História Eu prometo - 12. Limite - Kara Danvers

12. Limite

Kara Danvers

            Da mesma maneira que saí do apartamento de Alex e fui para a L-Corp, vim para a minha casa após deixar Lena em seu escritório. Pensei que ver a morena me ajudaria a me acalmar depois do que houve com Lana, mas definitivamente eu não poderia supor que ela faria o mesmo.

            Por um segundo, enquanto estava com os lábios de Lena sobre os meus, senti calma, como se, pela primeira vez, tudo estivesse em seu lugar correto. Naquele momento tudo pareceu tão claro para mim, todas as nossas demonstrações de carinho, todo o afeto e a amizade, tudo isso fez sentido, como se estivesse completa. Esqueci até mesmo de todo o problema que nos envolvia, da mágoa de Lena e do meu medo, como quando atravessava portais para outras terras, em que, por alguns segundos, ficava em um lugar alheio ao tempo.

            Mas então a realidade me atingiu como um soco de kryptonita, retirando todo o ar que havia em meus pulmões. Segurei as lágrimas o máximo que podia, mas eu não estava preparada para isso, não estava preparada pra nada do que a noite tinha me oferecido. Lana era uma farsa e Lena inalcançável.

            Assim que entrei em meu apartamento vi que Alex estava parada em pé bem em minha sala, encarando-me de braços cruzados com a expressão séria, como se estivesse pronta para me dar algum tipo de sermão, mas assim que me viu relaxou o corpo, inclinando a cabeça para me olhar com curiosidade.

--- Kara...

--- Agora não, Alex. --- pedi apertando o maxilar.

            Da outra vez Lena tinha me feito desabar, me transformando novamente na menina triste e sozinha presa na Zona Fantasma, que chorou por imaginar que era a única sobrevivente do seu planeta natal e que tinha acabado de ver seus pais pela última vez. Me permiti sentir a dor, tinha ciência de que havia machucado Lena e sabia que merecia sofrer, era reconfortante, como se isso compensasse a mágoa que eu causei. Mas agora era diferente, eu estava tentando consertar as coisas, estava me esforçando para que ela percebesse que eu sentia muito por tudo e que tentaria provar que continuava a ser a Kara que ela conheceu, e tenho feito isso, tenho mostrado que não há mais segredos, que não me escondo mais.

            Corresponder seus sentimentos não era uma afronta, eu não atravessei nenhum limite que ela tinha me imposto. Lena me beijou, ela tomou a iniciativa, isso não era minha responsabilidade. Ainda sentia arrependimento por tê-la machucado, sentia mesmo, mas não me transformaria em uma versão piorada da Kara pós Mon-El só porque Lena até agora não tinha ficado satisfeita em saborear sua autopiedade, querendo me arrastar junto com ela para esse buraco miserável de flagelação. Por mais dor que eu sentisse, por mais difícil que fosse, eu me manteria em pé, buscaria no meu interior um resquício de amor próprio.

            Respirei fundo e caminhei para a cozinha, vendo que minha irmã me seguiu, andando logo atrás. Abri minha geladeira e peguei a garrafa de água, virando um pouco em um copo vazio. Pensei em colocar um dedo de açúcar, lembrando-me do que Kelly tinha me dito, mas não estava com ânimo para pegar o pote na prateleira de cima.

--- Eu te liguei várias vezes.

--- Meu celular está na sua casa. --- expliquei depois de beber. --- No silencioso e embaixo da sua almofada.

--- Onde você estava? --- questionou me segurando pelo braço assim que coloquei o copo na pia.

--- Na L-Corp.

--- Lena está bem? --- preocupou-se, afrouxando seu aperto.

--- Está, Alex!

            Afastei-me da minha irmã e voltei para a sala, me sentando no sofá, feliz por poder relaxar depois de tantos problemas.

--- Kara, o que está acontecendo? Você saiu daquele jeito lá de casa, largou todo mundo...

            Arregalei meus olhos por um segundo, assustada com o que acabara de passar por minha cabeça. Lena me avisou sobre a periculosidade de Lana e eu tinha me esquecido completamente que a havia largado com meus amigos.

--- Tá tudo mundo bem, Alex? Cadê Lana? Ela machucou vocês? --- perguntei me levantando para avaliar minha irmã, erguendo seus braços e observando se havia algum machucado em seu corpo.

--- O quê? --- fez uma careta --- Pare com isso!

            A ruiva bateu em minha mão, me segurando pelos ombros em frente a ela, obrigando-me a fitá-la e me concentrar.

--- Kara, o que está acontecendo? Fala comigo! --- pediu.

            Senti o nó voltar a se formar em minha garganta, mas respirei profundamente, impedindo que as lágrimas caíssem. Eu não choraria outra vez. Abracei Alex que me apertou com carinho, esfregando seu polegar em meus cabelos, me dando todo o suporte que precisava nesse momento.

--- Você pode falar comigo. --- avisou me olhando quando nos afastamos. --- Estou aqui pra você!

--- É tanta coisa, Alex. --- suspirei enquanto caminhamos para o sofá, nos sentando em seguida. --- Antes de qualquer coisa eu preciso saber o que aconteceu com Lana depois que saí.

--- Ela foi embora. Nós te vimos saindo e todo mundo ficou preocupado, então te ligamos e quando você não respondeu decidi vir pra cá. Eu liguei pra Lena também, mas ela também não atendeu.

--- Graça a Rao! --- disse aliviada.

--- Por que esse desespero sobre Lana? Pensei que fossemos amigas.

--- Merda! --- rosnei baixinho. --- Eu não sei nem por onde começar, Alex.

--- Kara, você está me assustando.

--- Lana me beijou. --- contei. --- Lena também.

--- O quê? --- arregalou os olhos. --- Não acho que ouvi direito.

--- Ouviu sim, Alex. Lana e Lena me beijaram.

--- Mas... --- hesitou me mostrando a palma da mão. --- Espera, acho que preciso de uma cerveja antes.

            Minha irmã buscou a garrafa em minha geladeira e voltou, dando um longo gole antes de  gesticular para que eu continuasse.

--- Lana me beijou no seu apartamento e eu saí correndo. Não sabia o que responder a ela sem que a magoasse. Fui pega de surpresa, entende?

--- Só você então. --- torceu os lábios. --- Porque todo mundo já tinha sacado que ela estava afim de você. Até cogitei a possibilidade de você experimentar outro tipo de relacionamento com ela.

--- Isso é ridículo, Alex. --- revirei os olhos. --- Não sobre o relacionamento, mas sobre tentá-lo com Lana. Éramos só amigas.

--- A única coisa que me importa nessa conversa é saber quando você vai chegar no ponto em que Lena te beija. Isso eu realmente não esperava, porém não estou surpresa.

--- Calma, Alex, você está apressando as coisas.

            Minha irmã levantou as mãos em sinal de paz e bebeu mais um gole da sua cerveja, deixando que eu contasse tudo o que tinha acontecido, inclusive sobre a informação de Bruce.

--- Caramba! --- abriu a boca em surpresa. --- E eu que achei que minha noite seria agitada com Kelly dormindo em casa.

--- Poupe-me dos detalhes! --- bufei.

--- Primeiro vou me concentrar na parte de Lana e a Fundação Wayne, está bem? Porque na minha cabeça eu não consigo falar sobre tudo e, com certeza, a parte do beijo com a Luthor me interessa.

--- Por favor! --- ironizei.

--- Você acha que Lena tem razão? Não acha que tudo isso seja ciúmes de você?

--- Que engraçado! --- forcei um riso sarcástico.

--- Estou tentando ver por todos os lados, Kara. Se você foi a Lena contar sobre seu beijo com Lana ela pode ter se enfurecido e falou a primeira coisa que veio à cabeça para deixar você com desconfiança.

--- Lena não faria isso, Alex, você sabe disso. --- afirmei. --- Eu confio no que me disse. Só não sei como deixei que Lana me cegasse, porque se ela estava trabalhando com Lex eu duvido que não saiba que eu sou a Supergirl. --- murchei.

--- Ela sabe, Kara! Lex não deixaria isso passar. Ela só fez uma boa jogada, se aproximou de você sabendo que isso tiraria o seu foco dela. Ela foi inteligente. Eu só não entendo o motivo de ela fazer esses testes, Lana nunca foi envolvida em nada disso. Mas pensando bem, ela foi noiva do Luthor e ele pode ter corrompido sua mente.

--- Precisamos ir verificá-la. --- avisei.

--- Vou avisar ao D.E.O e amanhã vamos acabar com essa palhaçada. --- declarou. --- Não vamos deixar que ela continue machucando mais pessoas.

            Balancei a cabeça positivamente, feliz por ter Alex comigo. Compartilhar esses segredos com alguém era reconfortante, o peso parecia menor. Ficamos em silêncio por alguns minutos, apenas apreciando a companhia uma da outra.

--- E Lena? --- indagou hesitante. --- Quer falar sobre isso?

--- Eu não sei o que pensar. Lena está resistente em me perdoar, Alex, ela me trata com rancor sempre que nos falamos. Eu estava disposta em insistir, em algumas ocasiões eu pude até ver um fragmento da nossa amizade e da Lena de sempre, mas aí hoje ela me beijou e depois me mandou embora.

--- Mas pelo o que me contou você teve uma reação diferente com Lana.

--- Lena era minha melhor amiga, o sentimento por ela é muito maior do que com Lana, não podia fazer o mesmo com ela.

Era a primeira vez que eu me referia a nossa amizade no passado e isso era doloroso.

--- Além disso, acho que esse tempo todo eu sabia que algo a mais existia entre nós, só nunca quis abrir essa caixa de vespas.

--- Eu sempre soube, Kara. --- confessou me fazendo olhá-la com curiosidade. --- Você e Lena sempre pareceram tão íntimas, tão intensas uma com a outra, mas isso é algo que pertence apenas a vocês duas e só vocês podem decidir se vão subir um novo nível ou permanecer no atual.

--- Estamos mais para voltar a estaca zero de antes de nos tornarmos amigas. --- suspirei. --- Mas eu não posso continuar assim, Alex, não posso continuar a dar murro em ponta de faca. Estava me esforçando para respeitá-la, mas ela parece querer continuar assim, do jeito que a Kelly nos avisou.

--- Dê tempo a ela, Kara, sei que vai te perdoar, mas se isso não acontecer, eu sinto muito. Quem estará perdendo uma pessoa maravilhosa é ela. --- sorriu lançando seu braço sobre meu ombro, me apertando contra seu corpo. --- Você é incrível, qualquer pessoa daria tudo para estar ao seu lado. Se ela não percebe isso, talvez não seja tão inteligente como o mundo acredita.

--- Eu jamais a forçaria a algo. Lena quem me beijou e depois me mandou embora. Mas o que eu faço depois disso? Como eu deveria reagir?

--- Seja apenas você, mas faça ela entender que o mundo não gira em torno dela, que a mágoa que sente por você não dá o direito de fazer o que quiser contigo. Kara, você não pode se deixar entrar em um espiral de angústia e tortura porque Lena não sabe exatamente o que quer. Você é muito melhor do que isso e se Lena não se reconstruir, infelizmente você não pode fazer isso por ela.

--- Eu realmente tentei, Alex.

--- Sinto muito se ela não percebe que está afastando a pessoa que mais a ama. Lena não é repleta de afeto para se dar ao luxo de te manter longe.

--- Não queria que ela sofresse.

--- Eu também não, mas entre você e ela, sempre serei team Kara. --- sorriu.

****

            Logo pela manhã fomos até o D.E.O, precisávamos passar as novas informações sobre Lana e as suas experiências com aliens e humanos.

--- Como não achamos nada sobre ela em nossas pesquisas? --- questionou Haley ao Brainy.

--- Nenhuma ligação ou informação sobre ela estava nos sistemas, Coronel. Seria 0,1222% possível que identificássemos ou cogitássemos isso.

--- Onde ela está nesse momento?

--- Estou tentando encontrá-la, mas algo está me bloqueando. --- avisou J’onn massageando as têmporas.

--- Celular?

--- Não conseguimos achar porque sempre que usa o aparelho ele manda o sinal para torres aleatórias, então não conseguimos triangular para ter uma localização. --- esclareceu Brainy.

--- Qual o plano, Diretora Danvers?

--- Supergirl e eu vamos continuar a procurando.

--- Pedirei ajuda a Kara, elas eram conhecidas. --- avisei disfarçadamente. --- Talvez ela consiga alguma coisa.

--- E Lena e Bruce? --- insistiu Haley.

--- Falarei com eles. --- prontificou Alex sabendo que eu não queria encontrar a CEO. --- Enquanto isso, Brainy e J’onn continuem tentando achá-la. Vamos montar uma equipe de vigilância em frente a Fundação Wayne, se ela ou qualquer alienígena aparecer, seremos informados.

--- Enviarei um algoritmo no sistema para nos avisar de alguma postagem que nos ajude.

            Chamei J’onn com a cabeça para que se aproximasse, não queria que ninguém prestasse atenção a nossa conversa.

--- Tudo bem, Supergirl? --- perguntou.

--- Eu queria te perguntar sobre Lana. Ontem na noite de jogos antes de eu... Antes que eu saísse... --- disse envergonhada. --- Você não captou nenhum pensamento de Lana?

--- Você sabe que não invado a cabeça das pessoas. --- explicou. --- E nada realmente chamou a minha atenção para que eu pensasse em fazer isso.

--- Entendo.

--- Você está tensa. Precisa conversar?

--- Na verdade não, mas agradeço.

            Despedi-me da minha equipe e segui rumo a CatCo logo depois de ir buscar meu celular no apartamento de Alex, já que não tinha muito o que fazer para ajudá-los ainda. Achei pertinente mandar uma mensagem para Lana, isso poderia trazê-la de volta, já que ela não sabia até que ponto tínhamos o conhecimento sobre seus planos.

            “Lana, sinto muito por ontem. Podemos conversar? Estarei te esperando.”

            Ela não me respondeu como eu já imaginava, isso me deixou mais chateada por não ter percebido antes sua real intenção.

--- Ei!

            Levantei os olhos quando James parou ao meu lado, me observando atentamente.

--- Tudo bem?

--- Sim.

--- Ontem você...

--- Sinto muito, realmente não deveria ter saído daquele jeito, só tive um problema que precisava resolver. --- menti.

--- Alguma possibilidade desse problema chamar Lena?

--- O quê? Por que pergunta? --- indaguei nervosa.

--- Só intuição. --- deu de ombros. --- Só ela te faz agir assim.

            Torci os lábios sem saber o que dizer. Era nítido que James desconfiava de alguma coisa e como se não bastasse eu me sentir mal por tudo o que tenho passado, ainda preciso lidar com o ex-namorado de Lena e meu amigo, já que tínhamos intimidade o suficiente para nos intrometer um na vida do outro, principalmente com ele passando bastante tempo ao meu lado durante o trabalho.

            Quando pareceu que ele ia dizer algo, Nia surgiu esbaforida, interrompendo qualquer pensamento que o homem estivesse disposto a extravasar.

--- Ufa, você está bem. --- sentou-se ao meu lado. --- Brainy me disse que falou com você hoje cedo. Caramba, fiquei preocupada. O que houve pra você sair daquele jeito?

            Olhei para James como se pedisse silenciosamente que ele saísse. Ele mordiscou o lábio e assentiu, entregando-me um papel.

--- Bom, preciso que você revise este texto. Fiz algumas ressalvas que precisam ser alteradas. --- avisou. --- Quando estiver pronto, me avise.

            O homem se afastou, deixando-me a sós com minha amiga. Notei que o documento era sobre uma matéria que tinha feito no começo da semana e suspirei cansada só de pensar em editá-la.

--- Podemos falar depois, Nia? --- pedi.

--- É claro, Kara. Estarei aqui quando estiver pronta. --- sorriu. --- Só espero que esteja bem.

            Passei a parte da manhã toda concentrada na tarefa que James me solicitou, o que me ajudou a esquecer todos os problemas. Nia também não me fez mais perguntas, respeitando minha vontade de não falar. Lena não apareceu durante esse tempo, o que eu agradecia, seria mais difícil me manter concentrada se eu soubesse que ela estava há poucos metros.

            Lana também não me respondeu, o que me deixava preocupada. Eu não sabia o que pensar sobre o sumiço dela, só conseguia imaginar um milhão de coisas ruins que ela poderia estar planejando ou fazendo.

            Ouvi o som do meu celular me avisando sobre um novo e-mail pessoal, me tirando a atenção do texto da matéria. O nome do contato me chamou a atenção: Bruce Wayne.

            “Olá, Kara!

            Sei que nos falamos apenas profissionalmente, mas meu contato vai além disso.             Ontem falei com Lena, sei que são próximas, Clark me disse, e contei a ela algo que descobri recentemente. Provavelmente você está se questionando como algo assim passou por mim sem que eu percebesse o que acontecia em minha própria empresa, mas infelizmente estava ocupado demais resolvendo algumas questões de Gotham. Mas não estou te mandando esse e-mail para lhe dar satisfação, esse contato é apenas um aviso de que você deve confiar no que disse a Lena Luthor.

            A Senhorita Lang está envolvida em um projeto chamado Insect. Esse projeto busca fazer experimentos em humanos com DNA alienígena, procurando criar uma carcaça potente e forte para receber um parasita que ficará no comando, ou seja, um hospedeiro. Estão usando DNA de alienígenas de All-Hive, provavelmente você já deve conhecê-los. O planeta é uma colônia, e como toda colônia eles tem uma rainha. Você precisa encontrá-la, está escondida em algum lugar da Fundação. Eu mesmo iria pessoalmente, mas como disse a Lena, Gotham está passando por uma situação que não me permite abandoná-la agora. Enviarei em seu celular alguns códigos e informações para acessar o sistema da Fundação Wayne. Se precisar de ajuda, procure Lena. Ela saberá o que fazer.

            Ache a rainha e achará a colônia.

            Boa sorte!”

            Fiquei extasiada com o contato, era muita informação para processar, mas pelo menos tudo começava a fazer sentido. A não ser o fato de Lana estar envolvida nesse crime. Agradeci ao homem e encaminhei essa mensagem para Alex, esperando que isso ajudasse em algo.

--- Está tudo bem, Kara?

--- Bruce Wayne me enviou um e-mail particular. --- sussurrei girando minha cadeira para perto de Nia. --- Ele descobriu sobre o projeto Insect que te contei.

--- Ele parece um cara legal. --- deu de ombros.

            Eu iria respondê-la, ia dizer que Bruce não era exatamente tão legal como ela imaginava, que ele costuma ser um cara sombrio e justiceiro, que não preza pela bondade como nós, às vezes fazendo coisas das quais nem imaginamos, mas o som familiar de batimentos cardíacos chamou a minha atenção.

            Eu conhecia esse barulho, várias foram às vezes em que me concentrei nele para me acalmar, mas dessa vez estavam agitados, como se a dona deles estivesse ansiosa com algo.

            Eu podia ouvi-la chegando, eu sabia que estava próxima. Seria muita inocência a minha pensar que não nos veríamos hoje e que ela ficaria longe da sua empresa. Respirei fundo me preparando para encontrá-la.

As portas do elevador se abriram dando a visão para uma Lena Luthor vestida impecavelmente como sempre. A morena estava com um vestido preto colado ao corpo, pouco abaixo dos joelhos, o cabelo preso em seu famoso rabo de cavalo e em cima de um salto que deixava sua postura mais feminina e sofisticada. Não precisei de muito tempo para apreciá-la, benefício que minha supervelocidade me dava.

Assim que ela deu seu primeiro passo para dentro da sala seus olhos correram pelo ambiente, parecendo inquieta como se procurasse por algo, mas rapidamente pararam intensos quando se encontraram com os meus. Eu não sorri, não ofereci nenhuma expressão como faria até ontem, muito pelo contrário, quando ela me encarou fixamente eu torci os lábios e abaixei meu olhar, desistindo de ter qualquer embate com a mulher que havia me beijado.

Os batimentos aceleraram, agora nervosos. Lutei para vencer a vontade de olhá-la, lembrando-me sobre o amor próprio que eu me convenci a ter.

O som dos saltos encontrando o chão me avisou que ela tinha seguido para a sua sala. No caminho ouvi que James a parou para perguntar algo, mas desliguei minha superaudição, focada em não prestar atenção a ela ou o que acontecia a sua volta. Eu não me perderia por Lena.

--- Deu ruim de novo? --- perguntou Nia.

--- Esse era o assunto do qual eu não queria falar. --- expliquei.

--- Oh, me desculpe, eu não sabia. --- fez uma careta.

            Lena não saiu da sua sala em nenhum minuto, como se quisesse me evitar. Sinceramente isso era uma coisa boa para mim.

            Vi quando Alex apareceu, dando-me um pequeno aceno antes de se encaminhar para a sala da CEO. Não achei importante ouvir, tudo o que minha irmã conversaria com ela era algo do qual eu já sabia, então só me desliguei, tentando tornar meu dia menos pior do que imaginei que seria.

            Alex não ficou muito tempo, ela sabia que isso era mais uma burocracia do que interrogatório como a Haley queria, a intenção era apenas cumprir uma ordem da nossa Coronel.

            Já estava quase no fim do turno e estava feliz achando que passaria o meu dia ilesa, mas poucos minutos antes de dar a hora de ir pra casa, ouvi um sussurro de Lena me pegando totalmente desarmada.

--- Kara, pode vir aqui?

            Pra mim ainda era novidade saber que Lena era ciente dos meus poderes e que agora usufruía deles. O mais difícil é que infelizmente não poderia ignorá-la, sabia que isso só tornaria tudo pior. Briguei internamente tentando me convencer de não ir, mas me levantei no segundo que a ouvi insistir.

 --- Por favor! --- sussurrou novamente.

            Nia me olhou sem entender, mas não disse nada. Caminhei até o escritório da CEO, controlando minha respiração para parecer tranquila.

            Lena ergueu os olhos assim que bati na porta, mesmo que ela tivesse me chamado achei pertinente avisar da minha presença, não iria mais abusar da sua antiga permissão dada a mim. Manteria tudo em nível profissional.

--- Entre, Kara!

            Observei a morena retirar os óculos e colocá-lo em cima da mesa, me olhando enquanto eu andava em sua direção..

--- Ouvi você me chamando. --- disse pausadamente.

            Acompanhei Lena mordiscar o lábio inquieta. Ela se recostou em sua cadeira e indicou a da sua frente para eu me sentar.

--- Não, obrigada! --- recusei.

            Ela elevou uma sobrancelha e se levantou, caminhando até próxima a mim, recostando-se em sua mesa e cruzando os braços.

--- Alex me contou sobre o que descobriram, sobre o projeto Insect.

--- Sim. Bruce me enviou um e-mail sendo um pouco mais claro do que você foi comigo ontem à noite.

            Apenas lembrar do que havia acontecido entre nós já me causava um arrepio. Lena provavelmente sentia a mesma coisa, pois assim que terminei minha frase seu coração aumentou a velocidade dos batimentos.

--- Vocês precisam de alguma coisa? Posso ver se a L-Corp tem algo que possa ajudar. --- ofereceu.

--- Esse tipo de coisa é melhor você verificar com Alex. --- torci os lábios. --- Inclusive deveria ter feito isso, pode ser necessário.

--- Você tem razão. --- concordou descruzando os braços e pegando uma caneta que estava solitária na mesa, brincando com sua tampa.

            Lena parecia nervosa, suas mãos estavam inquietas. Eu conhecia perfeitamente esse seu trejeito.

--- Você precisa de mais alguma coisa? --- perguntei.

            Ela balançou a cabeça em negação me olhando com atenção.

--- Bom, então vou voltar ao trabalho.

            Não esperei que ela respondesse, apenas me virei dando-lhe as costas e caminhando para fora da sua sala. Antes que eu alcançasse a porta, porém, Lena me chamou.

--- Kara, espere. --- pediu.

            Senti um nó em minha garganta travando meus movimentos. Evitar Lena já era algo difícil, mas ter que fugir com ela agindo dessa maneira seria bem mais complicado. Respirei fundo e me virei lentamente, demonstrando que não estava feliz em ela me fazer ficar.

--- Sinto muito por Lana! --- murmurou abaixando o olhar. --- E se por acaso pareci feliz em te dar essa notícia.

--- Não se desculpe, Lena! --- afirmei convicta. --- Se você estivesse feliz eu entenderia, realmente eu não sou algo com o que você deva se preocupar.

--- Kara, nós duas sabemos que isso não irá acontecer. --- sorriu tristemente com seus lábios vermelhos. --- Ainda me preocupo com você.

--- Volto a afirmar que isso não é necessário.

            Novamente me virei para sair, não sabia mais quanto tempo aguentaria sem que desabasse. Eu precisava sair dali, mas Lena realmente estava disposta a me enfrentar.

--- Kara! --- chamou outra vez.

--- Sim, Lena? --- perguntei impaciente.

            Ouvi a morena engolir em seco, como se não esperasse a minha reação.

--- Me desculpe por... Por tê-la beijado ontem.

            Pisquei surpresa por ouvi-la falando sobre isso, não acreditava que um dia voltaríamos a falar sobre o nosso beijo. Fiquei até sem ação alguns segundos, mas logo voltei minha postura, fingindo indiferença.

--- Não peça desculpa pelo beijo, Lena! --- avisei. --- Não foi ele que estragou tudo!

            Ouvi quando o coração da morena tamborilou em seu peito, demonstrando o quanto isso mexia com ela, mas nesse momento isso não me importava. Saber que Lena se sentia mal pelo o que aconteceu me dava um acalento, mas não mudava em nada o caminho que nossa amizade seguia: para o fim.

--- Se não há mais nada, preciso voltar ao trabalho. Tenho que entregar uma matéria para James.

--- Claro! --- concordou engolindo em seco, devolvendo a caneta a mesa.

            Lena continuou em pé até que eu saísse e mesmo fora da sala ainda ouvi quando ela encheu o copo com uma dose de whisky. Eu sabia que ela estava nervosa, whisky no meio do trabalho só significava uma Lena estressada.

            Antes mesmo que eu chegasse a minha porta, vi quando subitamente o vidro da lateral do andar se quebrou, dando a visão de um insetóide gigante entrando na CatCo. Parecia muito com uma abelha, mas com braços e rosto humano. As pessoas começaram a correr desesperadas e vi quando Nia foi para o banheiro, me lembrando que eu deveria fazer o mesmo.

            Pensei em Lena, ela estava há alguns metros, eu precisava protegê-la.