Eu vejo demônios... É uma habilidade confusa e incerta, mas uma vez eu vi...
...Paimon.
Lembro-me de ter adormecido lendo "O Alquimista" de Paulo Coelho, em uma cena onde o protagonista estava em um deserto, que era exatamente onde me encontrava, apesar de morar a milhas de distância de um. Ao longe, avistei o que parecia ser um exército, tal como o personagem do livro, mas eu estava enganada.
À medida que se aproximavam, uma música encheu as terras áridas ao meu redor. Liderando a comitiva, um homem andrógino montado em um dromedário exibia toda sua imponência, especialmente quando o sol brilhava intensamente em sua coroa dourada. Percebi que as pessoas que o acompanhavam já não estavam no mesmo plano que eu. Paimon carregava um sorriso e a alegria literalmente o seguia, com trombetas e címbalos, todos cantando e tocando.
Meu coração se encheu de emoção, meus pulmões quase coçavam de tanta vontade de me juntar àquela energia, que invadia o céu, e a areia sob meus pés já não me incomodava. Quando Paimon finalmente se aproximou o suficiente, ele proferiu palavras em minha direção, mas eu não compreendi nenhuma delas.
Percebendo minha confusão, Paimon parou por um instante com um olhar pensativo, e eu pedi que repetisse, com calma, de forma que eu pudesse entender. Ele riu, e finalmente, eu o compreendi. Ele estendeu a mão na minha direção, entregando-me um pergaminho de papiro antigo.
Eu o abri e nele havia um mapa. Ele ordenou que eu fosse atrás daquele tesouro, dizendo que era de valor inestimável. Olhei em volta, questionando como buscaria aquilo, estando sozinha no meio daquelas terras ressequidas. Vendo meus medos, Paimon desceu de sua montaria e trouxe até mim um camelo de seu exército musical, carregado com mantimentos, roupas, comida, água, uma chave de cobre e sete de seus espíritos.
Eu agradeci, e ele seguiu sua viagem, assim como eu. Abri o mapa e guiei meu grupo fúnebre por sete dias no deserto, onde ao final de cada dia, uma das almas que me acompanhava desaparecia. Cada pista exigia equilíbrio e harmonia, nunca faltando nada se não fosse consumido em excesso. Os ventos estranhamente modificavam as areias, como se indicassem o caminho a seguir, até que cheguei ao ponto final no sétimo dia.
Dias quentes, noites geladas. Presa naquele sonho lúcido do qual não conseguia acordar, não havia visto mais Paimon, e todos os seus servos haviam desaparecido. Cavei com minhas próprias mãos na areia, aos pés de uma palmeira em um oásis, e encontrei um baú de madeira ornamentado com cobre, cuja chave do mesmo material abria.
Encaixei a chave na fechadura com as mãos trêmulas, e quando consegui abrir, uma luz ressoando do baú me despertou. Joguei o livro no chão ao lado da cama, com o tronco pesado, respirando profundamente. Ao pegar meu celular, vi que haviam passado apenas seis horas, o sol acabava de nascer. Abri a janela e ao olhar para o céu, uma voz ecoou na minha mente:
"O verdadeiro poder reside não apenas no que sabes, mas em como utilizas esse saber. Me chame, quando tiver um propósito digno."
Maldito Paimon. Ainda nos veremos novamente algum dia.
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