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História Ethereal - Bellarke - 3. Protelando


Escrita por: elysianfl

Capítulo 3 - 3. Protelando


Ele só podia estar de brincadeira com ela.

Ele realmente não a conhecia pra achar que ela usaria um vestido daqueles.

Pra ela era bastante óbvio que não usaria aquilo.

Há duas horas, completou vinte e quatro horas que ela era a nova futura senhora Blake. Não se sentia uma noiva. Não queria nem ser uma.

Mas então seus olhos se enchiam de lágrimas ao pensar na mãe. Ela abrira mão de todo o pouco que tinham para fazer Clarke acreditar que aquela era a melhor opção. Era uma possibilidade há dois anos, e se tornou uma esperança no momento em que chegou aos ouvidos de Abby que o herdeiro procurava uma noiva. Mesmo que isso significasse que no fim as duas se separariam pra sempre. Ela iria viver e sua mãe iria morrer. Dois anos depois e ela ainda não se conformava com a ideia, nunca se conformaria, mas aí a mãe tocou na sua ferida e a lembrou sobre o pai. O homem que as duas mais amavam e foi tirado delas depois de sabe-se lá Deus o quê – nunca explicaram a ela o porquê dele ter sido preso, Abby dizia que a vida dela seria mais segura se ela não soubesse. Que as vezes era necessário viver na ignorância, para sobreviver. Especialmente no caso delas, de ex-membros da Ethereos.

Clarke lembrava vagamente de Bellamy de quando era criança e visitava seu pai na A.L.I.E. Ele não costumava ser um garoto muito receptivo com outras crianças; também pudera, não fora criado em meio de muitas – pelo contrário, cresceu rodeado de adultos, já era meio que óbvio que não aprendera a se divertir. Teve que crescer cedo demais.

Mas nada disso justificava a índole dele agora. Não que ela pudesse medir o caráter dele por menos de um dia de convivência, mas primeiras impressões contavam e a imagem dele pela visão dela não estava muito favorável até o presente momento.

Voltando para o traje de gala estendido na cama em sua frente, Clarke sabia que fora um recado de afronta, pelo ultimo aviso do dia anterior que ele escolheria a roupa dela. Ela até o vestiu, só pra ter uma visão melhor do que botaria defeito.

Num geral, podia até ser considerado um vestido bonito para a maioria das garotas da Elite, no entanto pra Clarke em específico, era exageradamente sexy. E sim, uma Clarke de outra vida talvez – muito talvez - poderia usar aquilo para um noivo real um dia, uma festa privada preferencialmente.
Mas não aquela Clarke, não esse noivo.
Ela sempre tinha sido magra, porém com curvas acentuadas – segundo o ex dela, nos lugares que mais importavam – não que ela ligasse muito para a própria aparência física, mas aquele vestido marcava cada um de seus atributos; até seu traseiro parecia maior do que era.

Sim, Bellamy Blake sabia escolher roupas que realçavam a individualidade das mulheres.

Só que...ela não queria ser valorizada dessa forma.

Aquele tipo de sexy era vulgar demais para a personalidade dela, sem nada por baixo, qualquer um saberia – porque veria – que ela estava praticamente nua. A folhagem verde do vestido, de mesma cor, cobria espaçadamente todo o vestido ligado a um feixe vertical verde escuro na frente e atrás, para ocultar somente o essencial.

A questão ali não seria o que os outros veriam no corpo dela – e sim o que imaginariam por não ver.

Estrategicamente bem pensado para chamar a atenção.

Ela despiu-se do vestido, vestiu um lingerie, a menos sofisticada que encontrou no seu novo guarda-roupa e colocou um roupão de seda branco por cima.

Jogou-se desleixadamente na cama, cansada já por toda a noite de apresentações que teria que enfrentar sem reclamar nas próximas horas e fechou os olhos, a fim de descansar apenas uns minutinhos.

❦ ❦ ❦


Quase duas horas depois


Quando sentiu algo gelado e ardente na sua barriga,  despertou-se na hora.


Um Bellamy Blake bravo a fitava friamente, segurando um copo de vidro vazio.


Filho da puta.


Ele tinha jogado alguma bebida nela.


Não está atrasada pra nada não?


Questionou com falsa calma.


— Eu só... só estava descansando alguns minutos...


Odiou-se por ter gaguejado.


— Alguns minutos?


Repetiu as ultimas palavras dela como se estivesse falando com uma criança. Clarke cerrou os dentes e rebateu com outra pergunta recusando-se a se justificar novamente.


A que devo a honra do desperdício de sua bebida no SEU roupão?


Bellamy desvia a atenção dela e caminha até uma cômoda onde deposita o copo, enchendo-o de mais do que parecia whisky.


Seu roupão. Infelizmente ou não, tudo que venha de mim agora é seu também. E sobre o desperdício desse caro e delicioso whisky, teria sido evitado se você não estivesse atrasada pra sua festa de apresentação!


Ela ia retrucar, mas ele levantou o dedo como em aviso pra ela permanecer quieta.


Gostou do vestido? Verde é minha cor favorita.


— Você é mais louco do que eu pensava se acha mesmo que irei com essa coisa.


Ele ergue a sobrancelha.


Sabe... Eu tenho uma vaga lembrança de que no meio dos papeis daquele acordo confidencialfrisou a palavra olhando pra elatinha alguma regra sobre o que eu deveria ou não esperar de você, e eu sei que obediência estava incluso, afinal eu reli tudo antes... vai me dizer que além de ignorar avisos diante portas, você também assina as coisas sem ler?


É claro que ela tinha lido. Só achara patético demais pra levar a sério alguns dos requisitos absurdos que ali continha, pensou.


Mordeu a língua pra evitar outra resposta ácida. Sabia que provocar ele era um terreno perigoso.


— Quando alguém faz uma pergunta, espera-se que o receptor responda... Sabe, estou decepcionado... Eu podia jurar que pelo menos formação básica escolar você tinha. Será que se confundiram na sua ficha sobre você ter sido estudante de medicina por um tempo? Futuros médicos deveriam ser um pouquinho mais inteligentes... Ou estou errado?


Eu odeio você.


O que disse? — ele ergueu a sobrancelha apertando os olhos em direção a ela


Ai meu Deus... Ela tinha falado aquilo alto?


— Er... Eu não vou usar esse vestido.


Decidiu arriscar. Ela não ia mesmo. E duvidava que ele a vestiria a força.


Naquele instante, Bellamy no fundo de sua mente se arrependeu pelo trabalho poupado de não procurar melhor uma noiva. Ele iria pagar todos os pecados com essa mulher, tinha certeza.

— Você não vai usar o vestido...

Ali estava ele a tratando como criança de novo.

Você é demente? É a segunda ve-

Retire o que disse! — ele a puxou da cama de forma que o corpo de baixa estatura batesse contra seu peito, sem que ele saísse do lugar. — Peça desculpas ou ouse repetir o que disse já que é tão corajosa. — ele não ia permitir que ela continuasse o insultando sem que fizesse nada. Nenhuma mulher nunca ousou trata-lo assim.

Clarke desvia o olhar, mas ele segura seu queixo a obrigando a olhar pra ele.

O gato comeu sua língua atrevida?

Ele lambe os lábios encarando os dela enquanto a mesma tenciona o pescoço forçando a cabeça a se afastar dele. Mas ele percebe o medo por trás da reação dela e prende a mão atrás de sua nuca colando a boca dela com a sua.

Não era pra ser a permissão de um beijo. Era um aviso. De que ele fazia aquilo porque ele podia. E se achasse que estava errada, ela seria punida. E se ele quisesse a beijar a qualquer momento, a beijaria.

Ela era dele agora.

Ele mesmo a desprende do corpo e a empurra de volta pra cama enquanto ela limpa a boca com a manga do roupão.

Eu não vou com esse vestido!!!

Teima insistindo na coragem momentânea.

— Então vá assim!! — aponta pra ela de roupão molhado — Eu pouco me importo com o que você faz ou não, nunca chegará aos pés das mulheres aqui. Nunca vai se encaixar de novo. Não será adorada, invejada ou amada por ninguém da Elite. Então vai em frente, tente reconquista-los, assim que se lembrarem de quem é filhinha, você verá as verdadeiras cores. Ninguém aqui se importa com o que você é ou deixa de ser. Ou você é um Ethereo ou não é. E mesmo casando comigo... Quando se perde esse tipo de título, no final você nunca voltará a tê-lo de verdade.

❦ ❦ ❦


Ela não ia chorar.
Ele jamais seria o gatilho da fraqueza dela vindo à tona. Nos dois últimos anos, ela já passara por chacota demais pra se importar com o que um cara como aquele pensava dela, ou qualquer um deles ali.


Bellamy achava que podia a diminuir.
Então ela usaria disso pra se tornar superior a todos eles.


Será delicioso assistir a reação de todos ao ver uma renegada voltando ao berço de ouro. Primeiro Ethereal de nascença e então rebaixada à indigna. Agora voltaria com tudo para onde lhe era direito de nascimento.


Ele não queria que ela fosse o centro das atenções essa noite? Então era isso que ele teria.


Pensou enquanto caminhava para o chuveiro novamente pra tirar o fedor de bebida alcoólica do corpo.


❦ ❦ ❦


— Senhor Blake? O senhor precisa vir comigo agora.


Bellamy foi importunado por um de seus seguranças enquanto aguardava a futura noiva no rol diante a escada principal.


— Não vê que eu estou ocupado Charles? Só estou esperando Thelonious aparecer e é claro, minha noiva.


— Então senhor... é ela mesmo em questão que lhe devo alertar...


Bellamy vira bruscamente para o homem.


Ai não, o que essa garota tinha aprontado agora? Como se entendesse o que ele questionava, o homem continuou.


A senhorita sua noiva insiste em sair do quarto de um jeito... — o cara parecia infeliz ao tentar prosseguir sua fala


Fala logo, Charles!exige nervoso


Está bem! Ela quer deixar o quarto somente com as..roupas de baixo. Diz que esse é o traje dela a pedido do senhor — ele evita encarar Bellamy e torce as mãoslonge de mim contestar alguma ordem do senhor, mas eu achei estranho...


Bellamy cerra o punho raivoso e o interrompe.


Fez muito bem, Charles. Obrigado, deixa que eu mesmo resolvo e por favor se Jaha chegar aqui antes de voltarmos, o avise que desceremos um pouco atrasados hoje.


❦ ❦ ❦


Clarke se segurava pra não rir enquanto outro segurança, mais velho, a segurava pelos braços evitando a todo custo olhar pro seu corpo quase totalmente descoberto.


Senhorita, por favor...


Tadinho. A intenção não era fazê-los passar por isso, mas também a culpa não era dela se seu futuro marido deixou uma fileira desnecessária de seguranças porta a fora do quarto dela.


O que ele achava que ela ia fazer? Fugir?


Só me deixe passar, e esse infortúnio terá um fim.


— Desculpe, mas eu só recebo ordens do senhor Blake.


Ela bufa e insiste em tentar sair do aperto do homem.


— Obrigado, Saymon! Pode soltá-la agora.


Um Bellamy sério surge de lugar nenhum tirando o aperto do segurança e substituindo pelas mãos dele, empurrando-a quarto adentro.


"O.QUE.VOCÊ.PENSA.QUE.ESTÁ.FAZENDO?"


Pergunta retoricamente entre dentes.


Te obedecendo.


Clarke até agora não sabia de onde tinha resgatado tanta coragem de dentro dela pra falar com ele assim. Se tivesse algum amor à vida, teria recuado a primeira ameaça, mas a verdade é que enquanto banhava-se lembrou de que a vida dela era muito mais importante pra ele — por motivos desconhecidos — do que pra ela mesma.


Se não estivesse ali, morreria de qualquer jeito lá fora, pelo menos estaria com a mãe. Na verdade seria uma morte muito melhor do que pelas mãos dele.


Não banque a engraçadinha agora.


Ele encosta ela na parede e varre o olhar no corpo dela.


Se quisesse outro beijo era só pedir.


Automaticamente ela dobra o joelho, mas ele de forma reflexiva para a perna dela com a mão e inclina a cabeça em advertência.


— Tenho o dobro de atenção agora pra lidar com você.


De alguma forma ele consegue impossibilitar ela de se mexer da cintura pra baixo com o apoio da perna direita, pressionando forte na parede. Enquanto uma mão segura ela pelos pulsos a outra percorre todo o corpo dela possessivamente.


Ele repete o beijo à força, mas dessa vez ela morde ele, enojada, já que era a única forma de defesa disponível.


Ambos sentem o gosto de sangue.


Ele grita surpreso e se afasta com a mão na boca, limpando o sangue escuro que escorria. Clarke estranhou mas pensou ser a falta de claridade no quarto.


Ela não consegue evitar sorrir. Bellamy instintivamente volta avançando pra cima dela.


Vai me bater?


Um brilho sinistro atravessa o olhar dele e ela nota algo que não sabe explicar.


Ele recua levemente cambaleando e Clarke sente que tocou alguma parte vulnerável — que nem imaginava que existia — dentro dele.


Quando se recupera, a frieza é devolvida ao seu olhar e postura. Bellamy abre a boca como se fosse falar algo, mas hesita, antes de deixar o quarto ele se vira, sem olhar pra ela e diz:


Tem mais alguns vestidos no closet, coloque a porra que você quiser, mas daqui a exatos cinco minutos eu quero você naquele corredor ao meu lado.


E bate a porta com força extra.


Ridículo.


❦ ❦ ❦


Ele não merecia que ela fizesse algo pro seu agrado, mas cansada de brigar nas poucas horas que já eram noivos ela optou por um vestido ainda do mesmo tom de verde do anterior, só que dessa vez mesmo que justo ao corpo – como todos ali dentro – esse era mais discreto e elegante, ao invés de sexy e vulgar.


Os capachos do senhor Blake veriam no máximo a clavícula e os ombros dela.


“sEnHoR BlAkE” sussurrou debochando da importância do pronome pra se referir a um garoto. Um garoto!! Porque homem ele só devia se sentir pelos bens que possuía. Mas maturidade? Ele não merecia ser tratado mais do que um moleque cheio de caprichos.


Claro que ele deveria ser só alguns anos mais velho do que ela. Se ela tinha vinte e um, ele no máximo deveria ter vinte três ou vinte e quatro, não sabia a idade exata, mas sabia que poucos anos os separavam. Ainda sim, ela era muito mais equilibrada do que ele. Em todos os sentidos.


Antes que tivesse outra ideia maluca por questão de merecimento do noivo em questão, ela calçou os saltos e deixou o quarto. Se é que podia chamar aquilo de quarto, mais uma das coisas que ela não entendia era porque ainda não fora pra casa dele. Desde que chegara, a secretaria lhes designou a aquele quarto, um pouco depois da ala privada dele, ainda na agência.


Era melhor que ele não morasse ali.


Não havia muito que admirar, conhecia cada corredor da A.L.I.E, mesmo aquele que caminhava até a descida principal.



Bellamy se encontrava em pé, de costas para a direção de onde ela vinha. Inquieto, ao que parecia, pois seus pés não paravam de balançar. Ela também ficava assim quando estava nervosa.


Pensou se deveria se fazer ouvida com mais uma provocação, mas simplesmente parou ao lado dele entrelaçando seu braço esquerdo ao direito dele, em apoio.


Instantaneamente ele se vira pra ela. Se iria elogiar pelo que claramente admirou, guardou pra si, porque ele apenas ajeitou o terno e acenou pra escada, com o semblante fechado, avisando-a que já iam descer.


É, ele estava puto de ódio. E a ignoraria o máximo que pudesse a festa inteira.


Não era isso que ela queria?
Então por que sentiu alguma coisa retorcer em seu estômago?


Porque o oposto de amor não é o ódio, é a indiferença.

Como futura esposa, ela já tinha oficializado suas boas vindas para ele de forma nada agradável.

As primeiras impressões umas do outro tinham sido formadas e

tardariam a serem trocadas.



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