História Eu, você e a Lua - Capítulo X

"Estou me apaixonando pelos seus olhos, mas eles ainda não me conhecem, e com um pressentimento de que esquecerei, agora estou apaixonado." - Kiss Me, Ed Sheeran

Minha mãe costumava dividir comigo todas as suas emoções. Mesmo que tivéssemos uma casa tão grande e tantas coisas, meu pai sempre estava ocupado e minha mãe sempre se sentia sozinha. Mesmo que eu fosse tão pequena, ela sempre me dizia o que estava em seu coração e eu me sentia especial. Por poder estar ali por ela.

“Um dia, Hinata, você vai descobrir o que é amor. Não apenas o amor fraternal, que inconsequente você sempre sentiu, por todos aqueles que você considera da sua família. Mas um amor ao qual você vai querer se entregar e então, você será capaz de se sacrificar por essa pessoa. Você fará tudo que estiver a seu alcance, para mantê-la feliz. Sempre e sempre.”

Ela confessava a mim com os olhos lacrimosos, eu não sabia dizer porque daquilo, eu não entendia naquela época. Apenas ouvia maravilhada as histórias que minha mãe contava, tão apaixonada.

Por isso não foi surpresa, ao menos não para meu coração, Naruto ser a primeira pessoa que meus olhos focalizaram no vasto salão. Meu coração acelerou e eu desviei o olhar, estava um pouco incomodada. Ele realmente estava lindo.

~ Alguns dias antes ~

O longo cabelo escuro de Hinata pendia para baixo, os olhos estavam fechados com força e seu corpo fazia reverência, implorando para que ele compreendesse.

- Seus companheiros, huh? – Ponderou, soltando um sorriso logo a seguir. – Não vejo problema algum, uma vez que a viagem deve ter sido cansativa. Pedirei para que arrumem seus quartos imediatamente. – Ele levantou-se aproximando da Hyuuga, segurou-lhe os ombros com leveza. – E Hinata... Não precisa ser tão formal.

Ela então colocou-se em posição reta imediatamente, Toneri ainda segurava seus ombros e estava próximo o suficiente para que ela pudesse sentir seu perfume. Era doce. Mas gostoso. A morena assentiu, sorrindo de leve e viu o homem de cabelos prateados sair de seu escritório, indo conversar com seus criados. Ela então soltou a respiração que nem mesmo havia percebido que prendia até seus pulmões clamarem por oxigênio.

******

Algumas horas haviam se passado e Hinata estava trancada em seu quarto. Acordara naquela manhã decidida a pedir para Toneri que deixasse seus amigos descansarem ali, pelo menos por uns dias. Daquele jeito eles poderiam descobrir mais informações sobre a planta antes de partirem de volta para Konoha, de preferência com algumas mudas da Lotus, mas este detalhe ela omitiu do homem de cabelos prateados. Graças a Deus tudo ocorrera bem e o homem havia permitido que Naruto e Sasuke ficassem por lá, mandando preparar um quarto para cada. Desde que eles saíram de seu quarto para adentrar a vila como se não estivessem ali anteriormente, naquela manhã, ela não via os dois amigos. Estava aflita, mas não sabia dizer exatamente o porque.

Segurava uma almofada nos braços e observava o céu claro pela janela até que ouviu algumas batidas na porta.

- Senhorita Hinata? – Kasumi chamou.

- Sim?

- Seus companheiros estão aqui... – Hinata largou a almofada de qualquer jeito sob a cama e correu para fora do quarto, tinha medo que um dos dois colocasse tudo a perder se falassem algo que não deviam.

- Onde?

- No escritório do senhor Otsusuki. – Respondeu espantada com a pressa da Hyuuga.

- Obrigada, Kasumi-chan! – A morena alcançou as escadas e subia tentando acalmar as batidas de seu coração, afinal não havia com que se preocupar. Toneri era um homem um tanto compreensivo, nada de mal aconteceria, certo? Era o que ela esperava. Deu dois toques na porta ouvindo um “Entre.” Logo em seguida.

- Toneri-kun. – Ela acenou com a cabeça recebendo um sorriso caloroso do homem, que fez um sinal com as mãos para que se aproximasse. Naruto e Sasuke estavam parados à frente da grande mesa repleta de papéis do Otsutsuki e agora observavam a Hyuuga se aproximar e ficar ao lado deles.

- Foi ótimo conhecê-los, Naruto, Sasuke. Ouvi grandes histórias sobre os dois. – Fez reverência a cada um e ambos responderam com cordialidade, foram dispensados em seguida sendo avisados de que os criados lhe indicariam seus quartos e tudo que precisassem. Saíram dali com Hinata em seu encalço.

Kasumi encontrou-os no caminho para o andar de baixo. A mulher de cabelos e olhos castanhos parecia precisar de um beliscão para sair do transe, uma vez que seus olhos pareciam estar grudados nos dois homens a sua frente, demorou um pouco para que conseguisse reagir de alguma forma, eles eram lindos.

- Sejam bem-vindos. Meu nome é Kazumiwa Kasumi, sou uma das criadas da mansão Otsutsuki, mostrarei os devidos quartos que foram preparados para os senhores. – Abaixou-se em uma reverência e os homens cumprimentaram de volta, um com um aceno de cabeça e o outro com um “Prazer, sou Uzumaki Naruto” e um sorriso generoso.

Hinata continuou a segui-los em quanto Kasumi lhes mostrava os quartos de hóspedes disponíveis, por sorte se encontravam no mesmo corredor do quarto de Hinata.

- Fiquem à vontade. – Ela anunciou. – Chamem se precisarem de alguma coisa. – Encarou o dono do rinnegan por um tempo maior do que o necessário, como uma sugestiva muda esperando que ele tivesse entendido sua investida. E ele tinha. Mas não se importava.

Naruto virou-se esticando os braços e bocejando.

- Onde você vai? – Sasuke perguntou vendo o amigo se afastar.

- Descansar, agora que finalmente tenho uma cama decente para fazê-lo.

- Como é? Esqueceu-se de nosso objetivo aqui? – Naruto virou-se para ele.

- Não podemos fazer isso mais tarde? Levantaria menos suspeitas. – Falou como se fosse óbvio.

- Quanto tempo você pretende ficar aqui? Está achando que é uma colônia de férias? – Retrucou em tom irônico.

- E você, em quanto tempo pretende ser expulso por bisbilhotar onde não deve? – Desafiou. Sasuke poderia socá-lo.

- Faça o que quiser. – O Uchiha virou-se para a direção contrária e Hinata sentiu-se no meio de uma discussão de relação, aqueles dois eram impossíveis. Mas daquela vez ela concordava com Naruto, por isso segurou o braço de Sasuke antes que ele fosse embora.

- Eu... acho que Naruto está certo. – Sasuke fitou-a com cara de poucos amigos. – Bem, vocês acabaram de chegar aqui, não podemos ser expulsos, só dificultaria as coisas, Sasuke-kun. – De todas as palavras que saíram da boca de Hinata, Naruto concentrou-se em apenas uma. Desde quando ela parara de chamá-lo de San e usar o Kun? Ele havia perdido alguma coisa? Bem, ele não se importa, certo? Errado. Ele parecia se importar sim, principalmente depois de Sasuke dar de ombros.

- Preciso de algumas informações suas, então venha comigo. – O Uchiha referiu-se a Hyuuga pegando o pulso da mesma e puxando em direção a seu quarto. Parou alguns passos depois virando-se para Naruto. – Bom descanso. – Usou o tom mais irônico que conseguia, vendo o Uzumaki ficar vermelho de raiva. Ora essa, o que estava acontecendo? Desde quando Sasuke aceitava tão facilmente mudar de plano? Aquele lugar devia estar fazendo mal a eles. Rosnou levemente, mostrando a língua na direção do casal que continuava seu caminho, infantilmente. Virou-se enfezado e seguiu para o próprio quarto.

- Está tudo bem? – Hinata questionou assim que entraram no quarto que fora designado à Sasuke, era parecido com o seu, um pouco menor, no entanto.

- Sim. Preciso de respostas, apenas. – Falou cruzando os braços. – Tenho que enviar um relatório da missão, à Kakashi.

- Certo.

- Como Neji está aqui? – Foi direto. – Você nunca nos falou sobre isso. O corpo dele é mantido por uma enorme quantidade de chakra, ele não está exatamente vivo. Por que o Otsutsuki o trouxe de volta? Suponho que você tenha essa resposta. Assim como sabe de onde vem a fonte de chakra que mantém seu primo em pé. – Era estranho ouvir a voz de Sasuke por tanto tempo, ele costumar ser um homem de poucas palavras, mas ele precisava de respostas. Ele não engolia aquele lugar, menos ainda depois de conhecer o senhor feudal, mas sua companheira de equipe parecia confiar nele.

- Toneri pode trazê-lo de volta. Com minha ajuda, ele pode trazer o Neji e todos os injustiçados, mortos na guerra de volta. A flor é chave para isso, mas ela não tem poder suficiente sozinha. Por isso ele precisa de mim. – Começou ponderando sua resposta. – Eu não sei qual a fonte do chakra que é usado para mantê-lo vivo, mas o clã Otsutsuki é conhecido por ter grande controle sobre o chakra.  

- Trazer os mortos de volta à vida? E você acha que ele quer fazer isso com boas intenções? Hinata, ele violou o túmulo de seu primo para trazer de volta um boneco feito de barro e chakra. – Ele parecia explicar para uma criança que havia feito algo errado. Que tipo de atitude era aquela?

- O que você sabe sobre ele? – Exaltou-se minimamente, a pose imponente de Sasuke a deixava fora de si, afinal quem ele achava que era? Realmente estava questionando a inteligência da Hyuuga? É claro que ela estava preocupada com isso, mas ela conhecia Toneri a mais tempo e acreditava nas boas intenções do rapaz, diferente do Uchiha a sua frente. – Você não sabe sobre quem está falando, eu o conheço!

- Ele tem ressuscitado, miseravelmente, algumas pessoas e você ainda assim o defende? Ele até mesmo tentou nos matar!

- Ele não sabia que não éramos inimigos!

- Ou é isso que ele quer que você acredite. Ele alguma vez lhe deixou ter contato com a Lotus Lunare? – Hinata assustou-se minimante pelo tom usado pelo moreno, ficou em silêncio. Afinal ela não havia ao menos visto a flor. – Foi o que imaginei.

- Vamos procura-la hoje a noite, a fonte do chakra e a flor. Após o jantar. Quando nós os acharmos, você terá que confiar em mim. – Propôs decidida.  

- Realmente confia naquele cara? – Inconscientemente o Uchiha havia se aproximado da Hyuuga, ao mesmo passo que ela havia recuado e agora estava encostada na porta. Sob o olhar ameaçador de Sasuke. Mas ela não se intimidaria, engoliu em seco.

- Sim. – Soou menos decidida do que desejava, observou o Uchiha passar as mãos pelo cabelo, irritado. O rapaz suspirou audivelmente saindo de perto dela.

- Tanto faz. – Deu lhe as costas caminhando na direção contrária. De alguma forma aquilo a havia incomodado. Esperava que ele tivesse insistido mais um pouco. Talvez.

A Hyuuga saiu do quarto batendo a porta com mais força do que devia. O que ela estava pensando? Ela nem mesmo se importava. Não era o que as lágrimas que ameaçavam cair de seus olhos diziam. Sasuke idiota.

Arremessou todas as almofadas que estavam em cima de sua cama ao chão, tentando reprimir a raiva que sentia. Por que as pessoas não podiam confiar nela? Parecia tão ingênua assim? Ela sabia que sim, mas eles podiam dar um voto de confiança. Queria gritar, mas não poderia fazê-lo, não sem que milhares de empregados viessem lhe perguntando o que havia acontecido. Ela não tinha muitas respostas, mas conhecia Toneri, ele não mentiria para ela. Decidiu então que era melhor banhar-se, Toneri disse-lhe que gostaria de jantar com ela naquela noite. O homem esperava por sua resposta. Suspirou. Antes que pudesse começar a se preparar, porém, ouviu alguns toques na porta.

- Entre.

- Hinata-sama.

- Neji-nii-san. – Sentia o coração palpitar doloroso ao pronunciar aquelas palavras, vê-lo ainda lhe trazia uma imensa vontade de chorar.

- Você está bem? – Questionou parecendo preocupado, só então Hinata percebeu o estado em que ela e o quarto se encontravam. Ajeitou o cabelo bagunçado rapidamente, ajeitando-se na cama, envergonhada.

- Sim.

- Entendo. – O Hyuuga se aproximou da prima. – O senhor Otsutsuki pediu para avisar-lhe que o jantar será servido daqui uma hora. – Hinata assentiu, agradecendo. – Soube que Sasuke e Naruto estão aqui. Como isso aconteceu? Como Sasuke está de volta? Não tive a chance de lhe perguntar. – Hinata arregalou minimamente os olhos, então definitivamente o homem quase vivo a sua frente tinha a essência de Neji, e a aparência também. Ele não sabia o que havia acontecido após a guerra.

- Bem, muitas coisas aconteceram. A guerra acabou graças às dois e de alguma forma depois de tanto esforço Naruto finalmente conseguiu convencê-lo à voltar.

- As coisas parecem ter mudado. – Hinata percebeu que naquele momento ele não falava sobre os homens, mas sim sobre ela. Tinham esse tipo de sintonia, mas ela não queria falar sobre seus sentimentos e passado, não naquele momento. Então apenas sorriu.

- Definitivamente mudarão. Tenho certeza que teria sido melhor com você por perto. – Encarou o primo que pareceu envergonhar-se minimamente. – A quanto tempo você foi trazido de volta?

- Alguns meses.

- Por que nunca tentou voltar para Konoha?

- Não seria possível, não enquanto sou movido pelo chakra e a fonte deste chakra está aqui.

- Então você não pode se afastar muito... – Ponderou. – Me diga. – Chamou quando viu o primo se afastar a caminho da porta. – Você confia no Toneri? Onde fica a fonte do chakra que lhe mantém vivo?

- Por que não confiaria? Graças a ele estou aqui... Sobre o chakra, eu não tenho esta resposta. – Hinata observou o primo sorrir-lhe minimamente e sair dali, deixando-a sozinha novamente. Jogou-se na cama de costas, sentindo um peso enorme sobre si. Mas não poderia, ou conseguiria em hipótese alguma não confiar no seu Neji.

*******

- Você está linda. – Toneri comentou, ao sentarem-se na mesa para o jantar. Hinata usava um vestido azul escuro escolhido pelo senhor feudal e os cabelos estavam soltos, a maquiagem era leve.

- Obrigada. – Sorriu para o homem do outro lado da mesa. – Onde estão os outros? – Questionou referindo-se a Neji e os companheiros de equipe que ela acreditava que se juntariam a eles.

- Estão jantando na segunda sala de jantar. Queria ficar a sós com você. – Sorriu cruzando as mãos em cima da mesa, fazendo Hinata remexer-se levemente incomodada. – Desculpe se te fiz sentir desconfortável. – Ele tentou corrigir-se.

- Não! Tudo bem. – Hinata balançou as mãos em negativa. Toneri riu.

- Servida? – Ela assentiu preparando-se para degustar as especiarias ali dispostas.

Jantaram em silêncio, mais uma vez. Mas não era um silêncio constrangedor, era calmo e confortável. Hinata pegou-se pensando no qual feliz Naruto deveria estar com aquela quantidade de comida, riu internamente da cara que ele deveria ter feito. Sasuke também deveria estar feliz por finalmente ter uma refeição decente, mas ela tinha certeza de que o Uchiha não deixaria transparecer.

Os empregados entraram na sala para retirar a mesa do jantar e servir a sobremesa. Hinata sentiu falta de alguém, Kasumi não estava ali.

- Algo errado? – Toneri perguntou ao observar a Hyuuga com os olhos cravados na porta por onde os empregados passaram a momentos atrás, depois de por a mesa de sobremesas.

- Huh. Nada. Apenas que não vi a Kasumi-chan.

- Ah. A Kazumiwa-san pediu para ajudar a servir seus companheiros. Uma vez que elas os acompanhou pela mansão esta tarte. – Hinata lembrou-se imediatamente do olhar direcionado a Sasuke naquele fim de tarde. Então ela realmente estava interessada? Não era impressão sua. Sentiu-se irritada com aquilo, por que o ultimo dos Uchihas tinha que ser tão atraente? Onde quer que fosse, atravessavam países e sua fama com as mulheres continuava.

- Hinata. Tem certeza de que não há nada de errado? – Toneri chamou tirando-a de seu transe.

- Sim... eu... – O rosto de Hinata tornou-se vermelho escarlate ao perceber que, inconscientemente, havia destruído o petit gateau que estava em seu prato. – Só estava pensando demais. – Terminou alguns tons mais baixo.

- Certo. – Toneri riu, era gracioso o modo que ela ainda se envergonhava com tão pouco.

Quando terminaram de comer, o Otsutsuki cordialmente levantou-se e foi de encontro a Hinata, do outro lado da mesa. Puxou a cadeira para que ela se levantasse e pegou-lhe a mão com delicadeza.

- Venha comigo um instante. Tem algo que quero que veja. – Hinata assentiu, não teria problema, certo? Sasuke poderia esperar um pouco.

Atravessaram o vasto salão alcançando escadas laterais que davam acesso ao último andar, que só naquele momento Hinata percebeu ser uma espécie de terraço. O vento trazia consigo o cheiro das flores de cerejeira, era confortante e aconchegante. Toneri continuo a caminhar até chegar a grande de segurança. Dali de cima podiam ver a pequena vila, iluminada pela luz da lua cheia.

- Me lembra seus olhos.

- Huh? – Hinata questionou tirando os olhos da rua para encarar o homem de olhos claros.

- A lua. Me lembra os seus olhos. Ele parecem dois pequenos fragmentos retirados da lua para trazer o brilho e profundidade àqueles que os compreendem.  – Sorriu encarando a Hyuuga que estava levemente avermelhada.

- Toneri-kun, eu...

- Sabe... eu espero uma resposta a minha proposta, mas eu... não tenho pressa para ser rejeitado por isso leve o tempo que precisar. Isso seria frustrante. – Hinata assentiu olhando para a frente mais uma vez, sentiu o homem acariciar sua mão com o polegar e só então percebeu que ainda estavam de mãos dadas. Continuaram a encarar o seu extremamente estrelado. Era raro conseguir enxergar as estrelas através da névoa que quase sempre invadia as vilas à noite. Mas naquela noite em especial estava tudo claro. Hinata estava clara, também, linda. Perfeita em todos os sentidos, tão perto do Otsutsuki, seu coração pulava de alegria. Ele se sentia um adolescente que se apaixonou pela primeira vez.

- Hinata-chan. – Chamou e quando finalmente recebeu a atenção dos olhos perolados que tanto cobiçava, ele agiu. – Me desculpe por isso. – Puxou-a para si com mais força do que deveria, chocando os lábios em um contato bruto. Um filete de sangue escorreu pelos lábios grossos de Hinata e antes que ela pudesse agir, sentiu seu corpo adormecer. Nenhuma parte do seu cérebro parecia obedecer aos seus comandos, a imagem a sua frente escurecia em velocidade recorde. Um grito de socorro ecoou em sua mente, mas ninguém ouviria. Nem mesmo o homem que passou por sua mente antes de apagar, por fim.

******

- Sasuke. – Naruto chamou assim que eles deixaram a sala de jantar. – Não consigo sentir o chakra de Hinata faz um tempo. Ele estava próximo, então se afastou e de repente foi para o limbo. Como se não estivesse estado ali antes.

- Qual foi o último lugar onde você sentiu o chakra dela? – Eles atravessavam o corredor em direção a seus quartos.

- Em algum lugar próximo a janela dos fundos da sala de jantar. Como se estivesse abaixo de nós, ‘tebbayo.

- Vamos até lá.

Saíram da casa depressa, mas com o cuidado suficiente para não serem notados. Caminharam ao redor da mansão em direção na direção em que Naruto havia mencionado, ao chegarem lá não havia nada. Uma alma penada sequer. Nenhuma entrada, ou qualquer coisa suspeita.

- Você tem certeza?

- Claro que tenho, ‘tebbayo!

Separaram-se para procurar qualquer indicio de que ela estivera ali antes. Talvez houvesse uma parede falsa, Naruto imaginou, mas não conseguiu achar, mesmo depois de tentar empurrar todos os cantos da parede da mansão, o que fez Sasuke questionar ainda mais a habilidade mental de Naruto.

- O que é isso? – Naruto perguntou um pouco mais alto do que devia, referindo-se a corrente que Sasuke havia encontrado no chão. – Isso é da Hinata-chan, ‘tebbayo! Ela sempre carrega isso com ela nas missões. Ela está por aqui, eu sabia!

- Shh, fala mais baixo, idiota. Quer ser descoberto? Continue a procurar.

Procuraram por um tempo indeterminado, saíram do território da mansão, procuraram dentro da mansão também e a única pista que tinham era a corrente de ouro encontrada do lado de fora. Voltaram para o mesmo lugar de antes. Naruto escorregou as costas na parede ate cair sentado no chão. Passou a mão no cabelo irritado, Sasuke analisava o local ponderando o que mais poderiam tentar.

- Droga, ‘tebbayo! – O loiro rugiu socando o chão a seu lado, fazendo com que o chão em volta dele, um barulho de madeira se fez presente. Fazendo o Uzumaki dar um pulo do chão e o Uchiha corresse em sua direção. Pisaram forte contra a estrutura de madeira fazendo com que o solo debaixo da grama falsa se abrisse, desvendando uma passagem secreta.

Uma escadaria dava acesso ao subterrâneo da mansão, Sasuke colocou-se na frente começando a desce-la. Não era possível enxergar um palmo à frente, era tudo um breu. Mas o mesmo seguiu seu caminho, acreditando que o Uzumaki estivesse a seu encalço, porém não estava. Uma barreira impedia o loiro de ultrapassar a porta, impedia o Uchiha de ouvi-lo também.

- Sasuke! Sasuke, espere! - Repetia sem parar tentando ultrapassar o campo de força, mas parecia impossível.

O Uchiha continuou seu caminho, alheio à batalha do amigo do outro lado. Ao chegar ao pé da escadaria uma luz se acendeu ao fim do corredor, era fraca, mas suficiente para chamar sua atenção em meio à escuridão. Ele seguiu até ela. Que parecia cada vez mais forte, chamando-o para ela, quase como hipnose. Mas ele estava preparado para qualquer armadilha que fosse, era Sasuke Uchiha, afinal. Quando estava a poucos passos da luz levemente prateada, reconheceu a moça caída no chão. Seu corpo e cabelo estavam molhados, os lábios rachados e roxos, uma marca em seu pescoço exalava um miasma negro, corrosivo. O Uchiha correu até ela.

- Hinata! Hinata, acorde! – Segurou o pulso da morena, garantindo que ela estava viva, sua pele estava fria como gelo. Se continuasse naquele estado ela morreria. Só naquele momento então, ele percebeu o quão frio o lugar se encontrava, sendo capaz de ver sua própria respiração em forma de fumaça. Deu alguns tapinhas no rosto da Hyuuga tentando acorda-la, mas ela não tinha reação. Estava perdendo pulso. Fez uma massagem cardíaca na morena, levando os lábios quentes aos frios dela, dando-lhe ar. Repetiu o gesto três vezes até que obteve resposta.

Uma tosse sôfrega deixou os lábios roxos de Hinata, Sasuke apoiou sua cabeça com o braço trazendo-a para mais perto. Atento a seus movimentos, questionava-se o que era a marca em seu pescoço, mas não tinha tempo para aquilo, naquele momento. Precisava mantê-la viva. E quente. Ela não havia aberto os olhos, não tinha força para fazê-lo, mas ela sabia quem estava ali com ela. Reconheceria aquele cheiro em qualquer lugar.

- Sasu-Sasuke... eu...

- Shh. Não se esforce demais agora. – Sasuke rasgou o vestido azul pela frente, retirando as metades do corpo pequeno da Hyuuga, que não tinha forças para sentir-se envergonhada, resistir ou esbravejar, ela sabia que era para o seu bem. Apesar da pose firme. O Uchiha sempre a havia ajudado, de alguma forma. – Preciso mantê-la quente. – Ele falou mais para si mesmo do que para ela, retirando a própria blusa para cobri-la. Observou-a aconchegar-se em baixo do tecido.

- Eu... sinto mui-muito, Sasuke-kun. – Foi a última coisa que conseguiu dizer, antes de desfalecer mais uma vez.