— O que acha desta, querido? — minha avó apontou para uma camiseta fina.
Estávamos fazendo compras na Forever 21 do shopping. Minha avó parecia muito animada na nossa tarde de compras — como ela chamou — e eu adorei ser paparicado por ela.
— Eu não sei — fiz uma careta —, muito sem graça.
Minha avó soltou o tecido verde e então pegou no meu braço.
— Eu gostei daquela calça ali — apontei com o queixo para uma calça jeans desfiada no joelho esquerdo.
Ela analisou a roupa semicerrando os olhos e com o dedo levantou a grade dos seus óculos que pendia sobre o nariz.
— Não acha isso muito largado? — ela me encarou séria.
Sorri e beijei a sua testa.
— Está ótimo para mim.
Passamos a maior parte da tarde discordando no quesito roupas. Parecia que ela queria me vestir como o meu pai se vestia, com ternos e coletes luxuosos. Eu tinha muito dele, os olhos, sorriso — o rosto em geral —, o mesmo corpo, mas eu claramente não era como ele. Acredito que cada pessoa é um universo singular, e universos nunca se igualam um ao outro.
Em um restaurante, pedimos um jantar simples e conversamos bastante.
— Como está o vovô? — eu quis saber, antes de colocar uma garfada de frango grelhado na boca.
— Não tenho notícias dele há um bom tempo — minha avó cortou sua carne —, mas, se desejar, posso convidar Steven e sua esposa para o natal.
Eu me surpreendia com a atitude da minha avó, era separada do marido e mesmo assim, não se importava de a atual esposa dele entrar em sua casa. Quer dizer, não é assim com todo mundo, não é?
— Eu não vou para a Inglaterra nesse natal — falei.
— Por quê? — ela arregalou os olhos e parou sua mão no meio do caminho até sua boca.
Cocei minha cabeça, eu não queria que ela pensasse que eu a estava abandonando. Eu sempre passava o natal com os Traynor e as comemorações de ano-novo com os Clark. Era como uma guarda compartilhada de boas festas. Eu queria ver só, também, como os meus avós maternos reagiriam ao saber que a minha mãe não me permitiria vê-los este ano.
— Minha mãe me castigou, por ter causado o acidente de carro.
Minha avó colocou o garfo ainda cheio de volta no prato e bufou.
— Tudo bem, você errou feio, mas a Louisa não pode lhe impedir de passar o natal conosco, o que os pais dela irão pensar também?
Eu juro que não quis falar isso, porque doía só de pensar.
— Na verdade ela quer me proibir de visitar o túmulo do meu pai. Disse que ele não teria orgulho de mim — baixei a cabeça e encarei o prato quase terminado. De repente, não senti mais fome.
— Quem ela pensa que é? Ben, você é um orgulho para mim e o William certamente seria honrado em lhe conhecer — minha avó tocou minha mão e senti meus olhos marejados. Nunca fui de chorar, por isso fiz o máximo para não deixar as lágrimas caírem.
Minha avó colocou minha cabeça no meio de suas mãos e a levantou para eu olhá-la.
— Eu vou resolver isso.
***
Na segunda, Emma entrou sorridente na sala e acompanhada de um amigo paraplégico. Ela estava sorria e não pude deixar de retribuir. Era maravilhoso vê-la daquela forma. Seus olhos verdes brilhavam como uma joia.
— Esse é o Matty — ela apresentou-me o cara com óculos grossos.
O rapaz sorriu e me estendeu sua mão.
— Sou o Benjamin.
Eles olharam-se cúmplices e pensei no que poderia estar rolando entre os dois. Pensei no que ele teria feito para deixar Emma contente e principalmente, que era eu quem deveria ter feito algo para animá-la, afinal, eu era o culpado pelo que lhe tinha acontecido. Sem pensar duas vezes, me dirigi para perto dela e pousei um leve beijo em seu rosto macio. Emma sorriu tímida e Matty desviou o olhar.
— Vamos começar? — pedi e ela fez um sim com a cabeça.
Ao longo de seu alongamento, Emma explicou que Matty era um amigo da sua rua e ele esclareceu-me sua situação, me dizendo que era paraplégico desde a infância, por conta de um acidente de carro que sofreu com os pais. Matty já estava conformado.
— E é isso que você quer que a Emma também faça, se conforme? — falei um pouco mais alto do que gostaria.
Ele não respondeu, apenas me encarou surpreso.
— Benjamin! — Emma falou em tom de repreensão.
— Você não tem que se conformar com isso, Emma! Você deve lutar até conseguir.
Emma levantou os ombros como se eu fosse ingênuo.
— E o que é que eu estou fazendo, se não lutando? Inclusive — ela apontou para Matty —, ele me incentiva todos os dias a continuar aqui.
Olhei para o cara e ele desviou seu olhar do meu.
— Você não pensou em desistir, não foi? — disse, quando voltei a encará-la.
Emma pareceu pensar em sua resposta, mas não demorou muito para responder.
— Pensei, mas mudei de ideia logo depois.
Comecei a pensar nos motivos que a fizeram continuar e um me chamou a atenção. Será que ela estava sentindo a mesma coisa que eu estava? Pensei em Emma direcionando seus pensamentos a mim e querendo continuar por mim. Será que eu seria um bom motivo para que ela tentasse ficar boa? Eu merecia essa consideração?
— Eu nunca desistiria sabendo que existem crianças que sentem falta das minhas aulas.
Não, eu não merecia.
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