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História Eu e Você na Terra dos Girassóis - Mal que me quer


Escrita por: Tinkerbaek

Notas do Autor


OLÁ, PESSOAS!

Ok, ok.... Eu dei uma demorada legal dessa vez, né? Peço até desculpas por isso, além de passar mal dias atrás eu fiquei com uma dificuldade tremenda de finalizar o capítulo. Não sei se já falei isso, mas eu já tinha parte pronta, às vezes eu pego e escrevo partes fora de ordem, sabe? Mas esse capítulo foi muito complicado de finalizar mesmo com metade já feito, e eu reescrevi um monte de coisa porque não tava gostando de como tava ficando... Ugh... Então realmente quero me desculpar pela demorinha, mas cá estou!

E EU TO DE NOVO ATRASADA COM OS COMENTÁRIOS DO CAPÍTULO ANTERIOR ;A; mas vou responder! Só to correndo pra postar logo porque enrolei demais e to terminando de fazer minha jantinha. Agradeço paciência de vocês e agradeço os comentários pois amo todos ;A; fico feliz com eles.

Enfim, chega de enrolação!

Capítulo 10 - Mal que me quer


Fanfic / Fanfiction Eu e Você na Terra dos Girassóis - Mal que me quer

Quando você é pequeno, muitas coisas parecem simples. Acordar, tomar café da manhã, brincar, estudar, dormir… A vida de uma criança costuma ser essa simplicidade, onde não há uma dificuldade em encontrar um dia de felicidade. Ser muito novo te salva de um mundo de questionamentos, pois ainda não há uma capacidade de julgamento bem formada na mente.

Crianças não sabem o que é certo e errado se não lhes forem dito, crianças são puras e não veem a podridão do mundo. Elas veem flores… E as flores podem ser girassóis que, de tão bonitos e encantadores, enganam a visão de uma pessoa pura que ainda não tem discernimento suficiente para ver que as raízes estão podres.

***

Naquele mesmo dia, após todos irem dormir, Chanyeol e eu nos encontramos às escondidas. Segurávamos nossas lanternas com luzes já fracas, em meio à escuridão das árvores. Estava um pouco frio e ele tremia, mas sem parecer se importar, sua expressão quase vazia me fez perceber que qualquer influência externa não parecia tão incômoda quanto o peso que estava em nossas costas. Mesmo assim, o abracei, tentando aquecê-lo, e seu corpanzil grande se inclinou sobre mim, deitando a cabeça em meu ombro como se precisasse de amparo (o que, na verdade, nós dois precisávamos).

“Baekhyun… Vamos embora.” Sua voz parecia estranhamente calma. Ele suspirou fundo, apertando minha cintura.  

“Como…?”

“Vamos embora daqui. Ninguém pode impedir, somos maiores de idade.” Sugeriu e por um segundo eu gelei. Aquele pedido era sério, sua voz nunca soara tão firme e eu percebia que seus batimentos cardíacos aumentaram. Ele se afastou um pouco e segurou meu rosto e pude vê-lo lacrimejar. Senti seus dedões acariciando meu rosto enquanto esperava uma resposta minha.

“E pra onde a gente vai…?” Perguntei, trêmulo. Aquilo pareceu ter surpreendido Chanyeol, e de uma forma não muito boa. “Não temos dinheiro, não temos onde morar. Como vamos conseguir andar 50 metros pra fora…?” Apesar da minha vontade de chorar, segurei-me. O que eu dizia era a mais dolorosa verdade.

Muitos poderiam se perguntar o motivo de não sair dali antes. Seria simples, não? Fugir de toda a dor sem olhar para trás. Mas como era olhar para frente? Dois jovens que mal terminaram a escola, sem um tostão no bolso. Eu teria que deixar meu irmãozinho e, apesar de tudo, deixar minha mãe… Na minha cabeça, era capaz de ver ambos chorando, buscando por mim. Não havia garantia de sobrevivência, poderíamos simplesmente terminar nas ruas, sem rumo...

Porém, eu estava condenado a uma vida de medo, fingimentos. A minha frente, em Vale das Glórias, só havia o futuro ao lado de uma moça que eu sequer conhecia direito, provavelmente com muitos e muitos filhos, repetindo os mesmos trabalhos diários, vestindo as mesmas roupas, cantando os mesmo louvores como um robô… Um dia-a-dia de mentiras, lutando contra algo obscuro que tinha a possibilidade de crescer dentro de mim e se expandir, tomando minha mente, minha felicidade, sugando tudo o que me fazia sorrir.

No final das contas, as duas decisões eram assustadoras, e eu deveria decidir qual das duas era a menos dolorosa, pois não havia uma escapatória onde o medo do futuro não estivesse incluído.

“Eu tenho um primo que mora há umas duas horas daqui, de carro… Se pudéssemos ligar pra ele, poderíamos pedir ajuda…” Ele insistiu, ainda segurando meu rosto entre suas mãos. Seus olhos castanhos brilhavam com as lágrimas, e eu soltei um soluço, tentando prender meu próprio choro. Aquela situação era uma bagunça completa. Era cruel, dolorosa, e minha vontade era de sumir da face da terra, pensando que talvez toda aquela angústia pudesse, por fim, sair da minha alma.

“Chanyeol…” Falei, minha voz soando muito aguda por tentar não chorar. Toquei suas duas mãos e as tirei do meu rosto, porém as segurei entre meus dedos. Eu olhava para baixo, fazendo o possível para manter o mínimo de firmeza que ainda possuía.

“Baekhyun… Não podemos ficar aqui, nós…” Ele suspirou fundo, balançando a cabeça. “Quero que você vá comigo… Eu te amo e sei que você sente o mesmo, mas não podemos continuar nesse lugar… Eu não posso continuar nesse lugar!” Sua voz soava um pouco impaciente e não podia culpá-lo. Não conseguia imaginar o que se passava em sua mente ao me ver parecendo indeciso. Mas estava assustado, e nenhuma decisão parecia boa suficiente… Minha verdadeira vontade era de poder ser livre, mas ter a segurança do meu lar, o amor dos meus pais, dos meus irmãos e o amor dele. Sem julgamentos, sem o pavor de um castigo divino e de uma rejeição por todos os lados.

Contudo, não havia essa opção. Ela era apenas um sonho que não se realizaria.

“Eu não sei o que fazer…” Murmurei, mais para mim mesmo do que para Chanyeol, porém ele me ouviu e seus olhos se arregalaram em uma expressão de choque. O corpo magro dera um passo para trás, e sua mão não segurava mais a minha, por mais que eu ainda a mantivesse presa entre meus dedos.

“Você não quer ir embora daqui? Prefere ficar?” Ele questionou, parecendo prestes a chorar ainda mais.

“Chanyeol… Eu to assustado, eu não sei o que pensar, eu não…” Porém, ouvi um soluço sair de sua garganta. Ele balançava a cabeça negativamente ao soltar-se de minhas mãos e caminhar para trás. Sua expressão era de completa decepção e aquilo fez com que meu coração se  partisse em milhões de pedaços, pois nunca recebera aquele olhar dele antes. “Chanyeol, por favor…” Tentei chegar perto, mas ele continuou andando para trás, parecendo fugir de mim. Ele enxugou o rosto rapidamente e voltou a me olhar.

“Boa noite, Baekhyun.” Ele disse, antes de virar de costas e correr.

“Chanyeol!” Gritei, chocado com aquela reação. Tentei correr atrás dele, porém não fui rápido o suficiente, sua silhueta alta desaparecera na escuridão e eu acabei desabando no chão, deixando que o choro saísse de meus pulmões. “Chanyeol!” Chamei com a voz aguda, soluçando em seguida. Me senti desamparado e perguntei-me se Deus havia me abandonado… Era tanta infelicidade se cravando em meu peito que chegava a doer.

Joguei-me na grama, deixando que o peso do meu corpo me levasse ao chão em um baque abafado, porém doloroso e chorei, sem me mexer, por um longo tempo, até que a fraca e tímida luz do sol nascente iluminasse vagarosamente o local. Foi apenas nesse momento em que criei forças para levantar e voltar para minha casa, antes que todos pudessem despertar.

Minha alma, porém, continuava caída sobre a relva verde.

***

“Baekhyun, querido, não vai comer nada? Já é o segundo dia que você não come...” Ouvi minha mãe falar, sua voz parecia distante, como se estivesse há metros de distância de mim. Minha mente não estava presente fazia algum tempo desde a manhã cedo, e até o momento não havia falado com Chanyeol.

“Vou…” Respondi, falando baixo, olhando para o prato e encarando a comida que não parecia nada apetitosa. Meu pai estava à mesa conosco, e ao menos não falava muita coisa, já que ele apenas murmurou que passava da hora de eu me casar e que era normal ficar meio assustado no início.

Quatro dias se passaram, e eu só havia conversado com Chanyeol no dia em que nossos noivados foram anunciados. Desde então, não fui capaz de falar com ele a sós novamente, mesmo após nosso horário de estudos finais e nossa formação em trabalhos manuais, já que o pastor lhe chamara para ter aulas sobre educação religiosa, juntamente com seus pais. Se ele ia se casar, deveria ser batizado em Vale das Glórias, o que ainda não havia acontecido.

Tentei procurá-lo no refeitório, apenas vasculhando o local com os olhos, até encontrar o semblante exausto daquele rapaz que eu tanto amava. Chanyeol estava com os olhos inchados, avermelhados, com profundas olheiras e seus lábios pareciam secos. Meu coração apertou ao vê-lo daquela maneira. Queria correr e abraçá-lo, beijar seu rosto e segurá-lo em meu colo, pedir perdão por tê-lo deixado daquela maneira, mas infelizmente só pude olhar, de longe… Respirei fundo, fechando os olhos e abaixando a cabeça, tentando conter as lágrimas, pois mesmo chorando até dormir na noite anterior não fora o suficiente.

“Filho?” Minha mãe chamou mais uma vez.

“Hm…?” Respondi, falando baixo. Naquele momento, senti minha cabeça girar um pouco e o corpo tremer, então mantive os olhos fechados, tentando me manter firme.

“Baekhyun, meu bem, você não está comendo direito há quatro dias, parece pálido. Ontem  e hoje você trabalhou na construção, não foi? Não pode só beber água…” Pisquei algumas vezes em sua direção, dando um suspiro fundo em busca de mais ar. Algo parecia errado, mas não conseguia identificar o quê.

“Eu to comendo…” Consegui dizer, colocando algumas ervilhas na boca e mastigando-as. Mas minha visão embaçava, e parecia difícil levantar o garfo. Então, me levantei de supetão, assustando todos a minha volta. “Preciso ir ao banheiro.” Disse, sem perceber que havia quase gritado. Não pude entender o que minha mãe e meu pai haviam dito, pois já estava andando rápido, cambaleando, em direção ao banheiro mais próximo do refeitório.

Minha visão ainda estava muito embaçada e todo meu corpo parecia sensível demais, chegava a ser doloroso. Precisava chegar logo para, ao menos, me apoiar na pia e molhar o rosto, precisava respirar direito e parar de tremer. Contudo, um pouco antes de conseguir chegar ao local, uma figura feminina se pôs a minha frente.

“Baekhyun, olá…” Ouvi sua voz dizer. Tentei manter a postura e apertei os olhos, percebendo que se tratava da última pessoa que gostaria de ver no momento… Boram não tinha culpa de ter sido escolhida como minha noiva, e eu não a odiava, mas vê-la na minha frente, naquelas condições, não era bem o que eu precisava.

“Boram… Agora não é uma boa hora…” Disse, sem saber se conseguia manter a compostura.

“Eu só queria saber se… Podíamos conversar depois do almoço, se tiver tempo. Já que vamos ser marido e mulher, talvez fosse bom se-”

“Boram…” Cortei, falando um pouco mais alto enquanto fechava meus olhos, respirando fundo e apoiando o ombro na parede. “Depois, por favor…” Sequer esperei que ela dissesse mais alguma coisa e passei por seu pequeno corpo, tentando caminhar o mais rápido possível até o banheiro. Porém, ao tocar a maçaneta da porta, tudo escureceu, e apenas escutei alguém gritar meu nome antes que eu perdesse os sentidos.

***

Quando meus olhos se abriram, não me sentia descansado. Demorei um pouco para perceber, porém, que estava no meu quarto, deitado confortavelmente sobre minha cama e coberto quase até o pescoço com um lençol. A bíblia de minha mãe estava em cima da mesinha ao lado, juntamente com o lenço que ela carregava consigo para cima e para baixo, o qual geralmente usava para limpar suas lágrimas.

Pisquei algumas vezes, ouvindo algumas vozes do lado de fora e olhei na direção em questão, vendo a porta aberta e meus pais discutindo algo. Não pude compreender o que era dito, mas ouvi meu progenitor bater com força a porta de seu quarto, deixando minha mãe parada no meio da sala, parecendo aborrecida e assustada, até que seu rosto se virou em minha direção.

“Filho!” Ela disse, entrando meu meu quarto e sentando-se ao meu lado. “Ah, graças ao Senhor!” Exclamou, fazendo carinho em meu cabelo. “Você não sabe o susto que meu deu! Eu sabia que ia passar mal por não comer, sabe a sorte que teve de um dos irmãos te segurar antes que caísse no chão?! Poderia ter batido a cabeça e se machucado de verdade! Não gosto nem de pensar!”

“Desculpe.” Não sabia ao certo o que responder além daquilo, então apenas me acomodei mais na cama, ainda me sentindo exausto e dolorido. Olhei para o relógio ao lado e assustei-me ao perceber que já passava da meia noite. Minha mãe parecia cansada e Jongdae provavelmente já estava no segundo sono, pois não o via por ali.

“Amanhã você vai ficar em casa, tudo bem?” Ela disse, segurando uma de minhas mãos e acariciando-a. “Já avisei ao pastor. Você vai receber seu diploma da escola sem nenhum problema e…” Ela engoliu seco, mudando a expressão para um misto de tristeza e decepção. “Tiveram que adiar seu casamento. Parece que seu aquele amigo também está passando mal.  Talvez seja uma virose, já que esfriou de repente e vocês tem trabalhado muito…”

“Chanyeol tá doente?!” Perguntei, preocupado. Tentando me sentar, mas minha mãe franziu o cenho e empurrou-me de volta.

“Parece que sim, mas por que essa preocupação toda? Você tem que se cuidar primeiro!” Ela reclamou, e percebi que talvez pudesse ter transparecido minha preocupação em demasia.

“Eu…” Tentei me explicar, mas resolvi mudar de assunto rapidamente. “Pra quando remarcaram a cerimônia…?”

“Para o outro domingo.” Ela respondeu.

Aquela informação me agraciara com um pingo de alívio. Não era muito, mas era o suficiente para respirar fundo e sentir um pouco do meu desespero desaparecer. O que eu sentia, na verdade, era uma leve esperança… Não sabia ao certo que tipo de esperança, mas ela estava lá, surgindo no fundo do meu coração.

“Durma, querido, tudo vai ficar bem.” A voz de minha mãe soava calma e, por alguns segundos, acreditei em suas palavras e sorri, fechando os olhos e deixando que o sono me levasse para longe novamente.

Acordei apenas horas depois, sentindo aquela mesma confusão e peso em meu corpo. Olhei para os lados e percebi que Jongdae não estava em seu berço. Do lado de fora, não havia barulho, então virei em direção ao relógio, vendo que já passava das dez da manhã. Ao lado dele, um pequeno bilhete descansava em cima da madeira.

Era de minha mãe, avisando que me deixaria sozinho pelo resto do dia, já que eu parecia melhor. Ela tinha de trabalhar, assim como meu pai, então sabia que minha progenitora estava, naquele horário, ou cuidando das crianças pequenas na creche, ou preparando o almoço.

Naquele instante, contudo, ouvi uma batida na porta. Levantei, ainda um pouco fraco e fui até a entrada de meu apartamento. Imaginei que pudesse ser minha mãe trazendo algo para que eu comesse, mas me surpreendi quando abri e me deparei com aquela senhora a minha frente, segurando uma bandeja de comida, ao lado de seu filho.

“Chanyeol…?” Perguntei, surpreso.

“Olá.” Sua voz grave murmurou. Há quatro dias não nos falávamos e vê-lo assim, com o semblante cansado, machucou mais uma vez meu coração. Mas, infelizmente, eu não podia fazer nada naquela situação, então somente me afastei, sorrindo.

“Entrem.” Disse, deixando que ambos passassem e ficassem parados no meio de minha sala. “Eu não esperava visitas…”

“Sua mãe está muito ocupada, então como você e meu filho são bons amigos, resolvemos trazer seu almoço. Ela nos disse que não tem comido direito.” Olhei rapidamente para Chanyeol, tentando pedir algum amparo silencioso. Era incômodo estar com sua mãe ali. Não que eu a odiasse, mas sentia medo, não era nada confortável tê-la em minha casa.

“Ah, sim…” Respondi. “Obrigado por trazer, não precisava ter se incomodado.” Ainda tentando sorrir, dei uns dois passos para pegar a bandeja, esticando as mãos, mas minhas pernas falharam novamente e, por meio segundo, perdi meu equilíbrio. Contudo, Chanyeol fora mais rápido e conseguiu me segurar pelo braço com firmeza, parecendo assustado.

“Tudo bem?!” Ele perguntou, sem me soltar. Olhei rapidamente para sua mãe e gelei, apesar de sua expressão parecer preocupada, ela ainda me assustava.

“Querido, você realmente precisa comer.” Ao deixar a bandeja em cima da mesinha de centro, ambos me ajudaram a sentar no sofá. “Posso pegar um pouco de água pra você?” Ela questionou, e eu assenti com a cabeça. Ao se virar de costas, meu olhar se cruzou com o de Chanyeol, que apesar de exausto, ainda continuava bonito como sempre. Desejei ver seu sorriso, sentia falta daquela pequena covinha, mas era óbvio que isso não aconteceria.

Ele ainda me segurava pelo cotovelo, todavia, sua mão direita foi ao próprio bolso da calça e, antes que sua mãe pudesse voltar, colocara um pedaço de papel em meu punho. Meu coração bateu forte ao notar que a senhora voltava, consegui guardar o recado em meu próprio bolso, sem que ela notasse.

“Aqui, querido. Beba.” Um pouco trêmulo, segurei o copo e dei alguns pequenos goles, agradecendo-a depois. “Espero que coma tudo e descanse mais um pouco. Preciso voltar pra cozinhar agora, e sua mãe deve estar ansiosa pra saber se está tudo bem com você. Não a deixe mais preocupada, certo?” Assenti silenciosamente, dando mais um sorriso forçado. “Vamos, filho. E que o Senhor te ajude a melhorar, vamos orar bastante!”

Assisti a mulher sair primeiro por minha porta, até que Chanyeol a acompanhou. Por um breve momento, ele se virou de costas, olhando-me pela frecha da porta, até finalmente fechá-la.

Joguei-me totalmente no sofá, sentindo o coração bater forte. Respirei fundo algumas vezes, até tomar o papel de meu bolso e abri-lo. Ainda estava trêmulo, afinal, estava fraco e assustado com a situação de pouco tempo atrás, mas tomei coragem para ler de uma vez o que Chanyeol havia escrito.

“Baekhyun… Eu não sei direito o que está acontecendo entre nós dois, mas passar esses dias afastado de você foi mais cansativo e doloroso do que podia imaginar. Não posso forçá-lo a nada, e não posso te cobrar sacrifícios que não queira fazer… Amar alguém não é pra ser assim, não é se sentir forçado a fazer nada… E eu não quero te forçar a nada, saiba disso.

Só acho que deveria avisar que consegui entrar em um dos escritórios com telefone e falar com meu primo. Em quatro dias, ele vai aparecer no terminal de ônibus aqui da cidade pra me buscar. Até lá, se quiser ir comigo… Me encontre três e meia da manhã no canto direito do portão de entrada da comunidade.

E por favor, se alimente… Não suporto te ver assim e não me faça chorar por ter ver desmaiar. Espero que não tenha problema em dizer que eu te amo…”
 

Minhas mãos tremiam ainda mais ao segurar aquele pedaço pequeno de papel. A letra de Chanyeol era fina e ao mesmo tempo parecia ligeiramente infantil por ser redondinha. Dobrei o recado novamente e segurei forte em meu punho, apertando contra o peito. Fechei meus olhos e tentei me acalmar, relembrando seu abraço enquanto tentava tomar a decisão mais difícil de toda minha vida.

No dia seguinte, parte das minhas forças haviam voltado, e me encontrava sozinho novamente. Meus pais não poderiam parar de trabalhar para cuidar de mim, o máximo que faziam eram orar por minha saúde e esperar que eu melhorasse logo. Então não foi surpresa ao ver minha mãe aparecer, feliz, com uma bandeja de comida. Mas ela rapidamente voltara para a cozinha após me dar um beijo na testa, sorrindo e avisando que tinha conseguido colocar uma porção a mais de batatas sauté, pois sabia que eu adorava.

Alguns minutos se passaram enquanto eu comia, vagarosamente. Em outras ocasiões, eu ficaria contente em estar sozinho, já que poderia dar um jeito de me esconder na sala de música ou descansar em meio aos girassóis, mas sabia que ainda não tinha forças o suficiente para isso, e que minha cabeça parecia prestes a explodir com tantos pensamentos sufocantes que me assombravam.

Porém, ouvi batidas na porta. Franzi o cenho, talvez minha mãe tivesse esquecido algo, então me levantei o mais rápido possível para atender, e acabei me deparando com o corpo alto e esguio a minha frente.

“Chanyeol…” Falei mais para mim mesmo. Olhei rapidamente para os lados, ele não estava acompanhado.

“Posso entrar?” Perguntou, e eu sequer hesitei em deixá-lo passar, batendo a porta rapidamente, encostando na mesma após fechá-la. Ele parou no meio da sala e eu o olhei, sentindo o coração bater forte. Seu rosto ainda estava fundo de cansaço, Chanyeol não parecia muito bem, mas aparentava estar menos pior que eu, o que já me deixava menos preocupado. “Sinto sua falta…” Ele disse, murmurando as palavras. “Eu sei que não deveria estar aqui e espero que saiba que não vim pra te pressionar, eu só queria te ve-”

Chanyeol não fora capaz de terminar sua frase, pois apressei-me a andar e puxá-lo para um beijo. Ele cambaleou, mas rapidamente abraçou-me pela cintura para retribuir. Pela primeira vez, eu o beijava com certa dor no coração, juntamente com uma saudade absurda que havia crescido em meu peito.

Separei nossos lábios, pois queria olhar para seu rosto. Toquei sua bochecha, sentindo o calor que ela emanava, enquanto Chanyeol fechava os olhos e suspirava, apoiando a cabeça em minha palma. Contudo, eu não esperava que algo me puxasse pela parte de trás de minha camisa, me fazendo perder o equilíbrio e cair no chão.

“Não encoste no meu filho!” Ouvi a voz gritar e meu coração saltara para minha garganta enquanto eu tentava processar o que havia acontecido. O pânico me paralisou, e mal pude perceber quando Chanyeol tentou correr em minha direção para me levantar, mas sua mãe o agarrara pelo braço, dando-lhe um tapa forte no rosto. Ela gritava como uma louca, e eu não conseguia sequer me mexer.

Tentei respirar normalmente, mas estava hiperventilando. A voz grave de Chanyeol se misturava com de sua mãe, que o puxava para fora, ambos berrando tão alto que tornava aquele pandemônio ainda mais assustador, até que eles se afastaram e o silêncio veio… Um silêncio aterrorizante, que parecia me esmagar com suas mãos pesadas, e que me jogaram em um beco sem saída.

A única coisa que conseguia pensar era que estava condenado...

***

Há um ditado que diz que depois da tempestade, vem a bonança. Minha mãe gostava de usar aquela frase quando algo dava errado, alegando que tudo iria melhorar, que era tudo por um propósito, para testar nossa fé ou nossa força de vontade. Eu nunca questionei tais palavras, afinal, fazia sentido… Mas, naquele momento, me perguntei se talvez fosse possível a bonança vir primeiro, alimentando sua felicidade, até que a tempestade chegasse com sua chuva e vento fortes, alagando e destruindo tudo aquilo que te mantinha feliz.

E acabei chorando lágrimas de sangue, deitado no meio daquela sala com pouca iluminação, trancado como um prisioneiro. Encarava a porta sem maçaneta, aquela porta pela qual, anos atrás, Sehun provavelmente encarou por dias e dias. Eu iria sentir na pele tudo o que meu antigo melhor amigo havia passado e pelo mesmo motivo: por um amor que todos ali consideravam amaldiçoado…  

Eles iriam tentar arrancar o que me restava de esperanças, e com ela, minha alma… Ser um homem e amar outro na terra dos girassóis não era permitido, e eu iria pagar por isso.  

 

 

 


Notas Finais


Pronto, finalmente o capítulo 11 está postado! O que acharam?! O capítulo final já está no forno sendo preparado, então fiquem tranquilos!

Me perdoem meeeeeeeeeeeesmo pela demora pra postar e responder os comentários, mas vocês já viram que eu apareço, né? <3 Saibam que eu sou muito agradecida por estarem aqui comigo na jornada que é essa fic dhuisahduisahi obrigada mesmo!

Twitter @tiinkerbaek com dois "i"s


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