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História Eu vi você... - O inevitável


Escrita por: ohmyparrilla

Notas do Autor


Boa tarde, lindezas! Quanto tempo eu não apareço por aqui...
Venho desde agosto tentando concluir essa OS, finalmente VEIO AÍ!
A história é inspirada na cena de Mário e Nana, logo depois que ela descobre que Diogo é estéril, com algumas alterações.
Escolhi o trechinho de uma música da Ana Muller para representar um poema de Mário, deixo aqui o link como sugestão para vocês ouvirem durante a leitura.
Espero que gostem!
Um beijo da jujuba.

PS: A capa é só pra ilustrar o vestido maravilhoso da nossa Nana <3

https://www.youtube.com/watch?v=9QHiG8SJzx4

Capítulo 1 - O inevitável


Fanfic / Fanfiction Eu vi você... - O inevitável

Mariana era um emaranhado de emoções. Acostumada a sempre jogar para o fundo da gaveta seus sentimentos mais intensos e, por vezes, mais contraditórios, via-se agora obrigada a olhar para dentro si. Nana não tinha escolha se não encarar o espelho da alma. Aquele que ela tanto havia evitado contemplar. Admirava-se com o fato da maioria das pessoas não conseguir enxergá-la para além da superfície, mas ela mesma vinha fazendo isso por anos... A armadura que precisou vestir desde a perda da mãe, a doença do pai, a partida do irmão para Búzios... vinha habitando sua pele por um espaço de tempo longo demais.

Agora, tão frágil como uma corda prestes a arrebentar, ela se sentia como uma criatura indefesa, aguentando firme somente por ainda possuir um pequeno fio de esperança. No entanto, mesmo esse feixe de luz, parecia preste a sumir em meio à tanta escuridão. Os muros que ela havia construído durante tantos anos caíram por terra, e a única pessoa que sempre foi capaz de entendê-la, talvez até mais do que ela mesma, não estava ali para segurar a sua mão e recitar um poema cafona que confortaria os piores monstros que habitavam sua mente, por mais que ela não admitisse gostar de ouvir suas declamações.

Mário.

Era terrivelmente irônico que ela desejasse tanto a presença de alguém que vinha repelindo por tanto tempo. Como pode ter sido tão rude? Onde estava a Nana, a Mariana Mole, que levava a vida com tanta leveza?– Nana dava um quase sorriso agridoce ao lembrar-se do apelido que ele dera a ela.– Em que momento ela se perdera tanto de si mesma? Como fora tão forte pra aguentar tudo, mas tão fraca a ponto de abdicar de si mesma para cumprir demandas que, talvez, nem fossem suas?

A jovem que sonhava em fazer Belas Artes precisou ser escondida em um baú a sete chaves para que a executiva assumisse o controle de tudo. Ela se escondeu tão bem que já não conseguia mais entender de que maneira realizara tal façanha. Se lhe perguntassem, Nana não conseguiria responder como tinha acabado se condenando a um casamento falido e muito menos como se acostumara a viver em função de todo mundo, menos de si mesma.

Agora, a única pessoa que jamais a repelira, mesmo em seus piores momentos de megera indomável, havia cansado. Pela primeira vez em décadas, Mário estava realmente chateado com ela. Cansado das grosserias, dos infinitos “tocos” e, por fim, de ter caído em descrédito todas as vezes que ele tentara denunciar as falcatruas de Diogo, o poeta permanecia sendo seu fiel amigo, não seria Mário se não o fizesse, mas havia abdicado das tentativas de ser seu amor. Talvez Mariana estivesse tão acostumada a tê-lo por perto que, sem perceber, deixara o poeta calejado depois de afirmar tantas vezes que jamais ficaria com ele.

Ela era mesmo uma piada. Sem graça e amarga. Seu último papel de besta havia sido muito bem representado pela tentativa ridícula de fazer terapia de casal. Bom, o último que ela havia pensado fazer. Mas aquela foi apenas mais uma forma para ela descobrir que fora enganada de infinitas maneiras, mesmo no início de seu casamento. A traição com sua secretária, os placebos, o abuso físico e emocional... Seus olhos voltavam a marejar só em lembrar de todas as coisas que sofrera por conta do, agora, futuro ex-marido. Como pode ser tão imbecil?

Os olhos inchados a faziam se sentir ainda mais ridícula por tudo que havia se permitido sofrer.

“Nana, o Diogo é o único vilão nessa história. Você não ter que ter vergonha de nada. Muito menos se sentir culpada.”

            A voz do poeta ressoou em sua cabeça, as palavras que ele lhe proferira apenas algumas horas atrás voltavam para consolá-la. Contudo, ela não sabia dizer se sentia-se consolada ou ainda pior. Não pelas palavras de Mário, mas por todos os questionamentos que pairavam em sua mente. O quão injusta ela havia sido com ele? Mário sempre permanecera ao seu lado, aguentando seu humor irascível e recebendo suas injustas acusações sem nunca responder a elas com grosseria, não importando o quão ferido ele estivesse. O poeta sempre colocara o amor que sentia por ela acima de todas as coisas. Com exceção de agora.

            Achando não poder mais se surpreender diante das falcatruas de Diogo, viera a constatação de que ele é estéril. Fora Mário quem lhe anunciara a mais nova mentira do advogado.

Nana não saberia colocar em palavras a raiva que sentira ao descobrir mais uma mentira de Diogo, principalmente diante de algo tão sério. No entanto, ela não poderia dizer que não ficara feliz ao saber que Mário era o verdadeiro pai da criança que carregava em seu ventre... Negara com todas suas forças a possibilidade quando soube que ela existia, mas tal reação era apenas mais um mecanismo de Mariana para negar aquilo que, no fundo, ela sempre soube sentir. Mário era aconchego, carinho, apoio, pureza e amor. Tudo que Diogo jamais seria, ela finalmente aceitara a verdade. Nenhuma das vezes que ela achou ser amparada pelo ex-marido fora por altruísmo ou amor. Aliás, nesse momento ela duvidava que o advogado soubesse o mínimo sobre sentimentos tão grandiosos.

            Passando as mãos no rosto a fim de secar as lágrimas que ainda cobriam-lhe a face, Mariana foi desperta de sua torrente de pensamentos pelo barulho de batidas na porta. Assim que seus olhos foram em direção ao barulho que vinha de fora, ela pode ver sua filha entreabrir a porta, colocando apenas a cabeça e metade do corpo para dentro do quarto.

            – Posso entrar, mãe?– O sorriso de Sofia era de acalento. A menina sempre sabia se fazer presente nos momentos em que a mãe mais precisava de seu jeito carinhoso de ser.

            –Claro, filha!– Nana respondeu, fungando, na tentativa de melhorar a voz de choro.– Mas, vem cá... Eu achei que a senhorita já estava dormindo...

            Sofia deu um sorriso sem graça, colocando alguns fios de cabelo para trás da orelha. Não demorou para que a menina estivesse sentada na cama, ao lado da mãe.

            –Mãe, eu sei que você pediu pro tio Marcos me levar pra cama um pouco mais cedo porque alguma coisa séria tá acontecendo. Os adultos pensam que nós, crianças, não sabemos das coisas, mas eu não sou boba, mãe. Eu sei que você tá triste...– Sofia falou, levando sua mão direita à de Nana, apertando-a em um gesto de cumplicidade. A mais velha sorriu para filha, apertando a mão da menina de volta, sempre impressionada com o quanto Sofia parecia madura para sua idade. Não havia nada que ela pudesse esconder da menina, Mariana sabia. No entanto, antes que pudesse dizer qualquer coisa à Sofia, ela a surpreendeu, dizendo:

            – Mas, mãe, desculpa perguntar...– Sofia se encolheu, aconchegando-se ao lado da mãe, sendo abraçada por ela no mesmo instante.– Não é uma coisa boa que o tio da camisa esquisita seja pai do meu irmãozinho ou irmãzinha?– Sofia levantou o rosto de forma à encarar Nana.

            Mariana beijou a testa da filha, dando um leve sorriso diante da pergunta de Sofia.

            – É, meu amor... Não é uma coisa ruim. Eu tenho certeza que o Mário será um excelente pai pro seu irmão ou irmã, o que dói são as mentiras do Diogo, entende? A mamãe tá triste por ter passado tanto tempo sendo enganada. Dói saber que fui tão boba, filha...– Nana respondeu, apertando o braço em volta da filha. O abraço mais apertado fazia com que suas dores amenizassem. Sofia, como quem adivinhasse os pensamento da mãe, virou o corpo um pouco mais, agora abraçando Nana por completo, tão apertado quanto podia.

            – Mãe, você não é boba! É a mulher mais forte que eu conheço! A senhora me disse uma vez que a gente nunca deve se sentir culpada por esperar o melhor dos outros... Lembra quando a Vitória foi ruim comigo na escola e eu disse que me sentia tola por ter acreditado na amizade dela?– Nana assentiu, os olhos voltaram a marejar diante da sensibilidade sábia de Sofia. Ela não pode evitar que um sorriso lhe adornasse os lábios.– É a mesma coisa com o ridículo do Diogo!

            –Ai, filha. Você não existe, sabia?– Mariana puxou Sofia para mais perto de si outra vez, abraçando-a apertadamente e beijando seus cabelos.–Obrigada por ser tão incrível! Você é o amor da minha vida, filha!

            –E você é minha rainha, mãe!–Sofia respondeu, sorrindo.– Mas será que eu sou mesmo o único amor da sua vida?– A menina usou um tom diferente do de segundos atrás, olhando para mãe com a malícia infantil que Nana já conhecia.

            – Sofia Prado Monteiro, o que a senhorita está insinuando?– Mariana deitou a filha na cama, fazendo cócegas em sua barriga.– Diga agora, senhorita.

            A menina soltou gargalhadas genuínas, afastando as mãos da mãe como um mecanismo de defesa contra o ataque de “cosquinhas”.

            –Ai, ai, mãe, tá bom...– Sofia falou, levando as mãos até a barriga. Nana lançava a ela um olhar repleto de afeto, a filha sempre tinha o poder de aliviar sua tristeza e consolar seu coração. Mariana esperou a menina se recompor. Sofia assumiu uma postura mais séria, fazendo com que a mãe já previsse que a pergunta que se seguiria a tiraria dos eixos.

            –Mãe, você ama o tio da camisa esquisita, não ama?– Sofia tornou a se aproximar da mãe, dessa vez, o olhar que dirigiu à Nana foi sério, mais uma vez deixando-a surpresa com a sabedoria da filha que, em termos de maturidade, parecia sempre estar à frente da idade que possuía.

            –Vai adiantar eu dizer a você que ele é somente o meu melhor amigo? Bom, e agora, pai do seu irmãozinho ou irmãzinha, né...– A filha gesticulou em negativa, balançando a cabeça. Encorajando a mãe a prosseguir.– Ai, Sossô, eu acho que eu não tenho mais esse direito, de bagunçar a vida do poet... do Mário.– Ela corrigiu-se prontamente, mas o apelido não passou despercebido por Sofia. Aliás, nada passava.

            – Ele tá com a tal de Silvana Nolasco, né, mãe?– Sofia perguntou retoricamente, usando sua voz debochada, o que fez Nana dar um sorriso breve, achando graça da maneira como a filha tomava suas dores.– Mas olha, eu sei que o tio Mário ama muito você, mãe. Sabe, o jeito que ele te olha... Parece o jeito que os homens apaixonados olham para suas musas nos livros que o vovô lê pra mim.

            – Não exagera, meu amor...– A Prado Monteiro falou, mas o comentário da filha fora capaz de fazer borboletas voltarem a se remexer em seu estômago.

            – É sério, mãe! Por favor, eu não tô brincando.– A menina falou sério.– E eu acho que você deveria falar com ele.

            –Filha, é complicado! Eu magoei muito o Mário. Fui injusta com ele tantas vezes...– Era impressionante a cumplicidade que Nana e Sofia construíram nos últimos meses, Mariana se sentia muito à vontade para conversar com a filha, mesmo sobre assuntos sérios. Da mesma forma que Cecília, quando estava viva, fazia Mariana se sentir.

            – Mãe... Já experimentou pedir desculpas? Porque eu sei que vocês, adultos, se acham muito inteligentes, mas as vezes esquecem das coisas mais simples, né?– Nana olhou para a filha, pensativa. Sofia não estava errada. Ela nunca havia pedido desculpas a Mário por todas as vezes que fora injusta com ele. Mariana havia duvidado da palavra de Mário incontáveis vezes, mesmo sabendo o quanto ele a amava, prendendo-se à justificativa de que os poetas são lunáticos. Ela não havia pedido desculpas nem mesmo por ter duvidado dele quando Mário, atordoado, afirmara que Diogo tentara matá-lo. Naquele momento, depois de tantos acontecimentos, ela não podia mais desacreditar do poeta.

 Sofia estava coberta de razão: ela devia desculpas a ele.

            – Meu amor, você tem certeza que você não é uma senhora no corpo de uma garotinha?– Nana questionou, em tom brincalhão, mas logo assumiu uma feição mais séria.– Você tem razão, filha, eu preciso pedir desculpas pro Mário.

            – Ai, mãe, viu como as crianças entendem dos assuntos que vocês acham ser de adultos? O que você tá esperando pra ir falar com o tio da camisa esquisita?– Sofia colocou-se de pé ao lado da cama, puxando a mãe pelas mãos.

            – Calma, filha, calma! Já tá tarde, né? Ele pode nem estar em casa...– A menina continuou conduzindo à mãe até o banheiro, fingindo não ter ouvido a sua última assertiva.

            – Mamis, não custa tentar! Aproveita a dose de coragem e vai lá. Eu prometo que eu vou pra cama agora mesmo. Se arruma e vai falar com o pai do meu irmão ou da minha irmã.– Sofia falava, animada, a garotinha inteligente tinha certeza de que aquilo faria bem pra mãe, agora tão triste.

            –Ai, filha, eu não acredito que vou ceder à sua insistência... Já são quase dez horas da noite.– Nana falava, tentando disfarçar a ansiedade que começava se apoderar dela, temendo a reação que o seu pedido de desculpas poderia provocar em Mário. Ele aceitaria um simples pedido de desculpas depois de tanta coisa?

            –Mãaaae, por favor, por favor... Se ele não aceitar, eu mesma irei na casa dele depois, aí ele vai ter que resolver isso comigo.– Mariana riu do instinto de proteção da filha. Às vezes, ela quase se esquecia de quem era a mãe naquela relação fraternal.– E outra coisa, mãe, você não sabe que poetas não costumam dormir cedo? A madrugada é a melhor hora para eles.– Sofia deu um beijo rápido no rosto da mãe, que abaixou-se de bom grado para receber o gesto de afeto. A menina piscara para ela, encorajando-a a seguir com a ideia.

            – Tô indo pra cama, vou esperar ansiosa pra saber como tudo ocorreu depois, viu?– Sofia disse, enquanto caminhava saltitante até a porta do quarto.– Te amo, mãe!

            – Eu também te amo, meu amor!– Nana respondeu, balançando a cabeça, como quem não acreditava no que estava prestes a fazer.

*

            Aquela era mais uma noite que Mário tentava, em vão, concentrar-se nos papéis à sua frente. Era o ghost writer de mais um youtuber famoso que estava em alta, mas, naquele momento, sua mente não conseguia se concentrar em pesquisa nenhuma. O editor não parava de pensar nas emoções daquele dia. Agradecia que Silvana ainda não tivesse voltado de viagem para encher-lhe de perguntas, talvez ele se perdesse nas palavras tentando respondê-las, mesmo que fosse muito bom com elas.

            Ele era pai da criança que Nana carregava em seu ventre... O simples pensamento o fazia sorrir. No entanto, a situação como um todo estava longe de ser da maneira que Mário passara anos idealizando. Ele sempre achou que um dia casaria com a musa de seus poemas. Mesmo que a cada esquivada de Mariana sua idealização parecesse mais absurda,  ele jamais conseguira tirar aquele antigo desejo de seu coração. Agora, tudo mudara. O poeta afirmara a Silvana que estava voltando pelo seu filho, não por Nana... Mas por que, então, era tão difícil para ele acreditar em suas próprias palavras? Ele ainda estava admirado por ter conseguido se manter forte depois da pergunta de Mariana, que questionara se era mesmo tarde demais para que eles ficassem juntos.

            Mário não podia negar que, muitas vezes, sentira o peito dilacerar diante de tantos “nãos” e de incontáveis tentativas frustradas de conseguir fazer com que Nana, finalmente, aceitasse ser feliz ao seu lado. O poeta sabia que Mariana não era indiferente ao sentimento que ele nutria por ela, mas estava cansado de tentar. Mário só não conseguia entender porque, mesmo cansado, ele ainda sentia uma vontade incontrolável de abraçá-la, beijá-la, e afirmar que tudo ficaria bem, permitindo que Nana pudesse sentir-se amada, apesar de todos os sentimentos negativos que Diogo alimentara nela ao longo dos anos. A aceitação de atitudes mais do que inaceitáveis e a negação do óbvio era apenas alguns deles.

 No entanto, Mário sempre fora capaz de compreendê-la. Não é fácil fugir do costume porque, mesmo muito inferior, o costume confunde-se com amor, principalmente diante da fragilidade. E ele bem sabia o quão frágil Mariana estava após a morte de Cecília e de toda a avalanche de acontecimentos que se sucederam desde então.

            Apesar dos sentimentos gritantes que o consumiam, ele não queria mesmo ser babaca com Silvana, mas questionava-se se conseguiria exercer o papel de pai estando sempre tão perto de Nana, sem ceder aos seus sentimentos. Será que ele estava apenas adiando o inevitável? Mário a amava da mesma forma que a trinta anos atrás. Às vezes, sentia raiva de si mesmo por isso, mas não conseguia evitar.

            De repente, o barulho do interfone o assustou, tirando o editor de seus pensamentos. Consultando o relógio de pulso, Mário só conseguia pensar ser um engano de algum entregador, uma vez que já passara das dez e meia da noite.

            –Alô? Oi, Matias.

            – Fala, Mário! A senhorita Nana deseja subir.– A simples menção do nome dela o fez retesar a coluna, tenso. Será que estava tudo bem com o bebê? Mário se questionava, começando a ficar assustado. Afinal, por qual outro motivo Nana estaria ali?

–Mário?– Matias falou do outro lado da linha, convidando o poeta a sair do mundo dos pensamentos outra vez.

– Pode deixar subir, amigão!– Ele respondeu, desligando o interfone, atônito, conduzindo-se rapidamente para a frente da porta do seu apartamento.

Nana mal precisara tocar a campainha para que ele abrisse a porta e convidasse-a para entrar.

– Nana, tá tudo bem? Aconteceu alguma coisa? Você tá bem?– Mário derramava os questionamentos sobre ela, claramente preocupado, lançando à Mariana um olhar temeroso.– O Diogo fez alguma coisa?

A Prado Monteiro entrou no apartamento em passos vacilantes, as mãos entrelaçadas em frente ao corpo, os ombros encolhidos em um gesto de tensão. Ela estava muito nervosa, mais do que imaginara que ficaria quando chegasse à casa de Mário.

– Oi, Mário. Fica calmo, tá tudo bem...– Sua voz era baixa, parecia que ela estava fazendo um grande esforço para conseguir proferir as palavras.– O Diogo não fez nada, eu estou bem. Só precisava conversar com você. Desculpa o horário, mas é muito importante.

– Claro, claro, Nana! Senta.– Mário arrumava a armação dos grandes óculos, nervosamente, o poeta não conseguia disfarçar sua surpresa por ela estar ali. Conduzindo-a até o sofá, ele se sentou de frente para ela.– Você aceita uma água ou um café? Tá com fome?

Nana apenas balançou a cabeça de uma lado para o outro, agradecendo a oferta do poeta. Ela pigarreou, antes de começar a falar.

– Mário, eu preciso que você deixe eu falar o que eu vim te dizer sem interrupções, tudo bem? Eu preciso aproveitar a mesma coragem que me trouxe até aqui pra dizer tudo o que eu preciso te falar. Depois que eu conseguir vencer tudo o que tá preso aqui dentro, você pode me interromper.– A voz de Nana era suave, mas séria. Ele podia ver nos olhos brilhantes dela que Mariana estava fazendo um grande esforço pra não chorar. Mário apenas assentiu, aproximando-se alguns centímetros e segurando as mãos de Nana, que estavam antes sobre o colo dela, entre as suas mãos, de forma a passá-la segurança.

– Você sabe que pode me falar o que quiser, Nana. Eu prometi que estaria aqui pra te ajudar, lembra?– Fora a vez dela assentir. Respirando fundo, Mariana continuou.

– Mário, eu passei os últimos anos sendo muito injusta com você. Embora eu sempre tivesse deixado claro que nós não seríamos nada além de amigos, muitas vezes, eu não agi nem mesmo como sua amiga. Não da maneira que você merecia... Eu fui grosseira em mais de uma situação, em várias, na verdade.– Nana suspirou, sentindo-se mal em lembrar das vezes que agira mal com o homem à sua frente.– Eu te afastei inúmeras vezes quando tudo o que você me ofertava era um ombro amigo pra eu poder me apoiar. E, mesmo assim, você nunca deixou de estar presente quando eu mais precisei. Depois que, bem...– Nana limpou a garganta, sorrindo sem graça.– Depois que a gente transou pela primeira vez, eu sabia que estava te dando esperanças e, mesmo que eu tenha tentado a todo custo mentir pra mim mesma, eu me tornei ainda mais empenhada em te afastar porque, bem... aquela noite me mostrou que eu não queria ser somente sua amiga. Mas eu estava cega, achando que o apoio do Diogo, que na época ainda era verdadeiro pra mim, era amor. Eu achava que eu devia alguma coisa pro Diogo porque ele ficou ao meu lado quando todas as coisas mais difíceis da minha vida aconteceram... Mas eu não me dava conta, poeta, que você sempre esteve lá também. Muito antes dele, até.– A essa altura, algumas lágrimas escorriam pela bochecha de Nana, ela não conseguia impedir que suas emoções viessem à superfície. Ela viu que Mário fizera menção de falar, mas levou seu indicador aos lábios do poeta, sinalizando que aquele ainda não era o momento que ele deveria falar. Ela então, prosseguiu:

– Mário... Eu quero te pedir desculpas. Desculpa por todas as vezes que eu te tratei de maneira que você não merecia. Desculpa, principalmente, por eu ter sido tão rude com você quando surgiu com a história de que o Diogo havia tentado te matar. Hoje eu sei que era tudo verdade. E fico assustada só em pensar que ele poderia ter conseguido.– Mariana engoliu em seco.– Eu fui tão injusta com você, Mário... E, ainda assim, você continuou me dando apoio quando toda a verdade sobre ele veio à tona.  Me desculpa por ter te colocado em descrédito diante de algo tão sério! Eu me sinto muito mal por isso...– Nana voltou a apertar as mãos do poeta.– Me desculpa por ter te afastado tantas vezes através de palavras que te magoavam. Me desculpa por não ter enxergado o que estava bem na minha frente antes de ser tarde demais, Mário. Porque no fundo eu já sabia, eu sempre soube, poeta... Mesmo que eu tenha mantido a venda por tempo demais em meus olhos para evitar enxergar o que gritava em meu coração. Eu te amo, Mário. É... Eu te amo, poeta. E me desculpa por vir aqui te falar isso quando você me falou, hoje cedo, que era tarde demais. Eu tenho um timing horrível pra fazer as coisas, você sabe... Mas, eu te amo. E nosso filho, ou filha, tem muita sorte em ter um pai como você. – Nana sorriu, sentindo o olhar do poeta penetrar o dela. Agora, ela estava com a voz embargada pelo choro, muito mais intenso do que as lágrimas silenciosas que despejara ao começar a falar. Os grandes olhos de Mário também estavam marejados, e ela engolia em seco, sem saber o que viria a seguir.

O poeta fechou um pouco mais a distância entre eles. Levando suas mãos entrelaçadas ao ventre de Mariana.

–Você pode ter certeza, Mariana Mole, que eu serei o melhor pai que eu puder ser pra essa criança.– Ele sorriu, acariciando a barriga de Nana por cima do vestido branco que ela usava.– E você não precisava me pedir desculpas. Bem... Embora eu fique feliz em ouvir que você acredita em mim. Eu só não quero que você se sinta mal pelo que já passou. Tá tudo bem, eu entendo que você passou por muita coisa, Nana. E eu estarei sempre aqui, pro que der e vier.

Assim que Mário terminou de falar, Nana o surpreendeu com um abraço. Assim que seu braços enlaçaram o pescoço do poeta, ela pode sentir os dele envolverem sua cintura. Aquele abraço tão familiar que proporcionara a ela todo o aconchego e carinho do mundo... Mariana afundou seu rosto no pescoço do poeta, apenas para gravar o aroma de seu amigo de infância e, também, seu grande amor, agora ela assumia sem titubear para si mesma. Mas se ela quisesse respeitar a vontade de Mário, a troca de gestos mais íntimos precisaria ser evitada. Nana não queria mais passar por cima das vontades do poeta, uma vez que ela o fizera refém das vontades dela por um longo período de tempo.

Mário quebrou o contato entre eles, apenas para poder encarar os olhos castanhos e brilhantes dela outra vez. Com os polegares, ele enxugou as lágrimas que ainda resistiam no rosto de Nana.

– E Nana, eu me recuso a fazer comigo o que eu vim assistindo você fazer consigo mesma por tanto tempo.– O poeta continuou a falar, segurando gentilmente o rosto de Mariana entre suas mãos.– Eu te amo, Mariana Mole. Desde o jardim de infância, na adolescência, quando me vi como homem formado e, provavelmente, por toda eternidade. Eu amo você!– Como não poderia ser diferente, Mário recitou alguns versos para ela, sua Mariana Mole:

 

E eu vi você

Como quem vê o mar

Como quem vê o amor chegar

Sorrateiramente se instalar

Entre os meus olhos

Entre os meus poros

(...)

Vivi você

E vi você

 

A fala do poeta fez Mariana soltar uma gargalhada audível, mesmo confundida com o pranto. Quando tomara a decisão de ir até o apartamento de Mário, ela só queria se desculpar. Achava ter perdido, de verdade, a chance de viver uma história de amor com o poeta. Talvez fosse isso o que mais estava lhe corroendo por dentro. Mas aqueles versos... Vê-lo outra vez sendo seu poeta, encheu seu coração de esperança e alegria.

Inclinando o rosto para frente, Mariana não demorou a levar seus lábios de encontro aos de seu poeta. Havia uma compreendida urgência no encontro proporcionado por aquele beijo. Como velhos conhecidos, seus lábios roçavam um no outro, relembrando o sabor incomparável do encontro entre o poeta e sua musa. Nana levou sua mão até a nuca de Mário, aprofundando ainda mais o beijo pelo qual ansiava desde que ele estivera em seu quarto mais cedo. As mãos do poeta percorriam as costas de Mariana, trazendo-a para mais perto de si assim que alcançara a base de sua coluna e parando de maneira firme ao apertar sua cintura. Ao sentir o toque de Mário, mesmo sobre o tecido que cobria-lhe a pele, Nana sentia seu corpo se arrepiar. Sedenta por mais, ela parecia tentar fundir-se a ele, como se pudesse impedir qualquer coisa de os separar. Mário começou a descer os lábios para o pescoço de Nana, trilhando uma série de beijos na pele macia da mulher, fazendo-a inclinar a cabeça para trás, de modo a dar-lhe passagem. Ele não pode evitar contemplar o decote de Mariana, seus seios pareciam ainda mais fartos agora, Mário sabia ser um dos efeitos da gravidez.

Antes que não conseguisse evitar tirar a roupa de Nana ali mesmo, na sala, ele voltou a segurar em sua cintura com firmeza, levantando-a junto a ele.

– Quarto.– Foi tudo o que o poeta falou antes de erguê-la alguns centímetros, sentindo as pernas de Mariana enlaçar sua cintura. Embriagado pelo desejo, Mário percorreu o caminho até o quarto com dificuldade, mas estava mais do que feliz por sua distração ser os lábios, já vermelhos, da mulher em seus braços.

Com cuidado, Mário colocou-a sobre a cama de casal. Naquele momento agradecendo mentalmente por ter investido em uma cama grande e espaçosa, diferente do móvel de solteiro que ocupava seu quarto há apenas poucos meses.

Mário deitou-se sobre Nana, apoiando-se nos cotovelos. Parou alguns segundos para contemplar o rosto corado de sua musa inspiradora. Ele pode ver o desejo que emanava do olhar de Nana, e sabia que o seu não estava nada diferente do dela.

Voltando a beijá-la, o poeta começou a desabotoar alguns botões que adornavam a parte de frente do vestido, tendo uma visão da lingerie de renda branca de Mariana.

–Você é perfeita, Nana.– Ele falou com a respiração entrecortada. Logo em seguida, voltou a beijar o pescoço da mulher que amava, descendo os lábios até trilhar o caminho entre seus seios. Mariana emitia gemidos baixos, encorajados pelos lábios macios do poeta que, agora, abocanham seu mamilo direito por cima da renda do sutiã. A mulher arqueava as costas, revelando seu desejo. Descendo suas mãos pelas costas de Mário, ela alcançou as nádegas do poeta, puxando-o para mais perto de si, sentindo sua ereção sobre a bermuda de pano fino que o poeta vestia.

O vestido branco, que possuía uma fenda generosa na frente, tornava a fricção entre seus corpos deliciosamente tortuosa. Levando uma de suas mãos à base das costas de Mariana, Mário levantou-a alguns centímetros, apenas o suficiente para desabotoar o feixe do sutiã, retirando a peça com a ajuda de Nana. Ele voltou a dar atenção aos seus seios, cujos mamilos estavam completamente enrijecidos pelo desejo que a consumia.

Com uma das mãos, Mário brincava com um de seus mamilos, enquanto sua boca estimulava o outro, a língua contornando o mamilo de Nana. Os gemidos dela aumentavam de intensidade, enquanto ela mexia sua pélvis de encontro ao pênis rijo do poeta, separados ainda pelos tecidos de suas roupas.

Mário desenhou uma trilha de beijos até o abdômen de Mariana, contemplando agora a calcinha da mulher, cuja visão era permitida pela fenda do vestido. Antes que pudesse dar o próximo passo, as mãos de Nana foram de encontro aos cabelos do poeta, convidando-o a fitá-la outra vez. Tendo sua atenção, Mariana começou a desabotoar a camisa colorida, tão característica do homem que amava. Quando ela terminou, Mário retirou a peça de roupa, jogando-a em algum lugar do quarto. Aproveitando a deixa, ele desceu suas mãos até a base do vestido, puxando-o para cima. Ele amava ver Mariana vestida de branco. Para sua sorte, a lingerie era da mesma cor. Não demorou para que o vestido de Nana também se perdesse por algum canto do cômodo.

Rapidamente, Mário levou seus lábios aos ombros desnudos da mulher, beijando e mordiscando a área que, para Nana, era um ponto sensível. Ele sabia disso pela experiência de outras vezes.

Enquanto ele estava ocupado admirando e provocando sensações em sua pele, ela levou as mãos trêmulas até a cintura de Mário,  demonstrando interesse em livrar-se de um dos obstáculos que impediam o contato mais íntimo entre eles. Mário não demorou a conceder o desejo a ela, colocando-se de pé apenas para libertar-se dos shorts.

O poeta logo voltou sua atenção para a mulher que tanto amava, deitada em sua cama, totalmente entregue. Ele sentira muita falta daquela visão.

Acariciando as coxas de Mariana, Mário via o corpo dela se arrepiar. Afastando, com cuidado, suas pernas, ele fez questão de encarar o olhar repleto de desejo de Nana enquanto ele afastava sua calcinha pro lado e abaixava-se para inalar o aroma sexual da mulher. Mariana gemeu em resposta, sentindo o hálito quente do poeta provocar-lhe sensações indescritíveis.

Poeta...– Ela sussurrou, enquanto suas mãos acariciavam as costas masculinas. Mariana sentiu quando os lábios de Mário encontraram sua intimidade, fazendo-a arquear as costas em respostas e apertar os ombros do poeta. Sua língua começava a estimulá-la e ela podia jurar que seria possível entrar em combustão de tanto prazer. A mesma língua que lhe declamava poemas tão pueris, encontrava sua intimidade com uma habilidade extraordinária. O ritmo tortuoso da língua do poeta,  explorava seu clitóris, fazendo com que gemidos roucos escapassem de seus lábios.

Mário levou a mão que antes segurava a coxa de Mariana até o lugar onde sua boca estava a segundos atrás, os dedos dele fizeram círculos nos lábios vaginais já sensíveis da mulher, ele então penetrou-a com dois dedos, fazendo-a morder os lábios em resposta. Enquanto seus dedos penetravam sua musa, ele voltou a trilhar o caminho de volta até os lábios de Mariana, permitindo que ela sentisse seu próprio gosto nos lábios do poeta.

– Você ainda está com roupas demais, poeta.– Nana falara com a voz trêmula, aproveitando o breve desencontro de seus lábios. Mário retirou seus dedos de dentro da mulher, lambendo-os em seguida e sorrindo maliciosamente para ela. Ele não tardou em atender o pedido de Mariana, aproveitando a deixa para livrar-se da calcinha rendada da mulher, completamente molhada pela prova de seu prazer.

Completamente nus, Mário voltou a colar seu corpo ao dela. Nana podia sentir o coração acelerado do poeta enquanto seus corpos, já suados, experimentavam novamente tão sublime conexão. Fora a vez dela de beijar o pescoço do poeta, aproveitando a proximidade para mordiscar-lhe a orelha e sussurrar:

– Eu te amo, meu poeta.

Aproveitando o momento vacilante de Mário proporcionado pela sua declaração entre gemidos, ela inverteu as posições, sorrindo para ele. Mariana agora estava em cima do poeta. Entrelaçando suas mãos às dele, ela ergueu os braços do poeta, apertando o entrelaçar de dedos enquanto movia seu sexo de encontro a uma deliciosa fricção com o pênis de Mário. Ele gemeu, fechando os olhos, sentindo a umidade de Mariana deslizá-la facilmente sobre ele. Nana voltou a beijá-lo com ainda mais desejo do que o encontro anterior de seus lábios.

Quando seus olhares voltaram a se encontrar, Mário sentiu a mão macia de Mariana envolver seu pênis, ela logo introduziu-o em sua intimidade, incapaz de esperar mais tempo por tão ansiado encontro. Ele deu um gemido gutural, fitando os olhos castanhos da mulher que tanto amava. Seus narizes quase colados e as respirações descompassadas confundiam-se. O ritmo lento foi aumentando. As mãos voltaram-se a se entrelaçar sobre a cabeça de Mário, e o contato visual não mais era quebrado. Nos olhos de Mário, Mariana encontrava a melhor versão de si mesma. Ao encontrar as íris iluminadas de sua Mariana Mole, o poeta sabia que tudo valera à pena, apenas reafirmando sua tese de que todas as coisas têm o momento certo para acontecer.

Aquela não era a primeira vez que eles se amavam. Mas era a primeira vez que Mário tinha a certeza de que Nana não fugiria no dia seguinte. E tal constatação enchia-lhe de felicidade.

Seus corpos suados pareciam obedecer a um ritmo novo, criado por eles para que ambos fossem invadidos por uma sensação extenuante de prazer. Mariana rebolava sobre ele, enquanto Mário aumentava o ritmo das estocadas, levando suas mãos agora para a cintura de Nana, segurando-a com firmeza. Não demorou para que o primeiro orgasmo daquela noite tomasse conta deles. Mário veio primeiro, Mariana acompanhou-o em seguida.

O poeta abraçou Nana, trazendo a mulher para perto de si, a respiração descompassada e os corações acelerados pareciam se fundir. O sorriso largo no rosto de cada um era pequeno diante do tamanho da felicidade e do prazer que os consumiam.

Mário beijou os cabelos de Mariana, deitada em cima do poeta. No mesmo instante em que eles tornavam-se apenas um, em uma tão sublime quanto inexplicável conexão, eles eram três.

– Eu também te amo, minha Mariana Mole.– O poeta disse baixinho, enquanto acariciava os cabelos cacheados de Nana. A mulher de sua vida e mãe da criança que chamaria de filho ou filha... Ele sorriu com o pensamento, não demorando para amá-la pela segunda vez naquela  noite.

 


           


Notas Finais


E então? Deixem-me saber o que vocês acharam. Meu twitter é @ohmyparrilla.


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