentos. Era assim que compartilhamos nosso tempo juntos.

Ainda sinto, vívidamente, teu toque, os abraços, teu cheiro impregnando minha roupa e me embriagando de paz. Eu dormia sonhando com teus beijos e acordava com tua respiração em meu pescoço e o calor de teu corpo sobre o meu, e pensava “Deus, se isso for um sonho, matarei quem tentar me acordar.” Adorava nossas conversas sobre o mundo, as pessoas, os sonhos e qualquer coisa que viesse à mente: desde contos históricos a o que iríamos comer de noite.

Você sempre foi música para mim, te dediquei 374 músicas em meus pensamentos - lembro de cada uma delas e o porque as dedicava - e apenas uma em minha voz, timidamente cantei o meu amor por você, veladamente, naquela canção que você adorava. Eu não gostava da minha voz cantando, mas você me fez gostar de outra parte de mim. Você me fazia gostar de me amar. E eu gostava de me amar porque era outra forma de amar você. E porra, como eu te amava!

Mas o tempo chegou, você se foi e eu tive de aprender a sobreviver, e eu fui sobrevivendo. Dia após dia, ano após ano; doía horrores quando eu pensava em você. Tive de tratar essa ferida aberta com cautela. Tinha medo até de dizer teu nome, até finalmente entender que ter medo não adiantaria. Na verdade tinha medo de encarar a saudade e a culpa. E se eu tivesse você mais uma vez, eu poderia morrer feliz… Lembro-me de quando você me disse: “Você vai amar novamente, vai doer e sangrar, vai ser avassalador… Vai sentir como se o mundo quisesse te engolir e cuspir de volta, vai sentir tudo girar até cair: mas alguém vai segurar sua mão e te ajudar a levantar, seguir em frente.”

Senti o mundo acabando, aquela sensação de que a festa estava no fim e tudo o que eu queria era estar do seu lado novamente, nem que fosse uma última vez. Para te amar, e sorrir contigo. E ver, finalmente, as estrelas que você havia prometido.

Talvez essa seja a última vez que venho a este lugar, com essas memórias vívidas, queria finalizar esse nosso momento, um último adeus, querida. Acho que ficarei aqui até o sol nascer. Mudar os planos e começar novamente; um novo livro… Uma nova fase onde finalmente me liberto da dor e da culpa, e consigo conviver com a eternidade, sabendo que teu amor alimentou minha alma mais do que eu jamais imaginaria.

Desejo o melhor para você, onde quer que você esteja, com quem você esteja. Sinta-se amada, onde você estiver, como você estiver e por onde você andar. Ame imensamente e torça por mim entre as estrelas. Eu estarei aqui vivendo enquanto posso, esperando voltar para seus braços se a eternidade me permitir estar com você na próxima vida. 

Eternamente devoto de teu amor,

Eu.