Eu vejo demônios... É uma habilidade confusa e incerta, mas uma vez eu vi....
...Belzebu.
Eu esperava que ele fosse uma mosca gigante, com sua coroa dourada e que trazia a pestilência. Achava que ele era o pecado da gula, um dos sete príncipes capitais. Eu estava enganada.
Ele era mais como um metamorfo. Um homem forte, uma bela mulher, um homem gordo, uma mulher anoréxica. Ele era tudo, incluindo a mosca.
Seus dois corvos preferidos viviam rondando-o. Um deles era pesado, inchado, como se estivesse prestes a explodir e às vezes vomitava ácido, seu nome era Bulimia. O outro, exibia seus ossos e penas soltas, e em poucas partes de seu corpo carregava uma pele fina, seu nome era Anorexia.
Eu procurava Belzebu naqueles que amavam comer, que devoravam seus alimentos com empenho e os apreciavam, mas ele não estava lá.
Eu via Belzebu na pele de uma mulher de cintura e quadris invejáveis, que se sentava com modelos, devorando hambúrgueres na frente delas logo no dia anterior de seus desfiles mais importantes.
Eu via Belzebu distorcendo imagens no espelho de adolescentes, para que se sentissem gordas ou descontassem na comida.
Eu via Belzebu sempre sussurrando. "Só mais um pedaço". "Só mais um drink". "Só mais um...".
Eu via Belzebu em plantações destruídas, devoradas por pragas, pois elas traziam fome e a fome aumenta a vontade de comer.
Eu via Belzebu nas compulsões alimentares, fazendo pessoas comerem descontroladamente por diversas emoções, incluindo a culpa. E depois elas se culpavam por comer.
Eu via Belzebu naqueles comerciais exagerados de comida na televisão, nos celulares e nas ruas.
Eu vi Belzebu em um sonho, na forma de uma criança com olhos de mosca, e um sorriso maléfico. Ele me disse tantas coisas e apontou partes que eu odiava em mim mesma e nelas eu via vermes.
Naquela manhã eu acordei com o coração disparado, querendo mudar o que eu odiava, talvez com a expectativa de nunca mais vê-lo. E eu mudei.
No fim, Belzebu nunca foi a própria gula, mas sim o caminho que levava a ela, um instinto primitivo do corpo, do tempo em que caçávamos à mão o que iríamos comer e nem sempre conseguíamos ter sucesso. Ele sempre esteve e vai estar lá.
Porque ele continua me olhando através de mim mesmo, pelo espelho.
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