História Eu correrei até você com os pés molhados - O outro ponto de vista

Eu sei que pisei na bola com os comentários que fiz, sei que pareci um ciumento exagerado e sei que não deveria ter ido naquela balada, muito menos enviado aquele vídeo para Mariana. Eu percebia que ela tinha razão em estar magoada. Apesar disso, confesso que estava surpreso com suas atitudes. Ela nunca tinha brigado comigo, nunca tinha alterado o tom de voz e me ignorado como ela estava fazendo. Isso me deixava com muito medo de a perder, pois sentia que estávamos por um fio e tudo indicava que quem determinaria se iríamos romper ou não era ela. Eu não queria nem pensar em término. Por mim, isso nunca aconteceria. 

A verdade é que eu não soube explicar como eu me sentia e acabei me expressando da forma errada. Tentar fazer com que Mariana sentisse ciúmes de mim daquele jeito tinha sido uma grande bobagem. Porém, me chateava saber que ela poderia ter quem quisesse. Eu já tinha notado como os outros funcionários olhavam para ela. Mariana era uma das únicas estrangeiras que trabalhavam na Big Hit, ela se destacava demais com seu jeito de se comunicar, seu sorriso vibrante e seu corpo. Além disso, ela podia sair para tomar café ou caminhar no parque com quem quisesse. Podia frequentar qualquer lugar, qualquer restaurante, ninguém a perseguiria, suas fotos não iriam viralizar como um escândalo na internet. Ela poderia facilmente conhecer alguém mais interessante e inteligente do que eu, alguém estudado, que falasse inglês fluentemente e soubesse conversar sobre arte contemporânea. Alguém que também poderia ir para qualquer lugar junto com ela. Aquilo era assustador demais para mim, porque se ela me superasse, eu nunca seria capaz de seguir em frente. Como eu encontraria alguém como ela? Como eu encontraria alguém que realmente me amasse, ao invés de simplesmente amar minha imagem de idol? Será que ela não via que meu ciúme era desespero? Minha flor de nascimento já falava por mim: por favor, me ame! Eu precisava do seu amor e afirmação.

Quando cheguei em casa naquela segunda-feira cansativa, Mariana estava empenhada organizando suas coisas. Espera aí! Quando olhei melhor vi que não eram apenas as suas coisas. Era a minha mala.

- O que está fazendo? - Perguntei preocupado.

- Estou te incentivando. - Ela respondeu, sem sequer parar o que estava fazendo.

- Você está decidindo tudo sozinha. - Reclamei com mau humor. Aquilo me magoava, ainda não havíamos tido uma única conversa decente.

- Você não tem iniciativa.

- Eu tenho sim. - Engoli seco. - Iniciativa. - Tentei manter ao máximo a seriedade. 

- Então mostre, Jungkook, porque você anda muito preguiçoso e acomodado ultimamente. - Ela retrucou. Ouch!

- O que você quer que eu faça? 

- Quero que volte pro Hannam.

- Se eu voltar, você fica aqui? - Era a minha condição. 

- Não. - Droga. Ela parecia irritada.

- Aish! - Fui para o banheiro. Precisava de um banho. Aliás, nós dois precisávamos de um banho e, preferencialmente, juntos. Notei que estava sem toalha, então gritei para ela. Quando abriu a porta perguntei de uma forma maliciosa, mas contida:

- Pega uma toalha para mim? 

Mariana somente fez o que pedi, não me encarou, não me tocou, não me desejou, não esbanjou nem um sorriso. Virou as costas e se pôs a arrumar seus cosméticos. 

- Eu não causo mais nenhuma reação em você? - Reclamei colocando as mãos na cintura e saindo do box com a toalha no pescoço. É sério isso, Mariana?

- Não fale bobagem... 

- Aish! Tem muita gente que daria tudo para ver isso que você tá desprezando! - Falei no impulso, pois me sentia ridiculamente esnobado pela minha própria namorada.

- Então vai mostrar para quem quer ver! - respondeu de forma irritada, se retirando e batendo a porta do banheiro atrás dela.

Esperei alguns minutos e quando fui me deitar, ela já estava encolhida no seu lado preferido da cama, ou seja, eu deveria manter a distância. Que sensação péssima. Eu não conseguia dormir de jeito nenhum com aquele clima pesado entre nós. Não sei exatamente quanto tempo se passou, mas sem aguentar mais, eu arrastei meu corpo silenciosamente até o dela e a puxei para mim, ela cedeu e se virou, encaixando seu rosto entre meu queixo e meu peito. É claro que ela estava dormindo, caso contrário, imagino que teria me empurrado. Agora que estava aninhado com ela, podia dormir, mas não queria mais. Lutei contra o sono para aproveitar cada segundo do seu corpo, do seu cheiro doce e da sua respiração morna. Eu sei que não éramos um casal há tanto tempo assim, mas eu já não sabia mais viver sem a presença dela. 

Inevitavelmente acabei dormindo e só acordei quando senti que Mariana tinha despertado e tentava lentamente se afastar de mim. Fingi que não estava consciente e a apertei contra meu corpo. Foi quase um movimento instintivo, pois era sempre eu quem insistia todos os dias para ficarmos mais um pouquinho na cama. Ela acabou cedendo e ficando mais alguns minutos ali, aquilo me deixou tão feliz. Acabei adormecendo novamente, mas antes tive a sensação que ela havia dado um beijo no meu peito. Será?

Quando acordei novamente, me sentia mais esperançoso e decidido a me resolver com ela. Tateei a cama e não a encontrei. Na verdade, não a encontrei em nenhum cômodo. Era perto do meio dia, deduzi que ela deveria ter ido almoçar. Aish! Custava me chamar? Minha gota de esperança agora também tinha ido pelo ralo. Tomei banho, peguei minhas coisas e fui pro Hannam. Não conseguia medir o tamanho da minha frustração. 

Eu odiava fingir que estava tudo bem, quando não estava. Porém, fiz isso tantas vezes que acho que aprendi como me comportar na frente de outras pessoas. Dos hyungs, contudo, não tive como esconder. Quando cheguei com minha mala no nosso apartamento, eles me olharam preocupados, perguntando se estava tudo bem comigo e com Mariana. Pela minha cara deduzo que eles entenderam na hora que eu não estava ali de livre e espontânea vontade. Na verdade, eu estava bravo e triste.

- Não se ofenda. - Suga hyung me disse depois de ouvir minha versão daquele caos. Provavelmente ele iria ferir meu orgulho gentilmente,  como de costume. - Eu acho que a Mariana foi bem madura e não acho que ela está errada. 

- É verdade. - Jhope concordou e os demais também assentiram com a cabeça. 

- E ela não terminou o namoro, nem nada do tipo, apenas se preocupou com coisas que você aparentemente não têm se preocupado. - Ele continuou. 

- Mas eu... - Tentei argumentar e falhei.

- Isso é para o seu bem e para te fazer crescer, Jungkook-ah! Com certeza é essa a  atitude que Mariana espera de você. - Namjoon finalizou. 

Eles estavam certos. Ultimamente eu acabava dizendo coisas sem pensar para Mariana o tempo todo e tudo o que eu dizia, só piorava a situação. Eu precisava mostrar que tinha amadurecido, por isso, resolvi que iria dar um tempo para ela. Foi difícil não ligar e nem mandar mensagens, eu me controlei bastante para não pegar meu carro e ir até o apartamento dela no mesmo dia, quando ela me mandou foto contando que tinha dado tudo certo sua mudança. Foi ainda mais difícil quando ela me mandou mensagens carinhosas de boa noite e bom dia. Tentei parecer bem resolvido, por isso fui curto e direto nas respostas.

Sem desespero e sem drama, Jungkook!  Vai ficar tudo bem!

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Eu e o grupo voltamos a ensaiar e estávamos nos preparando para as programações do FESTA 2020 e também da BangBangCon The Live, nosso show inteiramente online. Eu estava 100% animado? Não. Eu continuava frustrado com minha vida pessoal, mas disfarcei. Sabia que acabaria me encontrando com Mariana na Big Hit, pois ela iria fotografar os bastidores. Estava ansioso para vê-la e quando a vi, toda de preto, com os cabelos dourados parcialmente presos e seu equipamento fotográfico preso ao corpo, meu coração pulou algumas batidas. Dois dias sem nos falarmos direito tinham sido nosso record e eu estava odiando com todas as minhas forças aquela situação. 

Mariana é sempre muito profissional nos sets e quando estamos trabalhando. Afinal, poucos na empresa sabem sobre nosso namoro. Fomos orientados a evitar muita proximidade, por isso não estranhei ela não vir para o meu lado, porém, alguma coisa me dizia que havia algo mais. Ela estava muito pálida e abatida. Mal tínhamos começado o ensaio gravado, quando a vi correr para fora do estúdio. Alguns staffs se olharam inquietos e um deles a seguiu. Não demorou para que Kwon Sob, o diretor de imagem notasse que sua fotógrafa - aparentemente favorita, tsc! - estava faltando. Eu tentei não parar meus movimentos, mas vi quando ele a procurou no recinto e também vi quando um staff entrou correndo e foi até ele. A música parou bem a tempo e eu pude ouvir quando ele falou nervoso:

- É a fotógrafa estrangeira... Ela está vomitando sem parar e disse que está sentindo muita dor. 

Eu não fui o único a ouvir, automaticamente Sejin olhou nervoso para mim, assim como os demais membros, provavelmente esperando a minha reação. Sob-ssi porém, saiu imediatamente do estúdio. Jin hyung me encarava e sinto que ele teve coragem para falar em voz alta o que todos os outros pensaram naquele instante:

- Por favor, me diga que você não engravidou ela...

- Que? N-Não! N-nós semp-pre usamos preservativo! - Eu hesitei e gaguejei demais. Não estava pensando que poderia ser um bebê. Poderia ser um bebê? Aigoo! Meu coração parecia que ia sair pela boca. 

Os hyungs falaram mais algumas coisas que eu não consegui ouvir direito, porque disparei atrás de Mariana, mas posso jurar que Namjoon me pediu para ficar calmo. Era impossível atender seu pedido e eu duvido muito que eles conseguissem se acalmar também. Quando saí do estúdio, vi Mariana sentada numa cadeira, do lado de fora de um dos banheiros e pude a ouvir dizer que não conseguia se levantar. A cena que aconteceu em seguida foi Kwon Sob a pegando em seus braços. Ela se  encolhia de dor, a ponto de parecer tão pequena e frágil no colo do diretor. 

- Jungkook, não se preocupe, ela vai ser levada para o hospital agora. - Disse assim que me viu, rumando em direção à saída.

- Não! - Eu gritei e me coloquei na frente deles. - E-Eu posso fazer isso! Me deixa cuidar dela! - Acabei soando um pouco rude. Falei alto e nervoso.

- E o que vai fazer Jungkook? Chegar no hospital carregando uma moça nos braços e ser matéria em todos os jornais e blogs de fofoca do mundo? - Sejin tinha corrido atrás de mim, sem que eu sequer o visse, segurava firme meu braço. Eu sabia que havia muita coerência em suas palavras, mesmo assim,  estava difícil de processar tudo aquilo. Continuei parado olhando para Kwon Sob que me encarava com os olhos arregalados, ele estava visivelmente muito preocupado e não era comigo. Era com minha namorada. Aqueles segundos pareceram a eternidade.

Quando Mariana gemeu de dor e se encolheu ainda mais, apertando seus braços ao redor dele e escondendo seu rosto em seu peito, foi quando eu caí na real.  Eu não sei descrever aquela sensação, mas meu coração se partiu em vários pedaços e não era porque minha namorada estava aninhada nos braços de outro homem, mas sim porque outro homem tinha sido mais ágil e cuidadoso com ela do que eu e, sinceramente, aquilo era tudo o que ela precisava naquele momento. Impotente eu concordei, assentindo com a cabeça, guardando dentro de mim todas  as palavras que queria gritar. Sabia que iria desabar se falasse qualquer coisa. 

Quando me afastei para o lado, abrindo passagem para eles, ganhei de Sejin um singelo tapinha nas costas. Não sei se ele me entendia ou estava apenas satisfeito por eu ter cedido. Kwon Sob saiu apressadamente com Mariana no seu colo, desviando alguns funcionários pelo corredor até que sumiram da minha vista. 

Eu a perdi de minha vista e aquilo foi doloroso. Muito doloroso.