Depois que Charlotte saiu, William ficou atônito. Ele parecia conhecê-la de algum lugar. Aqueles olhos, aquele sorriso sem jeito... Aquela mão macia e aquele olhar indecifrável... Ele jurava que já tinha visto algo assim antes.
- Cara, você conhece ela de algum lugar? – William perguntou ao amigo que o olhava maliciosamente.
- Não. Acabei de conhecer. E nunca vi uma mina tão gata.
- Você tá falando como um adolescente de 13 anos, James.
- E eu deveria falar como um velho de 60 anos, William?
- Não mas... Ela não é uma “mina”, ela é uma mulher! E ela não é “gata”, ela é linda, deslumbrante, maravilhosa...
- Três minutos com a garota e você já está apaixonado? Que rapidez... Amor à primeira vista existe afinal!
- Vai pro inferno, James – Will falou brincando.
- Até vou... Mas te levo junto. Aí a gente junta um exército, destrói o diabo e domina o inferno – ele disse com os olhos brilhando – Que tal?
Will revirou os olhos e saiu do bar. Ele iria encontrar aquela detetive, nem que fosse a última coisa que fizesse. E provavelmente não seria.
Ele viu um Lexus rx 350 saindo da vaga e arregalou os olhos.
- James! – ele chamou ao entrar novamente no bar.
- Fala!
- Ela tem um Lexus!
- Não brinca! Um Lexus rx 350? Jura?
- Sim!
- Caramba.... Você se apaixonou por uma moça rica! Não preciso nem dizer que tem a minha permissão pra casar, né?
- Se eu casar com ela não vai ser pelo dinheiro...
- Você nem a conhece, cara. Se pá ela é uma mimadinha que só pensa em si mesma.
- Não... Eu olhei nos olhos dela... É como se eu já a conhecesse, tipo, há muito tempo!
- Sai dessa antes que você se iluda!
- Não que eu precise de uma garota pra isso...
- É. Realmente.
Will bateu na cabeça de James enquanto o mesmo ria.
- Você é um babaca, sabia? – Will falou.
- E você também, sabia? – James retrucou.
. . .
Charlotte chegou em casa exausta, ainda pensando no homem de olhos azuis. Ela só relaxou um pouco enquanto estava na banheira de água quente com o cabelo preso num coque malfeito.
- Charlie! Cheguei! – disse Graham, seu melhor amigo, o qual ela havia mandado mensagem pedindo para ir até sua casa o mais rápido possível.
- Estou aqui em cima! – ela gritou.
Graham e ela eram amigos desde que ela se lembrava. Eles já haviam passado por muita coisa juntos.
Depois de sair do banho, Charlotte colocou um pijama de cetim e um roupão branco de seda e foi abraçar seu amigo.
- Então, Sherlock, o que aconteceu?
- Eu... conheci uma pessoa... Na verdade, duas pessoas
- E...?
- Ah Graham, eu não sei! Primeiro foi uma menina de 15 anos! Ela era loira, tinha olhos azuis...
- A perfeita Miss Patricinha.
- Ela é órfã!
- Oh...
- Como eu dizia... Loira de olhos azuis. E muito parecida comigo.
- Quer dizer... o cabelo?
- Quero dizer tudo! Ela era assustadoramente parecida comigo!
- Mas seus olhos são verdes!
- Sim. O que nos me leva à segunda pessoa. Um homem de cabelos castanhos e olhos azuis! Os olhos dele eram iguais aos da garota! É como se o que ela não tem meu, ela tem dele!
- Ok... Isso é estranho.
- Eu sei!
- Você realmente não está brincando, né?
- NÃO! Graham, eu não brincaria com uma coisa dessa! A garota é como uma mistura minha com aquele homem!
- Você fez sexo com alguém 15 anos atrás e não me contou?!?
- EU NÃO FIZ SEXO... Eu não fiz sexo com ninguém!
- Está na seca? Isso é ainda pior!
- GRAHAM!
- Eu estou brincando, Charlie.
- Vai se ferrar!
- Eu até iria, mas já estou todo ferrado.
- Tá. Que seja. Obrigada pela visita.
- Sempre às ordens, detetive – ele disse fazendo a posição de continência.
Ela riu, fazendo-o sorrir e então ele foi embora, deixando-a sozinha.
. . .
Charles acordou sorrindo, pois era finalmente sábado e ele poderia descansar. Desdeu até a cozinha, onde encontrou seus pais adotivos – Claire e Jonathan – preparando um maravilhoso café da manhã.
- Bom dia, mãe. Bom dia, pai – Charles disse entrando na cozinha.
- Bom dia, Charles – os adultos responderam em uníssono.
- Alguma novidade? – o garoto perguntou pegando o jornal.
- Duas órfãs brigaram e as autoridades tiveram que intervir – Jonathan disse.
- Pobres garotas... – Claire comentou.
Charles olhou para a foto de uma das garotas e sentiu algo muito estranho. Algo como... uma sensação de já conhecê-la.
- Quem é essa garota? – ele perguntou apontando com o dedo.
- Hum... – o pai dele procurava a informação no jornal – Essa deve ser Alice, a garota que começou com a briga e quebrou o nariz da outra menina.
- Legal! – comentou o garoto – Ela parece ser durona.
- Parece ser problemática! Isso, sim! – Claire disse enquanto mexia os ovos.
- Qual é, mãe! Você nem a conhece!
- E você, por acaso, conhece?
- Não.
- Bom mesmo!
- Mas ela não parece ser má - Charles disse.
- As aparências enganam, Charles. O demônio, por exemplo, ele não é um serzinho vermelho com chifres como todos dizem. Ele é belo! Afinal, ele era um anjo! Lembre-se que nem sempre as coisas belas são confiáveis, filho - falou Jonathan.
- Eu detesto o exemplo que o seu pai deu, mas ele tem razão, Charles. Não podemos confiar na beleza exterior das coisas e pessoas.
- Tá bom.
- Tome seu café da manhã – a mãe disse.
- Sim, mãe.
- Esse é o meu menino que eu amo – ela disse sorrindo para o filho.
. . .
Alice estava sofrendo bastante desde que voltou ao orfanato. A dona não a deixou comer ou beber nada e a colocou em um quarto minúsculo isolado, onde o colchão era mais fino que o normal e o travesseiro também. Além disso, o quartinho ficava no último andar, então era mais frio, no entanto, a única coisa que a cruel dona deu à Alice foi uma manta rasgada.
No dia seguinte, a garota não pensou duas vezes antes de ligar para a detetive que havia conversado com ela no dia anterior.
Detetive Lockwood estava escrito no pequeno cartão.
Ao conseguir finalmente encontrar o telefone surrado que havia no orfanato, Alice apanhou-o e foi para um canto mais isolado.
- Alô, detetive Lockwood falando
- Detetive! Sou eu, Alice. A garota do orfanato!
- Olá, Alice. Posso ajudá-la com alguma coisa? – perguntou a detetive.
- A senhora pode vir me buscar? Invente qualquer desculpa, mas venha, por favor! Me leva embora daqui... – a garota disse já não conseguindo segurar as lágrimas.
- Claro, Alice. Estou a caminho.
E foi só isso. Depois dessa fala, a garota apenas ouvia os “bips” do telefone.
Não demorou mais de vinte minutos e a detetive já estava na porta do orfanato. Ao vê-la, Alice correu para seus braços e a abraçou, como se ela fosse sua mãe que voltara de viajem há pouco tempo.
- Obrigada, obrigada, obrigada! – a garota dizia em tom baixo, porém muito alegre.
- Não há de quê, Alice. Mas o que houve?
- Me tira daqui, depois eu te explico.
Elas saíram de lá e sentaram lado-a-lado em um degrau.
- Okay... Pode começar.
- Bom... Ontem, depois que eu voltei pra cá, a Sra. Thompson não me deixou comer e nem beber nada! Ela me colocou no quarto de isolamento e me deu apenas uma manta rasgada! Foi terrível...
- Onde fica esse quarto de isolamento? – a detetive quis saber.
- No último andar. Tem uma janela grande e fina para que o ar gelado entre.
- E ela te deu apenas uma manta rasgada?
- Isso...
- Alice, queri... Alice... Precisamos tirar você desse orfanato!
- Isso só vai acontecer quando eu for adotada! O juiz disse!
- Então você vai ser adotada!
- E quem iria querer me adotar?! Eu passei minha vida toda no sistema e ninguém me quis!
- Você vai vir comigo. Pra minha casa! Vai ter um quarto só seu e depois resolvemos essa questão de adoção. Mas eu não vou te largar num orfanato desses.
A garota começou a chorar. Ela não podia crer que, finalmente, sairia do orfanato e iria morar na casa de um adulto. Um adulto que a quis!
Alice nunca se sentiu especial em toda a sua vida. Nunca se sentiu importante ou querida. Ela era apenas uma garotinha perdida, que não importava pra ninguém. E que nunca pensou que algum dia importaria.
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