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História Evanescente - Três


Escrita por: ACeridwen

Notas do Autor


Advertência: alto teor romântico.

Capítulo 3 - Três


Ela está de costas para mim. De frente para as prateleiras cobertas por livros e pó, segurando um de capa de couro vermelho nas mãos. Parece distante. Longe. Eu sei bem aonde. E não é nas páginas do livro.

— Effy?

Seus cabelos fazem um ondular lento quando ela se vira. As pupilas dilatadas que consigo ver mesmo no lusco-fusco. Seus movimentos são delicados. Nada próximos aos da garota que estão mostrando na TV. Ela fecha o livro. E compartilhamos de um silêncio só nosso.

— Eu acabei de ler uma coisa — seus olhos carregam uma tristeza imensa. Uma dor sem tamanho. "Por que está fazendo isso de novo, Effy?" — Você sabe o que foi?

— Não. O que você leu?

— Amor Vincit Omnia — ela diz. Consigo ver os pequenos ferimentos em seus lábios. Não de frio. Mas de mordidas. Os noz dos dedos também feridos "Ela ainda tem os surtos". — É um termo antigo...

— E o que ele significa? — quero saber.

— O amor vence todas as coisas — seu olho esquerdo treme em um espasmo. Uma singularidade que veio com o último Cisma. Loucura. — Meio menininha. Não acha?

— Muito menininha.

Sorrio.

O livro escorre de suas mãos e cai no chão com um baque surdo. Mas o som não ofusca o de seus passos. Ela vem em minha direção. Eu vou em sua direção. Nossos lábios se encontram. Eu a beijo. Sinto gosto de chocolate e do sangue dos ferimentos. Suas mãos deslizam para minha nuca. Ela me abraça e eu a abraço.

Não dizemos nada um para o outro. Apenas consumimos o silêncio e aproveitamos a proximidade.

— Eu já havia me conformado com o fato de que só iria te ver novamente quando o Cisma acabasse — minha voz um sussurro, misturando sua respiração à minha.

— Eles estão transportando os últimos detentos das prisões — suas mãos macias agora seguram meu rosto. Eu sinto o cheiro de sangue dos ferimentos. — Eu consegui permissão para vir. Desculpa. Não poderia deixar o aniversário de Topoline passar em branco.

— Topoline, é?

— Sim. Eu amo ela — Effy sorri. Franzindo o nariz. Uma expressão engraçada de ratinho.

Eu a puxo para mim e não sinto mais frio. Por fora por causa do aquecedor. Por dentro por causa dela.

— É tão difícil ser namorado de uma campeã — "Não tão difícil quanto ser a campeã" penso. — Eles estão mostrando você na televisão. Atirando nuvens de fogo e fazendo piruetas.

— Eles me disseram que o que eu faço tem poder N. É igual com todos os campeões. As garotas estão usando o penteado que minha mãe fazia em mim.

O penteado que Topoline vive usando. Todas as garotas da nossa Casta usam. Virou basicamente um padrão.

— Por que está fazendo isso de novo? Você não precisava mais voltar para lá.

— Para conseguir mais dinheiro para nossa Casta — ela diz. — Eu consegui uma arma. Posso ficar entre os três melhores dessa vez. Com aquela arma eu posso...

Então os olhos dela se apagam. As palavras se perdem. Ela não precisa continuar para eu saber o que ia falar.

"Eu posso matar mais pessoas"

Meus lábios tocam os seus novamente e ela apóia a cabeça em meu peito.

— Vai ser a última vez N. — sussurra para mim. — Eu vou ganhar o prêmio e vou voltar para cá. E nós vamos poder nos casar finalmente.

— Não faça isso por mim.

— É por mim também.

— Eu poderia entrar como campeão.

— Não — Effy diz. — Absolutamente não.

— Por quê?

— É horrível, N. Você não sabe o que precisamos fazer para chegar lá. Não é atoa que nos chamam de campeões. 

— Amor Vincit Omnia — digo. Ela não refuta.

Ficamos em silêncio. Um compartilhando o calor do outro. Meus olhos azuis mergulham nos seus. Eles são brilhantes como o céu da primavera, quase sinto o cheiro das flores e ouço o som dos pássaros cantando, apenas de olhar para eles.

Alguém bate na porta e a voz do Inspetor vem do outro lado, um pouco mais embargada do que estava quando eu entrei:

— Os seu amigo senhor Olhos-Cinzentos está te esperando aqui, Effy.

Eu não tento soltá-la. Mas ainda assim Effy se afasta de mim. Ela enfia a mão no bolso de seu casaco com pelos que parecem de animais de verdade. Roupa da Primeira Muralha. E quando seus dedos voltam a aparecer vem carregando uma pequena forma azul, amarrada a uma corrente prateada. 

— É um quartzo-aura — ela diz, como que sussurrando um segredo. Seus lábios próximos ao meu ouvido. — Azul como nossa Casta.

— Isso deve ter custado uma fortuna.

— Sim. O dinheiro dos patrocinadores. Então não conte à Line. Você sabe muito bem que ela o trocaria por rabanetes. Ou cebolas.

Sorrio. Effy sorri. Seu nariz franze. A mão corre para dentro do meu bolso.

— Cuide bem dele.

— Eu poderia ser um campeão.

— Não poderia não, N. Esse não é seu destino.

E então ela corre até a porta e eu sinto o frio voltar a penetrar até a divisão da minha alma.

"Esse não é meu destino"

— Qual é o meu destino então, Effy?

Mas ela já se foi.

Notas Finais


Esse capítulo é dedicado a Izabella Nariz-Defeituoso por ter me apresentado à Effy.


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