História Eu estou de volta, Sakura - CAPÍTULO XXVII

       Os dois seguiam rapidamente pela mata evitando a estrada principal. Não faziam barulho algum por onde passavam. As folhas e a relva mexiam violentamente quando dividiam o mesmo espaço por questão de segundos. Nem mesmo suas sombras tocavam as coisas ao redor. Ele a acompanhou até o fim do território de Konoha, como lhe fora permitido. Pararam no topo de um grande abismo. O chão descia abruptamente naquele ponto, cerca de duzentos metros em altura. A baixo um grande vale verde que corria reto até alcançar os pés de algumas montanhas distantes.

Apesar de parecer o fim do caminho, alguns metros ao lado havia uma estrada simples cavada no corpo do lugar que estavam. Essa descia até a área plana em vários ziguezagues. Era a partir dali que Haruno iria só e com o dobro de cuidado que normalmente tinha. O vento que batia no grande paredão subia ao céu. A moça virou para Kaito, que a encarava com um pouco de desconsolo.

- nos vemos em breve.

Sorriu pra ele confiante. Kaito ainda parecia um pouco preocupado, baixou a cabeça e soltou uma risada sincera – ta certo – voltou a fitá-la nos olhos. Aproximou de Sakura, o que causou uma leve palpitação dentro dela. Contornou o rosto da jovem com a mão e apertou sua bochecha com os dedos. Aquilo deixou uma marquinha vermelha e a fez soltar um “ai” de leve.

- tenha cuidado, ok?

A rosada seguiu para o início da estrada barrenta. Olhou-o mais uma vez com um sorriso simples nos lábios. Ele acenou com a cabeça e não se moveu mais. Então da forma como vieram, ela desceu a toda velocidade deixando pra trás um rastro de vento provocado pelo vácuo. Takamoto ficou lá parado apenas, já não era mais capaz de acompanhá-la com a vista. Aquela mulher era mais rápida que qualquer ninja que já tinha visto em ação. Cruzou os braços e riu de certa forma aliviado. Enfim tomou coragem de voltar a Konoha.

Sakura tinha um plano em mente e iria segui-lo. Quando Kakashi a instruía lhe deu permissão de executar tudo à própria maneira. Enquanto percorria a estrada sinuosa levava em consideração todos os pontos. Provavelmente demoraria um pouco para chegar ao vale. O documento que importava estava muito bem guardado em um bolso. A capa preta se debatia com a força do vento e fazia um barulho abafado. Ficara imaginando com aquilo, quantos lugares aquela bata já havia percorrido. Quantas historias ela havia conhecido “provavelmente viu mais o mar que eu”.

Com isso se tocou de que estaria numa cidade praieira. Sentiu muito por não poder aproveitar do mar por causa da missão, mas ficara feliz com a idéia de sentir o cheiro da água salgada mais uma vez depois de tanto tempo. Pra matar o tempo ficou se perguntando se tinha deixado alguma janela aberta ou alguma porta não trancada. Arrependeu-se de não ter pedido a alguém pra olhar sua casa, só pra garantir. Após certo tempo, chegou finalmente ao térreo. Parou lá embaixo e olhou para cima, toda a estrada que percorrera.

- nossa! A falta de prática me deixou lenta!

Voltou à atenção para a direção que seguiria. Uma longa planície verde e mais a frente uma floresta alta que fazia sombra em sua direção. O sol dava indícios de que iria descer. Apreciou o cheiro e a vista, mas por pouco tempo. Tinha que ser direta. Logo tomou a velocidade de antes e seguiu como de acordo no mapa.

Em Konoha, Takamoto chegava pouco depois de sua despedida com Sakura. Não sabia o quanto a moça já havia percorrido àquela hora, o sol se punha e pintava o céu de ruivo. Seus pensamentos estavam completamente focados nela. Gostaria com todas as forças ter acompanhado-a, todavia sabia que ela negara qualquer reforço ou ajuda. Incomodava-se com isso, mas respeitaria sua decisão. Por coincidência, enquanto voltava pra casa esbarrou com Ino. Ela acabara de sair do hospital, absolutamente cansada. O dia fora cheio.

Ao notá-lo, a moça loira se aproximou sorridente. Ele respondeu da mesma forma. Yamanaka bateu-lhe o ombro – como está? – ela queria saber até onde o amigo sabia dos passos de Sakura.

- faz tempo que não nos vemos Ino. Eu estou bem e você?

Aquela resposta denunciava: Kaito não sabia da noite louca de Sakura e Sasuke. Se soubesse não estaria tão tranquilo, não é mesmo? Sentiu certo alívio que deixou escapar em um suspiro leve. Ele estranhou a reação dela, mas não perguntou nada. Apesar disso a galega queria saber até onde Takamoto fora com a amiga.

- e você e a Sakura?

- nós o que?

- ah, você sabe... Rolou alguma coisa? Você tava tão apaixonado por ela, sei lá. Achei que iria investir tentar algo.

Falavam enquanto caminhavam juntos. Kaito ficou um pouco tímido com a aprofundada na conversa, sabia que Ino era curiosa e direta. Mas não era um homem de falar coisas que fazia na vida íntima.

- sim, eu ainda sinto a mesma coisa pela Sakura. Não é como se eu fosse conseguir conquistar ela de um dia pra noite, entende? Mas óbvio que eu não desisti.

Yamanaka coçou abaixo do nariz e deu um sorrisinho malino. Ele se intimidou com aquilo.

- o que foi?

- ah, nada... Mas sei que pra você ta com essa cara toda confiante aí, alguma coisa aconteceu.

Ele soltou uma gargalhada nervosa e alisou o cabelo desconcertado. Olhou para os lados, não teria como disfarçar. Era péssimo nisso.

- VOCE BEIJOU A SAKURA?! – Ino deu um grito baixo que não chamou atenção das pessoas à volta deles por sorte. Ele arregalou os olhos pra ela e franziu as sobrancelhas.

- AH-HÁ! Você acabou de entregar que sim! Eu quero saber como FOI!

- pode parar então de gesticular? Não é como se eu quisesse que a rua toda soubesse o que houve.

Ino fez uma boca de gato e apertou o olhar pra ele. Dava até para ver bigodes compridos saírem de suas bochechas brancas. Devagar Kaito desenrolou muito por cima o que havia acontecido. Falou que a levara ao parque e que lá acabaram se beijando.

- os lábios dela são tão macios... Estavam com gosto de algodão doce naquela noite. Mas depois disso não aconteceu mais nada. Não senti que ela tenha me dado brecha pra tentar algo outra vez.

Yamanaka o rodeou enquanto ouvia-o falar. Ele parou e colocou a mão no quadril – o que foi agora?

- você ta louco pra beijá-la de novo, não é?

- hmm...

- vai, admite! Eu sei.

Ele cobriu o rosto da moça com a palma e a colocou de lado. A amiga riu abertamente enquanto continuavam a andar. Não iria cair nas provocações dela.

- você disse que a Sakura não te deu mais nenhuma oportunidade, mas ela te dispensou?

- não. É só que a Haruno é um pouco indecisa, eu acho. Ela parece querer e ao mesmo tempo cria uma muralha envolta de si.

- você acha que se tentasse beijá-la de novo ela deixaria?

- que pergunta é essa? Eu não sei como vou saber?

Ino o encarou relativamente séria – por que não tenta?

Ele não soube como responder.

- Kaito, se ela não te disse nada então você tem certo passe livre.

- não sei. Você deve ter razão. A conhece há mais tempo que eu. Sabe Ino... – ele parou frente à própria casa, estavam na porta enquanto ele procurava as chaves no bolso – a Sakura parece sentir algo quando está comigo. Pode ser coisa da minha cabeça (Deus queira que não), mas acho que eu causo alguma coisa dentro dela.

Ao ouvir aquilo Yamanaka não conteve o riso “Sakura sua safada!” pensou enquanto lembrava-se das coisas que a rosada a contara antes. Pousou a mão sobre o ombro de Takamoto:

- acho que você tem razão sinceramente.

Despediram-se e ela continuou o próprio caminho.

“talvez o Kaito tenha mesmo razão. A Sakura é bem direta quando não gosta de algo ou quando não quer mais. Se ela não o dispensou é porque alguma coisa ta acontecendo com ela. Vai ver o Sasuke não tomou nenhum tipo de iniciativa que a fizesse acreditar que está segura com ele, sei lá. Ai ai, lembro a primeira vez que fiquei apaixonada por dois caras... Que sensação esquisita era aquela! Ah minha Sakurinha espero que você se resolva logo. Mas até que ta aprendendo com a mestra aqui, usa dos dois e escolhe o mais gostoso! Quando eu a ver novamente vou arrancar tudo dela! Quem diria que por baixo daquela aparência de santinha tem uma mulher insaciável como essa? AH! Preciso chamá-la assim pra ela, vai ficar toda vermelha.” Pensava e ria sozinha até esbarrar sem perceber nas costas de um homem alto de cabelo escuro. Ele se virou com um olhar questionando como ela não o vira ali parado. Levantando a cabeça finalmente, reconheceu a figura estranha.

- Sasuke!

- Ino.

A resposta fora seca, porém nada além do que já se esperava dele. A garota murmurou – não tiro sua razão, Sakura. – ele perguntou o que, apesar disso a galega desviou o assunto. Estava a alguns passos da floricultura da família. Ponderou começar algum assunto com o Uchiha, mas ir pra casa e tomar um banho eram mais importantes. Por fim apenas deu um tapinha no braço dele e retrucou enquanto saía com um sorriso no rosto:

- abre o olho ou vai perder essa, viu?